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Bangkok: a porta da rua!

por Nuno Castelo-Branco, em 30.05.10

 

Perdida a batalha nas ruas e pior ainda, aniquilada a escassa confiança  de que beneficiava junto de algumas franjas urbanas, o debandado movimento red possui hoje dois recursos importantes.

 

O primeiro, consiste na tentativa já há muito ensaiada, de provocar divisões no seio da coligação liderada pelo Partido Democrático Tailandês. Afastando os elementos de maior confiança do primeiro-ministro, este ver-se-á privado de esteios essenciais à governação - entre eles o destemido ministro Kasit - e terá de enfrentar quebras na sua maioria parlamentar. Aí está a cartilha maoísta copiosamente ensaiada hoje no Nepal.

 

O segundo verifica-se interna e externamente e tem como principais protagonistas, os media que de fora chegam com as velhas ideias acerca do que deve ser uma democracia, mesmo se o Estado de Direito esteja em perigo por uma sublevação radical, violenta e com pesadas conotações totalitárias. Estreitamente ligada aos grupos mediáticos europeus e americanos - o chamado "mundo dos negócios"-, está uma parte activista da comunidade diplomática, principalmente aquela que sendo de segunda linha, não oferece a priori, um perigo de maior. No entanto, é exactamente esta, a que maiores oportunidades operacionais apresenta, manobrando sem cessar interna e exteriormente. Abhisit deverá ter em atenção que esta gente não desiste facilmente, pois voltará a uma reformulação do programa e já na reorganização de uma parte da oposição que se candidatar às eleições. O vil metal está em jogo e o resto apenas monta o cenário.

 

Abhisit realizou ontem uma conferência com "ansiosos" diplomatas e correspondentes estrangeiros estabelecidos em Bangkok. Não é com espanto que concluímos acerca do acintoso "cepticismo" com que o chefe do governo foi brindado por aquela gente, pois o sentimento da "superioridade branca" manifestou-se sempre no decorrer dos acontecimentos e na análise dos mesmos.  De facto, entre eles se encontram alguns dos mais entusiastas apoiantes do movimento que durante tantas semanas fez perigar o país. Não há qualquer dúvida acerca deste facto indesmentível. Os péssimos e irrealistas relatórios enviados para a Europa, criaram uma errónea percepção dos acontecimentos e do que estava em jogo na Tailândia. Vencidos quando esperavam uma vitória fulminante, insistem agora em princípios inaceitáveis nos seus próprios países. Como se fosse possível qualquer governo ocidental sentar-se à mesa com líderes que iam provocando uma guerra civil, queriam derrubar o regime e levaram à devastação da capital?! Inaudito, mas para aquelas luminosas inteligências próprias de qualquer café de boulevard, a Tailândia é um destino turístico produtor de sedas, comezainas por uns tostões, capitosos prazeres carnais, piscinas, resorts de luxo e para alguns, uns rendosos negócios propiciados pelos círculos mafiosos onde uma certa diplomacia circula, em demanda de arredondamento de conta bancária. Os recentes acontecimentos na Índia, indicam já uma nova oportunidade de "revolução libertadora" teleguiada por Pequim. Os revolucionários de massage-parlour poderão deslocar-se hoje mesmo para o novo teatro de operações, decerto menos atraente, mas bastante plausível.

 

A grosseria de alguns jornalistas, chegou ao ponto destes continuarem a fazer vista grossa às evidências que todo o planeta já teve a oportunidade de assistir em video e pelo testemunho de muitas dezenas de entrevistas e de fotos comprometedoras. Para esta cáfila de mercenários chegados de Berlim, Paris, Haia ou Estocolmo - Lisboa limita-se ao copy paste, como se sabe -, trata-se agora de denegrir ao máximo a imagem de um governo vitorioso, mas que surge como extremamente moderado no seu indesmentível êxito. O problema é este mesmo, pois esperavam um sangrento crackdown, seguido por um golpe de Estado ao estilo de Pinochet e uma repressão generalizada que colmatasse o vergonhoso fracasso diplomático-informativo com que se viram confrontados. Nem uma única das suas previsões se confirmou. Nem uma!

 

Totalmente desconhecedores do que consiste uma nota preliminar e oficial entregue por um governo de um país independente, alguns dos presentes declararam-na como imprópria até para os discutíveis padrões da era soviética! De facto e em tom de advertência - estes "diplomatas" não sabem ler nas entrelinhas - o governo distribuiu-a no sentido de seriamente alertar os estrangeiros - entre os quais não se conta sequer um thai falante - acerca da má interpretação dos acontecimentos e da situação no país. Os ocidentais estão habituados a uma padronização ideológica de "lutas, contradições, desigualdades, movimentos populares e opressões", sem que consigam lobrigar no movimento vermelho, exactamente estes escolhos à democracia que dizem querer defender. A prepotência, o crime, o roubo, a chantagem, o ataque à Lei e às Instituições, nada são ou valem, se comparadas às velhas certezas aprendidas em leituras de notas de rodapé. O que importa é o saciar de mesquinhas e grotescas "virtudes fundamentais", adquiridas pelo ostentar de uma Kalashnikov que conduz o rebanho em direcção á vala comum. Resumidamente, é isto, o Ocidente.

 

Melhor faria o governo Abhisit, se em vez de indefinidamente contemporizar com palradores sem substância, usasse da sua paciência asiática para proceder a uma criteriosa análise de cada um dos representantes diplomáticos e mediáticos acreditados em Bangkok. Utlizando precisamente o espírito do "materialismo dialéctico" que é tão do agrado das duvidosas e parasitárias excelências, eliminaria as mais comprometidas com os acontecimentos, enquanto as outras, aquelas pertencentes a Estados com quem o país tem vultuosas trocas comerciais, seriam indirectamente repreendidas, pela não renovação de agreements diplomáticos a membros menores da vaidosa entourage. EM suma, um aviso compreendido nas capitais ocidentais. Isto significará uma pequena contrariedade para alguns interesses do petit-commerce do eixo Pataia-Patpong, mas não temos qualquer dúvida no efeito psicológico que tal exercício do princípio de persona non grata significará.

 

O Ocidente está num estado de pré-Guerra Fria com a China e alguns dos "diplomatas" europeus - felizmente, o embaixador de Portugal encontra-se acima de qualquer suspeita de conluio subversivo - melhor fariam em seguir o exemplo do seu homólogo americano acreditado em Bangkok, apoiando o regime aliado.

 

Com paciência asiática, Abhisit deveria analisar caso a caso e depois, numa assomo de rudeza ocidental, expulsar a escória. É o único caminho que os europeus conhecem: a porta da rua.

publicado às 13:50







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