Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]




Algumas notas sobre a discussão do momento

por Samuel de Paiva Pires, em 09.01.12

1 - As instituições são compostas por indivíduos. Há bons e maus indivíduos em todo o lado. É algo inerentemente humano. A Igreja Católica Apostólica Romana também não é impoluta. Mas não é, por exemplo, por meia dúzia de padres serem pedófilos que toda a ICAR é pedófila. O erro é de forma, metodológico. Eu parto sempre de uma análise baseada no individualismo metodológico, porque a única entidade dotada de consciência e capacidade de raciocínio moral é o ser humano (passe a imodéstia da autopromoção mas porque começa a tornar-se repetitivo ter que explicar as bases metodológicas do meu pensamento a quem por este simpaticamente - ou não - se interessa, quem pretenda familiarizar-se com o individualismo metodológico pode ler a nota metodológica da minha dissertação de mestrado).

 

2 - Quando falo em teorias da conspiração, falo em teorias holísticas de abordagem à realidade social, que enfermam dos erros que Popper apontou no texto que deixei aqui, não de meras lutas pelo poder e intrigas políticas. Essas são humanas e perfeitamente naturais, quer os seus agentes individuais sejam maçons, católicos, ou do partido A ou B. Diabolizar e perseguir qualquer categoria destes agentes é plantar sementes que, no passado, redundaram em totalitarismos. Como assinala o Prof. Maltez no Facebook, "Quem é favorável, completamente favorável, a que todos façam, em todos os cargos e funções, públicas, privadas e concordatárias, os adequados registos de interesses, mas de todos os interesses materiais e espirituais, de forma não discriminatória, deve indicar um só sistema em direito comparado que o tenha conseguido. O que pressupõe a definição de uma lista de interesses registáveis de forma obrigatória. Pode ser por ocasião do censo populacional, com a restauração dos censores romanos. Conheço um software adequado, da companhia "Big Brother". E até o juramento vigente no regime da Constituição de 1933, nomeadamente sobre a não pertença a sociedades secretas. Basta restaurá-lo, apesar de ter sido absolutamente ineficaz."

 

3 - Em resposta ao Corcunda, afirmar que a maçonaria gaba-se do seu anticlericalismo, que quer erradicar o catolicismo ou que não acredita em Deus parece-me profundamente injusto e, novamente, metodologicamente errado. Precisamente porque não há uma maçonaria una e indivisível, com uma consciência única. Há ritos e lojas muito diferentes integradas por monárquicos, republicanos, liberais, socialistas, ateus, agnósticos, católicos, judeus, muçulmanos etc. Há uma pluralidade de crenças e pertenças onde vários indivíduos podem compaginar-se com esse anticlericalismo e outros não. É um universo simbólico assente na tolerância e pluralismo que não liga com os rótulos profanos e maniqueísmos com que estamos habituados a lidar.

 

4 - Como o Prof. Maltez já bem assinalou, a Maçonaria nos EUA e nos países anglo-saxónicos em geral não é uma sociedade secreta. É considerada uma actividade filantrópica, um clube, etc. Toda a sua actividade é pública. Os templos estão bem identificados e os maçons assumem-se como tal. Porquê? Porque no mundo anglo-saxónico a Maçonaria nunca foi socialmente perseguida, apesar das críticas de alguns sectores religiosos mais conservadores. O maior secretismo na Europa continental prende-se principalmente com o inverso, com as perseguições. E como muito do que se lê por aí deixa bem patente, talvez este secretismo ainda continue a justificar-se. Salazar, do lado de lá, deve estar orgulhoso. O legado da sua lei contra as associações secretas continua vivo. Por isso, talvez não seja demais relembrar o célebre artigo que o não maçon mas simbolicamente esclarecido Fernando Pessoa redigiu contra essa lei ridícula, de que deixo aqui um excerto que julgo ser elucidativo de como o que move muita gente é um certo voyeurismo, especialmente porque, como aponta o Prof. Maltez, "Em sociedades que sofreram a Inquisição, os autos de fé, Pina Manique, moscas, bufos, caceteiros e extinções, ainda há preconceitos e fantasmas, logo incompreensões resultantes de velhos conflitos entre política e religião, entre anticlericalismos ultrapassados e antimaçonismos requentados." Fica o excerto de Pessoa:

 

"Dada a latitude desta definição, e considerando que por "associação" se entende um agrupamento mais ou menos permanente de homens, ligados por um fim comum, e que por "secreto" se entende o que, pelo menos parcialmente, se não faz à vista do público, ou, feito, se não torna inteiramente público, posso, desde já, denunciar ao sr. José Cabral uma associação secreta - O Conselho de Ministros. De resto, tudo quanto de sério ou de importante se faz em reunião neste mundo, faz-se secretamente. Se não reúnem em público os conselhos de ministros, também não o fazem as direcções dos partidos políticos, as tenebrosas figuras que orientam os clubes desportivos, ou os sinistros comunistas que formam os conselhos de administração das companhias comerciais e industriais."

publicado às 01:00


5 comentários

Sem imagem de perfil

De areia_do_deserto a 09.01.2012 às 03:47


Bingo! Samuel, a análise discursiva das suas tentativas recursivas de justificação estão-me, cada vez mais, a despertar uma dúvida: qual a causa profunda de tanto abespinhamento?

Mas tb, agora, acertou em parte, mas não compare uma nação subdesenvolvida, ainda com matrizes medievais, que perdeu vários comboios emancipadores, fechada em si própria, entrópica, endogâmica, onde a dinastias congénitas divinamente consagradas sucederam dinastias laicas sistemicamente legitimadas, a sociedades abertas onde a Liberdade de Expressão É Consagrada como Direitio Inalienável e a real abertura do espaço público, apesar de tudo, não se compara com uma esferazinha publicazinha assente num caciquismo de bradar aos céus em todas as áreas e departamentos. Claro que há boas excepções que só confirmam a regra! Mas por que será que, quando há uma hecatombe ninguém é responsabilizado? A crise? É culpa da troika. A queda da Ponte Entre-os-rios? É culpa da força das águas, as malvadas, e do pobre de um pescador que lá pôs a cana no exacto momento em que a fenda deu de si. As vítimas da Casa Pia? É culpa delas, estavam ali, à mão de semear, quem as manda serem órfãs e desprotegidas? A culpa do saneamento do Gonçalo Amaral? Foi dele- quem o manda tentar cumprir o seu dever? A culpa das vítimas de violência doméstica, tantas delas que levam com tiros na cabeça, para depois serem tomadas como suicidárias? É delas- não se tivessem colocado na mira da bala. Aliás, ainda há reincidentes que ainda se dão ao luxo de afirmar nas revistas cor-de-rosa (óptimas vias de desenvolvimento e reforço de laços afectivos  das tais mentes maleáveis para com agressores e criminosos que, depois, até lançam livros muito tocantes sobre a sua dor...) que têm a certeza que vão ser absolvidos. Por falar nisso, depois de tantos escândalos mediáticos, de há uns anos para cá, alguém está preso? Quem, onde e porquê? E quem rouba um pão? Está, aqui, a notar um padrão? Não? Olhe, eu estou e não sou vidente!

Querem enganar quem???!!!! Chegámos a este ponto porquê? Como é que gente que nunca teve nada enriquece num flash e não é devidamente criminalizado, sacrificando um povo inteiro? Chama a isto democracia? Defina-me lá o seu conceito de tal...Pois eu repito-lhe que já assisti à actuação nefasta de tais redes de interesses e só lhe cito um verbo: regurgitar... 

Olhe e, por favor, poupe-me à citação de Fernando Pessoa, pois se o mesm,o assistisse a esta hecatombe até nunca mais escreveria pela vergonha que sentiria. Mas tb tanto ele como Camões como outros Lúcidos souberam bem caracterizar os vícios seculares tendenciais deste povo. E as perseguições dão-se em grupo, em alcateias contra quem lhes puxa a máscara, quer sejam do Benfica quer sejam do Sporting, pois as alcateias não têm competências auto-irónicas (para se acalentar ser Justo é necessário uma boa dose de auto-ironia e um distanciamento narrativo inexistente em seres autocentrados e autosentados...:)

Ah, querem pertencer a redes de poder e pugnar por uma sociedade aberta e desenvolvida? Assumam-se claramente!

Olhe, e só para que não haja mais chliques de flores de estufa, assino (aliás, nem é difícil saber quem eu sou- basta deter mínimas capacidades de análise discursiva :) Isabel Metello, ironicamente, uma das descendentes do tal traidor Metello de Simber, mas tb ironicamente o seu oposto...não aprecio cobardes e muito menos redes de interesses, oriento-me por Princípios...

Comentar post







Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2020
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2019
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2018
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2017
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2016
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2015
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2014
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2013
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2012
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2011
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2010
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2009
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2008
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D
  235. 2007
  236. J
  237. F
  238. M
  239. A
  240. M
  241. J
  242. J
  243. A
  244. S
  245. O
  246. N
  247. D

Links

Estados protegidos

  •  
  • Estados amigos

  •  
  • Estados soberanos

  •  
  • Estados soberanos de outras línguas

  •  
  • Monarquia

  •  
  • Monarquia em outras línguas

  •  
  • Think tanks e organizações nacionais

  •  
  • Think tanks e organizações estrangeiros

  •  
  • Informação nacional

  •  
  • Informação internacional

  •  
  • Revistas