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Não valerá a pena estarem agora todos muito nervosos com os gastos presidenciais que bem feitas as contas, são apenas uma folhinha nas centenas de resmas da despesa pública. Muito mais importante do que a contagem dos milhões, trata-se duma questão de princípio, num regime que nasceu latindo muitos, para melhor poder evitá-los. Se excluirmos Ramalho Eanes e por aquilo que a imprensa descobriu, Cavaco é de longe o menos afortunado dos Presidentes em caixa de contabilidade. Também surgem as suas nada espantosas ligações a certos amigos perigosos. Pois sim, mas então e os outros, aqueles que o antecederam em Belém e que sendo exímios palradores, ainda "presidem" a várias situações de poleiro?
Ocultando o assunto que varreu durante uns dias os jornais e os noticiários televisivos, arranjou-se agora um bode que sendo sem qualquer dúvida conviva na mesma pastagem, foi incumbido de expiar todos os males. Na imprensa e na net, surgiu a lista das propriedades e bens de investimento de Cavaco Silva. Seria interessante fazer-se o mesmo relativamente a Mário Soares e a Jorge Sampaio. Porque tal coisa não acontecerá? Porque é um atentado a um certo ordeirismo arrogante que pontifica na auto-proclamada inteligentsia do regime, precisamente essa que jamais olhou a gastos para satisfazer as suas vaidades e prazeres garantidos nas mordomias. Cavaco é um alvo fácil pela sua proverbial inabilidade, numa sociedade formatada para condescender com caríssimos "companheiros e companheiras, amigos, amigas e resistentes". Pior ainda, os republicanos achincalham-no em público e disso retiram o maior gozo. Nada que nos admire, pois até poderemos estar a assistir a uma escalada que decerto terá como base exclusiva, questões relacionadas com dinheiro. Já assim foi em 1907 e eles têm a lição mal aprendida. Ainda bem.
Queiram ou não queiram, a República é mesmo isto e muito bem faz o Diário de Notícias em ir levantando esta espécie de "tchador" laico.