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Os Estados Unidos seguram Kadhafi pela inércia?

por Nuno Castelo-Branco, em 09.03.11

É uma questão a colocar. As tergiversações do governo americano e as constantes declarações do sr. Gates e da sr. Clinton, vão sempre no sentido de dificultarem ao máximo, qualquer acção que limite o poder do ainda líder de Trípoli. Várias iniciativas poderiam há dias ter sido tomadas, sem que fosse necessário qualquer envolvimento directo nos combates. De facto e contra as aparências transmitidas por uns tantos noticiários que vivem de "breaking news", a oposição parece estar no caminho da organização. Uma prova disso, consiste precisamente no aspecto que os ataques aéreos kadhafistas tomam, não correndo grandes riscos e surgindo os aviões isoladamente, largando as suas cargas a grande altitude. Poderá isto ser um indício de descontentamento pelas missões incumbidas aos pilotos de serviço? É possível mas pouco provável, dado conhecer-se a presença de  operacionais contratados em países da extinta urss e que decerto poucos pruridos morais terão, quanto ao bombardeamento de nacionais líbios. 

 

Na Casa Branca temos alguém que nada fará até ao "limite do insuportável", traduzindo-se isto numa "crise humanitária que aos olhos da opinião pública pareça ser catastrófica". É a única força que hoje em dia é capaz de mover vontades num Ocidente sempre temeroso de si próprio. Implícita parece estar a aquiescência pela manutenção de Kadhafi no poder, contra tudo e contra todos. É evidente o nosso total desconhecimento pelos meandros dos segredos da política entre os Estados envolvidos, mas as pistas parecem acumular-se a cada hora que passa e os aspectos comerciais são sempre um factor cimeiro.

 

A verdade é que os americanos parecem estar a falhar, quando e onde não o podem fazer. O episódio "Líbia" já atingiu um ponto tal, que se torna impensável qualquer recuo. A consequência imediata de uma vitória militar de Kadhafi, traduzir-se-á numa chacina no leste do país. Por outro lado, desacreditará o "discurso da liberdade" o sempiterno recurso ocidental. Entrou-se na decisiva fase da guerra de atrito, onde a logística decidirá o vencedor. Neste momento, os revoltosos encontram-se mais próximos das bases de abastecimento e contam com uma enorme extensão de deserto que os separa das tropas de Kadhafi. Por enquanto, estão em vantagem, embora ainda lhes faltem as armas que poderão ser decisivas. Acumuladas durante anos e anos nos depósitos sauditas e kuwaitianos, fazem agora imensa falta mísseis portáteis anti-aéreos e anti-tanque, meios de visão nocturna e de comunicação, não esquecendo os medicamentos, etc. Os potenciais instrutores do seu manuseamento abundam em Riade ou em Dhahran, por exemplo. Não estão muito longe, falam árabe, confundem-se facilmente entre os locais e não despertarão as atenções quanto a uma "intervenção estrangeira". 

 

Existe uma imensa panóplia de argumentos que aconselham a acção. O último acabou de ser fornecido pela aviação de Kadhafi, quando fez explodir um enorme reservatório de petróleo em Ras Lanuf, ameaçando o grande complexo petroquímico local e fazendo pairar a hipótese de um desastre económico, ambiental e humano. Os depósitos de gás encontram-se situados nas proximidades e o envenenamento de muitos quilómetros quadrados em redor, implica a morte de milhares de pessoas. Este bombardeamento poderá ter sido ocasional ou um natural erro cometido pelo piloto, mas demonstra a escalada do conflito e os riscos decorrentes. Existe agora um excelente argumento para a implementação da necessária zona de exclusão aérea. Mas tal não será suficiente, urgindo deitar mão a outros expedientes que apressem o desenlace desejável. Os emires do Kuwait e do Qatar, assim como o rei da Arábia Saudita, farão muito bem em discreta e parcimoniosamente, abrir os seus arsenais. O argumento das "armas em mãos erradas" não é decisivo, embora os norte-americanos a ele recorram para manter a contemporização para com o regime vigente.

 

Entretanto, via Reuters, noticia-se a chegada de um emissário de Kadhafi a Portugal, um país onde conta com conhecidos amigos. Os responsáveis nas Necessidades dizem nada saber. Como já se tornou um irritante costume, encontram-se desatentos, ou provavelmente estarão a mentir.

 

1458: Reuters reports that Libyan government envoys met officials in Malta on Wednesday before flying to Portugal. Another Libyan plane was on its way to Brussels via France, the report says.

publicado às 14:28


3 comentários

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De Anónimo a 09.03.2011 às 20:09

Caro Nuno Castelo Branco

Sinceramente, não me incomoda muito a actual implosão em curso do mundo islâmico. Não me esqueço que para todos eles (Kadafis, rebeldes, monárquicos, Al-quaidas e sei lá que mais) os Ocidentais são todos uns infeis e deverão mais dia menos dia submeter-se ao Islão. Por isso, o melhor mesmo é o Ocidente não interferir e deixá-los todos matarem-se uns aos outros.
Cumprimentos

GP
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De Nuno Castelo-Branco a 09.03.2011 às 21:52

Caro GP, compreendo muito bem o que quer dizer e quanto ao que se passa naquela parte do mundo, não tenho qualquer tipo de ilusão. É assim mesmo, tal e qual como diz. De resto, as imagens que nos chegam são elucidativas e impossíveis em qualquer país da Europa ocidental. Aquela gente tem muita coragem, mostra-se às balas e avança aos gritos. Mesmo que a fé seja apenas um pró-forma, invocam-na e em momentos de tensão, liberta a necessária energia. Olhe, deu-me uma boa ideia para um post...
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De Anónimo a 09.03.2011 às 22:27

Ora ainda bem que o inspirei. Gosto muito de ler o seus posts. Fico à espera do próximo...

GP

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