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Os marsupiais de Cavaco e o esquema "Continente"

por Nuno Castelo-Branco, em 28.11.10

Um comentário de Carlos Velasco, aqui:

 

"Caro Nuno,

Aí está o protótipo do empresário cavaquista, como você diz. Essa gente é muito boa a gerir um negócio nas seguintes condições:

1 - O governo, em troca da criação de "postos de trabalho", paga a infra-estrutura, doa o terreno, dá incentivos fiscais e acelera a burocracia.
2 - Os bancos, graças às dimensões do negócio, cobram spreads ridículos na comparação com o que cobram aos pequenos, para não falar de que os bancos costumam ser accionistas destas empresas. 
3 - Os fornecedores, por causa da posição desses grupos, são espremidos. No caso do continente chegam a ser obrigados a dar de graça a primeira remessa de mercadoria, a título de "teste". E depois fazem preços menores que os cobrados aos pequenos.
4 - As câmaras começam a cobrar estacionamento nos centros urbanos, o que afasta a clientela dos pequenos negócios nas cidades. Em troca, muitas vezes, constroem infra-estrutura de transporte que passa nos continentes, ou avisam o grupo sonae onde elas vão passar para este comprar o terreno barato, de preferência antes da alteração do PDM. 
5 - A cobrança de IMI não poupa quem possui um negócio num centro, mas é branda para com os continentes da vida, estrategicamente colocados em terrenos baratos e muitas vezes isentados de impostos por criarem "postos de trabalho".
6 - A GALP, ao invés de dar um desconto directo, dá um talão que só pode ser descontado no continente.
7 - Aproveitando a falta de tempo do trabalhador moderno, e o facto de que as mulheres trabalham tanto quanto os homens, se dá um desconto em alguns artigos que as pessoas fixam mais os preços e se cobra muito mais no outros, que são colocados no caminho para os bens mais consumidos. Já fiz o teste e vi que os preços do continente são muito mais caros. Algumas vezes chegam a ser cinco vezes mais caros!
8 - As grandes empresas têm condições para serem SAs, ou até terem a sede lá fora, o que facilita em muito a vida com as finanças. Já as Lda. estão f... E nem vamos falar de como os grandes são bem tratados. O pequeno tem logo o seu negócio fechado.
9 - Numa economia super-regulamentada, só os gigantes podem possuir departamentos especializados em lidar com isso. Já o pequeno não pode lidar com o negócio e a burocracia ao mesmo tempo. Depois, há o poder de lóbi. Quem vai multar o continente (milhares de postos de trabalho ameaçados...)? Mas ao zé da esquina, ninguém liga.
10 - O grupo sonae pode fazer doações e dar empregos a muito gente dos partidos. O pequeno comerciante, se o fizer, fica com o negócio quebrado.
11 - Ainda podemos lembrar daquelas privatizações feitas por encomenda, sempre nos momentos oportunos. Há uns corticeiros por aí que compraram umas acções muito baratas e depois entraram para a lista dos mais ricos do mundo, quando o mercado se apercebeu do valor do que compraram. Hoje as bombas com o nome da empresa dão os tais talões que podem ser descontados no continente, e vice-versa. 

O pior é que muitos idiotas liberais acreditam que defendem o mercado livre, quando na verdade defendem o socialismo das corporações. Enfim, para eles basta meter o rótulo "privado" numa empresa para acreditarem que ela favorece uma política de direita."

publicado às 02:09


1 comentário

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De zedeportugal a 29.11.2010 às 13:36

Villains & Thieves: cantemos com os irlandeses. (http://umjardimnodeserto.nireblog.com/post/2010/11/29/villains-thieves-cantemos-com-os-irlandeses)

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