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Habituados como estamos a surpreendentes subidas políticas à Sísifo, este caso que oportunamente rebentou na passada 6ª feira, demonstra uma vez mais, os tão pedregosos quão lamacentos caminhos que conduzem à cúspide do poder. Aproveitando a tremenda gaffe presidencial, logo vieram os seus inimigos jurados e correspondentes putativos amigos-adversários, ressabiados e com contas por saldar, caucionar todo o tipo de dislates, fossem estes vociferados nos media, nas ruas ou pior ainda, através de comentários sarcásticos ou de comprometedores silêncios. É esta a mais republicana verdade.
Para que não restem quaisquer dúvidas, somos teimosa e conscientemente monárquicos, logo alheios à actual forma sob a qual se ergue o Estado.
Todo este chinfrim a propósito de uma ou duas desastradas e certamente digestivas frases presidenciais, prende-se a um objectivo que cada vez mais surge com aquela cristalina nitidez que dá corpo ao velho projecto situacionista. A Chefia do Estado "deve pertencer" única e exclusivamente a um grupo de auto-iluminados, sendo pouco importante entre eles, a pertença ou não do fulano erigido em totem, ao rol de gente proba. Pretendem arredar Cavaco Silva, pois o homem representa aquele outro programa que vem dos tempos de Sá Carneiro, concentrando pela primeira vez na III República, a mesma maioria em Belém e em S. Bento. Bem vistas as coisas e naquilo que concerne ao nosso progresso, pouco importa, mas tal não se poderá dizer quanto a certas benfazejas influências que contentam um restrito, mas poderoso grupo de pessoas. Ora, Cavaco Silva é impossível de aceitar por aquela camada intelectualmente tão ilustre e capaz, tal como é cabalmente comprovado pela situação em que o país e o regime se encontram após quase quatro décadas de aturada administração da coisa pública.
Da boca dos opositores recentemente apeados e das marginais franjinhas saudosistas e iconoclastas que ainda ocupam uns tantos lugares parlamentares, chovem os esperados dichotes, sempre impantes de desprezo social - e logo eles... - que fará corar qualquer tagarela dos risíveis "princípios republicanos". Era de esperar, está-lhes na massa, é a única tradição que conhecem e não esquecem. O mais curioso aspecto nesta contenda pelo "impeachment" que não virá, será verificarmos o crescendo de vozes que tendo começado a ser mais audíveis após o inodoro veneno veiculado pelo Prof. Marcelo no passado domingo, já ganha parangonas por bocas saídas da blogosfera e num ápice alçadas à primeira fila da bancada do PSD. Fazem claramente o jogo apadrinhado por um certo grupo empresarial mediático e os habituais círculos plutocráticos que têm tido ao longo dos anos num certo sector do PS, forte esteio.
Agora, é gente do PSD a tecer suposições acerca de maleitas que afectam o Presidente, sejam elas do foro físico ou preferentemente, questões relacionadas com a sua actual capacidade mental, pois sabem que esta última, consiste num motivo para levar á discussão, ou melhor, forçar a demissão daquele que ainda há um ano foi eleito por 23% dos inscritos nos cadernos eleitorais. Aliás, este é um dos mais audíveis pregões, repetido até á saciedade. Por outras palavras, não aceitam que Cavaco não pertença ao grupo e pretendem substituí-lo à primeira oportunidade que surja.
Em suma, o que se pretende, é voltar a colocar um Sampaio qualquer - ou o próprio, imagine-se! - no lugar de Cavaco, transpondo para a nossa triste e quotidiana paisagem, as desditas do pérfido Gão-Vizir que queria ser Califa. Alguém ainda recorda a golpada constitucional da demissão forçada de Santana Lopes? Pois é isso mesmo que sonham reeditar nesta cada vez mais porca miséria.
Subvertem as regras que a própria irmandade impôs quanto à embusteira necessidade electiva da chefia do Estado. Pois há que gostosamente aceitar o repto.
Aqui se apresenta a trupe republicana. Assim sendo, dão-nos total margem para podermos dizer tudo o que nos der na real gana.
Contudo, não o faremos. Somos doutra lavra. Eles que tratem a sua sarna.
Entendo o alcance deste artigo e é muito importante e melindroso, para os monárquicos, o que está aqui dito, Nuno.
Por acaso, e critiquei muito o PR, já tinha pensado o mesmo.
Bons posts ...o I e o II.
Abraço.