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Em 1995, uma simples afirmação do então presidente Mário Soares, demoliu um mito propagandístico velho de mais de um século. Para grande desespero ou despeito dos sátrapas e escribas do pensamento oficialista, Soares justificava a sua participação como P.R., na cerimónia de Estado em que consistiu o casamento dos actuais Duques de Bragança. Acompanhando naquele importante momento um amigo de décadas, M. S. declarava também estar Portugal a prestar uma homenagem à Casa de Bragança pelos relevantes serviços prestados à Pátria, à sua liberdade e independência.
Ficaram assim soterradas as grandes tiradas retóricas das Conferências do Casino, os Finis Patriae que culminaram com o Crime no Terreiro do Paço e as justificações fastidiosas, incipientes e vazias de conteúdo histórico escritas por um Oliveira Martins que sendo um impenitente idealista, vergastou a dinastia para acabar por nela reconhecer, sob o turvo prisma do cesarismo, a redenção de Portugal.
Todas as velhas nações possuem as datas que calendarizam glórias passageiras, aquelas que ingratamente o tempo condena ao posterior olvido pelas gerações que não as viveram. Os desastres das batalhas perdidas são frequentemente compensados pela gesta de uns poucos - o Decepado, o Soldado Milhões ou um D. Sebastião - que souberam bem morrer ou resgatar a periclitante honra dos outros, que ausentes do campo onde de pé se morria, nem por isso se sentiam menos atingidos por uma tragédia ainda não percebida, mas que inexoravelmente sobre as suas cabeças faria tombar a vingativa espada do inimigo. Os grilhões apostos aos conquistados, seriam então exemplar justificativo e testemunho do espírito de sacrifício. Santificava-se desta forma aos olhos de um misericordioso Deus que do alto velava pelo seu povo e lhe forjava no ânimo, esse querer de libertação e do retorno a um perdido mas não esquecido tempo, onde a Lei dos naturais conformava a espontaneidade de um sentido de pertença à comunidade, a Grei.
A Monarquia Portuguesa criou a nação que somos e essa identidade tem sido ao longo das centúrias, plenamente justificada através de nebulosos e por vezes lendários indícios da especificidade das populações que foram consecutivamente ocupando o território que ainda hoje se chama Portugal. Os lusitanos, os conventos romanos e a criação do primeiro mas efémero Império Ibérico, erguido pela força guerreira visigótica, enraizaram nas mentes daqueles que lhes sucederam, essa certeza do direito à constituição de uma entidade territorial distinta daquelas outras com quem ainda partilhava o idioma e mais importante ainda, a Fé.
14 de Agosto de 1385 consistiu talvez, a data a partir da qual este país deixou para sempre a contraditória e incerta condição estatutária de uma parte independente de uma grande Galiza. Essa confusão decorrente do próprio processo de criação do reino no século XII, ditava uma aparente edição localizada e muito particular do feudalismo que imperava além Pirenéus e que das suas faldas se estendia até à foz do Niémen. Um qualquer acaso sucessório derivado da morte de um monarca sem descendentes, ou um negociado matrimónio que forjava uma outra realidade política na Respublica Christiana, modificava então as sempre frágeis fronteiras e no tempo fidelizava os povos à nova dinastia. Aljubarrota foi importante, servindo de marco ao reconhecimento do interesse específico das ..."muitas e desvairadas gentes"... que viviam naquele espaço criado jurídica e perpetuamente pelo tratado de Alcanizes. Os portugueses tinham como cumprida a sua parte na Reconquista da terra outrora cristã, há séculos avassalada e subjugada pelo invasor que viera do outro lado do mar, com desconhecidas línguas, estranhos costumes e exótica divindade.
Pela primeira vez uma vitória militar colocava em definitivo, a realidade territorial Portugal, no palco de uma Europa que perdidas as ilusões de uma reunificação que fizesse ressurgir o cristão império romano, levava os seus reis, príncipes ou republicanos condottieris, a gizar alianças, garantindo a sua supremacia sobre rivais e vizinhos. No entanto, Aljubarrota consistiu no culminar de um curto e turbulento período de realinhamento interno de forças políticas, económicas que confluíram no interesse pela preservação da independência que surgia como a essencial condição da prosperidade e realização pessoal de quem mais podia e o repúdio por todos os demais, de um poder estranho e até então considerado inimigo. O 14 de Agosto escancarou as portas daquele sentido de urgência de acrescentamento do domínio, cumprindo-se assim simultaneamente, o brado "Deus o Quer" de uma cristandade que tudo podia justificar.
A chegada de Gama à Índia, a descoberta do Brasil - uma das grandes e actuais razões do nosso direito a existir como Estado e inegável símbolo da grandeza histórica de Portugal - e aquela ininterrupta série de espantosas, mas hoje infelizmente esquecidas vitórias nas quentes águas do Índico e do Pacífico ocidental, podiam almejar ao título da mais importante data da História de Portugal. Contudo, se nos tornaram para sempre visíveis perante um mundo que até então nos ignorava, não foram suficientemente prenhes de consequências que garantissem aquela certeza de pertença e de necessária preservação de um legado já antigo de quase meio milénio.
A morte do vate nacional, Camões, num hipotético 10 de Junho de 1580, quando os tercios de Alba implacavelmente escreviam uma nova página possibilitada pelo desastre de Alcácer Quibir, surgiu para as mentes dos românticos oitocentistas, como única e diamantina oportunidade de distanciamento de uma outra data, que para a totalidade do corpo nacional, servia de pendão de honra ao espírito de resistência que esmagara invasores, rasgara tratados iníquos e galvanizara o ânimo consagrador da liberdade desta nação que há muito era uma Pátria.
O dia 10 de Julho será então imaginado pelos seus promotores como a unanimemente aceitável efeméride que divorciaria os portugueses daquela clara manhã de 1640, em que o escudo de armas português para sempre se retirava da simbólica da União Dualista. Esta União - afinal sempre desejada pelos promotores republicanos do 10 de Junho de 1880 - baseara a sua legitimidade na força da espada e no ouro das moedas corruptoras e enlouquecedoras do espírito de discernimento de alguns. O fim último desta tentativa do radicar de um novo marco que seria assim considerado como o mais importante da História de Portugal, era o rebaixamento da dinastia que surgia como um mero e fortuito acaso ou recurso de um grupo de abnegados e bravos redentores a ela alheios. Fantasiaram-se episódios de resistência do duque D. João e justificou-se a aceitação do Levantamento por parte dos Braganças, pelo "varonil ânimo" da castelhana duquesa D. Luísa de Guzmán. Construiu-se habilidosamente o mito da indecisão e do espírito timorato daquele, que afinal pela sua prudência, sageza de pensamento e resolução na acção de estadista, garantiu o sucesso da Revolução. Arruinou materialmente a sua Casa, mas ganhou a coroa e a liberdade de Portugal como reino independente que pela força das armas e astúcia dos políticos, conservou o legado ultramarino que ao tempo interessava. É também a definitiva confirmação de um novo vector da nossa presença no mundo, que da Ásia transita para o espaço Atlântico onde ergueria um novo império, o Brasil, ainda hoje um grande entre os maiores.
Não cabe aqui o desfiar das desditas que para este país significou o seu achincalhar à condição de província de uma Grande Ibéria que estendia os seus braços à Europa Central, Flandres, Reno, Milão, ao sul da Itália e que transformava vastas regiões católicas do Sacro-Império, em simples dependências ou inevitáveis e subalternas aliadas.
1580 reduziu e inferiorizou um Portugal já imperial, com domínios que se estendiam das plagas norte-africanas às costas do Japão. Porto de abrigo e de comércio para todas as nações cristãs, Lisboa habituara-se à presença das alvas gentes do Norte e à colorida presença daqueles que oriundos da África, Índia, China, América ou zona malaia, provavam o senhorio reclamado pelos monarcas que ostentavam orgulhosamente o título de Senhores do Comércio e da Navegação na Guiné, Etiópia, Índia, etc.
A permanente e férrea política de alheamento dos conflitos continentais que esmagavam populações, devastavam campos e semeavam a perniciosa semente da inimizade histórica entre vizinhos, fortificou a consciência da identidade nacional, a necessidade de com todos dialogar e comerciar e o direccionar dos esforços para a preservação e dilatamento do património territorial conseguido com tantos e custosos sacrifícios.
Existem algumas efemérides que embora sejam importantes marcos e signifiquem o início de novas experiências políticas que uma mudança de regime implica - o 24 de Julho, o 5 de Outubro, o 28 de Maio ou o 25 de Abril -, não se revestem daquele transcendente significado que a palavra Liberdade no seu sentido mais lato - o da gente e o da Pátria como entidade política autónoma e internacionalmente reconhecida pelas outras - só é conseguido por aquele dia em que se restaurou a independência portuguesa.
O 1º de Dezembro de 1640 é a data mais importante da nossa História, pois se internamente consagra o desejo da totalidade de uma Nação que animicamente já o era há muito, internacionalmente consistiu na confirmação de uma necessidade desejada por todos aqueles que combatiam uma prepotente e implacável hegemonia, cega ao direito das terras e das gentes. A Restauração foi saudada com efusão em boa parte da Europa e se para alguns consistiu numa oportunidade para o abatimento do Leviatã que há mais de um século ditava a lei nas relações entre Estados, para outros oportunamente surgia como ocasião para a consolidação do esbulho do património luso espalhado pelo mundo. A vontade e o sacrifício abnegado dos portugueses de então, desiludiu aqueles que apenas esperavam um passageiro e apetecido contratempo à imperial Espanha de Filipe IV e de Olivares.
O dia 1 de Dezembro de 1640, foi o mais longo da nossa História e prolongou-se por vinte e oito anos de terríveis sacrifícios. Os portugueses bateram-se praticamente sós, contra as duas grandes potências de então - a Espanha e a Holanda -, vencendo uma nos campos de batalha da raia e a outra, a belicosa Batávia, nos mares, no sertão brasileiro, em Angola e nas longínquas paragens asiáticas. A Guerra da Restauração foi um conflito em múltiplas frentes, onde o ferro da espada e a pluma dos diplomatas e dos grandes homens que juridicamente justificaram perante o mundo a libertação, se irmanaram num indissolúvel elo que garantiu o sucesso final. Se na Europa os terços lusos conseguiram rechaçar a coligação de nações que era o exército dos Habsburgos espanhóis, no além-mar Portugal defrontou e acabou por vencer o mais implacável, fero e traiçoeiro inimigo de que há memória. De facto, a luta contra a talassocracia e o poder financeiro da hostil e exterminadora Holanda, criou tantas e aprioristicamente inultrapassáveis dificuldades, que o resultado da emancipação foi por muito tempo incerto e geralmente considerado como condenado pelas chancelarias europeias, desde o Vaticano às monarquias do Norte. A França surge como transitória protectora interessada em tolher o movimento à sua rival continental que via desprender-se o mais precioso florão da sua coroa e a Inglaterra, baqueava na guerra civil, impotente para o pleno cumprimento do papel que o velho Tratado de Aliança lhe ditava como obrigação. Os portugueses - Portugal, um todo - para sempre tornou presente a sua condição de Estado, numa Europa que via nascer e desaparecer entidades políticas, conforme a vontade dos grandes do momento e desta ou daquela guerra perdida. A memória de 1640 reavivou-se naquela outra Restauração em 1808, quando pela primeira vez derrotado o invasor francês, a legitimidade erguida como bandeira pelo povo, fez saber ao soberano no distante Brasil, o apego da nação à sua liberdade entre as demais.
Portugal inteiro o quis e assim o fez. Lutou, negociou, transigiu por vezes. Contra todos os prognósticos, restaurou a legitimidade do seu Direito e no trono colocou quem dele tinha sido pela força esbulhado em 1580. Venceu o irredutível ânimo de todos, irmanados no resgate de uma liberdade que justificava assim, a própria existência das gentes que alçando o pendão da nossa terra, tornou seu o brado Liberdade! Liberdade! Viva El-Rei D. João IV!
É esta a lição dos nossos maiores e hoje, decorridos trezentos e sessenta e oito anos e num momento grave que compromete os ideais de 1640, devemos sentir como próprias as palavras do duque D. Duarte:
"Todos os que pensarem que o sonho dos fundadores e dos restauradores ainda está vivo, venham ter connosco; e se alguém questionar este crescente sentir do poder do povo, a resposta é hoje, como o foi no 1º de Dezembro: O rei é livre e nós somos livres!"
Obama fez uma jogada de mestre com a escolha de Hillary Clinton, e ela própria terá também consciência disso. É o velho príncipio maquiavélico de ter os amigos por perto e os inimigos ainda mais perto. Obama vai usufruir da reputação internacional não só de Hillary mas também de Bill Clinton, ao passo que Hillary fica de certa forma impedida de fazer campanha contra Obama como forma de se preparar para uma eventual candidatura presidencial em 2012. E se alguma coisa correr mesmo muito mal, Obama poderá sempre demitir Hillary, isto num caso extremo em que o custo de sacrificá-la seja inferior ao custo de mantê-la, o que pressupõe um eventual facto político gravíssimo.
Quanto à política externa que esta promissora dupla terá a desenvolver, Robert Kaplan deixa uma interessante sistematização neste artigo da The Atlantic. Aqui fica uma pequena parte, mas aconselho a ler na íntegra:
But the real reason that Obama and Clinton might enjoy success is something that goes barely mentioned in the media. Obama and Clinton are buying into a bottomed-out market vis-à-vis America’s position in the world. It is as if they will be buying stock after the market has crashed, and just at the point when a number of factors are already set in motion for a recovery. For President George W. Bush did not just damage America’s position in the world, he has also, over the past two years, quietly repositioned himself as a realist in foreign policy, and that, coupled with a bold new strategy in Iraq, known as the “surge,” has poised America for a diplomatic rebound, which the next administration will get the credit for carrying out.
É um lugar comum dizer-se que os norte-americanos são racistas. Numa sociedade demograficamente vibrante cujo poder de adaptação e flexibilidade às condicionantes impostas pelo mundo em devir se devem em grande parte ao modelo cultural de assimilação e integração dos milhões de migrantes que têm acolhido ao longo da História, latinos e afro-americanos têm, com maior ou menor dificuldade, encontrado espaço para desempenhar cargos públicos e políticos, e Obama é a maior expressão disso mesmo. Pesem embora algumas tensões que assolaram os Estados Unidos, desde a abolição da escravatura que levou a uma guerra sangrenta, passando pelo episódio de Martin Luther King, chegando-se aos dias de hoje com alguns indivíduos a defenderem certos princípios como a supremacia branca (KKK), actualmente esse racismo não me parece ter expressão significativamente relevante na sociedade americana, isto é, para criar graves problemas de perturbação da ordem pública e, mais uma vez, Obama é a prova disso mesmo.
Lembrei-me disto a propósito deste post e mais especificamente destas palavras de Nuno Lobo:
Por outras palavras, Obama significa a vitória da europeização da América.
Pois bem, se os Estados Unidos da América, e o restante continente americano, são de facto, historicamente, um prolongamento da Europa, e se essa é que é supostamente, pelo menos partindo de uma perspectiva euro-cêntrica, a base da civilização Ocidental, quanto a esta questão do racismo, parece-me que talvez estejamos a ver as coisas ao contrário. E porquê? Perguntem-se quantos africanos ou descendentes de africanos exercem cargos públicos ou políticos em todos os aparelhos estatais dos estados membros da União Europeia e, em consequência, nas próprias instituições europeias? Pois, muito provavelmente poucos ou nenhuns. Basta olhar para o nosso próprio Governo, a Assembleia da República, os Tribunais e por aí fora. Sem esquecer ainda a recente expressão cada vez mais significativa da extrema-direita por esse velho continente fora ou ainda a tendência crescente para fechar fronteiras e impedir a imigração, a ilegal legitimamente, a legal sendo um tiro no pé que vamos pagar a longo prazo quando os sistemas de segurança social não conseguirem mais comportar o díspar rácio entre população activa e população reformada.
Além do mais, tal como referi no início deste post, e como refere Fareed Zakaria em O Mundo Pós-Americano, parte do segredo da regeneração dos Estados Unidos em face das diversas crises e da constatação de que continuarão a ser por muitas décadas a única super-potência no mundo tem sido a sua atitude perante a imigração. E depois os americanos é que são racistas...
No velho continente cá continuamos contentes e alegres com o nosso euro-centrismo e alegada superioridade moral, julgando que nos encontramos em posição de dar lições aos Estados Unidos, ou tentando ver em determinados acontecimentos nesses a expressão acabada dessa mesma nossa alegada superioridade. Daqui a umas décadas talvez vejamos como estávamos enganados... Europeização da américa? Posso estar enganado ou talvez não esteja a conseguir vislumbrar tal processo mas, não só quanto a esta questão do racismo ou da imigração, num espectro mais alargado, tal não me parece sequer uma ideia séria, pelo menos por agora. Esperemos pelo que irão fazer quanto aos sistemas de educação, saúde e segurança social, e aí sim, porventura poderemos assistir a algum tipo de europeização.
Com o que escreve o João Távora:
Que tal os do costume provarem do próprio remédio? Estão a gostar da revolta popular anti-plutocrática e a favor da manutenção do Estado tradicional e progressista criado pela monarquia tailandesa? Cá pelo meu lado, esfrego as mãos de contente. No Sião, os balsemões/berlusconis não pisam o risco! E a coisa até mete canções de intervenção, t-shirts, posters e barricadas. Que bom...
Pouco sei acerca de Joe Berardo. Creio que cumpriu plenamente a promessa da conquista de um futuro de abastança e na África do Sul construiu o seu destino de milionário. Conheço-o através da sua colecção exposta no CCB, daquela outra que reúne preciosidades criadas por Bordalo Pinheiro e pelas periódicas entrevistas na televisão, comentando ou posicionando-se nas lutas inter-banqueiras que todos sabemos.
Esquecida a mefistofélica etapa do "escândalo Millenium" que acabou em quase nada, ontem surgiu Berardo na RTP, dando a sua opinião quanto ao processo de falência - é disso que se trata - de um até então quase anónimo Banco Privado Português. Após uma breve reportagem na qual foram ouvidos dois dos principais participantes e interessados - Balsemão e Saviotti -, Berardo deu a sua opinião que grosso modo, corresponde à da esmagadora maioria do comum cidadão.
Os bancos não são propriamente jardins de recreio, campos de golfe, bordéis, clubes de canasta e bridge, ou salões com escadarias para passagens de modelos. São instituições destinadas ao financiamento de projectos, ao investimento em benefício dos accionistas e do país em geral e principalmente, de guarda dos depósitos que aí são colocados, finda a época da caixinha escondida atrás da lareira, do porquinho de barro ou do colchão de palha. Por uma mera e ao que parece hoje dispensável questão de ética, os bens depositados devem ser garantidos, consistindo num verdadeiro ponto de honra e na base do funcionamento de qualquer uma destas instituições. Se os gestores e principais accionistas decidiram e executaram projectos de investimento ruinosos, talvez até com contornos poucos claros e que em consequência conduziram determinada instituição ao colapso, as responsabilidades e o ónus devem ser da responsabilidade daqueles. Foi isso mesmo que Berardo ontem disse e com toda a razão. O Estado faz o que lhe compete, se garantir que os depósitos efectuados por clientes de boa fé forem cobertos, evitando novas misérias e a perturbação da ordem pública. Mas quem efectuou maus negócios de livre vontade, manipulou números e fez desaparecer património de outrém, deve resposabilizar-se pelos seus actos. Se os senhores Balsemão, Saviotti e companheiros se sentem auto-lesados, o problema não deve ser assacado ao Tesouro Público e aos contribuintes sobrecarregados de impostos. Outro aspecto não descartável, consiste no facto da referida entidade, apenas aceitar depositantes com maquias superiores a 1 milhão de Euros (será verdade?) e se assim era, os senhores milionários especuladores que paguem a própria pequena crise. Jogaram? Brincaram? Especularam? Então responsabilizem-se e cubram eles próprios o prejuízo. Assim deve ser um capitalismo saudável, como se quer. Berardo tem razão e coloriu as suas palavras com a fábula da cigarra e da formiga. A alternativa a esta cristalina evidência, é o completo descrédito do regime no seu todo e quanto a isto, o senhor primeiro-ministro está decerto ciente, pelas lições que a história já nos deu, até porque sonantes nomes da superestrutura do poder parecem - com ou sem razão - envolvidos neste caso.
Se as vendedoras de corda
Dessem asas à simpatia
Haveria muito menos enforcamentos.
Façam as críticas que quiserem aos diversos políticos que lideraram e participam na vida activa do Partido Comunista Português. Mas nunca, mas mesmo nunca questionem a origem proletária de Jerónimo de Sousa! Depois de assistirem ao pequeno filme que vos trago, vão chegar à conclusão que “na há duveda q’é do povo!”
O Corcunda, desta feita no Portugal Contemporâneo, sobre o erro do liberalismo:
"e Manuela Ferreira Cão..Leite"...
Tendo em consideração que não é pensada a médio e longo prazo, pode-se arriscar dizer que não existe verdadeiramente política externa portuguesa.
Goste-se ou não, a última vez que foi pensada como uma política externa foi durante o regime do Estado Novo.
Noto que tenho andado dormente nos últimos meses. Preciso de acordar e de me soltar desta dormência que me aparvalhou e me envergonha. E tenho que começar a fazer algo por isso. Com urgência.
Belém, 28 de Novembro de 2008
Fi,
É impressionante a forma como as palavras vão perdendo sentido quando imponentes gestos florescem do nada; a derradeira teoria é derrotada com o mais simples toque, e o ser-se humano torna-se relativo.
Compareces hoje à porta da dourada e negra entrada na vida adulta. Digo-te que os encantos da liberdade rapidamente se confrontam com todo um rol de encargos que nos fazem questionar se queremos realmente crescer. A única certeza que te posso dar é que enquanto eu andar por aqui, terás sempre um porto de abrigo e a minha amizade e amor incondicionais.
Não é segredo que tens sido um dos mais fortes pilares da minha nova vida, aqui longe de casa e da meninice de que tanto sinto falta. Leio dos teus lábios as mais profundas histórias de amor surreal que me deixam inerte e atento a cada pormenor.
Fui invadido por uma orgia de sentimentos de uma forma tão exposta, mas no entanto tão hermética que pareço carregar aos ombros o maior segredo da história da humanidade. Toda a mística que nos tem envolvido tem um toque de demanda do Santo Graal, a procura infindável de detalhes nas mais pequenas coisas que compõe o nosso dia-a-dia, sempre com o olhar no infinito e na realização.
Passemos então pelos Jardins de Belém, ou pelos de Éden se preferires, contemos mil e uma mentiras a cada arbusto e façamos da conspiração o ópio da Natureza viva. Dêmos as mãos. Façamos de cada passo um caminho.
Que futuro? Nada espero senão tudo. A descoberta da verdadeira alquimia, aquela que transforma qualquer sentimento em amor, aquela que enlouquece apaixonados e não gananciosos, ignorando a emancipação dos objectos.
Muitos Parabéns!
Adoro-te.
Só neste momento momento me é dado iniciar a minha colaboração neste blog. Gostaria antes de mais de cumprimentar todos os outros participantes e agradecer as simpaticas palavras de incentivo do Nuno Castelo Branco e a boa vontade do Samuel Pires.
Portugal, 34 anos de uma Democracia
de sucesso
Todos os dias somos confrontados com a crise do Estado. As falencias, as manifestações dos professores, o mal-estar nas forças armadas e o aumento da criminalidade são só alguns dos muitos sinais de uma situação que tem vindo a agravar-se. Os problemas do país, por mais estranho que possa parecer aos menos informados, deve-se muito simplesmente à sobreposição dos interesses particulares de individuos ou grupos sócio-profissionais aos interesses superiores do país e dos portugueses.
A revolução do 25 de Abril de uma forma muitas vezes clara, estimulou a mudança de valores dos portugueses no sentido do sucesso a qualquer custo, com óbvio prejuizo do país.
O nacionalismo relativamente moderado, foi uma caracteristica do Estado Novo. O culto dos simbolos nacionais, da História e dos antepassados foram uma constante do regime.
Nalguns momentos em seu nome terão sido cometidos abusos, mas geralmente numa escala muito inferior aos praticados por outros países de regime politico totalitário e mesmo liberal democrata.
Após o 25 de Abril o ideário nacionalista passou a ser automáticamente conotado com o fascismo, a ditadura e o autoritarismo.
A tónnica do discurso do novo regime politico liberal democrata em Portugal, passou a ser o da igualdade fundamental entre os povos e a desvalorização das especificidades nacionais.
Os valores nacionalistas foram combatidos com recurso a conceitos como o universalismo portugués e a experiencia Histórica (com recurso frequente ao ideário marxista).
O pós 25 de Abril foi uma época de abertura a fluxos migratórios vindos sobretudo de África e da América do Sul.
Esta modificação de mentalidades no sentido da diluição da identidade portuguesa numa mais ampla europeia e ibérica não seguio o padrão internacional, que de uma forma por vezes pouco moderada, continua a previligiar o nacionalismo.
Podendo compreender o contexto em que surge, a impressão que retenho desta politica pós 1974 de rejeição extremada dos valores nacionalistas (identitários) é de que é perigosa para a unidade nacional e para a coesão interna (paz social)
Em geral a maior parte dos Estados caracterizam-se pela heterogeneidade, fruto das especificidades do seu espaço físico ou da origem cultural, racial das suas populações.
Portanto os interesses e as formas de "SENTIR" o espaço e o mundo são por vezes muito diferentes, pelo que criam condições para a eclosão de conflitos.
A experiencia comum em todos os países é a de que um nacionalismo de natureza moderada é essencial para criar sentimentos de pertença a uma realidade maior e transcendente ao individuo ou grupo, a da nação.
Desta forma é mais fácil levar grupos populacionais diferentes e individuos a cooperar, ultrapassando os seus interesses mesquinhos prejudiciais do conjunto.
Uma virtude inquestionável do Estado Novo, foi a de este ter
conseguido pacificar a sociedade portuguesa, levando-a a
funcionar de uma forma mais eficiente, senão mesmo harmoniosa.
O seu "segredo" não foi tanto a propagada repressão, mas sim a sobreposição dos interesses da nação áqueles que eram particulares a grupos e individuos.
Actualmente observa-se o inverso, pelo que o país como entidade colectiva funciona mal e decai de ano para ano em relação aos demais. Não existe um Portugal, mas muitos que dentro do mesmo espaço competem ferozmente entre si para defender os seus interesses e previlégios.
Nessa luta fraticida saímos todos a perder.
Pedro Lomba, um dos derradeiros bravos que ainda se confessa republicano, veio para o meio deste nosso deserto, clamar ..."vejam, por isso, se resguardam o presidente, que do regime não sobra muito".
Como indiscriminadamente gostamos de todos os bichos, até nos dará muito prazer vestir umas fatiotas de abutres. Com as patinhas bem firmes nos nossos cactos, lá esperaremos o fim do festim e das mútuas dentadas das hienas, para chegada a nossa hora, usarmos aquele dito inscrito na Porta dos Nós, em Vila Viçosa: "depois de vós, nós".
Continuem. Ficaremos à espera, o tempo que bem entenderem.