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No sentido de contribuir para a discussão iniciada pelo Samuel num ciclo de posts neste mesmo espaço, apresento as seguintes questões às ideias e respectiva aplicabilidade provenientes da obra citada de Milton Friedman. No entanto, queria antes ressalvar que, na minha opinião, o Estado deve ser uma autoridade a ter em conta pelo mercado, no seu aspecto jurídico e constitucional. Estes, por sua vez, devem exercer a sua autoridade tendo como fim a defesa da soberania e dos princípios da moral cristã-católica e não quimeras igualitárias nem papel redistributivo da riqueza.

 

A grande vantagem é que o mercado concretiza a liberdade económica de forma impessoal e sem a necessidade de uma autoridade centralizada, dando aos indivíduos a possibilidade de escolherem os seus fins e não os obrigando a prosseguir os que um determinado grupo considere que eles querem ou devem querer (Milton Friedman, op cit.)

 

Não acredito que a Liberdade, seja ela económica ou doutra espécie - aliás torna-se complexo por vezes estabelecer fronteiras entre a liberdade económica ou a individual - possa prosseguir seus meios e fins sem Autoridade, seja ela centralizada ou não. Aliás, o que é autoridade centralizada? O indivíduo não terá sua liberdade dependente da permissão do governo central, mas se for o seu município, cooperativa ou paróquia já poderá perder as suas asas?

 

Importa, no entanto, ressalvar que o mercado não elimina o Governo, até porque, como consideram os liberais, este é um instrumento necessário para determinar e garantir as “regras do jogo”. Assentando a liberdade política na liberdade económica, a preservação da primeira requer, porém, a eliminação de elevadas concentrações de poder e a distribuição do poder que não puder ser eliminado – trata-se da clássica separação de poderes e doschecks and balances. (Milton Friedman, op cit.)

 

Aqui Friedman acaba por entrar em contradição, pois se o "Governo é um instrumento necessário para determinar e garantir as regras do jogo", essas regras podem sempre mudar de mãos e dirigirem-se a caminhos contrários ao da propalada liberdade. E aí, afinal, como pode o mercado ser algo "sem a necessidade de uma autoridade centralizada"? Como se pode prescindir dessa autoridade se é ela que "determina" as regras do jogo?


 

Ao retirar ao Governo a organização da actividade económica, o mercado elimina outra fonte de coerção, permitindo que o sistema económico seja um contrapeso ao poder político e não um reforço deste. (Milton Friedman, op cit.)

 

A coerção não é um atributo exclusivo do governo nem do poder político. O mercado, por si próprio, pode dar origem a várias formas coercivas. A concentração de poder e os monopólios são um exemplo, pois têm todo o interesse em misturar-se com o poder político, de modo a que este não seja um obstáculo. Assim, pode chegar-se ao capitalismo de Estado e à coerção da liberdade no mercado e da iniciativa privada. Portugal chegou aí através de outro caminho. Mas são vários os caminhos para a servidão...

 

publicado às 15:46


6 comentários

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De Manuel Pinto de Rezende a 02.07.2010 às 01:09

Pedro, uma autoridade centralizada pode ser uma autoridade provincial cujos poderes foram delegados por uma central.
O centralismo funciona por agentes. Uma das críticas dos municipalistas passou, entre muitas coisas, pelo facto de o poder municipal, nos tempos modernos, não derivar de uma origem própria mas de uma "concessão" do Estado.

Logo, penso que Friedman refere-se a todos os poderes capazes de se sobrepor ao individuo (poderes de imperium, públicos, estatais) e agir de forma abusiva. Ou não.
Penso que esta interpretação será a melhor para a discussao, no entanto.

Não me parece que Milton Friedman seja exemplo algum para um liberal.
No entanto, o problema da Autoridade e do controlo que o Pedro vê aí é somente um problema de definições, como podemos ver.
O Estado regula a economia quando influencia o resultado final, quando perverte a dinâmica do mercado.

Ora, o mercado nasce de transacções e opções humanas. Nem sempre racionais, nem sempre morais, nem sempre correctas. Ora, visto que, da mesma maneira que criaram o mercado, os humanos vivem em sociedade, e ibi societas ibi jus (e mais tarde virá o Estado moderno) é óbvio que o mercado obedece às leis da sociedade.
A cidade medieval, e corrijam-me os entendidos se estiver em engano, é um bom exemplo disso. O Estado não tem poder para exercer grandes regulamentações, no entanto as corporações, as confrarias, as regras da sociedade e a religião impediam algumas das situações abusivas que nós, hoje em dia cheios de Estado e sem sociedade, nos vemos, com os ricos irresponsáveis e os pobres inconscientes.
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De P.F. a 02.07.2010 às 13:18

Friedman ao longo do livro fala em "autoridade "central e em "Governo". No tempo dele os países já assumiam as formasgeopolíticas da actualidade, por iss pressupôs que ele se referisse precisamente ao Estado-Governo de um regular Estado-Nação. O mercado de facto nasceu muito antes da actual noção de de Estado, por isso e pelos princípios éticos que mencionei acertaste na mouche com:
"A cidade medieval, e corrijam-me os entendidos se estiver em engano, é um bom exemplo disso. O Estado não tem poder para exercer grandes regulamentações, no entanto as corporações, as confrarias, as regras da sociedade e a religião impediam algumas das situações abusivas que nós, hoje em dia cheios de Estado e sem sociedade, nos vemos, com os ricos irresponsáveis e os pobres inconscientes."
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De Ricardo Gomes Silva a 02.07.2010 às 02:48

Caro Félix, afirmou:
«o Estado deve ser uma autoridade a ter em conta pelo mercado, no seu aspecto jurídico e constitucional. Estes, por sua vez, devem exercer a sua autoridade tendo como fim a defesa da soberania e dos princípios da moral cristã-católica e não quimeras igualitárias nem papel redistributivo da riqueza»

1ª...o Estado [é] uma autoridade por delegação da população votante...a menos que também seja um dos que acha que o Estado devia ser gerido por uma empresa em concurso público...e mesmo assim teria de definir o papel económico do Estado pois este tem funcionários e estruturas que são agentes económicos.
A ausência do papel económico do Estado foi um dos erros da monarquia constitucional (uma das causas da sua queda) e uma clara ausência na Constituição de 1911 (os republicanos não aprenderam nada)

2º O Estado não defende moralidades, mas sim direitos...pôr moral e economia na mesma frase...é preciso bagagem!

3º A redistribuição de riqueza é um dos 3 principais objectivos dos Estados modernos (objectivos económicos) e a principal razão porque a sociedade é coesa e não precisamos de andar armados como os americanos.
Em termos económicos é essencial que haja redistribuição....não só em dinheiro (aquilo que todos pensam que é) mas também e primordialmente em bens como o ensino, a segurança ou a saúde (esta ninguém se lembra).
matemáticamente, a redistribuição gera riqueza, ao contrário da sua acumulação, porque a riqueza depende da inovação e isso é das coisas mais igualitárias que existem, porque apenas depende do intelecto...algo que não é passivel de adquirir a partir do nada.
A acumulação apenas favorece a escala da industria ...que acaba sempre em recessão quando o mercado contrai

bem haja
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De P.F. a 02.07.2010 às 13:29

"O Estado não defende moralidades, mas sim direitos...pôr moral e economia na mesma frase...é preciso bagagem"

Caso o seu conceito de bagagem for o mesmo que o meu, concordo absolutamente - é preciso baggem, sim senho, caro Ricardo. Posso não ser eu a tê-la mas quem a tem tem-no feito irrefutavelmente. De resto, claro que não posso concordar com uma noção de Estado amoral e meramente dependente da soberania popular. Há instituições mais antigas do que a democracia que se mantêm e manterão: as Forças Armadas, a Justiça e os tribunais, o aparelho judicial, etc. que não dependem directamente do escrutínio popular.
Voltando à moral, defendo a elaboração de uma constituição orientada pelos princípios cristão, sim. Subsequentemente, o enquadramente legal que regule a economia será mais ético e mais eficaz do que o actual.
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De Ricardo Gomes Silva a 02.07.2010 às 15:08

A ligação entre a filosofia e a economia são antigas, mas dizer ou falar em principios cristãos....será que deve ser o Vaticano a definir as linhas mestras da politica económica?

Voltamos à abordagem cristã sobre os principios de ordenação económica...que não anda muito longe do socialismo de Estado e às várias tentativas de o implementar como os povoados dos indíos guarani que os Jesuítas organizaram entre os sec XVII e XVIII no Brasil...e que acabou mal por ser contrário aos interesses dos Estados Português e Espanhol.
Aliás a experiência coorporativista dos jesuitas é extensa , ao contrário das posições do Vaticano em matérias económicas que variam entre o risivel e o ridiculo.

Mas obviamente concordo com os príncipios morais que devem guiar a economia e as prácticas comerciais, laborais e especulativas...mas discordo da referência expressa de que esta deve ser monopólio deste ou daquele grupo, mesmo que pertença a ele...ou não faria qualquer sentido existir uma Constituição, ou mesmo um Estado

bem haja
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De Anónimo a 06.07.2010 às 00:59

Caro Félix,

Soy prática...para a servidão só há um caminho....a exploração do homem pelo homem. Os comunistas fizeram-no como ninguém e Sócrates, como não sabe, recorre à consultoria de Chavez, esquecendo, porém, que aqui o mercado de escravos se avalia pela capacidade de moscas que é incapaz de sacuir das orelhas....

( Mas vocês não fazem outra coisa senão estudar???? )
Vou convidar-vos para umas tertúlias...
Logo falo ao Jovem Doutor.

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