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Era um grande edifício, impecavelmente mantido pelo Estado. Após finalizar a Escola Secundária na General Machado, inscrevi-me na Escola Industrial. Ali funcionava uma espécie de mini-sucursal da António Arroio e matriculei-me em Artes Decorativas.
Tinha sido o Palácio Maçónico, mas após a queda do regime de 1910-26, foi-lhe atribuída uma função incomparavelmente mais útil, tornando-se numa casa aberta e dedicada à formação técnica dos jovens. Um edifício pintado de creme, com amplas salas de aula e que ocasionalmente sofria alguns percalços devido às fortes chuvadas que fustigavam Lourenço Marques. Assisti a várias inundações, por sinal bem frescas em dias de calor sufocante. Uma das minhas professoras seria a futura deputada do CDS Maria Tábita Soares, enquanto outra, um bocadinho autoritária e com cíclicas pulsões discriminatórias, era irmã do conhecido senhor Otelo S. de Carvalho. Nos tempos em que não apenas herdávamos os livros de estudo, também tive como professora de inglês, aquela que também dera aulas ao meu pai na época em que fora aluno no Liceu Salazar. Chamava-se Infância Vilares e foi uma velha e bondosa senhora de um patriotismo extremo, bem nos moldes oitocentistas que para sempre se foram. Para sempre também se perderam as belas arrufadas que ao lanche comia no café que se situava mesmo em frente, O Cortiço, na Avenida 24 de Julho.
Esta foto chegou hoje ao meu e-mail, enviada por um amigo que lá está em passeio. Tenho a estranha sensação de um certo abandono e quase garanto que esta deslavada fachada não é pintada desde que pela última vez subi aquelas escadas em Junho de 1974. Mais acima, o frontão denuncia o "gato escondido de rabo de fora". O escudo português já picado, ainda mostra a marca do antigo proprietário. Nem se preocuparam em disfarçar. Antes assim.