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Popularidade ministerial: Luís Amado

por Nuno Castelo-Branco, em 11.12.10

Uma sondagem de fim de semana, diz que o ministro Luís Amado é o mais popular membro do governo. Não nos admiramos.

 

Já não estamos na época em que gente como Talleyrand, António Vieira, D. Luís da CunhaMetternich, BismarckEdward Grey, Kissinger, H. D. Genscher ou até um PalmelaSoveral ou Franco Nogueira conduziam negócios diplomáticos, fossem estes decorrentes do exercício da pasta ministerial, ou da actividade de representação numa importante capital. Quanto à praxis, a diplomacia quer dizer antes de tudo, discrição. Os assuntos de Estado, especialmente aqueles que envolvem negociações políticas e militares, devem ser protegidos por uma cortina de silêncios que conservem a bom recato, as trocas de informações e os convénios que visem a segurança geral ou de um determinado número de Estados. O mesmo poderemos dizer quanto a aspectos económicos, pois os melhores negócios são feitos pelas empresas, sempre que estas se encontrem respaldadas pelo indispensável suporte político que desbaste caminhos, afastando dificuldades de pormenor.

 

De Ribbentrop, antigo negociante de bebidas espirituosas que acabou como Aussenminister do III Reich, o seu colega Goebbels dizia que ..."conhece a Inglaterra através do whisky e a França pelo cognac". Falador incontrolável, cada uma das suas conferências de imprensa, significava mais encomendas de tanques que o governo francês apresentava à Renault, ou mais umas dúzias de Spitfires entregues às esquadrilhas da RAF. Foi este, o resultado da substituição do mais circunspecto von Neurath, pelo impetuoso, arrogante, sequioso por comendas e pouco polido "senhor do Partido".

 

Um ministro hiper-activo nos media, apenas poderá significar uma, de duas coisas: ou o seu país se encontra numa dificílima situação internacional devido a um conflito - recordamos o viajante Kissinger dos tempos da Guerra do Vietname ou Moshe Dayan nos anos 70-, ou então, na melhor das hipóteses, o titular dos Negócios Estrangeiros, nada mais é senão uma triste criatura ávida pelo protagonismo noticiário - quantas das vezes por motivações políticas de ordem interna -, sem um correspondente conteúdo na acção. De facto, a maior parte daqueles que cedem à tentação da oratória descontrolada, enganam-se na análise, ofendem os seus pares sempre atentos a quebras do rigoroso protocolo entre Estados, cometem muitos erros de apreciação, causam uma generalizada sensação de insegurança e concitam a aversão de outros, geralmente aqueles que estão mais próximos geograficamente, ou então, no caso português, dos países que connosco partilharam um espaço soberano outrora muito extenso.

 

O nosso país não se pode dar ao luxo de ter um ministro dos Estrangeiros ocioso, ou um inveterado palrador, cujo exemplar perfeito foi aquele titular das Necessidades que lamentando-se à imprensa,  dizia que o seu ..."salário apenas chega para comprar uns charutos".

 

O ministro Amado não fala demais, nem parece ter de se auxiliar com sorrisos fáceis e palmadinhas nas costas. É discreto no seu deambular pelo mundo e não aparenta viver obcecado com a estreita meta europeia. Embora nem sempre concordemos com a aparência que este ou aquele assunto apresente, tem feito o seu trabalho de forma bastante satisfatória, há que dizê-lo. Os resultados estão à vista. A ideia absurda de obrigar um ministro dos Negócios Estrangeiros a proferir em público - seja na imprensa ou em pleno Parlamento -, aquilo que deve ser reservado à boa condução da política nacional, apenas servirá os desígnios dos próprios inimigos do Estado, sejam estes internos ou externos. Também será uma verdade, reconhecer que muito trabalho terá pela frente, pois a reorganização das nossas representações diplomáticas - onde a cultura e a economia deverão prevalecer de forma decisiva -, acompanhando a sensível modificação na correlação de forças no mundo. A Ásia deve ser cuidadosamente tratada e consiste precisamente, num espaço onde Portugal possui um considerável prestígio que provém de uma história ainda bem presente na memória de povos e dos seus dirigentes. Como exemplo, a recente visita do N.E. Sagres a Goa, revestiu-se de uma intensa carga emocional, bem presente nas manifestações de regozijo da população local. A isto, acrescentemos o facto de termos de tratar com alguns países, que parecendo territorialmente modestos para padrões asiáticos, ombreiam facilmente com qualquer potência europeia, seja pelo factor populacional, seja pelas oportunidades oferecidas pela situação geográfica, riquezas naturais, espantoso crescimento económico ou receptividade a produtos portugueses, até agora os eternamente ausentes nas prateleiras dos mercados.

 

A sondagem do Expresso, diz que o actual ministro dos Negócios Estrangeiros é o preferido pela generalidade dos portugueses. Pelas reacções já lidas, aqueles que andam na rua e passam os dias a ler A Bola, são mais conscientes do que a maioria dos "comentadores de partido".

 

Bem vistas as coisas, Luís Amado poderia ser ministro de qualquer governo, fosse ele formado pelo PSD, ou da responsabilidade do PS. Bem serve a República, como um dia poderá bem servir o Reino.

 

publicado às 11:00


4 comentários

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De Carlos Calixto a 11.12.2010 às 20:17

O Amado compreende-se, mas... o Gago está em segundo! Why?
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De João Quaresma a 12.12.2010 às 20:14

Em pouco tempo rebentou com 20 anos de política externa em África. Não se trata de uma mudança de orientação, trata-se de uma autêntica "descolonização exemplar" da nossa política externa. Portugal deixou de existir, para além de croquetes e corridinhas do Sócrates pela manhã. Com a nossa retirada, a Guiné-Bissau está a ser disputada por 
chineses, angolanos e brasileiros, além de espanhóis e senegaleses. Cabo Verde vai pelo mesmo caminho, com espanhóis e brasileiros à cabeça e até Marrocos.


E já nem falo nos escândalos que têm afectado o MNE (prostituição na embaixada em Dakar, concurso à carreira diplomática, cedência gratuíta do edifício do consulado em Sevilha aos espanhóis).


Um dos piores ministros de que há memória.
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De Nuno Castelo-Branco a 13.12.2010 às 13:49

Parece-lhe mesmo isso? Não será antes o fruto de um sistema em si? Há quantas décadas devia ter sido reorganizado o MNE, com a concentração de embaixadas e a reformulação dos critérios de representação? Quando me refiro a Amado, estou a pensar na nossa posição relativa ao espaço euro-atlântico, ao qual me parece razoavelmente coerente e fiel. Note-se bem que quem surge em "chavismos" é sempre o 1º ministro. Parece sintomático, não? 
É certo que toda a política deverá ser criteriosamente estudada e reformulada em conformidade com a realidade do nosso tempo. Ora, desde a queda do Muro, pouco ou nada se fez, continuando tudo a passar-se com dantes. basta olhar para os critérios de nomeação dos embaixadores, preso a "tradições" e "promoções de carreira", etc. Amado terá culpas nisso? Sim, se não começar a mudar a situação de quase-catástrofe. No entanto, parece-me não ser tão mau assim. Já tivemos bem pior. Imagine o que teria sido um Freitas do Amaral, frustradíssmo por não ter obtido o apoio USA nas Nações Unidas. esse tipo de "diplomatas" é perfeitamente dispensável, não lhe parece? 


Quanto à política externa em África, creio que jamais existiu como contínua, aquela que deve ser do Estado. Tínhamos os favoritismos durante a guerra de Angola, com o sr. Cavaco a apoiar Luanda e o sr. Soares a enviar mensageiros à Jamba. TTudo aquilo indiciava assuntos bem pouco límpidos, como aliás sabemos muito bem.  Ao contrário dos nossos adversários, a política do regime é fraca, medrosa, cheia de complexos de culpa pelo "passado" e sobretudo, nada coordenada. Essa é a verdade. Assim, creio que Amado nada destruiu. Pelo menos evita falar demais. 
Sabemos muito bem o que há para fazer, desde a organização dos serviços diplomáticos, até às prioridades na acção externa. Estão à vista de todos.
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De João Quaresma a 13.12.2010 às 18:52


Caro Nuno, não vale a pena estar a tentar defender o indefensável. A política de apagamento da influência portuguesa em África é deliberada, tal como anunciada pelo próprio Luis Amado quando tomou posse. Com todos os defeitos e insuficiências, Portugal aproveitou o fim da Guerra Fria para recuperar alguma influência em África, e até recentemente fomos alguma coisa. Agora não somos quase nada, estamos ser substituidos pelos nossos concorrentes. A boa notícia é que as empresas portuguesas continuam a garantir a presença portuguesa. Navegue aqui e veja como eu tenho razão: http://www.noticiaslusofonas.com/ (http://www.noticiaslusofonas.com/)

É claro que cimeiras disto e daquilo não têm faltado, mas política externa a sério, própria de um Estado que defende os seus interesses, essa é que não existe.

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