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A caminho da desagregação social

por Samuel de Paiva Pires, em 20.02.12

Hoje aconteceram-me duas situações que me irritaram. A primeira foi quando ao entrar na estação dos correios, pousando os sacos com envelopes que carregava e dirigindo já o meu dedo à máquina das senhas que estava mesmo à minha frente, sou ultrapassado por um tipo nos seus 40 a 50 anos. Fiquei a olhar para ele, à espera do que iria fazer. Nem tugiu nem mugiu, agarrou na senha e continuou em frente. Lancei-lhe um "boa tarde também para si e obrigado pela falta de respeito e má educação". Não reagiu. Não querendo acreditar que aquilo estava a acontecer, alto e bom som afirmei "há gente mesmo muito estúpida." Ficou a senhora dos CTT a olhar para mim, e o tipo sem sequer dizer nada. Coloquei-me ao lado dele, ficando a aguardar a minha vez. Acabando eu por me despachar mais rapidamente do que ele, tendo sido atendido por outra senhora, no fim pedi a esta que apresentasse as minhas desculpas à colega pela minha tirada rude, derivada da irritação com a má educação do fulano. A colega, que ainda o estava a atender, fez um gesto de anuência com a cabeça e o tipo, novamente, não teve nenhuma reacção.

 

De seguida apanhei o autocarro. Quando me preparava para sair, estava um senhor dos seus 80 anos de pé. Olhei em volta e vi 2 pessoas que não teriam mais de 30 anos sentadas. Perguntei-lhes se alguma delas poderia ceder o lugar. O senhor em causa agradeceu-me mas retorquiu que não era necessário, que se sentaria quando fosse possível, e as duas pessoas deixaram-se estar impávidas e serenas.

 

Estes pequenos incidentes, somados a muitos outros que todos os dias presenciamos, são sintomáticos da desagregação da sociedade portuguesa. Quando perdemos o respeito uns pelos outros no espaço público, podemos até ter o país económica e financeiramente mais próspero do mundo, mas passamos a ter uma sociedade de que qualquer pessoa minimamente educada só pode ter vergonha.  Quando a falta de educação e de maneiras civilizadas passam a ser a regra e não a excepção, algo de muito errado se passa em Portugal.

publicado às 22:25


32 comentários

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De Paulinha Manu a 20.02.2012 às 23:42

De facto Samuel (e agora falo a sério), o que relata é verídico e reflecte o estado de ''doença grave'' em que se encontra a nossa sociedade. É muito triste. Estou cada vez mais apaixonada por si :)
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De Samuel de Paiva Pires a 20.02.2012 às 23:44

Não me diga essas coisas que eu não gosto de partir o coração a ninguém...
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De Paulinha Manu a 21.02.2012 às 00:57

Digo sim e sinto que esta paixão virtual se irá converter numa paixão real..tórrida :)
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De Paulinha Manu a 21.02.2012 às 01:12

Olhe que eu sou linda de morrer..e quente, muito quente :)))))))
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De Anónimo a 21.02.2012 às 01:03

veja lá se o trata bem, quando não dou-lhe com o barrote.
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De Paulina Manu a 21.02.2012 às 01:13

Juro que trato, adoro o Samuel. Além de ser um tenro, é inteligente. Vou-lhe dar milhões de beijinhos e carícias :)
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De ingenuo a 22.02.2012 às 13:34

Quando vejo este tipo de comentários na net, lembro-me sempre dou outro que era professor universitário em Évora...

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De Paulinha Manu a 22.02.2012 às 18:12

Ai sim? Não me diga! Que horror! Não acha estranho estar sempre com esse tipo de pensamentos? Se fosse a si, ia a um psicólogo e tantava descobrir porquê. Olhe que lhe fazia bem.
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De Duarte Meira a 20.02.2012 às 23:48


Caro amigo:

Só agora é que deu por essas coisas ?... Onde é que esteve nos últimos 37 anos ?...

Esse estádio já foi há muito ultrapassado. Já vamos em pais que violam os filhos, filhos que agridem os pais e lhes roubam as reformas, velhos que morrem sozinhos em casa... Com muitos trágicos etc.

O processo de disrupção social, como prefiro chamar-lhe, já avançou muito além do moralmente tolerável; e agora qualquer hipótese de reconversão a formas elementares duma civilidade normal já não dependerá mais em primeiro lugar de qualquer solução meramente política. Nem que fosse uma mudança radical do regime. Se é que me faço entender...
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De Samuel de Paiva Pires a 20.02.2012 às 23:49

Bom, eu só tenho 25 anos de idade :) Tem toda a razão. Tudo isto é sintomático de uma sociedade doente.
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De Duarte Meira a 21.02.2012 às 00:10


Meu jovem amigo:

Tem sorte de andar por cá só há 25 anos. O que eu disse não implica nem contende em nada com a lúcida e persistente vontade de o Samuel continuar o bom combate em todas as frentes. Mesmo que seja de improviso, numa estação de correios, sozinho e anónimo no meio da multidão!

Avisei-o apenas de que os tempos de politique d'abord  e de camelots du roi passaram para sempre O combate agora trava-se num terreno muito mais difícil, um terreno que parece um deserto. E, no deserto, costumam aparecer  demónios.

Deus proteja e fortaleça o nosso príncipe Afonso de Santa Maria... e tenha piedade de nós!
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De Samuel de Paiva Pires a 21.02.2012 às 00:11

Assim farei, meu caro! E Viva o Rei!
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De VH a 21.02.2012 às 11:46

Caro Samuel, faço a mesma pergunta que o Sr. Duarte Meira fez: onde andou você este tempo todo? :)
Lamentável que assim seja. O pior de tudo é chegar ao ponto de dizer que esse tipo de atitudes já são "normais" nos dias que correm.
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De jpc a 21.02.2012 às 14:28

Naturalmente que antigamente, na nossa aldeia da roupa branca, todos éramos bons e generosos e a vida era alegre, ainda que pobre. Gente honrada, pacata e solidária. Não cuspiamos no chão e tirávamos o chapéu à passagem dos importantes. Ah, que bom que era.
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De Tiago C a 22.02.2012 às 12:07

E caladinhos e bem comportadinhos . Sempre com os cornos bem rentes ao chão. Pouco asseadinhos e de preferência analfabetos. Bons velhos tempos que já não voltam.
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De Peta a 22.02.2012 às 09:48

Se eu visse um gajo chegar com um saco de envelopes de certeza que também tentava passar a frente! Chatos do catano
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De Paulinha Manu a 22.02.2012 às 11:03

É natural. Vc deve ser mais um idiota-produto que prolifera nesta terra. E ser idiota+burro+parvalhão, é uma combianção explosiva. Phummmmmm!
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De Jorge Cardoso a 22.02.2012 às 12:24

Em tempo oportuno, eu farei um comentário aos seus desabafos acerca de dois episódios da sua vida quotidiana....
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De Paulinha Manu a 22.02.2012 às 13:20

Está a referir-se a episódios da minha via quotidiana ou aos de Peta?
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De Peta a 22.02.2012 às 18:01

Não Paulinha, era para mim. Mas ele que experimente escrever sobre mim seja sobre que assunto for (não interessa quando e em que local), que terá a devida resposta. Sem dó nem peidade! Quem com ferros....com ferros....!
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De Peta a 25.02.2012 às 02:04

Então, continuo à espera dos tais comentários sobre os tais episódios da minha vida quotidiana. Não me desiluda.
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De Teresa Almeida a 22.02.2012 às 12:25

Há 30 anos, já eu me queixava dessa falta de educação cívica...Um dia, irremediavelmente grávida pela terceira vez, entrei num autocarro cheio, em hora de ponta.Uma menina pretendeu dar-me lugar e a senhora mãe dela, olhou para a minha mão, sem 'anilha', que por acaso ia pendurada num fio, ao pescoço e disse alto e bom som: 'Dar o lugar? Estás parva? Se teve habilidade para o fazer sem marido, bem pode ir de pé...'
Desatei a rir; nem dava para mais...Por acaso era e sou casada; mas se fosse solteira, ou viúva, ou divorciada, o que teria o c.. a ver com as calças?
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De jpc a 22.02.2012 às 16:46

Nem mais Teresa. Eu já dei 43 voltas ao sol e digo e afirmo que esta gente não sabe do que fala quando fala da degradação dos «valores» e do civismo. Ou não tem memória ou não tem escrúpulos. E, já agora, crime também era coisa que abundava, filhos a bater nos pais e vice-versa era mato, a diferença com os dias de hoje é que não vinha para os jornais. Porque na versão oficial (que pelos vistos ganhou raízes...) o povo era brando e feliz. Tretas.
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De Jorge Cardoso a 22.02.2012 às 12:37

@JMF1957 : a linha de orientação actual, na vida de cada um dos transeuntes é a da sobrevivência,...nessa medida, quem anda atarefado, anda também chateado e metido consigo mesmo, excepto quando é despertado por uma janela de oportunidade. Os princípios, as boas maneiras e a educação cedem lugar à necessidade de sobrevivência ou de afirmação num mundo em que quem vai de vagar fica para trás e em que quem fica sentado perde a mobilidade.  
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De Ana Macedo a 22.02.2012 às 12:50

Tem razão . Falta de educação não pode nunca ter uma justificação no facto de se atravessar um período difícil Mas.... O que não entendo são os tristes comentários . Afinal isto e um poema ou uma critica???
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De Jorge Cardoso a 22.02.2012 às 13:34

@Ana Macedo: a humanidade tem trilhado o seu caminho em sucessivos períodos difíceis e em cada tempo e certamente desde tempo imemoriais que o Homem constata e comenta o mundo à sua volta, sendo que a verdadeira percepção da realidade exige tempo e reflexão, um tempo que ultrapassa o presente e que nos conduz com frequência a falar sobre o dia de ontem. O que hoje acontece, ao que me parece, não é falta de educação, é antes sim uma conduta própria dos tempos actuais e que de certo modo não se coadunam com o perfil estigmatizado de muitos de nós, sobretudo quando pretendemos ter um lugar só nosso e o reconhecimento dos que passam e que não reparam que nós pensamos ser alguém e que merecemos destaque. O mundo actual é tal como eu referi no meu segundo comentário (é assim para os honestos) e que sabem que cada um de nós caminha só!
 
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De Anónimo a 22.02.2012 às 14:48

Você tem muitas manias, não tem? Já não lhe chega ser intriguista?
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De António Ferreira a 22.02.2012 às 15:04

Parabéns. Excelente texto. Eu sou praticamente da sua idade (27 anos) e fui educado à antiga. Embora ache há certas normas que me ensinarem que hoje em dia já não se justificam, há outras que são importantíssimas e espero nunca esquecê-las. Quando o Ter se tornou mais importante do que o Ser, as regras mais básicas de uma sã convivência social foram-se perdendo. Devia imperar o bom-senso e educação e em vez disso, impera o egoísmo e a ignorância. Eu hoje em dia já chamo as pessoas à atenção, tentando sempre ser educado e simpático, quando consigo, mas às vezes há pessoas que só com um valente de bofetadas é que conseguiriam compreender. Acho que isto tem a haver com o facto de a família passar muito pouco tempo com os jovens e crianças hoje em dia. A Escola não consegue ensinar decentemente, quanto mais educar...
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De jpedrodores a 22.02.2012 às 15:13

Também sou da mesma opinião. São os pequenos gestos do nosso dia-a-dia que caracterizam a sociedade em que vivemos. 
Mas o melhor é continuar mos a fazer o que achamos correcto e civilizado para que as nossas acções sirvam de exemplo para os mais jovens, visto que este país não é para velhos.

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