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C.M.L.: algo de novo no Martim Moniz

por Nuno Castelo-Branco, em 04.02.12

 

Comparemos as novas construções, com os grotescos edifícios mais à direita

 

Sempre que de Lisboa aqui se fala, os edílicos que rodeiam António Costa tenderão a apresentar os nossos protestos como coisa sem préstimo, vinda de um blog de escárnio e maldizer. O escárnio fica então para outras ocasiões que os agentes políticos não deixarão de nos propiciar, dada a implícita risota a que os seus grandes princípios e habilidosas saídas obrigam.

 

Não, desta vez observamos algo de positivo no âmbito do departamento de urbanismo da Câmara Municipal de Lisboa. 

 

O Martim Moniz foi já há muitas décadas arrasado por uma criminosa decisão tomada nos gabinetes secundo-republicanos e a generalizada tristeza que então se apoderou de muitos lisboetas, ficaria para sempre registada em fados, ditos e recordações de uma zona que tão marcante fora na vida citadina. A fadista invocação do arco do Marquês de Alegrete é um testemunho apenas disponível em velhas fotos ou imagens fixadas por artistas.

 

A gestão Abecassis, comparável a um mini-sismo que segundo as palavras do próprio edil tornariam "Lisboa irreconhecível", tomou o Martim Moniz como espaço de intervenção, dando largas ao mau gosto, incompetência e criminosa condescendência para com os conhecidos negócios da construção. Mais tarde e durante algum tempo, a placa central da praça seria ocupada por um estranhíssimo amontoado de lataria comercial, alternando-se estes empecilhos com placas de pedra que à guisa de bancos, decididamente terceiro-mundializaram o ambiente. Os inacreditáveis - mas úteis - centros comerciais e o pavoroso Hotel Mundial, deram a estocada final no conjunto.

 

O topo norte do Martim Moniz encontra-se há alguns anos em obras de Santa Engrácia, ali se erguendo uma frente de edifícios presumivelmente destinados à habitação. Fachadas limpas, uma volumetria que não escapa muito àquela que se observa na chamada Baixa Pombalina, linhas discretas, depuradas e sem caquéticas originalidades como aquelas que a CML permite no Saldanha, por exemplo. Ali não há lugar para taveirismos ou caixotes de sabão displicentemente concebidos por "arquitectos de renome e amigos dos seus amigos".  Os prédios são bons, talvez demasiadamente dependentes do betão, mas totalmente aceitáveis no espaço onde preguiçosamente se vão erguendo. Parecem seguir aquele exemplo das ainda recentes edificações de inspiração hausmaniana na zona do C.C. Pompidou, cumprindo a memória histórica do local. Atrevemo-nos mesmo a caracterizar estas novas construções no Martim Moniz, como desejáveis reinterpretações dos edifícios pombalinos da Baixa.

 

Oxalá António Costa decidisse deixar como exclusiva marca de proveito da sua passagem pela CML, a renovação desta praça. Poderia prosseguir aquilo que agora fez, demolindo as catastróficas construções de Abecassis e oferecendo uma padronizada coerência ao local. Não é difícil imaginar o aspecto final, pois bastar-lhe-á dar um passeio a pé pela zona reconstruída há dois séculos e deleitar-se-á com a esmagadora beleza ditada pela harmonia.

publicado às 14:51


2 comentários

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De augusto Vasco Costa a 08.02.2012 às 23:18

Como autor deste projecto, gostaria de agradecer este comentário, tanto mais que, pela primeira vez, nos quarenta anos que já levo de profissão, consegui concretizar as ideias que venho expondo ao Municipio e não só, há mais de vinte:


Ao contrário do que é corrente, considero que o problema principal da nossa Cidade não são os mais ou menos metros quadrados que se constroem, mas sim o seu "desenho urbano", isto é, de como  os integramos no casco histórico da Cidade.


Assim o desafio que se põe ao municipio, promotores e arquitectos é de "construam actual, tirando partido  dos novos materiais e tecnologias, mas ao mesmo tempo, respeitando a  Cidade, a escala humana das suas ruas, praças e quarteirões".


Pensamos que o conseguimos no Martim Moniz, com  mais de 30% da construção inicialmente prevista!


Tenho pena que este exemplo não frutifique, para outras zonas da Cidade, onde estão a ser concretizados planos de urbanização, como para a zona ribeirinha do Aterro da Boavista e Vale de St. António.


Criando, ao contrário do que o Plano Director  Municipal preconiza, uma ruptura com o malha urbana histórica envolvente e consequentemente motivando a criação de clivagens sociais graves que sabemos levam à insatisfação, vandalismo e maior insegurança, quando tudo poderia ser tão bom e belo, se houvesse um pouco mais de coerência entre aquilo que dizemos pretender e o que na realidade fazemos.


Gosto tanto de Veneza como de Nova York, porque embora ambas estejam nas antípodas, são coerentes, na sua escala!


Vamos reflectir sobre isto?
Vamos finalmente conseguir que Lisboa "volte a ser uma Cidade, onde dá gosto, viver, trabalhar e investir? 


Lisboa, 8 de Fev 2012
Augusto Vasco Costa   
   

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De João Galizes a 24.02.2012 às 12:11

Gostaria de dizer, aqui, que lamento o destino que foi dado ao Martim Moniz com a demolição de toda a antiga zona histórica, que eu não cheguei a conhecer senão por fotos. Gostaria mesmo de saber qual a razão para se ter arrasado aquela área, bem como qual o motivo de ter ficado devotada ao abandono durante décadas! O 1º erro/crime urbanístico terá sido a demolição, o 2º erro foi a demora na sua recuperação, o 3º erro/crime foi a construção dos diversos mamarrachos-comerciais e o 4º erro foi a não transformação da Praça num jardim com mais (verde e mais) árvores do que as que possui actualmente, que é uma das características que faz falta à cidade. Talvez houvesse mais erros a apontar mas estes já são suficientes para percebermos o desrespeito que cada um devota à cidade.
Compreendo que a construção de edifícios contribui financeiramente para os cofres da edilidade alfacinha, mas a qualidade de vida dos munícipes e dos turistas também deveria ser tida em conta. Enquanto os "Alcaides", os vereadores dos diversos pelouros e todos os responsáveis pela gestão municipal não se consciencializarem que uma cidade deve servir as pessoas em vez de se servir delas, nada terá qualidade nem bom funcionamento. Temos pena!
A terminar, gostaria que alguém me informasse sobre o interesse histórico do "torreão"(!) que não foi demolido e que se localiza na Rua do Arco da Graça, entre as novas construções do Martim Moniz!
Assim como fico intrigado com o nome de "Arco da Graça" para uma artéria situada na Colina de Santana, já que a zona daquela toponímia (Graça) se localiza numa outra colina oposta a esta!
Ao arquitecto Augusto Vasco Costa, digo apenas que lamento que este seu projecto não tenha sido aproveitado para uma outra área da cidade, não por falta de qualidade mas, simplesmente, para que não se tivessem "emparedados" os moradores do Arco da Graça que durante anos se habituaram a viver com uma outra perspectiva sobre o Largo do Martim Moniz. Alcaides mandam derrubar, alcaides mandam erguer... Quem se dedicará a pensar em quem, afinal?
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