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Tal como a Cristina já referiu, a João Marchante pela selecção enquanto Blog do Dia, e ao colectivo Atlântico pela referência, colectivo esse recentemente reforçado com o nosso conhecido Carlos Miguel Fernandes.
quando cheguei a casa. Muni-me da máquina fotográfica e fui fazer este postal para oJosé M. Barbosa; porque gostou da minha catalpa.
Mas quis que visse que ela já está diferente desde a semana passada, quando fiz a outra fotografia. É uma coisa que gosto de fazer: ir registando as transformações por que passa a Natureza- mudança de cor, crescimento das folhas...; e gosto de a fotografar em diferentes horas do dia, quando o pano de fundo, o céu, se transforma também.
Este Outono tem sido excepcionalmente benéfico para o antecipar da regeneração dessa nossa Aliada. Não tardará muito e ela já estará preparada para oferecer a sua sombra, quando dela precisarmos...
que queria falar no Tirol, um cão que me foi muito especial, que me acompanhou durante toda a infância.
Quando vi esta fotografia num blogue amigo, pensei " é hoje! ", porque apesar de o "meu" ter sido mais pequeno, é muito idêntica a imagem que dele guardo.
Teria quatro, cinco anos, o mês era o de Setembro, pelo que estávamos na Póvoa de Varzim. Uma manhã, estava a minha mãe a chegar da padaria, encontrou o Tirol enroscadinho junto à porta: estava uma daquelas manhãs ventosas, e procurou aí aconchego. Adoptámo-lo logo; amor à primeira-vista.Para a então irmã mais nova, que começara a falar havia pouco tempo, ele tinha um outro nome, de uso privativo- era o Quim-Quim, ninguém sabia porquê.
Tinha pêlo comprido, castanho-dourado, semeado de madeixas num castanho mais escuro. Era muito meigo.
Desde então, e até que morreu de velhice, o Tirol foi um dos "nossos"...
Desde sempre, as Forças Armadas foram vistas pelos portugueses, como o irredutível baluarte que garante a liberdade da nação, encarada aquela sob a forma do pleno exercício da soberania sobre o território histórico delimitado há mais de oito séculos de conquista, povoamento e uniformização pela lei comum.
O Exército e a Marinha estiveram no centro dos acontecimentos que paulatinamente elevaram o pequeno reino à inesperada condição da grandeza na História, facto sem paralelo na Europa e que decorrido meio milénio, conseguiu a proeza de elevar a língua portuguesa, à condição de uma entre as maiores no planeta, quase remetendo à condição residual, aquelas faladas por povos de grandes potências, entre as quais decerto pontificarão a Alemanha, a França ou a Itália.
Quando da passagem do Centenário do Regicídio, verificaram-se certas movimentações no âmbito castrense e muito sintomaticamente, surgiu o general Garcia Leandro a alertar para as dificuldades existentes no seio das F.A.P. Facto inédito e que pode ser interpretado como aviso, o general tinha como pano de fundo, o antigo - e prestigiosamente verdadeiro - escudo das Armas Portuguesas, aquele mesmo ilegalmente derrubado pela unilateral Constituição de 1911.
A profissionalização das forças armadas, trouxe uma realidade difícil de gerir, habituados como os portugueses sempre estiveram, a um serviço militar obrigatório que aliás, foi um alicerce do próprio Estado Liberal nascido da vitória de 1834. Durante o período das amplíssimas liberdades da Monarquia Constitucional, muitos foram os chefes de governo que saíram das fileiras, normalmente desempenhando cargos políticos e partidários, sem que "o exército" pudesse ser de alguma forma acusado de intervencionismo permanente nos negócios públicos. Foi exactamente a sua abstenção no 1º de Fevereiro de 1908 e no 3-5 de Outubro de 1910, que reverteu a tendência que já há muito se verificava e remetera as Forças Armadas - então Exército e Marinha - ao seu papel de guardiãs do património territorial e da independência do país. O caos da república, a necessidade premente do intervencionismo no jogo partidário e o sacrifício da sua independência em prol dos interesses sectários, destruíram o equilíbrio habilidosamente conseguido durante quase setenta anos de regime constitucional. O Chefe do Estado - o rei -, era igualmente e de forma explícita e universalmente aceite, o Chefe das Forças Armadas e por isto mesmo, a garantia formal de independência das mesmas face ao poder dos interesses económicos, políticos e partidários, obviamente cúmplices como é normal em qualquer democracia. O realismo deve ser norma e este é um facto indesmentível que temos de aceitar.
A clamorosa e humilhante derrota face às stuermtrueppen do kaiser Wilhelm II, os assassinatos quotidianos, o descalabro financeiro e uma torrencial legislação eivada de boas intenções mas sem qualquer sentido prático, conduziram o país ao beco da falência do Estado que correu um sério risco de inviabilidade e puro desaparecimento, com o total alheamento das outras potências, mesmo aquela que sendo a Aliada tradicional, esteve prestes a reconhecer o fait accompli de um Finis Patriae lusitano.
Não vale a pena continuarmos indefinidamente a proceder a considerações acerca do papel das Forças Armadas durante o Estado Novo, pois foram sendo relegadas à sua missão de garantia de segurança e paz interna dos territórios do Ultramar e da Metrópole e em 1939-45, não foram obrigadas ao sacrifício - previsivelmente inglório - de fazer frente aos ímpetos expansionistas de um Reich que pretendeu ser milenar, nem de se submeter à condição subalterna de tropas auxiliares da Commonwealth anglo-saxónica.
Cumpriram de forma brilhante, sacrificada e inesquecível, os cometimentos exigíveis quando da eclosão da Guerra de África, lutando contra imensas e aparentemente insuperáveis dificuldades. Sem aliados que lhes fornecessem o equipamento mínimo, souberam improvisar e acima de tudo, conquistaram o meritório papel de defensoras de populações negras e brancas que se viam ameaçadas pelo ciclo de atrocidades que sob a África se abateram desde o início da cataclismica tempestade dos chamados "Ventos da História".
No século XX, o seu intervencionismo político tem ocorrido, sobretudo, quando confrontadas com prementes necessidades de cariz corporativo e sendo um dos fundamentos do Estado, encontram-se paradoxalmente desprotegidas e à mercê da boa ou má vontade dos civis que se alternam na governação. Paradoxalmente, porque não dispõem dos recursos sindicalizantes das hostes civis e porque têm desde sempre garantido, a perenidade de "situações"que se sustentam pela precisa e lógica abstenção das Forças Armadas no jogo político. Quando o Chefe do Estado - ainda hoje conhecido como presidente da república - era militar, garantia-se pelo menos de jure, uma certa independência na senda do caminho trilhado pela quarta dinastia e podemos mesmo arriscar o nome do general Ramalho Eanes, como um perfeito exemplo da quase unanimidade da vontade nacional, fosse ela civil ou militar.
Os portugueses sentem e querem uma nítida delimitação daquilo que pode ser cedido no capítulo da Soberania Nacional e não existe qualquer comissário ou presidente do conselho europeu - seja ele estrangeiro ou português - que possa convencer este povo do contrário. Há limites inultrapassáveis e disso têm as Forças Armadas a perfeita consciência, desde o chamado soldado raso ao general do topo da hierarquia. Ainda há uns anos, quando o governo Guterres pareceu considerar a hipótese do encerramento das Academias Militares, atribuindo essas funções formativas à congénere espanhola, o silêncio glacial nos quartéis e a clara oposição da opinião pública, trouxeram o necessário abandono do grotesco projecto.
Desde então, os sucessivos governos - independentemente dos partidos componentes dos mesmos - se têm servido das Forças Armadas, como um precioso instrumento de publicidade e visibilidade daqueles, em termos internacionais. São enviadas "missões de paz" ao Médio Oriente, África, Oceânia e Balcãs, sem que por isso as F.A.P. estejam devidamente equipadas para um honroso e activo cumprimento das operações que lhes são destinadas.
Um exército profissional deve ser isso mesmo, logo bem remunerado e consequentemente afastado das quezílias da jogatina política. Não se lhe pode ser solicitado qualquer sacrifício, se simultaneamente, os mesmos que decidem acerca da sua transferência para cenários de duvidoso interesse nacional, são os primeiros a consentir em campanhas públicas mais ou menos disfarçadas numa imprensa a soldo. O regime sente-se mal com as forças armadas, porque os políticos sabem que tudo lhes devem. Devem-lhes os apetecíveis lugares do Poder, devem-lhes a visibilidade internacional, devem-lhes a paz interna e a total e inegável abstenção na vida político-partidária.
Dizia o coronel Vasco Lourenço há alguns meses, que ..."não me preocupo com conversas de generais, mas sim com aquilo que dizem ou sentem os quadros intermédios das forças armadas"... (grosso modo foram estas as suas palavras). Passando sobre a insignificância do peso do dito coronel numa hierarquia vertical que nada tem em comum com uma época de sapatilhas rotas, rallyes de Chaimites, barbas à Che ou SUV's, não deixa de ter razão e ironicamente, são esses mesmos quadros intermédios que se tornam cada vez mais audíveis. Estão a um passo do vociferar e em mais um lampejo da minha memória - que, digo-o sem falsa modéstia, é prodigiosa -, recordo-me da entrevista do general Garcia Leandro e do tal pano de fundo.
com a sua escolha, João!
No prefácio escreve Aníbal Pinto de Castro: " Não sei de outro prosador que, como Tomaz de Figueiredo, tanto e tão bem tenha tocado música com as palavras da poesia".
Nada mais certo! À medida que me vou familiarizando com o solitário - « Que noite de solidão! Que solidão a minha! Só a conversar com sombras menos que fantasmas » - da Casa grande e gélida - « Deixa-te ficar aqui ao lume, porque para ti, bem o aceito, há-de estar muito frio.»- , quanto mais testemunho aquele monologar amargurado, qual Senhor Shakespeareano de Elsenor, em que se dirige à " mulher tanto mais amada quanto mais ausente", mais escuto a poesia, que nunca dissocia da música - «..meu amor, minha música, meu céu imaginado, Beatriz...Ouve, que vou tocar-te um sonho que sonhei » - ...
travava-se, junto ao pequeno rio do mesmo nome, a decisiva Batalha do Salado, na região de Tarifa e nas proximidades do estreito de Gilbraltar. A coligação dos dois Afonsos, a que se juntaram também efectivos aragoneses, e mesmo genoveses, conseguira infligir uma pesada derrota aos exércitos muçulmanos do reino de Granada e do império merínida de Marrocos, naquela que foi a última grande tentativa de invasão islâmica da Península Ibérica." ( Bernardo Vasconcelos e Sousa, in « D.Afonso IV»- Círculo de Leitores )
Dois anos depois, « O Bravo» mandava erigir em Guimarães, defronte à Igreja da Senhora da Oliveira, e em honra de Santa Maria da Vitória, um monumento comemorativo dessa Batalha: O Padrão do Salado.
Encontravam-se, nessa altura, os dois monarcas vizinhos desavindos por causa do descaso, e até humilhação a que o castelhano sujeitava sua mulher, e filha do rei português, D. Maria de Portugal.
Mas, face ao perigo que vinha de Marrocos, e por intervenção da própria Rainha de Castela, a mesma D. Maria, que implorou ao pai ajudasse o marido infiel, episódio que Camões tão bem ilustrou nos Lusíadas, nas estrofes que dedica à " fermosíssiomas Maria", os esforços dos cristãos foram recompensados, esquecendo o que os desunia.
Via Criativemo-nos:
"Um amigo meu encomendou, via Amazon, uma camisola de apoio a John McCain. A camisola veio, ele vestiu-a e foi trabalhar. Nada o preparava para o espectáculo posterior: colegas e amigos olhavam para ele com um esgar de incompreensão e nojo. A coisa foi tão ostensiva que, a meio da tarde, ele resolveu mudar de roupa para não arranjar sarilhos num meio maioritariamente artístico, ou seja, de esquerda.
O episódio é interessante porque revela o quadro mental em que a esquerda usualmente chafurda. Creio que foi Roger Scruton quem o resumiu na perfeição: quando um "conservador" critica um "progressista", ele parte do pressuposto de que o adversário está errado. O critério é epistemológico, não ético. Mas quando um "progressista" critica um "conservador", o julgamento é moral; e o adversário, um simples inimigo.
Naturalmente que existem todas as excepções do mundo. Mas as excepções confirmam a tese: o pluralismo não entra na cabeça de uma esquerda moralista e intolerante. Foi precisamente esta arrogância moral da esquerda, a que se junta uma óbvia falta de sentido de humor, que fizeram de mim uma pessoa à direita.
E McCain? E Obama? Sim, gostaria que McCain ganhasse. E ainda acredito que McCain vencerá: as sondagens sempre inflacionaram os Democratas (lembrar Carter contra Reagan). Mas não me repugna que Obama vença. O que ouvi dele sobre política externa (Afeganistão, Paquistão, Irão) chega e sobra para adivinhar duas fatalidades. Primeiro, que a esquerda vai ter uma desilusão profunda com o Santo Obama (para meu infinito riso). E, segundo, que Obama será um digno representante da América democrática e livre de que eu tanto gosto."
João Pereira Coutinho in "Única" - 'Expresso'
E o que eu me ia fartar de rir de ver Obama perder. E secalhar vou, que até ao lavar dos cestos ainda é vindima. Mas tal como acima referido, também me vou fartar de rir, caso Obama vença, quando a esquerda caviar se aperceber que nada de essencial mudará. E é que, tal como referiu António Costa Pinto há pouco em debate na RTP2, Obama se ganhar entrará num Coliseu Romano, por qualquer erro que cometa ser-lhe-á sempre atribuída a culpa e deixarão de o ver como um "Deus". É inevitável.
Talvez nunca umas eleições norte-americanas tenham sido tão dominadas pelo politicamente correcto como estas, onde um dos candidatos atingiu o estatuto de intocável e de mito, até porque qualquer ataque político contra esse é sempre considerado racismo, como referiu Villaverde Cabral no mesmo debate na RTP2, e como bem demonstra o texto de Pereira Coutinho.
E eu detesto o politicamente correcto e estes movimentos massificados, estes hypes de histeria colectiva, muito pouco racionais, a fazer lembrar os ensinamentos de Le Bon e de Freud quanto à forma como os indivíduos e as multidões se comportam. Sou do contra por natureza, e quanto mais não seja, apenas por isso, se votasse seria em John Mccain. É um motivo tão válido quanto o motivo racista dos que dizem que vão votar em Obama só porque ele é preto. Mas a maior parte desses nem sabe o que Obama diz ou pensa ou defende. Eu ainda vou tentando saber e simpatizo muito mais com John Mccain.
Justificação: existem muitos outros para futuras nomeações e assim, optei por uns de carácter literário, outros informativos e ainda, aqueles com diversos cambiantes patrióticos. Não me esqueço do meu antigo colega Humberto Nuno, mas apenas podia nomear seis e já vou em oito! Fica para a próxima.
Impressionante a recomendação do Conselho Nacional da Educação que refere que as criancinhas até aos 12 anos não possam ser reprovadas.
E o Governo vai na cantilena : "O secretário de Estado da Educação concorda com a recomendação do Conselho Nacional da Educação no sentido de arranjar alternativas aos chumbos de alunos até aos 12 anos, mas recusou o fim das repetições de ano por decreto."
O mesmo Secretário de Estado que não se coíbe de opinar arduamente em certos bares Lisboetas.
Não consigo perceber. Faz-me confusão...
Quem é que tem estas ideias milagrosas que apenas fazem mal ao país? Não hoje, mas daqui a 20-30 anos. Socorro!
No meu tempo, quem não sabia - reprovava.
Agora já é preciso andar com justificações. Dentro de meses, putativamente as criancinhas vão poder fazer o que lhes der na real gana, dado que não vai ser preciso aprender um corno...
Cada vez mais me convenço que Abril nada nos trouxe - apenas e tão só a MEDIOCRIDADE.
Agora que finalmente aprendi a linkar posts determinados, ultrapassando a fase dos links meramente para o blogue- o Curso por Correspondência, está a surtir efeito, hein, Samuel? :)- sugiro que Vossas Excelências se deliciem com um "cheirinho" da tertúlia que tinha em mente, quando escrevi este post- basta clicar em« Je Maintiendrai», para que os espíritos superiores a que me referia mostrem um bocado da verve que os anima...
A nossa amiga e frequente visitante Isabel Moreira, teve a gentil desfaçatez de me enviar esta foto (1) do meu último ano na FLL (1986), recordando também um episódio que há muito esquecera, mas que não deixa de ser característico daquela época. Apenas pouco mais de uma década decorrida desde o 25 de Abril, o espírito partidário ainda efervescia e as agremiações eram encaradas como hoje são vistos os clubes de futebol, arrebanhando fanáticos incondicionais. Os militantes davam tudo o que tinham e trabalhavam noites inteiras na azáfama do servio nas sedes e nas colagens de rua, fizesse frio ou calor. Era um labor desinteressado, sem recompensa material e talvez por isso mesmo, um tanto irracional, como convém.
A Isabel recordou-me um desses casos de burburinho politiqueiro a que eu e o meu irmão - espero que ele não se importe de aqui relatar o caso - nos entregávamos frequentemente. Costumávamos ir treinar a um ginásio de bairro na Álvares Cabral, o ACM. Quase todas as tardes lá arranjávamos a conjugação de horários necessária para passarmos duas horas entretidos com o exercício que na altura, era também um prazer e oportunidade de convívio com amigos e conhecidos que nos explicavam os truques dos pesos e halteres, a alimentação desejável e uma certa disciplina na perseverança. Geralmente utilizávamos o machimbombo (2) 38 da Carris para regressar a casa, ao Campo Grande. Não havia dia em que não provocávamos um pequeno motim a bordo, pois já conhecíamos a táctica infalível para a previsível explosão.
Começávamos por abordar um assunto relativo à situação política do momento, ou referíamos esta ou aquela personalidade, podendo também estender a armadilha a temas ainda escaldantes, como a descolonização ou a mal negociada adesão à CEE. Falávamos de forma audível, aparentando distracção, mas seguros de sermos escutados. Nem tínhamos ainda chegado ao Marquês e alguns rosnares eram já audíveis, iniciando-se discussões paralelas à nossa. Uns manifestavam o desagrado ou o apoio ao que dizíamos e tudo isto, sem nos dirigir palavra. Quase estourávamos de tanto conter o riso e sabíamos exactamente como deitar mais gasolina ao fogo, disso dependendo a evolução das conversas alheias.
Naquele dia, a Isabel tinha tomado o transporte na paragem da Fontes Pereira de Melo, junto à EDP e assim que entrou, viu-nos e cumprimentou-nos, sentando-se um pouco mais atrás. É claro que naquele momento a coisa já ia grossa e a adjectivação muito pesada, enquanto o Miguel e eu próprio fingíamos continuar a nossa amena cavaqueira. A certa altura, parece que no banco detrás, dois fulanos se pegaram numa violenta quezília, com insultos mútuos e ameaças de pancadaria de criar bicho. A coisa foi alastrando pela camioneta e quando chegámos ao Saldanha, o 38 já se assemelhava mais a um manicómio rolante, numa gritaria ensurdecedora, com o motorista a ameaçar chamar a guarda. Evidentemente e cumprido o papel incendiário, os dois maninhos já se limitavam a rir e a ocasionalmente lançar mais uma ou outra atoarda que mantivesse o vulcão prestes a sofrer uma explosão piroclástica. Neste momento, o palavreado daquela gente atingira os píncaros da ordinarice, com copioso recurso a mães putativas e respectivos aparelhos reprodutores, num afã prodigioso de utilização do calão de que a nossa sagrada língua é tão maravilhosamente generosa.
Chegados à paragem diante do Tatú, no Campo Grande, despedimos-nos calmamente da Isabel e saímos como se nada se tivesse passado. Para nós, aquilo era normal e quase rotineiro e para os outros, habituados às peixeiradas de que os "grandes" eram exemplos que a RTP nos metia casa adentro, apenas um descarregar de adrenalina. Bons tempos, aqueles...
1) Por acaso, a Cristina Mendes, a minha colega que é prima da Isabel, já me tinha oferecido uma cópia. Estávamos na época do Footloose e do Dirty Dancing do Patrick Swaize e claro, seguia a tendência, desde a roupa ao corte de cabelo com risco ao meio. O local situa-se na rua da Misericórdia, diante da galeria S. Francisco. O restaurante ainda existe. Publico a foto, porque gosto dela, tomem-na como uma Vanitas. Sem crime.
2) Autocarro no dialecto do Sul do Save, província de Lourenço Marques
O Jumento cordialmente agradece a solidariedade da nossa parte, o que não tinha necessidade mas cumpre-nos apenas agradecer tamanha cortesia.
Esta coisa de quererem descobrir a autoria do Jumento, chegando ao ridículo de solicitar os serviços da Interpol, acabou no entanto por causar um efeito que me apraz constatar.
Da esquerda à direita, dos liberais aos conservadores, entre outros maniqueísmos afins, uma série de blogs tem demonstrado a sua perplexidade com este caso e a sua solidariedade para com o Jumento. Isto faz-me pensar que os bloggers, mesmo que ideologicamente espartilhados, têm uma espécie de consciência de classe.
Gosto bastante que assim seja.
Estou numa daquelas alturas em que tenho muito pouca paciência para a espuma dos dias. É demasiado entediante a realidade política, económica e social portuguesa. Além do mais ando mentalmente ocupado com diversos trabalhos para a faculdade. Não há paciência para tanto tédio proporcionado pela espuma dos dias.
" Pure capitalism prevailed in 1915-1929, my own childhood days.
Who killed it? Republican President
Who brought it back to life?
Let me fast-forward to the present worldwide financial bust-up.
Unregulated market systems eventually will do themselves in.
Marx, Lenin and Stalin were village idiots as economists. Mao was even worse. Let's try to forget about Castro in
What then is it that, since 2007, has caused
Muitas mais palavras de Paul Samuelson (sim, esse mesmo), aqui.
Cícero Ressuscitado, assim foi chamado o Padre António Freire pelos seus pares, reunidos em Bucareste num Congresso Internacional de Latim.
Este ansianense tornou-se, por direito próprio, um Ilustre Filho Adoptivo de Braga, pois que, depois de aí- na Faculdade Católica de Filosofia-se ter licenciado em Humanidades e doutorado em Filosofia,aí passou o resto dos seus dias a transmitir os seus conhecimentos de Literaturas Latina e Grega, Filosofia Antiga,Cultura Clássica e Filologia Portuguesa, já depois de se ter licenciado em Teologia em Granada, Espanha..
Autor de uma bibliografia vastíssima, onde espelhou o seu Saber, na esteira, aliás, de outros virtuosos da Companhia de Jesus, não era esta grandeza, porém, impeditiva de uma bonomia tal, que explica o facto de me ter sido dado o privilégio de com ele travar algumas, poucas, conversas, quando ia esperar uma amiga à Faculdade.
Era, além disso, uma figura muito popular entre os paroquianos de São Vicente, a cuja igreja fui muitas vezes, sabendo de antemão que se me atrasasse, não teria lugar dentro do templo, tanta era a gente que aí acorria, a ouvi-lo...
Esta manhã tive de fazer uma visita aos escritórios da EDP, para tratar de assuntos de facturação da empresa de um amigo. Como os ditos serviços se encontram sediados na Camilo Castelo Branco (Mq. de Pombal), levei apenas alguns minutos para lá chegar, tirar a senha e dispor-me a esperar o tempo necessário para estas coisas da burocracia. Ao meu lado estavam duas senhoras bastante idosas, que habitualmente vejo nestas redondezas, seja no café da esquina ou no supermercado.
Assim que me sentei, iniciaram de imediato um contacto, que segundo me disseram, já esperavam há muito. É que costumo usar num blusão, uma pequena bandeira nacional de esmalte e já estou habituado à curiosidade do olhar de alguns, ao fácies cúmplice de outros e também, ao evidente desagrado dos patetas habituais. As duas irmãs já a tinham visto e perguntaram-me se sabia o que aquilo significava, Não pude deixar de sorrir com esta questão que hoje dia, nesta época de gadgets meramente decorativos, não é assim tão extemporânea. Esclarecidas acerca das minhas razões, sentiram-se então muito à vontade para falar. Surpreenderam-me - ou talvez não -, com um diluviano discurso sobre a rainha D. Amélia ..."uma mulher excepcional, culta, moderna, avançadíssima para o seu tempo, de uma elegância e simplicidade extrema"... Filhas de um pai que fora republicano até à morte de Sidónio, desde pequenas ouviam falar naquela, que neste país avesso a novidades, insistira em arrastar os portugueses para o século XX da ciência, protecção do património e mais importante que isto, das conquistas sociais. Estas duas senhoras conhecem de cor o papel pioneiro da rainha Orleães. Falaram-me das creches, dos lactários e das cozinhas económicas. Não quis estragar o seu entusiasmo e fingi surpresa por tudo aquilo que me contavam, onde a luta contra a tuberculose, o Instituto Câmara Pestana, os sanatórios e as campanhas de prevenção, encontravam-se no centro da frenética actividade da grande soberana. A minha surpresa deveu-se antes de tudo, à pujante memória de duas mulheres com quase nove décadas de existência e não pude deixar de escutar pequenos episódios relativos a essa paixão que desde novas cultivam. Quando da visita da rainha em 1945, o pai levou-as a todos os locais onde puderam contactar com D. Amélia e orgulhosamente disseram que lhes tinha chamado "minhas filhas", à saída de S. Vicente de Fora, ao mesmo tempo que o pai não se cansava de berrar a plenos pulmões "viva a rainha!!"
Após uma meia hora de emotivas recordações, confidenciaram que ..."sabe, naquele tempo era difícil falar à vontade e o meu pai dizia que aquela senhora representava o último momento em que tinha existido liberdade em Portugal". Assim que ouvi isto, o meu interesse avivou-se instantaneamente e descobri então com autêntica surpresa, estar diante duas senhoras daquilo a que durante o Estado Novo se chamou de "reviralho". Afinal existia uma oposição que não era PC, nem era exclusiva dos órfãos do Afonso Costa e dos seus bandos de caceteiros e caciques locais. Havia um reviralho azul e branco, discreto, mas de firmes convicções que se mantiveram para além do século mais infeliz da nossa História.
Antes de nos despedirmos, ainda tiveram tempo para me dizer ..."que o Sampaio bem podia deixar os preconceitos e prestar uma homenagem pública à rainha que foi a primeira a interessar-se pela luta que ele hoje diz que quer encabeçar!". Mas logo e bastante desanimadamente concluíram que ..."não, é impossível, eles são muito pequeninos, invejosos e mesquinhos. Falta-lhes grandeza"...