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Quando chegou à Chancelaria alemã, a Sra. Merkel viu partir o seu antecessor Gerard Schroeder para um rendoso posto proporcionado pela discutível democracia russa. O gás foi o móbil desse tráfico de influências e a Europa está hoje à mercê do Sr. Putin. A Chanceler Merkel viaja para a China e países africanos de expressão portuguesa. A Sra. Merkel chega em visita de contactos claramente comerciais ao Brasil e outros países sul-americanos, alguns dos quais são democracias de estranho recorte bonapartista. Pouco importam os argumentos éticos, pois o mundo dos negócios não se compadece com ninharias, especialmente se a Mercedes Benz ou qualquer outra grande empresa alemã, puder facturar apetitosos proventos na permuta de tecnologias por dinheiro vivo.
O duo CDU-SPD nas pessoas de Merkel e Schulz, não possui aquela memória histórica secular que lhes permita olhar com alguma circunspecção, as relações que um país como Portugal, antigo de nove séculos, foi estabelecendo já há mais de meio milénio com outros continentes. Quando os portugueses chegaram à China, a expressão geográfica da Alemanha vivia fratricidas guerras religiosas e os seus centos de micro-Estados lutavam por uma nesga de terra, um monte, um pedaço de rio que pudesse oferecer uma pequena vantagem em relação aos demais. Tudo isto no quadro de um ilusório I Reich destruído há duzentos anos por outro projecto europeu, sem dúvida tão imperial como aquele que hoje alguns ambicionam. A França que agora segue na senda dos desígnios de Berlim, teve o seu curto momento de glória por uma década, aliás posta em causa no solo deste pequeno país que em conjunto com o seu tradicional aliado britânico, lutou e venceu pela verdadeira liberdade da Europa das nações. A própria Alemanha, criação recente de pouco mais de um século, beneficiou desse sacrifício luso-britânico, ouvindo nos sinos que repicavam em Lisboa, Rio de Janeiro e Londres na celebração da vitória, o nascimento da sua consciência nacional.
Portugal possui uma política externa própria, não se esgotando esta em meros exercícios de contabilidade ou de transferência de fundos. Ao contrário de vinte e cinco outros Estados da União Europeia e tal como o Reino Unido, a nossa língua é falada em quatro continentes, precisamente aqueles que hoje os empresários e políticos alemães ambicionam ter como parceiros de negócios. Portugal pode, deve e tem de participar nesse esforço de modernização e diversificação da sua economia que ao contrário da Alemanha, será mais um complemento nas profundas relações culturais existentes com a África, Ásia e América. Jamais os portugueses permitiram a imposição de Bloqueios Continentais, proibições do comércio livre impostas por terceiros ou afrontosas limitações da sua soberania. A Europa comunitária a que o nosso país aderiu é a existente em 1985, bem diversa nos fundamentos e nos propósitos que aquela que hoje alguns querem impor ao arrepio das soberanias e identidades nacionais, esquecendo que só estas permitem a expressão internacional das vontades dos diferentes povos, formuladas através das instituições democráticas onde se sentem verdadeiramente representados. É através da pluralidade de pertenças e da diversificação de relações externas que os estados europeus melhor podem contribuir para a realização da vocação universalista da União Europeia em face dos desafios impostos pela globalização.
Há que alertar os alemães para os perigos decorrentes da ignorância e espírito aventureiro dos seus inconscientes dirigentes. Esta é uma missão que decerto compete a um dos três países mais antigos do Velho Continente, precisamente aquele que deu a conhecer a Europa ao resto do mundo.
Nuno Castelo-Branco
Samuel de Paiva Pires
Sr. Tiago,
O texto não falha no essencial. Portugal não “viu-se envolvido” numa questão entre duas potencias europeias, mas se envolveu numa questão europeia. Para comprovar isso, pesquise pela Campanha do Rossilhão e pela intervenção naval portuguesa, chefiada pelo grande Marquês de Nisa. A grande viragem se deu com a paz firmada entre a monarquia espanhola, que depois pagou caro por esse erro, e Napoleão. A partir daí a invasão era iminente, e difícil a preparação militar do reino num contexto onde não faltavam “simpatizentes das ideias francesas”. O então príncipe regente D. João conseguiu o impossível, e o próprio Napoleão reconheceu que este foi o único monarca que o enganou.
Quanto à afirmação de que “Não era o território europeu de Portugal que tanto ingleses e franceses queriam. Era sim a possibilidade, concretizada de facto, de os ingleses exportarem os seus produtos para o Brasil e assim sobreviverem economicamente.”, há aqui contradições gritantes. Os franceses precisavam de Portugal para fechar a Europa, visto que a superioridade britânica no mar era óbvia, e as riquezas reais e imagnadas de Portugal não eram de se desprezar por parte da França, que há pouco havia vendido a Louisiana em troca de uma quantia que poderia ser obtida facilmente em Portugal através do saque.
O Portugal europeu também era um mercado significativo para a Inglaterra, ainda mais naquele contexto, onde servia também de base para o contrabando. Quanto ao Brasil, se o interesse meramente mercantil prevalecesse, seria mais conveniente para os ingleses que a monarquia bragantina caísse e o Brasil se tornasse logo independente.
É verdade que os ingleses atacariam a frota portuguesa se Portugal passasse para o lado francês, mas isso só atesta a imprtância que tinha a marinha portuguesa, que só perdia em importância e poder para a inglesa e francesa, ainda que em números ficasse atrás da espanhola e da holandesa, se não me engano. Mas a alternativa seria deixar a frota portuguesa cair nas mãos do franceses, o que era um risco inaceitável pra uma nação que também contava com a invasão.
Também é verdade que o general inglês Dalrymple, contra todo o seu estado maior, deixou os franceses irem embora com o saque, desconfio que por causa de um daqueles acordos selados entre partes que se cumprimentam através de maneiras esotéricas, mas a reacção em Inglaterra foi antagonismo violento aos termos do mesmo, que constituia a humilhação de um aliado que sempre foi visto pelo grande público com simpatia e afeição.