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Politização da juventude tibetana exilada no Nepal

por Samuel de Paiva Pires, em 28.03.08
Cerca de duas dezenas de exilados tibetanos invadiram hoje as instalações das Nações Unidas (ONU) em Katmandu, Nepal, tendo a polícia detido cerca de 60 manifestantes que protestavam junto das instalações.

Em protesto contra a actuação policial, 18 adolescentes com idades compreendidas entre os 13 e os 16 anos saltaram um muro e penetraram na sede da ONU no Nepal, onde ainda se encontram, disseram testemunhas à Agência espanhola EFE.

Os estudantes, que gritavam "liberdade para o Tibete", conseguiram frustrar a vigilância policial e trepar os muros das instalações da ONU, organismo que acompanha o processo de paz no Nepal, constatou um jornalista da Agência France Presse (AFP).

"Queremos que as Nações Unidas investiguem a repressão chinesa no Tibete", afirmou Tenzing Topjor, 15 anos, antes de ser afastado pela polícia.

A polícia nepalesa cercou as instalações da ONU e um dos agentes entrou no recinto e pediu aos responsáveis locais das Nações Unidas que lhe entregassem os manifestantes, pedido que foi recusado.

Enquanto a polícia averiguava a forma como os manifestantes tinham conseguido entrar na ONU, um outro grupo, de cerca de 100 pessoas, aproximou-se das instalações, enquanto gritava: "Liberdade para o Tibete".

Um jornalista da Agência Associated Press (AP) viu cerca de 60 manifestantes, que se encontravam fora das instalações da ONU, serem detidos.

A ONU escusou-se a comentar de imediato o incidente, ou o que tenciona fazer, mas é aguardada uma declaração durante o dia de hoje.

Durante a semana, a polícia nepalesa deteve cerca 250 tibetanos nos protestos registados na capital, mas os detidos são libertados horas depois.

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publicado às 16:22

Notas Soltas

por Samuel de Paiva Pires, em 28.03.08
Esta tem sido uma semana um pouco atribulada, daí a minha ausência temporária das lides blogueiras.

Antes de mais tenho que mencionar um especial agradecimento à nossa amêndoa da Páscoa, a Cristina Ribeiro, que seja bem vinda ao Estado Sentido!

Em segundo lugar, agradecer a toda a equipa, aos leitores e aos bloggers pela dinâmica que o Estado Sentido tem atingido, ainda nem com um ano de vida (está a fazer seis meses) e figurando entre os links de muitos blogs, dos quais assinalo por ora os que mais recentemente nos linkaram, o Prosas Vadias, A Verdade da Mentira, o Eclético, o Educação em Portugal, o Diplomata do meu caro Alexandre Guerra, o post de encorajamento do Réprobo, e por último, aquele que considero um dos bastiões do liberalismo na blogosfera, o Blasfémias. Um bem haja a todos!

publicado às 15:50

"Verdes são os campos"

por Cristina Ribeiro, em 28.03.08
 
É o que me apetece cantar hoje, como Camões!
Mas o verde destes campos é mais da cor da lima, do que do limão, resultado da chuva que tem caído nos últimos dias.
Aqui, juntinho da Falperra, no termo do concelho de Guimarães, onde, no interior da aldeia, longe da Estrada Municipal, ainda se encontram pedaços daquele "Minho Pitoresco", os carvalhos já se cobriram de folhas nos mais variados tons desse verde. Tão lindo que é o caminho onde outrora se acoitava Zé do Telhado...
Pena é que os nossos autarcas, mancomunados com os depredadores da construção civil, estejam apostados, numa luta desigual, em destruir esta generosidade da Natureza...

publicado às 11:53

Criancinhas

por Paulo Soska Oliveira, em 28.03.08
Aqui fica a cópia integral de um mail que recebi esta manhã:

"
Criancinhas

A criancinha quer Playstation. A gente dá.

A criancinha quer estrangular o gato. A gente deixa.

A criancinha berra porque não quer comer a sopa. A gente elimina-a da ementa e acaba tudo em festim de chocolate.

A criancinha quer bife e batatas fritas. Hambúrgueres muitos. Pizzas, umas tantas. Coca-Colas, às litradas. A gente olha para o lado e ela incha.

A criancinha quer camisola adidas e ténis nike. A gente dá porque a criancinha tem tanto direito como os colegas da escola e é perigoso ser diferente. A criancinha quer ficar a ver televisão até tarde. A gente senta-a ao nosso lado no sofá e passa-lhe o comando.

A criancinha desata num berreiro no restaurante. A gente faz de conta e o berreiro continua. Entretanto, a criancinha cresce. Faz-se projecto de homem ou mulher. Desperta.

É então que a criancinha, já mais crescida, começa a pedir mesada, semanada, diária. E gasta metade do orçamento familiar em saídas, roupa da moda, jantares e bares.

A criancinha já estuda. Às vezes passa de ano, outras nem por isso. Mas não se pode pressioná-la porque ela já tem uma vida stressante, de convívio em convívio e de noitada em noitada. A criancinha cresce a ver Morangos com Açúcar, cheia de pinta e tal, e torna-se mais exigente com os papás. Agora, já não lhe basta que eles estejam por perto. Convém que se comecem a chegar à frente na mota, no popó e numas férias à maneira.

A criancinha, entregue aos seus desejos e sem referências, inicia o processo de independência meramente informal. A rebeldia é de trazer por casa. Responde torto aos papás, põe a avó em sentido, suja e não lava, come e não limpa, desarruma e não arruma, as tarefas domésticas são «uma seca».
Um dia, na escola, o professor dá-lhe um berro, tenta em cinco minutos pôr nos eixos a criancinha que os papás abandonaram à sua sorte, mimo e umbiguismo. A criancinha, já crescidinha, fica traumatizada. Sente-se vítima de violência verbal e etc e tal.

E em casa, faz queixinhas, lamenta-se, chora. Os papás, arrepiados com a violência sobre as criancinhas de que a televisão fala e na dúvida entre a conta de um eventual psiquiatra e o derreter do ordenado em folias de hipermercado, correm para a escola e espetam duas bofetadas bem dadas no professor «que não tem nada que se armar em paizinho, pois quem sabe do meu filho sou eu».

A criancinha cresce. Cresce e cresce. Aos 30 anos, ainda será criancinha, continuará a viver na casa dos papás, a levar a gorda fatia do salário deles. Provavelmente, não terá um emprego. «Mas ao menos não anda para aí a fazer porcarias».

Não é este um fiel retrato da realidade dos bairros sociais, das escolas em zonas problemáticas, das famílias no fio da navalha?
Pois não, bem sei. Estou apenas a antecipar-me. Um dia destes, vão ser os paizinhos a ir parar ao hospital com um pontapé e um murro das criancinhas no olho esquerdo. E então teremos muitos congressos e debates para nos entretermos.

"A Devida Comédia", Miguel Carvalho"

publicado às 07:56

O sr. Jing-Tao mentiu e o senhor ministro Pedro inventou!

por Nuno Castelo-Branco, em 28.03.08
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O noticiário das oito da noite, condimentou-nos o jantar com cenas de dilacerante desespero de um grupo de corajosos monges tibetanos. Enfrentando interdições e controles policiais enviados pelo governo dhinês de ocupação, contaram a verdade aos jornalistas ocidentais que se prestavam a uma visita habilmente ciceronada pela propaganda, e arriscaram a vida para nos dizer aquilo que sabemos há muito.

Segundos depois, tivemos o ministro da presidência a balbuciar um incompreensível arrazoado de desculpas, tendentes a minimizar os danos colaterais causados por uma imprensa e opinião pública em crescendo estado de indignação. Puxou de um patrioteirismo rasteiro e escondeu atrás da "flâmula pára-arranca nacional", a razão de uma mais que certa presença do seu governo na cerimónia inaugural dos Jogos Olímpicos. O brilho cintilante de negócios dourados em perspectiva, ofusca ministros e empresários. Esquecem-se facilmente os princípios, desde que algo de sonante reverta como recompensa por bom comportamento.

Durante quase trinta anos, Portugal fez ouvir a sua voz nas Nações Unidas. De forma insistente, o caso de Timor-Leste foi considerado como um ponto de honra, alegando-se a carta da ONU, o direito internacional, os direitos humanos, ou o aceitável princípio do respeito pelas antigas fronteiras da época colonial.

Temos hoje forças portuguesas no Kosovo, um pseudo-Estado historicamente inexistente, sem qualquer passado de luta pela autonomia. Uma ficção tacitamente aceite - sem dizer que sim ou não - pelo actual governo de Lisboa. Por ele bombardeámos a nossa antiga aliada de 1916, a Sérvia. Usámos munições radioactivas e as nossas autoridades sentiram ter cumprido a missão.

Na cerimónia inaugural dos J.O., creia-me sr. ministro quando lhe digo que nos prestou um enorme favor. Para muitos, muitos portugueses, aquela bandeira que desfilará em V. representação, será apenas a bandeira da república portuguesa. Apenas isso. É pouco. É nada.

Resta-nos a consolação de nesta próxima reedição de Berlim 1936, surgirem umas dezenas de Jesse Owen's que estraguem certas digestões.

publicado às 00:30

Realismo, Pedro!

por Cristina Ribeiro, em 27.03.08
O Pedro Leite Ribeiro, do blogue Idolátrica, diz lamentar o seu cepticismo. Mas, quando se é consciente não se pode ignorar a choldra que é o nosso País, e, portanto, ser-se céptico em relação ao futuro só denota sanidade mental e que se tem os pés na terra...

publicado às 21:27

Março de 1982. A nova JM e a primeira reunião

por Nuno Castelo-Branco, em 27.03.08


Duas imagens da nossa primeira reunião como Comissão Concelhia de Lisboa da JM (Março de 1982)

Março de 1982. Recentemente empossada, a nova Concelhia da Juventude Monárquica do PPM, realiza a sua primeira reunião na sede do Partido, na Rua da Escola Politécnica, a S. Mamede. Presidido pelo Miguel, o grupo de trabalho organizou em pouco tempo a escassamente representativa JM, que no âmbito da acção escolar era praticamente inexistente. Antes do fim daquele ano lectivo, já contávamos com importantes vitórias para a associação de estudantes dos mais importantes liceus da capital e a presença sempre em crescendo, de simpatizantes, era notória nos comícios da A.D. O ano de 1982-83 foi vivido freneticamente e os resultados obtidos, surpreenderam pela grandeza e expressão das vitórias, facto para muitos espantoso, pela simples razão da quase total inexistência de recursos para as acções de propaganda que eram próprias daqueles tempos.

Esta introdução, serve sobretudo, como base para a eterna e delicada questão colocada entre os monárquicos e que tem como ponto primordial, o estabelecimento de imaginários - porque impossíveis de fixar - limites da acção tendente a captar aqueles que eventualmente sejam susceptíveis à causa da luta pela mudança da forma de representação do Estado. Conhecendo bem as dificuldades decorrentes do regresso à eterna batalha da "doutrinação", abundantemente prosseguida durante a maior parte do século passado pelos Integralistas e seus dissidentes, será preferível encarar este problema de uma forma mais objectiva, talvez menos sólida sob o ponto de vista conceptual, mas sem dúvida mais consentânea com o nosso tempo.

Recordo-me perfeitamente das longas noites de vigília, onde discutimos até à exaustão os problemas que quotidianamente surgiam nos nossos núcleos, que, é preciso dizê-lo claramente, cresceram de uma forma tão rápida, que se tornava difícil gerir ou viabilizar a sua consolidação nas escolas. Faltavam-nos os meios materiais e assim, a competição directa com as grandes organizações JSD, JC ou JS, tornava-se numa luta desigual e extenuante.

O facto de os símbolos serem fundamentais como polo de atracção e de identificação de grupos, facilitou o nosso trabalho, porque neste campo, as explicações de âmbito "racional", deixavam de ter razão de assim se considerar. Na verdade, a simples apresentação de uma só bandeira histórica, eclipsava milhares de autocolantes ou cartazes dos nossos adversários. Disso o Miguel se apercebeu rapidamente e a direcção da propaganda foi criteriosamente orientada para um aproveitamento e distribuição de meios que possibilitassem a máxima visibilidade. Os resultados foram bons e muito acima das primeiras expectativas. O Directório do PPM - recordo-me muito bem de um exultante Ribeiro Telles e do encorajamento de Luís Coimbra, Ferreira Pereira, Borges de Carvalho, Ferreira do Amaral e Barrilaro Ruas -, estava estupefacto com o sucesso obtido de uma forma aparentemente tão fácil e inesperada. Nada se deveu ao acaso ou a uma moda passageira, explicável pela novidade de uma organização moderada e que apelava ao patriotismo.

Na realidade, e embora fossemos extremamente jovens, verificámos de imediato que a explicação do retumbante êxito da JM e do correspondente afundamento dos nossos rivais se devia essencialmente, ao grande poder de atracção exercido pela Monarquia - sem que aqui seja curial sedimentar princípios, doutrinas ou programas -, como polo aglutinador de vontades. O esvaziamento do eleitorado liceal da JSD/JS/JC devia-se sobretudo a uma escolha entre a imaginária, porque pouco consistente fidelidade "partidária" e a opção clara por aquilo que é substancial, mesmo que na aparência peque por alegada irracionalidade. Não era necessário explicar o porquê de se declarar monárquico e sinceramente, ainda hoje creio que a esmagadora maioria daqueles que aberta ou solitariamente se revêm nestas cores, não precisam de qualquer justificação. Crêem, é tudo. Se aparentemente pode isto remeter-nos para o saguão das inutilidades - criado pelos chamados intelectuais cuja única função reside na anulação do querer e vontade daquilo a que depreciativamente chamam "povo" ou "homem comum" -, talvez não seja extemporâneo afirmar encontrar-se aqui a grande força que possibilita aqueles momentos únicos da História, onde os acontecimentos conduzem as sociedades a desenlaces inesperados e que podem surpreender. A verdade é que aos vinte anos já compreendiamos que a "Monarquia" cortava transversalmente toda a sociedade, estilhaçando afinidades clubísticas ou partidárias, unindo vontades e fazendo esmorecer diferenças, fossem elas de âmbito educacional ou de pertença a "classe". No entanto, deparámos com o paradoxo de um Partido que sendo inegavelmente pioneiro na modernidade das suas propostas de reorganização do país e do Estado - eram bem conhecidos os livrinhos publicados pelo PPM, sobre a agricultura, ambiente, urbanismo, política externa ou reordenamento territorial e que eram praticamente copiados pelos staff dos grandes partidos do poder -, enfermava também, daquilo a que rapidamente denominámos de "vertigem do reposteiro-mor". Isto quer simplesmente dizer que por aquela sede passavam personagens absolutamente setecentistas, onde o apego aos "valores do fado", "touradas reais", costadismos e brasonites de outrem, eram o ponto de honra e identificativo de pertença à casa. Era desesperante o simples e necessário trabalho de sede, o local ideal para reuniões e preparação de acções de rua. Tendo a JM atraído jovens que em muitos casos estavam habituados às sedes dos seus próprios partidos - fossem eles o psd, o ps ou o cds -, tornavam--se embaraçosas as constantes interrupções feitas por alienígenas clamando por ..."é preciso doutrinar"..., imiscuindo-se na concepção de um mero cartaz, enrubescendo as calvas por causa de castelos em pé ou caídos no escudo nacional, esperneando pela bandeira branca ou liberal e outras transcendências do estilo. As tiradas à Sardinha, a evocação deste ou daquele homem santo, os mistérios do V Império, as profecias do Bandarra e obrigatoriedade da leitura das Razões Reais - e aqui ressalvo toda a consideração que Mário Saraiva merece -, eram o polo negativo que sendo tão exótico e bizarro, se tornava na imagem de marca da organização sénior. E isto muito injustamente, porque na verdade, Telles e a sua equipa tinham um projecto que ia muito além da discussão da forma de representação do Estado.

O PP era um partido que também era M por opção. Quase ninguém disso se apercebeu e estou apenas a referir-me aos "monárquicos" que inacreditavelmente, muito se surpreendiam pela existência de correligionários - termo que no PPM se equiparava aos camaradas no PC e PS - em todos os outros partidos! Os "netos do conde de Chambord", como gostosamente lhes chamávamos, viviam no planeta das pirites, das ortotenias, dos jogos do pau e das lutas de galos. Creio que hoje em Portugal, só uma parte do BE possuirá características em tudo semelhantes aqueles preclaros e auto--conceituados massas cinzentas, como muitas vezes se declaravam a quem os quisesse misericordiosamente escutar.

Desde cedo concluímos também, que os considerados homens inteligentes da nação, eram muito hábeis na simples manipulação dos números e preocupações comezinhas do dia a dia, mas de uma total vacuidade na transmissão de algo que se situasse para além de um suposto evento a acontecer dentro de horas ou dias. Assim, a massa susceptível de se interessar por algo que não se limite a superficialidades de um consumismo aliciante, torna-se inevitavelmente muito restrita a uma mão cheia - passe a expressão - de esclarecidos e talvez, de verdadeiros conformadores e organizadores daquilo a que chamamos coisa pública. E esses, infelizmente, estão hoje numa total dependência de um sistema que os alimenta e garante lugares melhor ou pior remunerados. Em 26 anos nada mudou, nem mesmo o recurso às novas tecnologias que se democratizaram o acesso à informação, acabaram também por alargar enormemente, a transmissão dos desígnios dos grupos mais poderosos que a controlam.

O Partido Monárquico é impossível e totalmente indesejável. Ainda há poucas semanas, quando da votação da moção parlamentar relativa ao regicídio, não nos surpreendemos por aquilo que se passou no parlamento. A chamada Direita votou em bloco, é "claramente permeável". A Esquerda votou contra, mas as dúvidas foram evidentes. A dois deputados do PS - que são "correligionários", como dizíamos -, perguntei o porquê daquele estúpido voto negacionista. O "teve que ser", o "não tem importância por agora", coincidiam perfeitamente com a desejável disciplina partidária. No entanto, declararam-me também, que essa disciplina não é extensível ao dia de um hipotético referendo nacional, nem sequer a uma eventual emenda ou resolução parlamentar num momento de crise. Têm toda a razão! É isto que os "monárquicos" precisam de entender e de uma vez por todas. Porque o seu desejo de Restauração, é tão válido e tão precioso como o do seu adversário de clube ou de partido. No entanto, é também necessário o apresentar de soluções para os problemas do país, sejam eles de ordem constitucional - hoje bastante degradada e à beira do fim de ciclo -, ou de ideias - dentro ou fora dos partidos em que os monárquicos se revejam - tendentes à nossa consolidação como nação que após o encerramento de cinco séculos de império, ainda procura o seu espaço e destino.

O que ficou daquela década de acção? Alguma coisa. Ainda hoje são monárquicos aquelas dezenas de colaboradores constantes, muitos dos quais são frequentadores da blogosfera. Outros há que são deputados, juízes e presença habitual em jornais e televisão e que jamais renegaram "a causa". É com orgulho que recordo o também longínquo verão de 87, em que aquele núcleo que formara quatro anos antes a NM, acabou por salvar a campanha eleitoral do CDS de Adriano Moreira, vítima da fuga dos seus militantes abismados pela avalanche cavaquista. Valeu a pena. Continuámos o caminho aberto por Telles nos anos sessenta que desfez muitos preconceitos e mentiras. Sem isso, existiria um hiato intransponível.

Este texto é uma explicação. Tenho recebido muitos e-mail com apelos ao ressurgimento imediato da Nova Monarquia, que como é evidente, jamais poderia ser a mesma de há vinte anos. O mundo mudou e nós também. A eleição de Paulo Teixeira Pinto para a presidência da Real, foi talvez um ponto essencial num virar de página da história de uma causa-sem-efeito. A sua acção já se fez sentir. Seria uma deslealdade o surgimento de uma organização paralela, até porque PTP possui qualidades sobejamente reconhecidas - o Prós e Contras demonstrou-o -, para captar a atenção de muitos. O tempo o dirá.

publicado às 14:38

Tomaz de Figueiredo.

por Cristina Ribeiro, em 27.03.08

"Morro de amor pelo meu pátrio Minho, pela vila dos Arcos, pela Casa de Cazares, onde a minha infância dorme, onde esperei, feliz envelhecer, escrevendo mais livros, sempre livros, onde cuidei morrer e, como Goethe, pedindo luz e luz, sempre mais luz, de janelas rasgadas sobre o Vez, sobre a fonte que jorra da carranca, sobre as minhas amadas laranjeiras.
Fausto, morro de amor pelos meus livros, pelos romances que pensei, fugidos, perdidos e sumidos... («Viagens no meu Reino» )

Dele diz João Bigotte Chorão: "Não era Tomaz de Figueiredo, como Raul Machado, um gramático, um filólogo, um erudito, um especialista- era um escritor, um cavador de palavras, um servidor do idioma. O que lhe faltaria em ciência académica, sobejava-lhe em intuição e amor..." e, no «Dicionário de Literatura», acrescenta David Mourão Ferreira: "Prodigioso evocador do passado, em verso e prosa, grande poeta da memória, Tomaz de Figueiredo consegue aliar a muitos rasgos temperamentais de raiz romântica uma disciplina clássica (...). Integra-se numa tradição tipicamente portuguesa da qual terá sido Camilo, antes dele, o mais alto expoente.

Pois bem, é este quase conterrâneo- nasceu em Braga, a 6 de Julho de 1902, embora bem cedo tivesse ido viver para Arcos de Valdevez-, que até há bem pouco tempo desconhecia. Foi-me "apresentado" pelo blogue Futuro Presente e, na resposta a um comentário, o autor do post aconselhou-me a começar a leitura da sua obra por «A Toca do Lobo»...; descobri então um escritor de mão-cheia, a quem, ainda nas palavras de Bigotte Chorão, "O instinto da língua, por um lado, e o seu trato com o falar do povo e a obra dos clássicos, por outro, deram um raro conhecimento do português, nas suas expressões mais populares e mais eruditas..."

publicado às 11:47

O Irão republicano

por Nuno Castelo-Branco, em 26.03.08

Estas cavalheiras vestidas de envelope de cangalheiro, são um bom exemplo daquilo em que o Irão se tornou após vinte e nove anos de modernização promovida pelos mollahs. As pobres nem remotamente imaginam o que decerto Hitler reservaria às suas preciosas saúdes. Enfim, é o mundo em que vivemos.
(foto roubada ao nosso amigo Réprobo)

publicado às 23:08

Cristina Ribeiro, "consider yourself" bem-vinda!

por Nuno Castelo-Branco, em 26.03.08

publicado às 17:34

As pequenas misérias do " hexagone"

por Nuno Castelo-Branco, em 26.03.08
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"Nicolas Sarkozy terá aprendido a sua primeira lição: que não consegue fazer grande coisa sem a boa vontade de Berlim"
Teresa de Sousa, em o Público de hoje

publicado às 16:13

Porquê o apego a esta bandeira?

por Cristina Ribeiro, em 26.03.08
A minha primeira referência blogosférica foi o "Combustões", de Miguel Castelo-Branco, cuja excelência, tanto no que escreve, como na forma como escreve, desde logo me prendeu.
Mas seria com a leitura do post Nacionalismo e Monarquia, que me iria identificar com o pensamento daquele que fundou e dirigiu, durante anos, a revigorante "Nova Monarquia"; nutria, desde há muito, um sentimento pouco definido acerca da superioridade do regime monárquico, tendo sido essa leitura, depois complementada por outras aqui na blogosfera, que viria a cimentá-lo, adquirindo assim uma certeza fundamentada de que era este o regime que mais nos convinha, pois que a não ligação do Rei a um partido político era, indubitavelmente, a maior garantia de independência na prossecução do único objectivo que deve nortear a acção do Chefe de Estado: o interesse nacional, sem dever nada a qualquer ideologia...
Ora, o total esclarecimento dos portugueses, que lhes permitirá escolher, em consciência, o regime que melhor lhes pode servir, só será alcançado com debates sérios, na linha daquele a que assistimos há dias na televisão pública, o qual se distinguiu pela serenidade e elevação, indispensáveis a uma suficiente elucidação, permitindo assim o desfazer d'alguns mitos bolorentos, como seja o de que a Monarquia é incompatível com a Democracia e a Liberdade: tudo o que uma moderna Monarquia Constitucional não é, claramente...

E, quem sabe, talvez um dia não muito longínquo, possamos ter entre nós um novo D, Pedro V, Rei reconhecidamente empenhado na modernização e desenvolvimento da Nação, como Chefe d'este Estado, que tão vilipendiado tem sido...

publicado às 15:57

A actual Bandeira do Brasil e a sua origem

por Nuno Castelo-Branco, em 26.03.08


Decreto de 18 de setembro de 1822:
"Hei por bem, e com parecer do meu Conselho de Estado, Determinar o seguinte: Será de ora em diante o Escudo das Armas deste Reino do Brasil, em campo verde, uma Esfera Armilar de ouro atravessada por uma Cruz da Ordem de Cristo, sendo circulada a mesma Esfera de dezenove Estrelas de prata em uma orla azul: a firmada a Coroa Real diamantina sobre o Escudo, cujos lados serão abraçados por dois ramos das plantas de Café e Tabaco, e ligados na parte inferior pelo laço da Nação.
A Bandeira Nacional será composta de um paralelogramo verde, e nele inscrito um quadrilátero romboidal cor de ouro, ficando no centro deste o Escudo das Armas do Brasil.(…)" A bandeira foi usada por pouquíssimo tempo, entre 18 de setembro até 1º de dezembro de 1822. O projeto da bandeira foi do então Conselheiro José Bonifácio de Andrada e Silva, juntamente com Jean Baptiste Debret, desenhista e pintor de grande renome no Brasil entre 1816 e 1830
.
"Recusando-se obedecer as ordens das Cortes Portuguesas, D. Pedro, a 7 de setembro de 1822, num sábado de céu azulado, às margens do riacho Ipiranga (Rio Vermelho - do tupi), em São Paulo, proclamou a emancipação política do Brasil, depois de proferir o brado de Independêcia ou Morte e de ordenar Laços Fora!, arrancando do chapéu o tope português, exclamou : "Doravante teremos todos outro laço de fita, verde e amarelo. Serão as cores nacionais ". O amarelo representa a Casa de Habsburgo (Dona Leopoldina) e o verde representa a Casa de Bragança (Dom Pedro I).

"Nossa primeira bandeira nacional sofreu uma modificação após quase três meses de existência, transformando-se na Bandeira Imperial do Brasil em 1º de dezembro de 1822: "Havendo sido proclamada com a maior espontaneidade dos povos a Independência política do Brasil, e sua elevação à categoria de Império pela minha solene aclamação, sagração e coroação, como seu Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo: hei por bem ordenar que a Coroa Real que se acha sobreposta no escudo das armas estabelecido pelo meu imperial decreto de 18 de setembro do corrente ano, seja substituída pela Coroa Imperial, que lhe compete,a fim de corresponder ao grau sublime e glorioso em que se acha constituído este rico e vasto Continente".

Criada por Decreto de 18 de setembro de 1822, era composta de um retângulo verde e nele, inscrito, um losango ouro, ficando no centro deste o Escudo de Armas do Brasil. Assistiu ao nosso crescimento como Nação e a consolidação da unidade nacional.". Foi a bandeira do Brasil até 1889.

Este pequeno texto é dedicado aos meus amigos Berson e Júnior, que tendo manifestado algumas dúvidas acerca das origens da bandeira brasileira, pretendiam saber algo mais. Não sou especialista no tema - sou um monárquico bastante atípico -, mas na verdade, as explicações acerca de cores e símbolos, vão variando desde a origem da concepção dos pendões, até ao momento em que por eles nos interessamos. Afinal, parece que o verde não representa a Amazónia e o amarelo, nada tem que ver com o ouro de Minas. Pelo que o texto diz, a explicação é bem mais lógica e insere-se na época em que surgiu o símbolo do novo império independente de Portugal. As escolas de samba podem ficar descansadas, porque exibem até à exaustão, as cores dos Bragança e dos Habsburgo e têm toda a legitimidade para o fazer. Ou não será o Brasil o natural herdeiro de um Portugal nascido há quase nove séculos?

Há ainda que referir que por cá, verificamos o mesmo tipo de argumentação eivada de bucolismos e sentimentalismos que roçam a pieguiçe. Sabemos bem de onde vem o verde e o vermelho, que não derivam nem da Esperança, nem de qualquer Sangue derramado. É o terrorismo da manipulação da história. Neste caso, é reconfortante o esconder da realidade das coisas, porque assumir abertamente o símbolo da Carbonária, seria demasiado descaramento.

publicado às 09:19

Notas Soltas

por Hugo Palma, em 25.03.08
Começando por lamentar a minha ausência, em jeito de pedido de desculpas, deixo aqui um jogo que o meu irmão mais novo descobriu no qual os candidatos presidenciais às eleições americanas se digladiam num jogo de paintball.
De qualquer forma, parece que a falta que faço não é muita. Estão de parabéns o Samuel, pela iniciativa, e o Nuno, pelo talento. Não sou eu que o digo - é termos a honra de figurar nos nossos leitores e comentadores pessoas anónimas que nos fazem ter vontade de continuar a escrever, e outras menos anónimas, como o Paulo Roberto de Almeida. Fantástico!
Uma palavra final para os nomes na nossa lista de contribuidores que aumentam em número e em qualidadade.
Um abraço, Samuel.

publicado às 18:44

É uma notícia que a blogosfera recebe com agrado, a implementação de uma ferramenta na edição online do Público, que mostra os links da blogosfera para as suas notícias. É, como diz o Luís Novaes Tito,o reconhecimento que deste lado existe massa crítica suficiente e dá sinais positivos de entendimento da interactividade.

publicado às 14:13

Já vão surgindo nas varandas de Lisboa...

por Nuno Castelo-Branco, em 25.03.08
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publicado às 13:53

Parabéns Corcunda

por Samuel de Paiva Pires, em 25.03.08
O Corcunda está de parabéns, posto que já lá vão 4 anos de Pasquim da Reacção na blogosfera. Um abraço ao Corcunda!

publicado às 01:50

Sentido

por Samuel de Paiva Pires, em 24.03.08
Peço desculpa aos caríssimos bloggers, amigos e leitores, pela ausência nos últimos dias, e agradeço ao Nuno o assegurar dos serviços do Estado Sentido, aproveitando desde já para agradecer à Cristina Ribeiro por ter aceite o nosso convite, aguardando por ora ansiosamente que inaugure a sua participação no nosso humilde blog.

Há alturas em que nem tudo faz sentido, outras há em que tudo faz sentido algum e outras ainda em que nada parece fazer sentido, numa espécie de experiência extra-sensorial, como se a qualquer momento fôssemos acordar de um pesadelo. O que importa agora é realmente encontrar o sentido a seguir ao encerrar de um ciclo, que de forma arrasadora se precipitou no dia da ressureição de Cristo. Até sempre meu tio-avô, encontramo-nos daqui a alguns anos do lado de lá, espero que todos juntos de vez. Até lá, que Deus dê descanso à sua alma, junto daqueles que sabemos.

publicado às 20:26

Olimpíadas chinesas e jogos de guerra

por Nuno Castelo-Branco, em 24.03.08

Os mais recentes acontecimentos no Tibete e a já esperada e desproporcionada reacção do PC chinês, fez-me recordar um livro surgido há uns dois anos, publicado exactamente no momento, em que a China foi consagrada como a nova grande potência emergente. Esse livro tratava de um hipotético SE da história universal, mais precisamente, acerca da possibilidade de expansão marítima que no século XV, podia ter conduzido os chineses a uma era de Descobrimentos, que afinal, viria a pertencer a Portugal.

Para o ocidental que a caminho do trabalho, aproveita a viagem de comboio ou de metropolitano, para ler o seu jornal diário, a China habituou-o a preencher um substancial espaço na procura da informação. Se o valor do Yuan é ainda um dado praticamente desconhecido na Europa e nos EUA - os grandes impulsionadores do turismo planetário -, a avalanche de produtos que inundam as prateleiras das lojas, as parangonas noticiosas de um crescimento económico infrene, ou, no reverso da medalha, as execuções televisionadas, fizeram do Império do Meio, o centro de muitas esperanças e de outros tantos receios. De facto, se aquele país é hoje um verdadeiro sinónimo de "negócios da China" - mais uma vez esta expressão do Portugal de Quinhentos está presente nesta nova globalização -, por outro lado, parece atrair os medos inculcados por um passado de invasões amarelas em direcção a Ocidente. Átila e os seus hunos, Gengis Khan, Tamerlão, a Horda de Ouro, o imperador Chin, Kublai Khan e, já nos nossos dias, o Grande Timoneiro Mao, confirmam lendas de violência, depredação de terras ancestrais, colonização e tributagem forçada.

A China, esse grande dragão do sempre enigmático, maravilhoso e imprevisível Extremo Oriente, é para a generalidade dos ocidentais, capaz do melhor e do pior. Possibilitou ingentes lucros à talassocracia portuguesa do século XVI, carregando as naus com sedas, lacas, porcelanas e uma infinidade de outros luxos até então inacessíveis, mas não conseguiu evitar a amplificação extrema das notícias dos métodos de governo da sua gigantesca sociedade. Termos como "tortura chinesa", "despótico como um mandarim" ou "chinesice", matizavam uma opinião que da admiração pela sua civilização, passava para uma radical recusa de uma alegada brutalidade e crueldade em que assentava o grande império. Quando da Guerra dos Boxers (1899-1900), o kaiser Guilherme II - desde sempre o arauto da Europa, alertando quanto ao perigo amarelo -, foi um entusiasta da operação punitiva, que reunindo tropas alemãs, inglesas, francesas, russas e japonesas, fez vergar o governo da imperatriz Tseu-hi, não podendo imaginar que selava também, o destino de mais de quatro milénios de sistema imperial. Foi também, um momento crucial para uma imagem que os ocidentais deixaram indelevelmente marcada a ferro e a fogo. Para muitos chineses, somos os representantes daqueles que entraram de roldão em Pequim, incendiaram o Palácio de Verão - uma das maravilhas da cultura da corte dos Qing- e causaram morticínios e depredações que ficaram para sempre na memória. E tudo isto, em nome de uma Civilização. A fotografia do embaixador francês refastelado no trono imperial da Cidade Proibida, foi para muitos, a prova de total desprezo e arrogância de um poder branco que urgia eliminar.

A história chinesa do século XX é bem conhecida e se as primeiras décadas pareciam consagrar o seu desaparecimento como unidade estatal e territorial, a conquista do poder pelos comunistas, iniciou um processo que em menos de cinquenta anos, fez evoluir o país de um comunismo ruinoso e para muitos com laivos genocidas, para uma pujante economia de mercado, tão mais surpreendente, porque promovida pelo próprio regime de corte estalinista, ainda no poder.

Tal como a Ibéria - termo que povoa algumas mentes menos esclarecidas -, a China não é mais que uma expressão geográfica e não será muito arriscado afirmar, que se trata do nome de uma particular região daquele imenso conjunto territorial, que mercê das contingências da história - e também da força do seu poder imperial estabelecido durante séculos em Pequim -, acabou por dar o nome ao Estado. Com fronteiras bastante indefinidas, onde os jogos de submissão, vagas suseranias, ou reivindicações jamais reconhecidas eram uma constante que confirmava o enigma, a China foi sempre para os ocidentais, um caso inextricável. A sua real força e capacidade de intervenção, foram nos últimos quinhentos anos, secundarizadas pela primazia tecnológica militar dos europeus e assim, enquanto durante séculos apenas existiu uma presença portuguesa no seu território - Macau -, a revolução industrial de oitocentos, trouxe o imenso mercado chinês, para o centro das disputas, onde os banqueiros e industriais, faziam parcerias com técnicos militares, no sentido da obtenção de um quinhão substancial. Na realidade, os primeiros grandes confrontos bélicos do século, tiveram início naquela região do globo, que viu pela primeira vez, uma grande potência europeia ser derrotada por um império asiático que de uma forma tonitruante, fez ouvir a sua voz em todas as chancelarias. A Guerra Russo-Japonesa focou a atenção de todos para uma Ásia que até então, era considerada como um destino para militares em comissão, mercadores em busca de pechinchas, ou de artistas deleitando-se com um apetecido exotismo.

Os governantes de Pequim, terão certamente, a plena consciência das dificuldades inerentes ao governo de um colossal território povoado por biliões que não se entendem por uma língua, tradições e interesses comuns. Um manchu é tão chinês - no sentido mais restrito do termo - como um alsaciano é francês. Desta forma, a fuga para a frente movida pelo progresso e bem estar económicos, parecem criar a ilusão de uma rápida fusão de comunidades que não podem deixar de estar unidas, senão por um mútuo interesse no acesso a uma vertiginosa sociedade de consumo que não encontra paralelo neste início do século XXI.

Os inflamados discursos patrióticos, entremeados de grandes paradas militares galvanizadoras da fidelidade a uma história milenar - recordemo-nos da fidelidade dinástica aos Habsburgo em 1914-18 -, permitem oferecer uma imagem interna que o regime desesperadamente procura transmitir aos forasteiros. No entanto, os meios de informação que as sociedades liberais ocidentais hoje possuem, são de molde a tornar mais nítida, uma fotografia convenientemente retocada pelos peritos da propaganda do PCC. O simples e já imprescindível telemóvel empunhado por um turista demasiadamente curioso, pode a trazer ao conhecimento de centos de milhões, as cargas policiais, os espancamentos, ou o deprimente espectáculo das execuções "tiro na nuca" nos estádios de futebol. Os acontecimentos no Tibete, sempre endémicos, tornam-se hoje muito mais visíveis e os Jogos Olímpicos, poderão ser para o governo de Pequim, um assunto que concilie o melhor e o pior. Se são susceptíveis de se tornarem num poderosíssimo veículo de propaganda - Berlim 1936 foi um bom exemplo -, poderão ser igualmente, uma oportunidade excelente para as muitas oposições que terão uma ocasião de ouro para se fazerem ouvir.

O perigo não reside tanto no grupo Falungong ou em alguns milhares de estudantes amotinados. Para lá do Estreito da Formosa, existe um Estado que sendo considerado como "parte da China" por Pequim, é na realidade, uma entidade perfeitamente autónoma e já há mais de um século separada do continente. Não nos poderíamos surpreender, se Taiwan aproveitasse o momento para declarar unilateralmente a sua independência. Uma reacção militar continental, seria impensável nos meses em que todas as atenções estariam voltadas para Pequim e decerto, já mais para o fim do ano, uma situação de facto, poderia muito bem tornar-se para o mundo, num típico caso de jure. Mas, até quando?

publicado às 19:45

Uma tarde tórrida e um gigante em Moçambique

por Nuno Castelo-Branco, em 24.03.08


1968, arredores de Lourenço Marques. Era habitual a organização de convívios "à portuguesa", onde não podiam faltar as sardinhas, a broa, os grelhados -onde pontificava o frango à cafreal- e o vinho da Metrópole. Já Charles Boxer, na sua obra dedicada ao "Império Marítimo Português", realçava a particularidade da colonização lusa, de recriar noutras paragens, aquilo que para trás deixara na Europa. Cidade cosmopolita, de arquitectura arrojada e avenidas grandiosas, a capital de Moçambique destacava-se na África Austral. Local aprazível para viver e trabalhar, era também, o local ideal para as crianças, onde a praia, os jardins, cinemas e campos de jogos, preenchiam as férias grandes de todos nós.
Naquele fim de semana, fomos os três com os nossos pais, a um daqueles convívios-quermesses, decerto com fins beneficentes. O local era a Quinta do Marialva, cujo nome denota o apego dos seus proprietários, a ecos longínquos da história portuguesa. A patuscada fez as delícias dos adultos e ainda hoje recordo o gigantesco coronel Anta, um autêntico sósia de Mussolini que conseguia devorar dúzias de sardinhas, abundantemente regadas de tinto. Quanto a nós, os miúdos, tivemos a recompensa do dia. Aquele género de feira era sempre maçadora, afastando-nos dos brinquedos, da praia e dos vizinhos que connosco conviviam no ocioso quotidiano de verão. Após o prolongado repasto, surgiu o inconfundível vulto do Gigante de Manjacaze (1944-90), o Gabriel Monjane que povoava a nossa imaginação de temores e curiosidade. Conhecendo-o através de fotografias em revistas e jornais, foi com surpresa e emoção que tivemos o privilégio de receber a sua particular atenção. O Gabriel gostava de crianças e era uma pessoa calma e tímida. Para nosso grande alívio, caiu para sempre, a imagem que dos gigantes construíramos, através de leituras infantis ou de histórias inventadas pelos adultos, para nos "obrigar a comer a sopa".

Na foto, a minha mãe com a Ângela, o meu irmão Miguel que olha desconfiado e eu próprio, encadeado com a luz ofuscante do sol austral. Mais uma foto com história (já anteriormente publicada pelo Miguel). Não podíamos imaginar que uns poucos anos depois, abandonaríamos aquela terra, varridos por "ventos de uma certa história", soprados de Portugal e de outras bem identificadas paragens deste mundo.

publicado às 15:16







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