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Centenário da República em "over-kill"

por Nuno Castelo-Branco, em 02.10.10

 

Nem sequer mencionando as mesquinhices do dia a dia que embrutecem uma sociedade exausta e em galopante pauperização, ou as manigâncias que desprestigiam Belém e S. Bento, aqui deixamos umas linhas que o Público hoje fez circular:

 

"Em 2010, a questão é esta:  como é possível pedir aos partidos de uma democracia liberal que festejem uma ditadura terrorista em que reinavam carbonários, vigilantes de vários géneros e a formiga branca" do jacobinismo? Como é possível pedir a uma cultura política assente nos "direitos do homem e do cidadão" que preste homenagem oficial a uma cultura política que perseguia sem escrúpulos uma vasta e indeterminada multidão de "suspeitos" (anarquistas, anarco-sindicalistas, monárquicos, moderados e por aí fora)?"

 

Pulido Valente usa as próprias palavras da gente do PRP, que escrevendo n'O Mundo, ia dizendo que ..."partidos como o republicano precisam de violência (...) uma perseguição acintosa e clamorosa (para criar) o ambiente indispensável à conquista do poder".

 

O artigo de opinião de VPV, apenas confirma a impressão que a comissão oficial para as comemorações deixou: o babado elogio da ilegalidade, o cair de joelhos perante a prepotência e a tirania dos golpes de mão. Conhecendo-se a filiação ideológica e partidária dos mentores dos textos e a oculta batuta do conhecido maestro desta orquestra de câmara mortuária, até os mais distraídos compreendem a razão do fascínio. Os postulados d'O Mundo, parecem anacronicamente retirados do jargão leninista, tão do agrado de quem escreve prosas e segue os princípios basilares que orientam a concepção das exposições e brochuras patentes a um público geralmente desinteressado. Nem sequer disfarçam, tal é a grotesca impunidade em que se refastelam.

 

A culpa deste abuso? É em primeiro lugar, da gente que no topo da hierarquia do sistema, não lê, não se informa, "não quer saber", é preguiçosa e sobretudo, sempre sumamente cobarde, teme as arrogantes investidas de auto-promovidos "intelectuais" de duvidosa proveniência, uma infecta turma de esqueletos que invadiram academias, fundações, ministérios e secretarias de Estado. Ali ditam as suas normas e o pensamento "formatado e aceite". Gente da engorda sem escrúpulos e que tem os homens do regime - Cavaco Silva, José Sócrates, Jaime Gama, Passos Coelho e tantos outros - à sua mercê, conhecedora do seu medo velho de décadas e da complacência perante o dislate.

 

Como podem Belém e S. Bento brincar à roleta russa?

 

O deixa andar do laxismo militante, degrada a imagem do Estado e impele uma substancial parte da população, para uma provável louca correria de deserção das hostes de um regime que se pensava consolidado. Sempre exigindo a "escolha popular", os energúmenos não eleitos, abusam da confiança, desrespeitam o próprio posicionamento do Chefe do Estado e do Chefe do Executivo, humilham 80% do Parlamento e abertamente caçoam da população. Apaniguados de grupúsculos de reduzida expressão eleitoral, usam o incomensurável poder da chantagem que intimida e envilece quem a ela subservientemente se sujeita.

 

Apenas condescende, quem se resigna. Se a cúpula do Estado não manifesta o total repúdio pela passagem de uma mensagem prepotente porque falsa e que atenta aos princípios sobre os quais o regime se ergue, é então a todos indicado, o livre arbítrio e o caminho certo para a desobediência. O tal temido "divórcio" que abre o caminho a todo o tipo de aventuras.

 

O regime republicano decretou por temor, a falta de respeito, a legitimidade da violência, da mentira e do abuso como norma. Oxalá não tenha tempo para se arrepender.

 

Como hoje diz Pacheco Pereira, as comemorações oficiais consistem num over-kill.

publicado às 19:03


2 comentários

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De Luís a 02.10.2010 às 20:15

Ainda hoje, na livraria Leitura da Baixa do Porto, estive a conversar com o livreiro sobre a farsa que foi a Primeira República, e o branqueamento da História, que está a ser imposto pela comunicação social. Pelo que vou lendo e ouvindo, quase ninguém menciona os assassinatos, as perseguições, a censura, a misoginia ou a destruição cultural que os republicanos impuseram a partir de 5 de Outubro de 1910. As nossas ideias convergiam para uma conclusão idêntica: a Monarquia nunca deveria ter sido derrubada. Num mundo globalizado, em que se despreza a Literatura, a História ou a Filosofia, num mundo do «deus dólar», a Monarquia é uma garantia vital da nossa identidade enquanto Nação com mais de oito séculos. A degradação identitária é visível, e triste, está nas ruas, nos mamarrachos que tomaram conta dos antigos centros históricos, nos subúrbios feios e desumanos, nos programas escolares, no desprezo pelo nosso passado, na literatura de cordel, no jornalismo «copy paste», na destruição dos nossos valores ambientais, na política externa, etc. Portugal precisa de um movimento de renovação cultural, uma espécie de renascimento da alma lusitana, com uma nova elite, que no futuro tenha arte e engenho para reconstruir o descalabro de um século em grande medida perdido.
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De Nuno Castelo-Branco a 02.10.2010 às 20:34

Caro Luís,

Guimarães, na 3ª feira, pelas 3 da tarde.

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