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Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray:
"- Não ouso, Sr. Gray. Ora, ela inventa-me chapéus. Lembra-se daquele que eu levei ao garden-party de Lady Hilstone? Não se lembra, mas é muito gentil em fingir que se lembra. Bem, foi ela quem os fez de nada. Todos os bons chapéus são feitos de nada.
- Como todas as boas reputações, Gladys – interrompeu Lorde Henrique. – Todo o efeito que produzimos gera-nos um inimigo. É preciso ser medíocre para ser popular.
- Não sucede assim com as mulheres – disse a duquesa, meneando a cabeça -; e são as mulheres que governam o mundo. Afianço-lhe que nós não podemos suportar as mediocridades. Nós, as mulheres, como diz alguém, amamos com os ouvidos, precisamente como vocês, os homens amam com os olhos… se é que alguma vez amam.
- Parece-me que nunca na realidade amam, Sr. Gray – respondeu a duquesa, num misto de ironia e de tristeza.
- Minha querida Gladys! – exclamou Lorde Henrique. – Como pode dizer isso? O romance vive pela repetição, e a repetição converte um apetite numa arte. Além disso, cada vez que a gente ama, é a única vez que jamais amou. A diferença de objecto não fragmenta a paixão: apenas a intensifica. Podemos ter na vida apenas uma grande experiência, e o segredo da vida é reproduzir essa experiência o maior número possível de vezes.
- Mesmo quando ela nos tenha ferido, Henrique? – perguntou a duquesa, após um momento de silêncio.
- Especialmente quando ela nos tenha ferido – respondeu Lorde Henrique."