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Estado de Pânico

por Manuel Pinto de Rezende, em 19.10.10

Este post do Samuel e a consequente gigantesca repercussão são o retrato fiel da incompatibilidade do espírito português com a democracia de massas.

Num país anglo-saxónico, a multidão extasiada pelo chamamento às armas do Samuel não redundaria por mais do que um "Yes We Can!" ou um "Ron Paul for 2012!".

Isso deve-se tanto ao carácter do britânico - o fanático do compromisso moderado, capaz de chegar a um acordo satisfatório entre ambas as partes com o Demónio e incapaz de não levar Deus a tribunal por um mínimo incumprimento burocrático da cláusula estipulada - como à ignorância do americano - para quem a decisão política, além de uma perspectiva utilitarista de todos os prismas ou outra falsamente puritana, não revela grandes oportunidades de escolha.

 

O Português, pelo contrário, já ultrapassou essa fase - aliás, mal chegou a entrar nela - e já se tornou o Átomo. Cada português é um partido político.

Os comentários dao Samuel revelam já uma longa lista de culpados pela situação:

os que não se manifestaram

a Igreja

o Estado Novo

o Norte

o Sul

o País

o Rei

o Buíça

o futebol

as telenovela

os socialistas

os que se manifestaram

os republicanos

o Rei

os que estão em casa

a Máfia

a Mafía

quem ganha dinheiro à custa do erário público

quem atravessa a ponte da Arrábida sem pagar

etc.

 

Entre os gritos desbragados desta louca Babilónia, há uns profetas que vão apelando a que cada Homem se torne um líder (será uma nação de Reis, cada um na sua Coutada Real, tendo por vassalos os cãezinhos de porcelana), quem veja no Rei a cura de todos os males (logo o rei constitucional, que já não é um rei que cura mas antes um magistrado hereditário sem poderes concretos) e até um pobre emigrante que, louvando a atitude do Samuel em se revoltar publicamente, é acusado - em nome da comunidade emigrante, se é que isso existe - de não se organizar.

É óbvio que nesta barafunda, nesta Babel em depressão, a opinião organizada - a opinião estúpida, irracional, anti-intelectual e sobre-simplificadora, OS PARTIDOS - é surda em terra de cegos, é Rainha entre baratas tontas.

Se os nossos génios literários se foram queixando, até aos nossos dias, desta nossa democracia, eu que não sou nem meio génio atrevo-me, para mal de meus pecados, a conceder-lhes a resposta que tanto queriam: toda esta cambada de forcados sem touro, de empresários sem funcionários, de tijolos sem argamassa, são o produto final da Democracia Liberal.

Tal como berrava a Comuna de Paris a plenos pulmões - que cada Homem fosse o personal king - finalmente chegámos ao paraíso da soberania atomizada.

 

Em Portugal, todos são reis e ninguém serve. Por recompensa deste nosso estado de pânico, somos todos escravos uns dos outros.

publicado às 19:09


11 comentários

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De Ana Gabriela a 19.10.2010 às 21:06

Manuel

Auch! Muito provavelmente chegámos a esse ponto lunático, é bem possível.

Sim, nesse "reino individual", vê-se a necessidade doentia de aprovação social, de ser admirado por outros, muito auto-centrada.

Penso que foi o Manuel que, num post, referiu que a barbárie ou a decadência começa quando o homem quer ser a medida de todas as coisas, e não se coloca ao serviço de uma dimensão divina ou, pelo menos mais elevada.
Sim, escravos uns dos outros parece ser a actual situação.
Ana
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De Manuel Pinto de Rezende a 19.10.2010 às 21:10

Se o referi, Ana, referi-o bem, penso eu.
É esse o busílis da questão.
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De Anónimo a 19.10.2010 às 21:45




Houve e ainda bem uma «gigantesca repercussão» ao post do Samuel, um post com sentimento, com verdade e com realidade. Um post que retrata aquilo que são os portugueses: maricas, medricas, acobardados, que só saem à rua para aplaudir a selecção e esperar o Ronaldo no aeroporto.
Ao Prof. Marcelo Caetano ostracizaram, ao Chavez vão receber com honrarias e iguarias. Tudo no mais absoluto silêncio, consentimento e cobardia.
O espírito português não é incompatível com a democracia de massas. Ele é preguiçoso e espera que alguém dê o passo, certificando-se, porém, que ninguém lhe morde no rabo, porque é isso que define o português, o tal que é capaz de assistir à revolução à janela, que é capaz de a interromper para ver a novela ou qualquer paneleirice outra.
O americano é ignorante? Meu caro! Ignorante é o português, que com tantos séculos de cultura e história e tradição se deixa «comer» a torto e a direito pelo sistema politico actual, que não podia ser mais descarado.
O americano - estupidamente claro - quis saber se Clinton tinha «flirtado» com a Lewinsk, ora o que não faria o americano se tivesse um Sócrates por lá, um vara e outros da mesma estirpe e composição genética! O americano construiu o que tem, bem ou mal, o português, largou o que era seu, enclausurou-se em três esquinas e o maioral da negatividade dá-se ao luxo de correr, de receber ditadores, de mentir, de estar envolvido em escândalos, de se deixar fotografar com o «principal» titular da acção penal em Portugal.

Se o «yes we can» fosse palavra de ordem do espírito português, certamente hoje não discutiríamos se o OGE passa ou não passa, se o Passos Coelho aprova ou não aprova o OGE; que me interessa a «doutrina» de um bimbo de Massamá?? Os políticos, esses que nos governam, deviam era estar sentados e colaborar em soluções para nos tirar do atoleiro, sem esquerdas nem direitas linguisticas. Naturalmente, que carregar na carga tributária será sempre a via mais fácil, só que num país de doutores e engenheiros, todos criticam mas não saem e clamam o descontentamento e a deposição dos BESTAS que andam por cá. Na América há escolha, em Portugal há desinteresse, há ignorância e há vaidosos, fanáticos do nada, confortáveis na sua cátedra da crítica vazia.
Átomo? Há quanto tempo! Nesta altura seria bom haver uma mole ( de moléculas), por isso, o post do Samuel diz em poucas palavras aquilo que muitos precisam de ouvir e ele tem de ser apoiado e não «chumbado». Culpados? Há muitos, a começar pelos que o Samuel elenca, eu acrescentar-lhes-ia aqueles que vêm a terreiro mostrar a cauda num dia de sol. Em Portugal passa-se o tempo a discutir o que já se sabe – traduzindo -, passa-se o tempo a discutir a merda. Na América «de cima» fazem merda também, mas depois they fix it up, e vão em frente.

Gritos desbragados? Onde? Não o são certamente, porque chamaram a sua atenção, e o Rei, se realmente quer ser Rei que avance, que se mostre, que proponha, que salve. Emigrantes? Meu caro? Sabe o que faz o emigrante? «Vem à terra», e lá fora nem sequer diz que é português. Ressalvo honrosas excepções. O açoriano emigrante ri-se à gargalhada do continental, porque este é atrasado…mas o açoriano emigrante não volta mais, fica-se por lá, até os há que aterraram em Hollywood e não rezam as suas declarações que eles falem de sangue português.
Ora esta opinião, a dos presumíveis estúpidos, irracionais e anti – intelectuais, é aquela que tem que se impor, porque se se deixar continuar a comer pela doutrina fanática e iludida dos pseudo-intelectuais, sequer há possibilidade de reencarnação. O espírito esvai-se.
Meu caro, há muitos forcados e muitos touros. Até há tomates para atirar os aos que não reconhecem isso. Democracia? Chame-lhe o que quiser. Eu nunca gostei que me rotulassem. Já agora, criticou. Tem soluções?
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De Manuel Pinto de Rezende a 19.10.2010 às 21:56

tenho.
Não vote - não percebe nada de política nacional
Não faça greve - deixe os outros trabalhar em paz.
Não peça soluções para daqui a 4 anos - o problema é mais grave do que aquilo que pode imaginar.

se isto tiver que rachar, racha. não contribua para a confusão, e quando vier o FMI a sua casa, tenha uma arma carregada.
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De Anónimo a 19.10.2010 às 22:07


Que raio de soluções são essas?

Não voto, meu caro! Não! Não voto na mediocridade, se o tivesse feito, seria agora forte cúmplice da merda enraizada, da gula instituída, do desarranjo nacional.
O que é política nacional? Devemos, quem sabe, falar de politicas nacionais, não? Pois não nos diz que cada português é um átomo, um partido político? Que sabe você de politica nacional ou de politicas nacionais? Greve? Porque hei-de trabalhar e encher os bolsos da MERDA política que me desgoverna? Que o leva a presumir a «minha» ignorância? Demonstra assim saber tanto ou mais do que eu? NÃO!
Rachar? Mas ainda se pronuncia em termos condicionais? Meu caro: isto não está rachado, está partido, em cacos! Não percebeu!? FMI em minha casa? Talvez, mas não fui eu que permiti a sua entrada no meu país. Eu não voto, como lhe disse, na PORCARIA. Afasto-me dela, e tento limpá-la.
É preciso ir para a RUA, faço-o e até vou de microfone, pois já vi que para além de iletrados académicos, também há surdos quanto baste!
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De Anónimo a 19.10.2010 às 23:14

Então boa noite D. Rezende. Durma bem.
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De Anónimo a 19.10.2010 às 23:19

Não percebo esse sinal...ora traduza lá isso...
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De Anónimo a 20.10.2010 às 23:06

Hum...sorriso nortenho..D. Rezende, isso traz água no bico...acabe lá o curso rapaz, precisamos mudar o governo mas afaste-se do fax...e não diga que tem um MBA do ISCTE. Ainda o confundem.
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De Filipa a 20.10.2010 às 12:10

O problema em Portugal nao e que somos escravos uns dos outros. Antes fosse! Seria bem mais justo.
Assim e que deveria ser, trabalharmos todos, para nos servimos uns aos outros.
O problema e o oposto...ha meia duzia de escravos que trabalham arduamente para encher os bolsos dos seus "senhores".

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