Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]




Diz o Corcunda. Refere-se a estes pensamentos de D. Pedro V, que, abusivamente transcrevo do saudoso blogue Santos da Casa:

( a única coisa que me poderá desculpar, será o facto de o seu autor os ter disponibilizado na caixa de comentários )

 

Actualidade do pensamento do Rei D. Pedro V

 

OLIGARQUIA


«De que valem as medidas, se os grandes figurões são os primeiros que as infringem? Não creiam que eu não vejo o luxo de certas pessoas; não creiam que eu pense que esses luxos caem das núvens; não creiam que eu pense que a maior parte dos objectos de que usam pagaram os direitos legais. Creiam pelo contrário que sei donde lhes vem o luxo; que sei que vivem de contrabando; por que só os pequenos e os pobres hão-de sofrer o rigor das leis, que nãoforam feitas pelos figurões. Esses estão muito acima das ideias de moralidade; são coisas que os abaixam, deitam-nas aos pequenos, que devem gemer enquanto eles riem.»

MORAL
«O espírito utilitário do nosso século abaixa o nível das ideias do homem, e produz a infeudação do espírito à matéria.»

 

POLÍTICA


«Cumpre que as medidas administrativas de que o país carece possam satisfazer a uma condição essencialíssima, a necessidade de moralizar os serviços públicos, de dar à autoridade a respeitabilidade que lhe falta e sem a qual os administrados vêem no governo o pior dos impostos, imposto que se traduz na perda de tempo, de trabalho, e dos bens de fortuna.»

 

REALEZA


«Sabemos que os reis são homens como os outros, que eles têm desejos, paixões e defeitos; que eles têm os meios naturais de satisfazer a esses desejos, de ceder ao império dessas paixões, e de seguir a via errónea dos seus defeitos; mas devemos também lembrar-nos que existe para eles uma lei moral muito mais severa do que para os outros, porque quanto mais elevada é a posição tanto maior é a influência do exemplo.»

 

OPINIÃO PÚBLICA


«O erro tem sido o tomar por opinião pública os gritos de alguns poucos, e por tendências da nossa época os seus desvarios.»

INSTRUÇÃO
«Um dos fins, e certamente um dos mais importantes, que se devem procurar obter numa organização da instrução pública, é fechar a porta aos imbecis e extirpar os parasitas que não só são pouco económicos mas para ssim dizer embrutecem o Estado.»
«O problema da instrução contém-se quase todo no cuidado da composição do professorado »

 

Há já alguns meses que publiquei um postal com reflexões de D. Pedro Vtendo o mesmo suscitado o interesse e mesmo entusiasmo de alguns leitores. No seu blogue, prometi ao estimado JM que voltaria a reproduzir mais reflexões do infortunado esposo de D. Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen. Penitencio-me desta demora perante o fiel leitor boavisteiro e monárquico, com a certeza de que o que se segue não deixará de espantar pela sua actualidade.
Retomando então a obra de Augusto Reis Machado, “O Pensamento do Rei D. Pedro V” (Livraria Avelar Machado, Lisboa, 1941), do capítulo “Pensamento Político e Social” leiamos então o que o jovem soberano tinha a dizer sobre

 

«GOVERNANTES E GOVERNADOS

 

Os olhos já vão rompendo a núvem de poeira que se tem levantado diante deles; e o povo algum dia declarar-se-á solenemente contra o escárnio que há 20 anos todos os governos em Portugal dele têm feito. E fatal e tremendo será esse desagravo. Ainda é tempo de remediá-lo, mas não há tempo a perder.
Infelizmente, na nossa terra, conserva-se demasiadamente a lembrança da desordem e dos maus costumes, porque há cinquenta anos que Portugal está sem Governo, verdade que parece um pouco dura, e talvez mesmo que um pouco exagerada, mas que nem por isso deixa de ser uma verdade. Há cinquenta anos que não há autoridade, e que as coisas conservam um resto de ordem que vem do movimento imprimido pelas tradições, que não se podem destruir, e que o acaso, graças a Deus, tem querido prolongar até que as circunstâncias permitam restabelecer as coisas nos seus eixos, e fazer funcionar regularmente o mecanismo constitucional, que por falta de engenheiros, está muitíssimo deteriorado... É preciso um engenheiro hábil, quer ele se chame Rei ou Presidente, Assembleia Nacional ou Governo, porque seja qual for a forma de Governo para ele durar é preciso que governe uma pessoa moral.
Se os governos quiserem hoje ser úteis à sociedade, se eles não quiserem adiantar a época do terrível cataclismo que espera um estado de coisas factício em que o dolo e imoralidade e o ludíbrio do povo ocupa uma parte tão considerável, eles terão que olhar mais pelo povo que padecia em silêncio sem se queixar porque já nem mesmo se sabe queixar.
Para Portugal o mesmo sono forçado dura ainda e as imoralidades dos homens públicos contribuem para o prolongar. Nada há mais fatal que o cepticismo do povo.»

 

 

Adenda - na caixa de comentários desse post, diz um comentador:

" Mas este rei, a par de D. João II, foi do melhor que Portugal teve" - palavras para quê?

publicado às 18:39


13 comentários

Sem imagem de perfil

De fsantos a 30.06.2010 às 20:08

Abusivamente? De modo algum. E obrigado pelo "saudoso".
Imagem de perfil

De Cristina Ribeiro a 30.06.2010 às 21:41

Obrigada:); e saudoso sim- cheguei tarde lá, mas fui lendo-o aos poucos e essa é a palavra certa.
Sem imagem de perfil

De Miguel Vaz a 01.07.2010 às 12:38

Que falta faz o fsantos ao convívio regular da blogosfera. Já nem me lembrava deste texto, cuja divulgação é um verdadeiro serviço público.
Imagem de perfil

De Cristina Ribeiro a 01.07.2010 às 13:09

Concordo, Miguel.
Sem imagem de perfil

De fsantos a 30.06.2010 às 20:15

Importante referir a fonte: Augusto Reis Machado, “O Pensamento do Rei D. Pedro V”, Lisboa, 1941.
Imagem de perfil

De Cristina Ribeiro a 30.06.2010 às 21:45

Está lá: " retomando então a obra de Augusto Reis Machado...".
Imagem de perfil

De Nuno Castelo-Branco a 30.06.2010 às 20:50

Em boa hora postado, Cristina.
Imagem de perfil

De Cristina Ribeiro a 30.06.2010 às 21:47

Faltam contributos destes para acabar com preconceitos tolos, Nuno.
Imagem de perfil

De João Pedro a 30.06.2010 às 23:42

O que não teria acontecido caso D. Pedro V tivesse vivido mais uns trinta ou quarenta anos...
Imagem de perfil

De Cristina Ribeiro a 01.07.2010 às 00:03

João Pedro, o fado português tem por vezes notas muito tristes...
Sem imagem de perfil

De PPA a 08.07.2010 às 16:52

Excelente post!

D. Pedro V um Rei de enorme dimensão humana, intelectual e artística. Um referencial ainda hoje.

Mais que um "Estado Sentido", senti que este post foi um "Estado de (muita) Oportunidade". Parabéns!

Consideração,

Pedro
Imagem de perfil

De Cristina Ribeiro a 08.07.2010 às 17:53

Muito obrigada, Pedro.
Como sabe foi " roubado ", mas há roubos que são feitos por bem :)

Cumprimentos
Sem imagem de perfil

De PPA a 08.07.2010 às 20:38

Cara Cristina,

Esta é a arte de bem compilar e de bem citar os respectivos autores. Designo este acto de: cultural (na acepção redistributiva do termo).

Aliás, aproveitei a "lógica do golpe" e fiz o mais que merecido reencaminhamento para o PeAn e para o Incúria! Direccionei o destaque para si! Fiz bem...? :-)

Volto a dar-lhe os, sinceros, parabéns por este post ou trabalho de compilação...se assim preferir ;-)

Consideração,

Pedro

Comentar post







Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2013
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2012
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2011
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2010
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2009
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2008
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2007
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D

Links

Estados protegidos

  •  
  • Estados amigos

  •  
  • Estados soberanos

  •  
  • Estados soberanos de outras línguas

  •  
  • Monarquia

  •  
  • Monarquia em outras línguas

  •  
  • Think tanks e organizações nacionais

  •  
  • Think tanks e organizações estrangeiros

  •  
  • Informação nacional

  •  
  • Informação internacional

  •  
  • Revistas