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Comparemos as novas construções, com os grotescos edifícios mais à direita
Sempre que de Lisboa aqui se fala, os edílicos que rodeiam António Costa tenderão a apresentar os nossos protestos como coisa sem préstimo, vinda de um blog de escárnio e maldizer. O escárnio fica então para outras ocasiões que os agentes políticos não deixarão de nos propiciar, dada a implícita risota a que os seus grandes princípios e habilidosas saídas obrigam.
Não, desta vez observamos algo de positivo no âmbito do departamento de urbanismo da Câmara Municipal de Lisboa.
O Martim Moniz foi já há muitas décadas arrasado por uma criminosa decisão tomada nos gabinetes secundo-republicanos e a generalizada tristeza que então se apoderou de muitos lisboetas, ficaria para sempre registada em fados, ditos e recordações de uma zona que tão marcante fora na vida citadina. A fadista invocação do arco do Marquês de Alegrete é um testemunho apenas disponível em velhas fotos ou imagens fixadas por artistas.
A gestão Abecassis, comparável a um mini-sismo que segundo as palavras do próprio edil tornariam "Lisboa irreconhecível", tomou o Martim Moniz como espaço de intervenção, dando largas ao mau gosto, incompetência e criminosa condescendência para com os conhecidos negócios da construção. Mais tarde e durante algum tempo, a placa central da praça seria ocupada por um estranhíssimo amontoado de lataria comercial, alternando-se estes empecilhos com placas de pedra que à guisa de bancos, decididamente terceiro-mundializaram o ambiente. Os inacreditáveis - mas úteis - centros comerciais e o pavoroso Hotel Mundial, deram a estocada final no conjunto.
O topo norte do Martim Moniz encontra-se há alguns anos em obras de Santa Engrácia, ali se erguendo uma frente de edifícios presumivelmente destinados à habitação. Fachadas limpas, uma volumetria que não escapa muito àquela que se observa na chamada Baixa Pombalina, linhas discretas, depuradas e sem caquéticas originalidades como aquelas que a CML permite no Saldanha, por exemplo. Ali não há lugar para taveirismos ou caixotes de sabão displicentemente concebidos por "arquitectos de renome e amigos dos seus amigos". Os prédios são bons, talvez demasiadamente dependentes do betão, mas totalmente aceitáveis no espaço onde preguiçosamente se vão erguendo. Parecem seguir aquele exemplo das ainda recentes edificações de inspiração hausmaniana na zona do C.C. Pompidou, cumprindo a memória histórica do local. Atrevemo-nos mesmo a caracterizar estas novas construções no Martim Moniz, como desejáveis reinterpretações dos edifícios pombalinos da Baixa.
Oxalá António Costa decidisse deixar como exclusiva marca de proveito da sua passagem pela CML, a renovação desta praça. Poderia prosseguir aquilo que agora fez, demolindo as catastróficas construções de Abecassis e oferecendo uma padronizada coerência ao local. Não é difícil imaginar o aspecto final, pois bastar-lhe-á dar um passeio a pé pela zona reconstruída há dois séculos e deleitar-se-á com a esmagadora beleza ditada pela harmonia.