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Na luta pela desmistificação, contra o fanatismo e a intolerância, os meus parabéns ao José Maria Barcia pela iniciativa de entrevistar vários maçons e interessados. Dificilmente seria possível começar de melhor forma do que com esta entrevista ao Professor Maltez, que aqui transcrevo na íntegra com a devida autorização do Zé Maria:

 

Antes de mais, o que representa para si a maçonaria?

Tenho uma concepção do mundo e da vida típica da profunda tradição liberal, fiel aos valores de Espinosa, Montesquieu e Kant que, em Portugal, tiveram expressão na luta de ideias de Silvestre Pinheiro Ferreira, Vicente Ferrer de Neto Paiva e Alexandre Herculano. Gostava de redundar o Estado conforme o exemplo dos decretos de Mouzinho da Silveira, a moralidade de Passos Manuel, o entusiasmo de José Estêvão, o sinal do Código Civil do Visconde de Seabra e o pioneirismo da abolição da pena de morte, de 1867, bem como para manter a boa relação entre a política e a religião do presente regime, fundado quando os velhos carbonários defenderam a liberdade dos católicos no cerco ao Patriarcado ou no assalto à Rádio Renascença, em 1975, quando novos totalitarismos nos ameaçavam.

 

Apertos de mãos, protocolos, símbolos e significados. Porquê?

Não conheço nenhuma instituição que não tenha uma ideia de obra, manifestações de comunhão entre os seus membros e cumprimento de estatutos internos. No caso da maçonaria, que não é uma religião nem mera ideologia, onde se vivem e revivem lendas, alegorias e símbolos, através de rituais conhecidos, é mais intensa e formalizada essa dimensão, até com a procura do próprio sagrado. Logo, ver de fora qualquer comunidade de coisas que se amam pode levar muitos a dizer que todas as cartas de amor são ridículas. Mas como dizia Fernando Pessoa, é bem mais ridículo não se escreverem cartas de amor. Ou não responder a uma entrevista na blogosfera, só porque o interpelante tem manifestado óbvias divergências com a minha concepção do mundo e da vida, mas talvez seja capaz de reconhecer que comete erros, tem dúvidas e pode enganar-se, até na listagem de inimigos públicos.

 

Como é a reunião ideal dentro de uma Loja?

Segundo aquilo que estudei, não pode haver reuniões dentro de lojas, há reuniões rituais das lojas, onde é proibida a discussão de matérias de política e de religião, porque se tem de fazer maçonaria. Quando as lojas promovem reuniões abertas a não maçons, as sessões brancas, elas são como todas as outras reuniões de qualquer grupo. Daí que não se possa inferir que um convidado seja maçon, ou ligado à maçonaria, dado que até conheço casos de convites a antimaçons para manifestarem suas perspectivas junto de maçons.

 

Qual é, ou qual deve ser o papel principal da maçonaria num país como Portugal?

Contribuir para a regeneração de uma sociedade secreta iniciática fundada em 1140 e sucessivamente redundada, a república dos portugueses, que, durante séculos, foi governada por reis.  Porque temos de a libertar do presente protectorado, com mais liberdade, mais sociedade e mais coisa pública. Isto é, contribuir para nova refundação  de Portugal.

 

Em resposta à polémica instalada na Assembleia da República, devem os maçons serem obrigados a admitirem que o são?

Qualquer cidadão deve contribuir para que cada um possa viver como pensa. Mas como as leis são gerais e abstractas, julgo que há dificuldades normativas quanto ao cumprimento do princípio da não discriminação, consagrado pela Convenção Europeia dos Direitos do Homem, nomeadamente no artigo 11. Pelo menos, o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem já condenou a Itália em 2007 por um acto legislativo desse teor, emitido por uma das suas regiões.

 

Num país que considera a maçonaria um ''clube privado de amigos'' que lutam apenas pelo seu interesse, haverá fundo de verdade nesta crença popular?

No ambiente anglo-americano, as maçonarias são, sobretudo, modelos de "societies of friends" e a percepção externa liga-as a actividades de filantropia. Porque os valores que defendem são tão naturais como o ar que aí se respira. Em sociedades que sofreram a Inquisição, os autos de fé, Pina Manique, moscas, bufos, caceteiros e extinções, ainda há preconceitos e fantasmas, logo incompreensões resultantes de velhos conflitos entre política e religião, entre anticlericalismos ultrapassados e antimaçonismos requentados. Uns esquecem-se que o conservadorismo contemporâneo foi fundado pelo maçon Edmund Burke, outros, que, do anarquismo ao socialismo, de Proudhon a Antero de Quental, foi comum a coincidência maçónica, bem como na fundação do projecto europeu, de Winston Churchill a Jean Monnet. Por outras palavras, a civilização ocidental a que chegámos é o resultado da convergência do humanismo cristão com o humanismo maçónico, tanto à direita como à esquerda, de liberais a socialistas, unidos na luta contra a ignorância, o fanatismo e a tirania, nomeadamente contra as experiências totalitárias do século XX.

 

De acordo com a notícias actuais, a maçonaria é vista como um problema à democracia. A lealdade aos irmãos é superior à responsabilidade de cargos públicos?

Do que imperfeitamente sei, a maçonaria, em todos os tempos e em todos os sítios, nunca abdicará de ser uma sociedade iniciática, sob pena de perder a respectiva natureza. De acordo com as regras que a regem não pode ser uma sociedade secreta política em regimes de liberdade que não imponham o dever de resistência, definido pela própria escolástica católica. Assim, seria inconstitucional e antimaçónico qualquer anacronismo de clandestinidade política de maçons num regime como o nosso, onde todas as normas fundacionais do Estado de Direito corresponderam aos ideais expressos pelos maçons históricos, nomeadamente na Constituição. Basta recordar os símbolos e os exemplos dos maçons Adelino da Palma Carlos, o primeiro chefe do governo,  da restaurada liberdade, de Emídio Guerreiro, líder do PSD, ou de Raul Rego, futuro grão-mestre do GOL, no PS.

 

Não sendo uma sociedade secreta mas sim uma sociedade com segredos, não há aqui um desvio à transparência exigida numa democracia?

O GOL, fundado em 1802, é a mais antiga sociedade demoliberal portuguesa, com continuada actividade. E sem ser por acaso é, em termos cronológicos, a segunda organização maçónica do mundo. Logo, é um dos elementos fundamentais do nosso património cultural que se perde nas brumas da memória, tal como a Igreja Católica. Isto é, tanto é um valor nacional, como é europeu e universal, e como tal é reconhecido tanto pela Comissão Europeia como pela própria ONU, participando, através do CLIPSAS, no Conselho Económico e Social da organização. Apenas se reconhece o óbvio, o próprio desenho maçónico que esteve na base da Sociedade das Nações em 1918, num processo onde participaram portugueses tão ilustres como o futuro prémio Nobel, Egas Moniz, ou o ex-chefe do governo, Afonso Costa, insignes maçons, por acaso inimigos políticos, no plano doméstico.

 

Será, de facto, fácil de admitir que a maçonaria sofreu uma degeneração dos seus princípios?

As coisas humanas, mesmo as que procuram o sagrado, tanto degeneram como se aperfeiçoam, tal como cada um de nós cai e se levanta. A perfeição apenas reconhece que cada um deve reconhecer a respectiva imperfeição para que possa procurar a perfeição. Segundo uma alegoria maçónica, chama-se a isso trabalhar a pedra bruta, para depois a polir e permitir a construção do templo interior.

 

Casos como o das secretas, não prejudicam gravemente a reputação da maçonaria? Deve haver limites à actuação dos membros ou mesmo castigos a quem usa em vão o seu posto de maçon?

Do que foi dito e tem aparecido, julgo que o principal problema está nos órgãos de investigação criminal do Estado português, nas leis por cumprir que regem a matéria e na falta de adequada fiscalização parlamentar. Não está nos bodes expiatórios e muito menos na eventual coincidência de alguns implicados em parangonas jornalística  com sociedades maçónicas. E a transparência talvez exija que não manipulem a luta pela transparência, alimentando uma fumarada que pode ocultar lutas partidárias pelo poder político, ou lutas de grupos de negócios pelo poder económico, social e comunicacional.

 

Historicamente, a maçonaria teve um papel relevante em Portugal. Que mais se pode esperar?

Que os valores professados pela tradição liberal possam ser tão naturais quanto o ar que se respira num país livre, com homens livres. E que os maçons não esqueçam momentos dramáticos em que se dividiram em jogos profanos e dissidências politiqueiras, como foi flagrante com o cabralismo e a patuleia, ou no processo de decadência da Primeira República, com afonsistas, almeidistas, camachistas, sidonistas e outros istas da personalização poder, desrespeitando as fundamentais constituições da ordem. O que nos falta é uma nova maçonologia, isto é, uma actividade científica e não meramente apologética, que estude o fenómeno maçónico, não apenas no campo historiográfico, mas também nos domínios da filosofia, da antropologia, das belas artes, da literatura ou da arquitectura.

 

Em Portugal debate-se sempre constantemente o problema da corrupção. A maçonaria pode ter um papel contra este problema?

Tenho um artigo sobre a matéria no número um da nova série da Revista de Maçonaria, que congrega profanos e maçons de várias obediências. É exactamente a mesma coisa que tenho vindo a dizer em revistas científicas desde o século passado e que me levaram a estar associado à implantação em Portugal de duas experiências de introdução da Transparency internacional, finalmente consolidada com a associação cívica Transparência e Integridade, cujos princípios advogo militantemente.

 

O que se pode esperar da maçonaria para os próximos tempos?

Que seja liberdadeira, de acordo com as regras tradicionais da liberdade individual, da autonomia da sociedade civil e da integração dos valores da libertação nacional no cosmopolitismo, para que cada nação possa converter-se armilarmente na super-nação futura, a república universal. Isto é, que tenha saudades de futuro, conforme o sonho do maior dos símbolos maçónicos do século XX português, Fernando Pessoa.

publicado às 21:19


21 comentários

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De c. a 08.01.2012 às 02:51

Ah, afinal não se passa nada, nem há problema nenhum.
O melhor é criar até um imposto ou taxa para ajudar os maçons que ocupam altos lugares no estado.
O dever de silêncio e obediência dos maçons de grau inferior aos de grau superior não tem importância nenhuma  como facilmente se depreende.
O discurso de Kennedy sobre as sociedades secretas em democracia é uma palermice.
A nossa democracia, aliás, tem a pujança e a vivacidade que lhe reconhecemos graças à participação de tantos maçons. E, não é?
Logo vi.
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De José Manuel V. a 08.01.2012 às 04:04

Não percebi muito bem mas acho que é isso keste senhor quer, ou seja, meter os pés pelas mãos para fingir que é um curioso. è tudo porreiro mas cheira a esturRRo. Também não percebo k filantropia faz este senhor. Fui aluno dele e quando não pisava as pessoas dizia maluquices. De santinhos de pau carunchoso como este está o inferno cheio.
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De Samuel de Paiva Pires a 08.01.2012 às 12:25

Curioso, também fui aluno dele, além de ter sido o meu orientador da dissertação de mestrado. Foi o melhor Professor que tive até hoje. Mas percebo que quem escreve com "kapas" discorde.
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De Artur de Oliveira a 08.01.2012 às 08:40

Por isso é que deve haver uma declaração de interesses como se faz nos paises civilizados... Assim acabam-se as tentações e suspeições perante maçons, opus dei e etc... E assim todos diferentes, fazemos uma sociedade melhor. Agora o preconceito gratuito e caça ás bruxas é que nunca.
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De Jorge Velasco a 08.01.2012 às 21:38

Samuel, apenas faltou comentar o discurso do Kennedy.
Um abraço, Jorge Velasco.
PS: Por acaso o Samuel não é maçon pois não ?
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De Samuel de Paiva Pires a 08.01.2012 às 21:43

Por acaso não, caríssimo Jorge. Sou um interessado pela temática. E não gosto de caças às bruxas que plantam sementes de totalitarismo.
Um abraço
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De Jorge Velasco a 08.01.2012 às 21:48

E o discurso do Kennedy ? Para meu espanto ainda não o comentou! Ele de certeza deveria andar a fazer caça as bruxas... Era mais um teórico da conspiração.
Um grande abraço Samuel, admiro sua honestidade e frontalidade.
PS: Tem mesmo a certeza que não é maçon ?
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De Samuel de Paiva Pires a 08.01.2012 às 22:01

Peço desculpa, não foi por mal. Não creio sequer que Kennedy estivesse a falar da maçonaria mas sim do comunismo e da União Soviética. De resto, notar que logo no início do discurso Kennedy afirma que o povo americano é contra sociedades secretas. Nem há aqui qualquer paradoxo pois toda a gente sabe que os Founding Fathers eram maçons e que os EUA se fundamentam nos ideais maçónicos, que estão à vista de todos. 
Acho que se fosse maçon me recordaria, meu caro :)


Um abraço
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De Jorge Velasco a 08.01.2012 às 22:09

Não deve ser o mesmo discurso Samuel, pois no discurso a que me refiro, ele afirma claramente que as "sociedades secretas" colocam em causa justamente a liberdade. Para lhe ajudar a refrescar a memória, eis o link para o mesmo.
http://www.youtube.com/watch?v=xhZk8ronces
Ele não está a mencionar o comunismo, isso é claro, claro como a água. Já agora, conhece o discurso de Eisenhower ? Ou seria este outro caçador de bruxas?
Se desejar, terei todo o gosto em lhe fornecer o link para o mesmo.
Já agora que mencionou os Founding Fathers, já leu as cartas de George Washington e as razões que o levou a se afastar da maçonaria?
Forte abraço Samuel, em breve entrarei em contacto consigo.
PS: Ainda bem que se lembraria, admiro homens honestos e sinceros.
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De Samuel de Paiva Pires a 08.01.2012 às 22:25

Sim, é esse mesmo o discurso. Presta-se facilmente a essa interpretação dupla. Mas no contexto da Guerra Fria e dirigindo-se aos jornalistas para lhes pedir alguma moderação, e sabendo-se de toda a história dos EUA, tenho mesmo sérias dúvidas que se referisse à maçonaria. Quanto a Washington, desconheço as razões a que se refere.
Fico a aguardar, caríssimo.


Um grande abraço
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De Jorge Velasco a 08.01.2012 às 23:12

Se desconhece, então estude, uma pessoa que prima tanto pela cultura que até corrige o português dos outros tem essa obrigação moral.  Leia as cartas de George Washington, e não tente atirar areia para os meus olhos, não há dupla interpretação, existe uma referência clara a sociedades secretas que infiltram sociedades e agem nas sombras, preferem a subversão ao combate directo. Se necessitar de ajuda com o inglês, posso lhe oferecer. O discurso de Eisenhower também é maravilhoso. Em ambos os casos Samuel, estude antes de tomar uma posição como já tomou, pois bem necessita desse estudo. Se desejar, também pode consultar as razões pela qual a Igreja Católica Apostólica Romana condena a maçonaria, até excomunga um fiel e o proíbe de todos os sacramentos, mas claro, estes são teóricos da conspiração.
Um forte abraço Samuel, ainda bem que não é maçon...
PS: E sim, ainda bem que a Igreja faz caça as bruxas :)
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De Samuel de Paiva Pires a 08.01.2012 às 23:36

Caro Jorge,


Por razões de que não pretendo aqui falar, tenho fortíssimas dúvidas que Kennedy se referisse à maçonaria. Não estou a tentar mandar-lhe areia para os olhos, longe de mim, mas assim como tem direito a ter a sua opinião, também eu tenho direito a ter a minha. E essa dupla interpretação está patente por essa internet fora, não é uma originalidade minha. Ademais, sou geneticamente céptico quanto a teorias da conspiração, precisamente pelas razões que Popper aponta.
Quanto à ICAR,  devolvo-lhe a recomendação de estudo pois entre a mais alta hierarquia tem havido sempre maçons... E pouco me importa que a ICAR condene a maçonaria e excomungue fiéis que sejam maçons. O contrário não acontece. O que diz muito do conceito de tolerância a que as duas organizações recorrem.
Um abraço


P.S. - Sou cada vez mais agnóstico e continuo a não gostar de caças às bruxas.
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De Jorge Velasco a 08.01.2012 às 23:47

Ok, guardará para si as razões então, é uma postura muito honesta, de quem não tem nada a esconder, parabéns. Eu ao contrário de si, tenho inúmeras razões para ser contra a maçonaria e as digo claramente, aos olhos de todos.
Apenas para lhe ajudar na sua busca e procura pela verdade Samuel, aconselho a estudar a vida e obra de Albert Pike, fundador do Rito Escocês, maçon de grau 33 (O mais alto), por sinal fundador do Klux-Klux-Klan, sim, o famoso KKK. Esses realmente faziam caças que terminavam em fogueiras, mas não eram bruxas os alvos escolhidos...
Sem margem de erro, uma pessoa muito tolerante.
No seu famoso livro "Morals and Dogmas", Albert Pike diz:
"That which we must say to the crowd is, we worship a god, but it is the god one adores without superstition. To you sovereign grand inspector general, we say this and you may repeat it to the brethren of the 32nd, 31st and 30th degrees - the Masonic religion should be by all of us initiates of the high degrees, maintained in the purity of the luciferian doctrine."
Sim, iniciados na doutrina luciferiana, porém ele não fica por aqui, sim, vai mais além e diz :
Lucifer, the Light-bearer!  Strange and mysterious name to give to the Spirit of Darkness!  Lucifer, the Son of the Morning!  Is it he who bears the Light, and with its splendors intolerable, blinds feeble, sensual, or selfish souls?  Doubt it not!
Como gosta da temática, aqui vai um vídeo de um ritual filmado na Turquia dentro da loja mais influente desse país, sim, como o GOL cá em Portugal, o vídeo fica muito interessante no minuto final.
http://www.youtube.com/watch?v=8TTnmMd7SOY
Um forte abraço cristão, e ainda bem que não é maçon, pois se o fosse, poderia colocar a própria alma em perigo.
Amén.
PS: Se desejar ler o Morals and Dogma, posso lhe emprestar.
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De Samuel de Paiva Pires a 08.01.2012 às 23:52

Caro Jorge,


Decerto entenderá que, para não nos chatearmos, esta conversa fica por aqui. Além de não gostar de caça às bruxas, não tolero que se intrometam na minha esfera de liberdade individual. Fique com as suas teorias da conspiração para si.


Um abraço
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De areia_do_deserto a 09.01.2012 às 00:06


Samuel, pelo que li, tenho de lhe mostrar o meu profundo desalento (registo irónico), pois enquanto que os seus interlocutores lhe revelaram as suas opiniões (com k ou sem k, há quem diga verdades muito mais acutilantes do que retóricas formalmente muito lindas, mas cujo conteúdo é, estranhamente, circular), uma das quais bem fundamentada. O Samuel pode não ser a favor da "caça às bruxas" sistémicas que, por mero acaso, já se divertiram, em tantos episódios históricos, diacronicamente considerados, em várias nações, na "caça às bruxas" de quem não se lhes juntava ou obstaculizava as conveniências. E, por favor, não compare a maçonaria Norte-americana com a Portuguesa. pois será o mesmo que estudar qualquer fenómeno sem o contextualizar nas características secularmente dominantes de cada nação; não compare o regime de transparência anglo-saxónico (onde os media assumem, de facto, uma força de atrito) a peças de teatro burlescas lusas, onde a matriz da "retórica do silêncio" e da invisibilidade é acirrada por "panem et circenses", que embrutece, ainda mais, os bacocos analfabetos ou analfabetos funcionais, muitos deles armados em grandes inteligências de pacotilha. Por que será que estas sociedades secretas detêm membros em cargos importantes? É pela filantropia???!!!! É pela humildade ou será pela ânsia pelo poder e privilégios adstritos???!!! O que se tem visto em Portugal???!!!! Este país é meritocrata onde, quando verdadeiros atentados ao bem comum têm sido perpretados em prol de interesses reticulares???!!!!  Já se esqueceu das broncas contínuas quando há zangas de lojas???!!! A Moderna não lhe lembra algo, que não o Ferrero Rocher???!!!Não é preciso ser-se um especialista para se detectarem intertextos tão, mas tão explícitos que até se fica a pensar como se chegou a este ponto. Há boas e más pessoas  em todos os clubes, mas caramba, como é que poderá haver iluminação se a cartilha obriga ao silêncio e ao compadrio???!!!! E não esquecer que Diderot e D´Alembert consideravam cidadãos esclarecidos os que sabiam ler e escrever, não era todo e qualquer pé rapado. Daí o Terror, talvez???!!!! Olhe, já me deparei com episódios tão, mas tão aviltantes de caciques que pertencem a um desses clubes que dispenso e arrenego: "vade retro!". Areia para os olhos dispenso tb, creio piamente que um cidadão em pleno tem o dever de deter uma capacidade pró-activa individual crítica que lhe permita agir de acordo com a Consciência e não por interesses.
Lamento dizê-lo, mas prefiro uma "caça a verdadeiras bruxas" do que o branqueamento de situações aviltantes!Image
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De Samuel de Paiva Pires a 09.01.2012 às 00:10

Cara areia_do_deserto,


Se fizer o favor de reler, entenderá o tom ironicamente jocoso de que o Jorge fui utilizando nos seus comentários. O qual fui ignorando. Até se intrometer com juízos de valor na minha esfera de liberdade individual. E isso não tolero, a ninguém, independentemente da situação ou do tema em causa no debate. 
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De areia_do_deserto a 09.01.2012 às 00:40

Caro Samuel, reli e mantenho o que disse. O Samuel só poderá encarar um debate salutar como ataque à sua liberdade individual se não perceber que discordar implica opiniões fundamentadas, não as confundido com ataques pessoais, como é hábito neste país, onde o distanciamento narrativo é quase ausente. E, para ser justa, foi o Samuel que actualizou o primeiro argumento ad hominem por causa do k. O distancxiamento narrativo permite-nos tb saber quando falhamos perante os interlocutores e assumi-lo, com Dignidade e Educação, pois, afinal, o Samuel é um dos anfitriões. Image
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De Samuel de Paiva Pires a 09.01.2012 às 00:45

Cara areia_do_deserto,


Primeiro, está a confundir comentadores. O do k nada tem a ver com o Jorge. Segundo, além de um dos anfitriões, sou o fundador e administrador deste blog, que já tem 4 anos. Convirá que talvez eu já cá ande há um bocadinho para saber o que são discussões salutares, e se tivesse seguido o meu percurso saberia que aprecio uma boa discussão sobre qualquer tema, conquanto seja fundamentada e se paute pelo respeito mútuo... É que talvez eu também já ande cá há tempo suficiente para saber distinguir certas coisas nas entrelinhas. Terceiro e último, novamente, se seguisse o meu percurso perceberia que assumo sempre os meus erros e apresento as minhas desculpas quando é caso disso. Neste caso, não há nada para assumir ou por que pedir desculpa. Se preferir podemos falar por e-mail, o meu e-mail é público, samuelppires@gmail.com
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De areia_do_deserto a 09.01.2012 às 01:52


Não, não prefiro, se o debate foi aqui que se deu, de forma clara e explícita, para quê desviá-lo para um diálogo privado? Não vejo qual a razão para tal. Expressei a minha opinião, de forma igualmente clara e explícita, não conheço algum dos participantes, limitei-me a defender o que considero justo, de acordo com a minha consciência livre de conluios ou preferências pessoais. Mais acrescento que, desde que o homem (no sentido de humanidade) é homem, há conspirações. O Samuel, que terminou o seu Mestrado em Ciência Política, muito mais do que eu, deveria saber que, onde há luta de poderes, há conspirações contra quem os põe em causa ou quem interessa afastar para que certos interesses particulares grupais se actualizem. Olhe dois exemplos muito simples: a Morte do Messias, a de Júlio César, por Brutus em conluio com Metello de Simber e outros patrícios (daí a famosa pergunta retórica: "Até tu, Brutus, me traíste?"), a morte de Outras Grandes Personalidades como Martin Luther King, John Kennedy, quiçá, Sá-Carneiro et alii tb resultaram de conspirações de cobardes. Como tal, as conspirações são um cliché que comprova uma das facetas mais vulgares da (des)humanidade: a cobardia, a maldade, etc. E não se pense que as conspirações só visam como alvo grandes personalidades- olhe, os fenómenos quotidianos do bullying e do mobbying, tb perpetrados por cobardes que vêm sempre com a conversa que aquilo é tudo mania da perseguição das vítimas, tb fazem parte de conspirações...Étimi Latino: conspiratio, conspirationis = 1. acordo de sons. 2.Acordo, união, harmonia. 3. Conspiração, conjura.
Ora tal   num país onde existe, secularmente, uma tendencial capacidade crítica pró-activa individual diminuta e com uma memória curta própria de roedores que adoram queijo resulta: (a) num colectivo facilmente modelável, melhor, manipulável com historietas da Maria Cachuca que se não fossem trágicas seriam cómicas; (b) na adoração quase acéfala deste colectivo de opinion leaders e makers que ou se odeiam entre eles, numa luta de egos elefânticos, ou se autopromovem uns aos outros (ouço e leio tantas banalidades de gente que se julga o supra-sumo que até me dá vontade de reler os meus Tios Patinhas...:); no copy paste dessas opiniões estilo Magister dixit medieval; (c) na adoração da unanimidade e do balir uníssono dos rebanhos de pensamento que se julgam, na maioria das vezes, opositores, quando na realidade partilham da mesma matriz do não respeito pelos traços distintivos de outrem...Como tal, sociedades secretas numa nação como esta, onde o silêncio e a invisibilidade modelam as existências é uma bomba implosiva. Nota bene: com isto não estou a querer ofender pessoalmente alguém, mas a traçar um perfil tendencial colectivo que deu origem à hecatombe que exoerienciamos hoje. E não será com maquilhagens apócrifas que reformularemos esta forma mentis nefasta e medíocre, mas sim com uma revolução cultural, pois quer seja a Inquisição quer seja a Maçonaria todos actualizarão a mesma matriz...
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De Samuel de Paiva Pires a 09.01.2012 às 02:07

Quando falo em teorias da conspiração, falo em teorias holísticas de abordagem à realidade social como um todo, que enfermam dos erros que Popper apontou no texto que deixei aqui. Não estou a falar de meras lutas pelo poder e intrigas políticas. Essas são humanas e perfeitamente naturais, quer os seus agentes individuais sejam maçons, católicos, ou do partido A ou B. 


Despeço-me com um excerto de um certo texto de Fernando Pessoa:
  

"Dada a latitude desta definição, e considerando que por "associação" se entende um agrupamento mais ou menos permanente de homens, ligados por um fim comum, e que por "secreto" se entende o que, pelo menos parcialmente, se não faz à vista do público, ou, feito, se não torna inteiramente público, posso, desde já, denunciar ao sr. José Cabral uma associação secreta - O Conselho de Ministros. De resto, tudo quanto de sério ou de importante se faz em reunião neste mundo, faz-se secretamente. Se não reúnem em público os conselhos de ministros, também não o fazem as direcções dos partidos políticos, as tenebrosas figuras que orientam os clubes desportivos, ou os sinistros comunistas que formam os conselhos de administração das companhias comerciais e industriais." (Fernando Pessoa).



Salazar, do lado de lá, deve estar orgulhoso. O seu legado vive.


Cumprimentos e tenha uma boa semana
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De areia_do_deserto_Isabel_Metello a 09.01.2012 às 13:15


Samuel, sou anti-salazarista por natura, como sou anti qualquer regime opressor, mas prefiro uma ditadura assumida do que uma demoniocracia dissimulada em que toda a gente finge que somos todos iguais, mas que, na realidade, orwellianamente, há uns muito mais iguais do que outros. Em qualquer departamento ou campo social se constata essa discriminação e não invoque teorias que não são aplicáveis neste contexto sociocultural nefasto, hipócrita e cínico, onde os bastidores contradizem (e como!) o que se passa no palco da existência. Vivemos numa estufa oligárquica que penaliza e como quem não verga a coluna ou não demonstra a capacidade para o jogo de cintura, que parece ser o mais apreciado num cv!  

Temos palettes de concursos externos que são, de facto, internos; temos gente completamente inepta e inapta a ocupar postos só porque são primos das tias dos avós dos irmãos do amigo.

A mediocridade instalou-se como matriz devido a corjas de interesses corporativos que se ajoelham perante o tal Magister dixit e fazem como os macacos "sábios" quando lhes interessa, modelando, i.e., manipulando factos para o que lhes interessa.

Mas, olhe, para que conste, sou Filha de quem enfrentou a PIDE, em Moçambique, dando o peito à bala e olhe que pagou uma factura elevada, não pagando mais porque enfim... Sou tb Filha de quem foi bater as palmas ao Humberto Delgado e por isso lhe desceram 3 pontos na média de curso e não foi expulsa do Magistério Primário, porque o Director era boa Pessoa...

Sabe quem a delatou? Algumas colegas ultra-revolucionárias no pós-25, quiçá umas boas comunas hoje. É que, de repente, todos os passivos, bufos e colaboradores passaram a revolucionários, principalmente quando lhes interessava apropriarem-se de bens imóveis alheios no PREC (rings a bell?).

Pois, então, vai na volta, hoje, os meus Pais, nados na Beira Alta, são salazaristas, a minha Mãe arrepende-se de ter ido bater as palmas e até adoram o hino da Mocidade Portuguesa, pois têm razão num ponto: ao menos o Sal e Azar (cujo regime eu creio ter sido o reflexo da mentalidade dominante deste povo, que adora que pensem por si, para não se dar ao incómodo de enfrentar superiores hierárquicos de cabeça erguida e de actualizar as tais competências de capacidades críticas pró-activas individuais (daí que adorem alcateias nefastas), reservando os pontapés para extroverter as frustrações perante os frágeis, o que muito diz da sua índole...:).

Dizia eu, o Sal e Azar morreu sem tirar um tostão ao Estado, está sepultado em campa rasa, as únicas férias que passou foi "para fora cá dentro", no Forte de S. Julião da Barra, pagas integralmente por si e deixou o Banco de Portugal pleno de barras de ouro (onde páram elas como o Wally??? :).

Agora compare tal com governantes que adoram o luxo obsceno, vindo não se sabe de onde, pois antes de lá chegarem nada tinham, com salários imorais face à miséria reinante por si provocada por um show ditatorial perante o qual tantos dobraram a coluna, que, sistematicamente, pertence(ra)m a trupes devotas de interesses reticulares, envoltos em escândalos contínuos que envolvem milhões e ninguém assiste à responsabilização de quem quer que seja. Nos EUA há muito que estavam na barra dos tribunais.

Ah, já para não falar da não indemnização dos portugueses que construíram as suas Vidas na África que Amaram e nem foram indemnizados, muito pelo contrário- ainda foram enxovalhados!

E um sistema judicial assente em recursos e prescrições imorais e em teatralidades indulgentes? E os cidadãos comuns a terem de engolir injustiças atrás de injustiças, quando não verdadeiras perseguições imorais com base em inversões de situações, se tiverem o pejo de porem os interesses de um dos membros reticulares em causa, acoplado a outras extensões hereditárias dos "democratas"? Olhe que eu sei do que falo, pois pago, todos os dias, na pele, esse preço imoral!


Dá vontade de gritar :) Basta, Bosta, minhas Bestas!

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