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Como muito bem diz o meu irmão Miguel, ainda circula pelas ruas um conhecido artefacto que fez furor nos tempos da pretensa revolução. Pelos militantes mais "basistas", era conhecido por Mariconera, ou para os mais embrenhados nas tontices parisienses, pela Mariquette. Serviam o mesmo fim, mas marcavam uma fronteira inter-classista. Consistia e consiste numa maleta onde se guardam os preciosos pertences do dia a dia. Havia-as quadradas, as preferidas pela gente que sabia ler e se dava a ares, os trabalhadores intelectuais do MUTI. Geralmente em tons escuros - castanho ou negro -, ostentavam um desvio pequeno burguês no fivelame e fechaduras a dourado, reluzente latão que correspondia à esquerda, aos fiozinhos de prata com crucifixos, usados pelas meninas da Alternativa 76 do prof. Freitas do Amaral. Estas Mariquettes eram caras, feitas em bom cabedal e encontravam-se nas lojas da moda. Claro está, nem todos a elas podiam recorrer e os seus usuários pertenciam à vanguarda dirigente do povo, passeando-as pelos cafés da Baixa à hora de ponta. A tiracolo, atestavam o progressismo do dono. Alguns dos mais conhecidos clientes da moda foram entre muitos outros, os Srs. Augusto Zequinha Abelaira, Zequinha Saramago, Zequinha Afonso, Zequinha Mário Branco, Zequinha Manel Tengarrinha, o Manecas das Intentas (o grande líder da FSP, rival de Mário Soares), os talentosos maestro Lopes Graça e fadista Carlos do Carmo, além dos burgueses meninos de ouro do MES. Não nos podemos esquecer daqueles que se especializaram em cantigas autobiográficas. Ainda houve quem no PS se aggiornasse à malinha, mas Soares logo lhes cortou as vazas,  apontando para o Rosa & Teixeira.  Dado a outras coisas, Manuel Alegre nunca embarcou nestes batéis. 

 

Era o tempo em que não se sabia quem era padre ou um ex-seminarista convertido ao pecepismo, isto é, quando através do PC, pingava alguma coisa. Agora, são todos renovadores de si próprios, mas prefiro a sinceridade de Jerónimo.

 

A Mariconera era a outra versão. Mais popular, vendia-se em montões e ao quilo nos armazéns do Conde-Barão ou na Rua dos Fanqueiros e obedecia a uma forma mais rectangular. Não possuía alça para ser usada a tiracolo e embora existissem algumas em pele, geralmente o pergamóide ou o plástico mais descarado faziam a vez.  Possuíam um zip sempre a abrir e a fechar, num tique nervoso que contaminou milhares de aderentes. De lá saíam bilhetes cor de rosa do Metro, outros de várias cores da Carris - amarelos, azuis, rosa ou verdes -, o corta-unhas, a lima metálica de ponta curva para limpar o surro, um pente do nécessaire, cautelas da lotaria, chaves do Totobola, o BI, o porta chaves da FEPU (para quem não saiba, o primeiro travesti do PC + MDP/CDE + FSP, de seu nome Frente Eleitoral Povo Unido). A Mariconera era usada debaixo do sovaco e que me lembre, o único fulano da direita que se atreveu a isto e às infalíveis patilhas e gravatas-bacalhau às riscas, foi o prof. Mota Pinto. 

 

Nos "dirigentes de classe" - no tempo em que batiam palmas sincopadamente, ao estilo "só-viético" - , a Mariquette compunha o todo da moda: camisola em mousse  - bordeaux ou verde-seco - enfiada nas calças de ganga "à jovem", botinha de salto e fecho com zip, casaco aos quadrados pré-Burberry's em vários tons de castanho e mel - abas "avião" -, óculos de grossos aros em massa negra. O toque chique era dado pelo cabelo grisalho já a denotar calvície na fronte - como agora se vê em Balsemão e Santana - e bastante comprido e enrolado atrás.  Antes da epoca do Linic, a caspa semeava de neve os ombros ligeiramente enchumaçados, mas ninguém levava a mal. Adereços indispensáveis eram os jornais Avante!, Diário de Lisboa ou para os mais "propênsicos" ao frentismo, o Jornal. O basista proletariado ficava-se pelo Avante!, Gaiola Aberta - cuscando as tetas e trancas primorosamente desenhadas pelo grande Vilhena -, pela Sentinela ou por um dos desportivos. 

 

Outros tempos, mas as mesmas gentes.

publicado às 16:37







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