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Enquanto escrevo um artigo sobre indignados e "ocupas" para o próximo número do Lado Direito, jornal da JP Lisboa, veio-me à memória uma aula do primeiro ano da licenciatura em que um desses académicos frustrados e infelizes, daqueles que pouco ou nada de original têm e que se limitam a uma espécie de enciclopedismo que se fica pelos redis do sindicato das citações mútuas, dizia que a Teoria das Relações Internacionais era cada vez mais a ciência do quotidiano. Quão ridícula e redutora perspectiva.
Muitas das perspectivas da Teoria das RI não levam em consideração conhecimentos e ensinamentos das ciências de que se diz ter autonomizado e que muitos autores se esforçam até por repudiar – porventura consoante sejam mais fracos nesses domínios, desde a História à Filosofia, passando pela Ciência Política, Economia e Direito. Exemplos claros são as chamadas “narrativas” idealistas pautadas por dogmas ideológicos como o Fim da História, ou o construtivismo da governança global. Ademais, não tendo tanta relevância a perspectiva de Kenneth Waltz de que a primeira unidade de análise da realidade internacional é o indivíduo, sendo o Estado a unidade de análise principal para a grande maioria dos autores, a TRI tornou-se demasiado circunscrita. Nada contra, até porque tal consubstancia a sua autonomização científica. Simplesmente não me parece intelectualmente honesto circunscrever um objecto de estudo e autonomizar uma ciência para depois clamar domínio sobre todas as outras – ainda que apenas tenha ouvido isso da boca de uma só pessoa da área. É que muitas das outras ciências tentaram fazer o mesmo, e já cá andam há mais tempo. Talvez um bocadinho de humildade académica não fizesse mal.
Mais, a proeminência de economistas nas tentativas de explicação dos tempos que vamos vivendo é, também, um sintoma de que os modelos explicativos da TRI estão esgotados, o que é apenas normal se considerarmos que a Economia Internacional assenta nos ensinamentos do keynesianismo (ou não tenha Keynes sido o grande arquitecto do sistema de Bretton Woods).