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A Carminda é uma daquelas mulheres minhotas que me parecem guardar nas veias um pouco do sangue da Maria da Fonte.
Tal como a minha mãe, não pôde ir além da 3ª Classe na Escola, por ser preciso o seu contributo para o débil equilíbrio da economia familiar. Depois de " servir " nuns senhores que por cá tinham uma quinta, agarrou no modo de vida da mãe: criava frangos e coelhos que depois vendia porta-a-porta. É o que ainda hoje faz, 62 anos depois de ter deixado a Primária, nunca mais tendo pegado num livro, e só usou a esferográfica para escrever o nome no BI ou noutro documento ( "- mas olhe que tenho uma letra bonita " ).
Há dias dizia-lhe da minha admiração pela facilidade com que fazia contas: nunca ela se enganou na hora de receber a justa paga pela " bicharia ".
" E sabe porquê? Porque nunca esqueci a tabuada aprendida de cor e salteado; agora, os meus netos só sabem fazer uma continha pequena na máquina. Se a esquecem em algum lado ficam logo à rasca...".
Deixe Carminda, disse-lhe eu, porque agora vai mandar nas escolas um senhor que, entre outras coisas boas, vai proibir o uso dessas máquinas nas aulas; os seus netos vão ter de aprender a tabuada.
" - Bendito senhor! disse então a Carminda; olhe que ainda há dias um deles, que já anda adiantado na escola ( oitavo ano, respondeu-me quando lho perguntei ), não me soube dizer quantos quilos tem uma arroba; ora toda a gente sabe que uma arroba é o mesmo que 15 Kg - se tem jeito!... ".