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Não são vectores inconciliáveis e disso se apercebeu o governo de D. João VI, quando criou a o Reino Unido com o Brasil, sonho efemeramente desfeito – juntamente com outro, o da transformação de Macau num porto livre, à semelhança daquilo que décadas mais tarde seria Hong Kong – desfeito e que hoje é invocado por académicos – e alguns empresários – brasileiros, neste renascer da esperança além-Atlântico. Aproveitemos o vigor do “Estado sucessor”. As velhas potências marítimas – Portugal e a Inglaterra – possuem um inestimável património histórico distribuído por todos os continentes, precisamente aqueles de que os europeus tanto necessitam para voltarem a crescer. Em Portugal, a miragem da Europa – com o fracassado governo do sr. Cavaco Silva à cabeça -, baseou-se numa certa modernização de fachada, com as famosas autoestradas em quantidade inimaginável num país racional, na destruição do aparelho produtivo e na rápida desertificação do interior, fuga para o estrangeiro – que já atinge quase a safra dos anos sessenta do “antigo regime” -, depredação imobiliária dos espaços urbanos, etc. Pior não podia ter sido. Fundos para destruir antigas empresas, falsificação na “modernização empresarial”, liquidação fatal do ensino, progressiva clientelização partidária de todo o Estado e do próprio sector pretensamente privado, a “cogumelização” de yuppies de jeep e de “empresários” de finanças alheias, eis o esquema que agora tem os dias contados. Agora, Cavaco insiste na produção de “bens de valor acrescentado”, ou seja, fala da exportação e de coisas tão passadistas como comida, agasalho e outras trivialidades que arrogantemente desprezou. O país não produz uma fracção daquilo que come, encontra-se escravizado ao crédito que foi fácil e agora, discute-se abertamente a intervenção de forças europeias para “casos de necessidade”. Sabemos o que isso quer dizer.
Sendo um falso “retornado” – nascido em Moçambique e de 5ª geração, nunca fui “retornado” a coisa alguma -, assumo claramente o desejo de um rápido regresso à diversidade, precisamente onde se combate pela sobrevivência e que é fruto do apetite de chineses, indianos e americanos. Temos alguma capacidade para tal e o retorno é viável. Não é necessário abandonar a Europa, valha ela o que valer. Os tempos que se avizinham não parecem nada prometedores e o caminho que está a ser indicado, é simplesmente, o da submissão. É que não chegámos ao “fim da história” e existem alternativas. Como há uns anos me dizia Medeiros Ferreira, a adesão “à Europa foi antes de tudo, uma questão de política”. Não quis acreditar, pois naquela altura, a CEE era sobretudo, um projecto económico e aquela frase resumiu um projecto “de classe”, neste caso, política.
Criaram a ilusão do crescimento ininterrupto no novo império, chegando-se ao delírio de uma hipotética fronteira com o Irão e a Síria, como se o constante alargamento resolvesse os problemas comezinhos da nossa produção interna. Resta saber até que ponto a dita “Europa” interessa aos alemães e ao futuro eixo Berlim-Moscovo?
Vivemos no paradoxo de a globalização nos parecer impor mais uma eficaz CEE, do que a UE tal como ela existe. Temos um grande aparelho produtor de bens de consumo caros – a Alemanha – que vive do seu mercado interno europeu, numa confusa interdependência de créditos e juros impossíveis de pagar. Precisamos de mais economia e de menos habilidades financeiras que tanto agradam aos meninos espertos da “4ª república” de Cavaco Silva e já agora, de todo o regime da fracassada 3ª república.
Nuno Castelo-Branco, o de cá, no Blasfémias (negritos meus)