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Fundamentalismo demagógico

por Samuel de Paiva Pires, em 27.09.11

Normalmente, em debates com pessoas minimamente inteligentes e racionais, deve-se evitar brandir a acusação de "demagogo". A mais das vezes, significa que quem o profere perdeu o debate, passando a tentar desqualificar intelectual e mentalmente o adversário. É por isso que faz já várias semanas que Manuel Castelo-Branco perdeu o debate sobre a privatização da RTP, quando deixou de ter argumentos para contrariar os dos Blasfemos. Recomenda-se ainda vivamente a leitura deste post inebriado de fundamentalismo demagógico do Tomás Belchior, que aqui deixo na íntegra:

 

Até estou disposto a admitir que a RTP não é só um esquema para oferecer empregos bem remunerados a uns milhares de pessoas. Mas uma coisa é certa: a RTP não é um grupo de comunicação social. É um braço político do(s) Governo(s) e é como braço político do(s) Governo(s) que tem de ser avaliada. É por isso que me faz alguma confusão ver o Manuel Castelo-Branco falar em “racionalizar” a RTP sem sequer aflorar essa questão.

 

A RTP tem uma única missão, arranjar votos, e duas formas de cumprir essa missão: indirectamente, através do “serviço público” (que muita gente defende mas que pouca gente vê) e do condicionamento do sector da comunicação social e, directamente, através de propaganda mais ou menos explícita. “Racionalizar a RTP” significa melhorar o rácio euro/voto do dinheiro que os contribuintes portugueses metem na empresa. Não significa, ao contrário do que o Manuel Castelo-Branco diz, combater o desperdício, arranjar estruturas mais produtivas ou definir estratégias empresariais racionais. Isso é o que os privados fazem. Isso é o que só os privados podem fazer. Logo, se é para avançar nesse sentido, mais vale passar-lhes a bola o mais rapidamente possível.

 

O problema é que, se a RTP cumprir a sua missão como empresa pública, funciona como uma espécie de subsídio à acção governativa. Um subsídio que os contribuintes são obrigados a pagar pelos governos cuja acção subsidiam. Não me parece uma situação particularmente higiénica. Como se isto não bastasse, ainda resta saber se os contribuintes ganham alguma coisa com esse subsídio, ou seja, se ao subsidiarem essa acção governativa subsidiam a qualidade da acção governativa ou apenas a sua quantidade (e, pelos vistos, o resultado líquido dos concorrentes da RTP).

 

Enquanto a RTP for pública, são estas as contas que têm de ser feitas. A RTP é mal gerida porque é pública e não é “racionalizável” enquanto se mantiver pública. Eu percebo que eventualmente não se possa falar desta questão abertamente mas talvez o facto de não se poder falar disto acabe por ser o melhor argumento para se tirar de uma vez por todas o Estado da comunicação social.

publicado às 18:14


6 comentários

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De areia_do_deserto a 27.09.2011 às 19:11

Subscrevo e aflijo-me que ninguém perceba como é que sempre que muda o Executivo certos grupos endogâmicos mudam de poico...vai-se lá perceber...aliás. pelos vistos não é só na RTP- o que aconteceu a José eduardo Moniz e a Manuela Moura Guedes na época socretina em que a censura era subscrita por quem tinha a obrigação deontológica de a denuinciar e combater? O que aconteceu ao jornal Sol, depois da capa O Polvo? São coincidências? Por Amor de Deus!
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De areia_do_deserto a 27.09.2011 às 19:11

claro que poico é poiso...sorryImage
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De areia_do_deserto a 27.09.2011 às 19:15


Eu que nada tenho de salazarista- se tivesse vivido na época como adulta tinha sido deportada para Moçambiique- ai, que pena que teria! :) ou enviada para o Tarrafal.- chego à conclusão que o lápis azul bruto do Ancien Regime, muito similar ao da Inquisição analfabeta, era mais ineficaz do que este tipo de ditadura armada em democracia que usa métodos tão sofisticados e subliminares foucaultianos que se revelam simplesmente aterradores...
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De Samuel de Paiva Pires a 28.09.2011 às 09:57

É por isso que, como me dizia um Professor numa aula de mestrado aqui há uns meses, dizer que isto é uma democracia liberal desvirtua o próprio conceito...
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De Eduardo F. a 27.09.2011 às 20:54

O actual governo acha que cumprirá o seu papel se, ao contrário do anterior, for "competente" na sua actuação, cumprir o guião da troika e extirpar  (parte das) "gorduras" estatais. Mercê da continuada, e sempre progressiva, punção fiscal, admite que os desequilíbrios orçamentais se venham assim a minorar contando para isso ainda com a profissão de fé numa retoma económica internacional que tem muito de incerta.

É triste que a esta desoladora descrição, sobretudo a cargo do Ministério das Finanças, se tenha assistido, entre ontem e hoje, a um conjunto de intervenções de Álvaro Santos Pereira que vem confirmar o que já se adivinhava: a total inutilidade do Ministério da Economia ou, pior, a continuação do recurso aos mais que requentados  "estímulos" keynesianos bem ao estilo do inesquecível Manuel Pinho.


Pobre país!
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De Samuel de Paiva Pires a 28.09.2011 às 09:58

É a suprema arrogância dos que se acham melhores que os outros na arte da desgovernação, mesmo que tomem o mesmo tipo de medidas. Claro que a seguir são os outros que voltam ao pote...

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