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(curiosa fotografia, picada daqui)
Os Presidentes da Comissão Europeia, do Conselho da União Europeia e do Parlamento Europeu reagiram unanimemente à notícia da morte de Bin Laden, afirmando que "acordámos num mundo mais seguro".
Num dia em que o júbilo de muitos norte-americanos com a sua morte me faz lembrar os líbios que ainda ontem festejavam a morte de um dos filhos de Kadhafi e de alguns dos seus netos, e embora compreenda esta reacção na medida da dor que a uns e outros foi inflingida, não deixo de estar particularmente céptico em relação às afirmações de que acordámos num mundo mais seguro. Desde logo, porque a martirização de Bin Laden torná-lo-á num símbolo ainda mais poderoso para muitos fundamentalistas islâmicos. Depois, porque em virtude dos esforços de norte-americanos e europeus para enfraquecer as redes terroristas ao longo da última década, a Al Qaeda a nível central já pouca capacidade operacional tinha, mas permanecia como um poderosíssimo símbolo político. Em terceiro lugar, porque esse simbolismo levou-me há 3 anos a escrever o seguinte:
De notar ainda que Bin Laden, mais do que qualquer outro Estado, Multinacional ou Organização Internacional, tornou-se um importantíssimo actor das relações internacionais contemporâneas, até pela estabilidade que providencia. Num mundo em que as questões de segurança transbordam para áreas aparentemente tão díspares como o ambiente, os recursos energéticos ou os direitos humanos, e em que estamos num daqueles raros momentos da História em que a ordem internacional se configura através da ausência de uma dialéctica de poder, em que passou a existir uma monopolaridade e um vazio institucional ou moralmente legítimo, isto é, um Estado ou Estados e/ou uma Ideologia, Bin Laden desempenha o papel de uma entidade quase transcendente que deve pairar sobre todos nós como forma de nos limitar nas nossas acções, sendo um excelente aliado dos E.U.A. na lógica maquiavélica, napoleónica e bismarckiana de que é necessário um inimigo comum para promover a coesão interna.
Bin Laden é assim uma espécie de Big Brother orwelliano, que não se sabe muito bem se ainda existe e o que é que faz, mas que em conjunto com os E.U.A. consegue pôr um planeta inteiro a pensar, a falar, a escrever e a agir em nome da luta contra o terrorismo, em que a ideia de um inimigo invisível parece assentar que nem uma luva neste sistema internacional. Trocámos a lógica da Guerra-Fria pela lógica do Ocidente e mais alguns contra o Terrorismo fundamentalista islâmico, em que Bin Laden se tornou o melhor aliado dos E.U.A. para a manutenção do estatuto de super-potência suprema sobre todos os outros.
Posto isto, e para finalizar, de um ponto de vista puramente realista, não sei se o desaparecimento de Bin Laden não virá, no futuro - no imediato, levou ao contrário, como se denota pelo facto dos EUA terem colocado as suas embaixadas em alerta contra represálias - a ser motivo para um aligeirar das medidas da luta contra o terrorismo, que em conjunto com a sua martirização poderá ser o catalisador de uma radicalização ainda maior por parte de grupos terroristas islâmicos, que encontrarão na narrativa que culmina com a morte de Bin Laden uma fortíssima motivação para o recrutamento de novos membros. E candidatos a novos Bin Laden não devem faltar por aí.
Desculpem o meu cepticismo e conservadorismo, mas como diria Edmund Burke, "He that wrestles with us strenghtens our nerves and sharpens our skill. Our antagonist is our helper".