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Primitivismo

por Samuel de Paiva Pires, em 30.06.09

 

(imagem "roubada" ao João Gonçalves)

 

O João Gonçalves, que tenho o hábito de ler diariamente, apesar do estilo de análise demasiado personalista e pouco holística, estrutural e abstracta em relação ao estado de coisas a que chegámos, mas que pelo corajoso e livre espírito que detém e que o tornam num exemplo de combate e resistência contra a dormência em que vivemos merece a maior das considerações, julga poder aferir-se o primitivismo dos portugueses pelo facto de 40% destes concordarem com a tortura como método de combate ao terrorismo.

 

Não sendo, obviamente, a favor da tortura indiscriminada sobre indivíduos inocentes ou sobre os quais não existem provas das acusações de envolvimento em actividades terroristas, e sabendo-se da existência de diversas Convenções sobre o tratamento deste tipo de suspeitos, Convenções essas que pouco mais fazem do que propagandear os Direitos Humanos - sem correspondência prática (sempre a falta de autenticidade e de correspondência entre o discurso e a prática de que fala o Professor Adriano Moreira) pois não há acordo sobre o que esses são e a haver um eventual acordo corre-se o risco  de incrementar o que Robert Kagan considera como a constante ingerência nos assuntos internos de estados soberanos (O Regresso da História e o Fim dos Sonhos), eventualmente fazendo perigar a ordem mundial tal como já escrevi aqui, não deixando no entretanto de nos providenciar anedotas como esta -, não posso deixar de considerar que em determinados casos, e comprovado o envolvimento dos indivíduos em actividades terroristas, a tortura pode acabar por ser um método justificável e inclusive necessário in extremis. Só quem não está por dentro dos segredos de estado  e da realidade pura e dura das questões de terrorismo internacional - eu obviamente não estou, mas sou um realista e pessimista antropológico no que diz respeito às relaçoes internacionais - pode considerar o contrário.

 

Barack Obama e o seu director da CIA, Leon Panetta, são a evidência mais crua de que a realidade se sobrepõe aos moralismos e idealismos, wishful thinking de um punhado de militantes e alegados arautos da bondade, muitos deles manipulando factos históricos a seu bel-prazer para esconder o que eram as fomes, gulags e campos de concentração, outros tantos defendendo o multiculturalismo mas só no que lhes interessa (bem de acordo com os seus double standards), acabando por defender oprimidos terroristas que, a título de exemplo, só querem exterminar uma nação inteira - é só atentar nas louçanadas bloquistas e de outros que tais que passam a vida a defender os simpáticos senhores do Hezbollah ou do Hamas.

 

A questão central deveria recair sobre o ónus da prova, isto é, efectivamente considerar-se que todo e qualquer indivíduo é inocente até prova em contrário, e não partir da presunção de culpa que parece ter constituido o mote da detenção de muitos dos prisioneiros em Guantanamo. É ainda necessário não deixar ao livre arbítrio de meros soldados a decisão sobre o recurso a métodos de tortura - o que se passou em Abu Ghraib é execrável e inqualificável -, e utilizá-los apenas quando se encontrem reunidas e verificadas determinadas condições restritas que garantam o carácter de excepcionalidade do recurso a estes métodos.

 

A vida não é um mar de rosas e a sociedade internacional muito menos. O Estado ainda detém o weberiano monopólio da violência legítima e possui como atribuição fulcral o providenciar a segurança aos seus cidadãos. Se isso implica recorrer a métodos de tortura para desmantelar células terroristas e evitar atentados que matam centenas ou milhares  de inocentes (em analogia poder-se-á considerar tal como uma legítima defesa preemptiva) - leia-se Fareed Zakaria em O Mundo Pós-Americano explanar sobre a eficácia das medidas de combate ao terrorismo internacional no pós 11 de Setembro -, então eu prefiro continuar a ser um primitivo de acordo com o padrão de julgamento moral do João Gonçalves. No dia em que todos os seres humanos forem naturalmente bondosos, em que cristãos, judeus, muçulmanos, ateus e todos os povos do mundo convivam pacificamente entre si e não se prestem a atentar contra a vida de outros através de actos terroristas, serei o primeiro a opor-me ao recurso à tortura. Até lá, primitivo, pessimista e realista continuarei. Eu e mais umas quantas centenas de milhões de pessoas no planeta, Barack Obama incluido.

publicado às 20:02

Pina Bausch 1940 - 2009

por João Pedro, em 30.06.09
 

No ano passado, quando a companhia de dança de Wuppertal veio a Portugal actuar no CCB, tive a oportunidade de ir ver o espectáculo com bilhete oferecido, mas como era em cima da hora e não conseguiria chegar a tempo tive de declinar, pensando "haverá outras oportunidades de ver um espectáculo de Pina Bausch".
 

 

Afinal não houve nem haverá. Depois de uma curta e letal doença, a dançarina e coreógrafa alemã, provavelmente a mais famosa do Mundo, despediu-se hoje, deixando órfã a dança contemporânea.
 

publicado às 18:39

A quinta dos animais de José Sócrates

por Samuel de Paiva Pires, em 30.06.09

 

Neste fim de semana que passou o Primeiro-ministro em mais uma entre as milhares de acções de propaganda que costuma fazer, foi até à Cova da Beira garantir que todas as obras do Regadio da Cova da Beira serão finalizadas até ao final do ano. Sobre estas obras, anotem-se estas pérolas:

 

"É por isso que o facto de ser primeiro-ministro no momento em que acelerámos este projecto me dá particular satisfação"

 

O primeiro-ministro destacou que a cerimónia lhe disse muito "a nível pessoal". "Fiz toda a minha carreira política a falar do Regadio da Cova da Beira"

 

E porque não saber a opinião de quem por ali reside acerca deste magnífico empreendimento? Ora perguntemos aos Marretas:

 

Graças aos fundos estruturais, o Governo faz obra pública para ultrapassar a crise e garantir um futuro melhor para Portugal. Por aqui não temos aeroporto, TGV nem investimentos no turismo, mas 50 anos depois vamos ter o Regadio da Cova da Beira. É pena que já não haja por cá agricultores, mas estou convencido que o canal de rega dá um halfpipe fantástico para a juventude usar nos desportos radicais.
 

Ainda assim, ainda bem que Primeiro-ministro está satisfeito. Creio até que também os portugueses ficam contentíssimos por lhe providenciarem a satisfação pessoal que constantemente  lhe enche o ego, enquanto governa o país como se fosse a sua quinta. Sem rumo definido,  sem nenhum projecto nacional, ao sabor das circunstâncias e dos seus caprichos pessoais. E de tão animais que somos ninguém nota um dos maiores atestados de estupidez que Sócrates já nos passou. Imagino se fosse com Santana Lopes, caía o Carmo e a Trindade. Atente-se então nestas declarações (vide vídeo acima):

 

Há muita gente em muitos concelhos que tem opções locais e opções nacionais diferenciadas. Quer apoiar um partido ao nível local e quer apoiar outro partido ao nível nacional. Eu julgo que se fizéssemos coincidir as duas eleições isso seria muito negativo para a dinâmica das democracias locais. Foi por isso que naturalmente fiquei satisfeito por o Senhor Presidente da República ter decidido pelas datas das eleições em dois momentos diferentes.

 

Palavras para quê?

publicado às 16:16

 

publicado às 16:02

 

Umas voltinhas nos carros eléctricos e voltamos cedo ". E a minha avó deixou. Não sei se demoraram muito na festa, na vila vizinha, mas que voltaram de lá namorados, voltaram; certamente com o olhar de quem tinha visto passarinho verde. E S. Pedro sem a fama de casamenteiro dos outros Santos Populares...

publicado às 19:40

Irão: uma pergunta sem resposta

por Nuno Castelo-Branco, em 29.06.09

 É sempre difícil dialogar com gente recheada de manias e principalmente, de joelhos perante os promotores daquilo que alguns estabelecem como "o politicamente correcto". O tema Irão está nas bocas do mundo e torna-se inevitável a descoberta sem surpresas, daquela gente que sendo "avançada", torce-se e contorce-se para defender a impossível "causa da independência iraniana", ou de forma mais curta e grossa, o bando dos aiatolás e apêndices Ahmajdinejadianos. Invariavelmente, os defensores dos obscurantistas são gente "de esquerda", aquela mesmo que nos entra quotidianamente pela casa adentro e sem pedir licença, beneficiando do sofrível estatuto de politólogo, comentador, etc. 

 

Irritam-me aqueles estafadíssimos argumentos da "ameaça de agressão", ..."o Irão precisa do nuclear para se defender"..., "existe uma conspiração para roubar o petróleo iraniano", ..."querem reeditar o derrube do Mossadegh"..., ..."é a única forma de proteger a independência do país"..., ..."a repressão existe apenas contra os agentes subversivos estrangeiros", etc.

 

Como pode ser ainda possível que esta gente inisita em utilizar os mesmíssimos argumentos que serviram para sustentar todo o tipo de agressões, chacinas exterminadoras - os genocídios -, roubos, ferozes ditaduras, enfim, um infinito rol de iniquidades que caracterizaram o século XX?  

 

É inútil perder-se mais tempo a "gastar o latim" e fatigado por tanta reserva mental, estupidez, credulidade e sobretudo, hipocrisia, coloquei  apenas uma questão: ..."se eles estão assim tão seguros do poder, tão certos na sua política, então porque razão estava o mundo inteiro há apenas um mês a discutir a possibilidade do Irão aceder ao nuclear e agora, falamos abertamente na iminente  queda do regime?"

 

Questão à qual não me deram (ainda) resposta.

 

Não a têm, felizmente.

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publicado às 19:27

Pedro e Paulo

por João Pedro, em 29.06.09



 

 
29 de Junho é dia de S. Pedro e S. Paulo. Normalmente, associa-se muito mais ao primeiro. É a Pedro que as festas populares são dedicadas, talvez pelo seu estatuto de discípulo de Cristo, de primeiro chefe da Igreja, cujas sandálias cabem a cada Sumo Pontífice; e sobretudo dever-se-à ao seu carácter humano, genuíno e simples, de homem sem grandes conhecimentos (era pescador), que segue Cristo por toda a parte, que desembainha a espada para O proteger, mas a quem por medo O nega três vezes, que fala sempre com o coração, que é o primeiro a reconhecer o Messias e que espalha a Sua palavra depois da Ascensão. No fundo, será o Santo com quem o homem comum terá mais empatia e mais facilidade em se identificar.
 


 

Paulo de Tarso é o "Apóstolo dos Gentios", um judeu com cidadania romana, de sólida educação e influências helenísticas, que depois da sua conversão pregou a Mensagem Cristã pela Ásia Menor, Grécia e, crê-se até à Península Ibérica. É o fundador da moral cristã e da separação desta dos velhos hábitos judaicos, que espalhou nas suas viagens e através das suas epístolas. A ele se deve a difusão do cristianismo fora da Palestina e a sua aceitação por vários povos.


 

 

Estas duas figuras maiores do cristianismo pouco têm em comum, e Pedro, o líder da Igreja, chegou mesmo a ser directamente repreendido pelo convertido Paulo. Um representa a simplicidade e o desapego de um homem que tudo largou para seguir a Cristo quando ouviu o chamamento. O outro é um carácter mais intelectual, o responsável do Cristianismo ter deixado de ser uma seita de judeus secessionistas, galgando o Mediterrâneo e alcançando novo estatuto em Roma e na Grécia, que lhe seria tão importante daí para a frente. Ambos, porém, tiveram a coragem de divulgar a Boa Nova com todos os perigos que isso acarretava. Ambos foram martirizados na Cidade Eterna. E ambos foram os verdadeiros fundadores da Igreja de Roma, apesar de toda a Cristandade os venerar.

 


 

Encerra-se hoje o Ano Paulino, dedicado a S. Paulo. Bento XVI quis assim homenagear o primeiro grande pensador cristão. S. Pedro está sempre presente em Roma, à vista de todos. A S. Paulo faltava alguma visibilidade, que não tem pelo seu próprio estatuto de "intelectual". Embora em alguns casos os dois sejam associados (como em nomes como a fortaleza de Pedro e Paulo, em são Petersburgo), um continuará a ser o santo popular e o outro uma espécie de Doutor da Igreja de estatuto superior. Mas o dia de hoje tem essa dupla importância: a de comemorar aqueles que são provavelmente, depois de Jesus, os dois homens mais importantes do Cristianismo.

publicado às 19:24

Parabéns

por Cristina Ribeiro, em 29.06.09

à autora de fotografias como esta. A Luísa,  que mostra o melhor de  Lisboa, neste dia de S. Pedro e S. Paulo.

publicado às 16:16

É este o homem que faz falta

por Nuno Castelo-Branco, em 29.06.09
Quando comparamos os red-necks no poder em Teerão, com um homem informado e moderno como Reza Ciro, torna-se urgente a ajuda internacional à sua causa.

publicado às 12:52

Notícias persas

por Nuno Castelo-Branco, em 28.06.09

 

 Em plena I Guerra Mundial e para a imprensa directamente dependente dos grandes interesses económicos, dir-se-ia que a Rússia imperial não era aquele giganteso país cujos exércitos haviam salvo a França de uma fulminante derrota no Verão-Outono de 1914, repetindo a façanha em 1916, na Galícia, desta vez enfrentando o exército austro-húngaro.  Os comentadores políticos e a generalidade dos articulistas, impregnados do sentido do politicamente correcto daquela época, invectivavam violentamente o regime czarista, apresentando-o sob as mais sombrias cores, mesmo reconhecendo a vital necessidade de preservação da frente oriental que dados os efectivos e a imensidão da Rússia, garantiam uma previsível vitória final contra a Alemanha. 

 

Apenas alguns anos após a derrota de Tsushima, a Rússia surgia como um prodigioso polo de desenvolvimento, numa complementaridade de sectores apenas possível por uma imensa riqueza geológica, vastíssima superfície de boas terras aráveis e uma população em rápido crescimento e em acelerada fase de urbanização. Como exemplo, os ricos campos petrolíferos do Cáucaso prometiam igualar e até sobrepujar a extracção norte-americana, o que ameaçava directamente os conglomerados empresariais do sector, cerceando-lhes os lucros, concorrendo na distribuição e consequentemente, implicando um crescimento explosivo da indústria russa. No horizonte surgia a ameaça de um colossal concorrente comercial. Assim sendo, todo o estranho processo revolucionário que conduziu a dupla Lenine-Trostky ao poder, obedecerá a múltiplos factores: pela parte das Potências Centrais - oportunistamente acusadas após a guerra de terem sido as responsáveis pela introdução da "mala de bacilos" leninista na Rússia -, interessava a eliminação da frente leste que consumia uma enorme quantidade de efectivos militares, dada a extensão dos territórios onde os exércitos combatiam. O acesso às matérias primas, recursos agrícolas e o sempre presente jogo da geopolítica - onde imperava o princípio da prevalência futura do bloco Eurásia -, consistiram em factores não desdenháveis, dada a situação de estrangulamento imposto aos Centrais pelo bloqueio naval  aliado.  Os milhões de dólares vertidos nos cofres que financiaram a Revolução, a protecção a Trotsky nos EUA - muito assistido e rodeado de luxos cuja proveniência era ao tempo desconhecida - e finalmente, tudo o que decorreu após a 1ª revolução que conduziu Kerensky ao poder, indicia um claro interesse ocidental na subversão da ordem imperial. Caído o regime, a Rússia remeteu-se a um longo período de ruína económica, total dependência de fornecimento de máquinas e equipamentos industriais, colapso agrícola, maciça fuga de quadros técnicos e de gestão, turbulência política e purgas, selváticos morticínios e volatilização do país como agente de primeira grandeza na cena internacional. De facto, a subversão do regime de Nicolau II, a sua queda e o consequente atraso de décadas, cumpriram plenamente os objectivos ocidentais.

 

O Irão consiste num caso diferente, apesar de existirem algumas semelhanças num processo de alteração da ordem política, económica e social. Não possui nem de longe o peso da grande potência europeia cujas fronteiras ocidentais lhe permitem o exercício de esquemas de influência e de "direitos de reserva" na zona báltica, balcânica e do mar Negro. Embora seja com a China, o derradeiro sobrevivente dos impérios da Antiguidade - e isto significa muito para uma população orgulhosa do seu passado histórico -, o Irão apenas pode exercer uma certa hegemonia consentida naquela área do Médio Oriente, sem que tal signifique ombrear com as aparentemente declinantes potências europeias e muito menos, com a grande China, a imensa Rússia ou os EUA. O Xá caiu devido a uma multiplicidade de eventos e mais importante ainda, de factores a priori exteriores a qualquer acto político, económico e até de organização interna do seu regime. Deixou de interessar aos americanos, que neste caso parece terem querido imitar a teoria da Soberania Limitada de Brezhnev, aplicada pela URSS aos seus satélites do leste europeu. No auge da Guerra Fria e com uma interminável instabilidade nascida da independência e consolidação de Israel, parecia lógico e imprescindível, o apoio ocidental aos Pahlevi. O Xá surgia como a única garantia de um certo estilo de vida profundamente influenciado pelos euro-americanos do pós-guerra, segurança regional, poderosa intervenção no sentido de impedir o uso do petróleo como arma desorganizadora da economia de mercado, não sendo também possível negligenciar o factor militar que o quinto exército do mundo representava para a manutenção do status quo na zona. No entanto, os jornais e as televisões ocidentais saturavam os noticiários com denúncias de tortura, dispêndio de recursos com a defesa, "corrupção consumista de privilegiados", desrespeito pelas tradições de antanho, etc. Teciam-se as mais fantasiosas teorias acerca de um futuro mais ou menos distante, quando ameaçado de esgotamento dos lençóis petrolíferos, Reza Pahlevi decidisse apoderar-se dos campos situados nos países vizinhos, previsivelmente no Iraque, Kuwait e Arábia Saudita, fazendo ressurgir o extenso império persa dos tempos imediatamente anteriores a Alexandre.

 

O ocidente acolheu "exilados políticos", mimou a elite reaccionária religiosa com todas as garantias de sobrevivência e possibilidades de agir politicamente. De facto, a França consistiu num autêntico alfobre subversivo, a partir do qual Khomeiny fazia chegar as suas mensagens ao Irão, sem que as autoridades de Paris se preocupassem em impor as elementares regras de abstinência de qualquer actividade política contra um país com os quais mantinha normais relações diplomáticas e que podia ser mesmo considerado como um bom cliente e aliado.  Tal como Lenine foi transportado num combóio da Reichsbann em direcção a S. Petersburgo, o Ocidente fez embarcar o aiatolá a bordo de um avião da Air France, arruinando-se assim cinco décadas de modernização imposta pelo regime imperial. Conhecem-se os resultados desastrosos, sobretudo para a segurança internacional na zona do Médio Oriente. Daquele avião saiu o agente que conduziria à rápida radicalização e sonhos expansionistas de Saddam Hussein, assim como uma pungente vaga terrorista que a partir de então assolou o mundo, ameaçou a segurança colectiva e internamente, fez o país retroceder  muitas décadas naquilo que o progresso social pode significar. No entanto, a queda do Xá afastou por trinta anos, a consecução de um poder hegemónico que ameaçasse seriamente os grandes interesses do sector energético ocidental e toda uma indústria que dele depende. 

 

Esmagada a ameaça iraquiana, volatilizado o Estado no país vizinho e normalizada a situação interna de consolidação do regime teocrático, o Irão preparava-se para subir um patamar julgado improvável há apenas uma década. Teerão tem o perfeito conhecimento do poder dissuasor que a arma final, a bomba atómica, significa para a generalidade da opinião pública americana e europeia, para não dizermos mundial. Um ataque ao estilo "Tempestade do Deserto" e as suas variantes de 2003, tornam-se senão impossíveis, muito problemáticas em termos de consequências imediatas, dado o correspondente desconhecimento do paradeiro de uma parte do arsenal nuclear da antiga URSS, a fuga de segredos tecnológicos militares e a contratação de especialistas por parte de quem almeja a conseguir a chamada arma final. Existindo arsenais nucleares em Israel, na Índia  e no Paquistão, a proliferação poderá tornar-se incontrolável e especialmente catastrófica, devido à tentação em propiciar recursos nucleares a grupos terroristas internacionais, o uso da ameaça bélica para resolver conflitos fronteiriços ou o desencadear destes sob a protecção do guarda-chuva atómico.

 

O regime dos aiatolás promoveu afincadamente a latente situação de guerra no Líbano, patrocinou a criação de Jihads e Hezbollahs, além de claramente ser um dos intervenientes no conflito iraquiano, dada a importância da comunidade xiita neste país. Num momento em que a situação parecia destinada a um nítido aumento de importância da influência iraniana além fronteiras - impossibilitando qualquer solução para a longa crise israelo-palestiniana -, o regime de Khamenei e da sua excrescência civil, o sr. Ahmadinejad, encontra-se sob o crivo da chamada "opinião pública mundial" que há meses vem sido mobilizada de forma discreta mas persistente, no sentido de encarar benevolamente a outorga da condição de Estado pária a um ameaçador, retrógrado e belicoso Irão. O próprio poder instituído em Teerão, corresponde exactamente ao modelo que uma Europa há muito rejeitou, mercê de uma já secular campanha de laicização da sociedade que hoje, pode vislumbrar na antiga Pérsia, uma reedição de um anacrónico esquema organizacional da sociedade. Os ocidentais são por regra  anticlericais e a actual legislação iraniana, a assumida desigualdade de género, os discursos grosseiros, provocadores e radicais de um Ahmadinejad, fazem muito pela criação do tal bem conhecido "estado de espírito" que prepara a opinião pública para a urgente remoção de um tumor maligno na política mundial. De facto, nem Khatami, nem Khamenei, Ahmadinejad ou Moussavi, possuem uma ínfima parte da bonomia, nem do cosmopilitismo refinado e modernizante do Xá, o que facilita enormemente a missão desagregadora a que os media ocidentais se dedicarão com cada vez maior veemência. O Xá, era "um como nós", autoritário, sem dúvida, mas seguro e moderno.

 

O Supremo Líder, o aiatolá Khamenei, acusa as potências ocidentais - nomeadamente os EUA e o Reino Unido - de  promoverem uma campanha de desestabilização da situação interna iraniana. Sabe do que fala, até porque o seu poder deriva exactamente daqueles já longínquos dias de 1978-79, quando essas mesmas potências ocidentais ajudaram a promover a queda do Xá e indirectamente, o estabelecimento da república islâmica. Não só é possível que Khamenei esteja coberto de razão, como também é muito provável. Nesta conjuntura, o regime tal como o conhecemos, tem os dias contados. Agora, tudo se limita a uma simples questão de tempo.

publicado às 22:25

A noite fora agitada e o frio entranhara-se nele.

por Cristina Ribeiro, em 28.06.09

 

As horas custavam a passar, e o sol demorava a romper por entre a escuridão. Calma! há-de chegar! dizia-se a cada momento. E, como a Primavera, que se segue sempre ao Inverno, ele acabou por surgir, bem luminoso, e com a promessa de tudo aquecer.

E começou por lhe iluminar o  coração, que até aí só enxergava o lado negro da vida.

Sentia-se agora com forças para escolher, naquela encruzilhada que o fizera hesitar, o caminho a seguir, seguro e esperançoso.

Era bem verdade que o amanhã é sempre outro dia!

publicado às 16:49

Desiludido.Desesperançado.

por Cristina Ribeiro, em 28.06.09

 

Saíra de casa para espairecer. Tentar, consultando os seus botões, encontrar uma saída airosa para o buraco negro que se tornara a sua vidinha, tão sem raios de sol a aquecê-la. As nuvens negras tinham vindo do nada, sem grandes avisos prévios, ou então eles tinham surgido, mas, na grande distracção em que mergulhara nos últimos tempos, não parara para os ouvir; e agora sentia-se assim, um traste. Naquela manhã levantara-se com mais ânimo: tinha de sair daquele beco escuro, e, assim pensando, meteu os pés ao caminho.

À sua frente, uma encruzilhada; que caminho seguir, dos quatro possíveis, interrogava-se.

Enquanto assim cogitava, sentava-se numa pedra que lhe pareceu um bom sítio para descansar, depois da grande  caminhada. E olhou o horizonte, sem que nele encontrasse a resposta que esperava. Ficou por ali, enquanto o sol ia declinando, até que se fez noite.

Hoje já não vou adiante. Amanhã será outro dia!

E voltou para casa, mesmo sabendo que a solidão que nela ia encontrar seria mais negra que a própria noite sem luar.

publicado às 02:05

E no seguimento do postal sobre a Serra do Barroso,

por Cristina Ribeiro, em 27.06.09

( fotografia tirada da Net )

 

o melhor mesmo é ler este excelente texto do João Pedro, sobre esta tão linda região.

publicado às 21:58

A Imoralidade do Socialismo

por Manuel Pinto de Rezende, em 27.06.09

 

 

publicado às 20:00

Escrevi no Diário que mantinha então:

por Cristina Ribeiro, em 27.06.09

 

Neste mês de Agosto de 1983 vou com o pai e a Alice visitar a XVII Exposição Europeia de Arte, Ciência e Cultura, a acontecer em Lisboa, com o tema « Os Descobrimentos Portugueses e o Renascimento Europeu ».

           Depois de termos ido ver outros pólos ( Convento da Madre de Deus, Casa dos Bicos...), era a vez de visitarmos o Museu Nacional de Arte Antiga. Numa das salas, cujas paredes estavam cobertas por grandes tapeçarias, disse a guia tratar-se das Tapeçarias de Pastrana, que narravam os feitos de D. Afonso V em Arzila, e serem aquelas umas cópias perfeitas das originais encontradas em Pastrana ( Castela ), cópias essas que tinham ido para ali, para a exposição, mas que normalmente as poderíamos encontrar no Paço dos Duques de Bragança, em Guimarães.

Troquei um olhar com a minha irmã, como se nos disséssemos - viemos aqui encontrar uma coisa que não sabíamos estar mesmo ao nosso lado...

 

E lembro este episódio, numa altura em que tenho entre mãos o fac-simile de um exemplar da Revista da Faculdade de Letras, de Lisboa, que discorre sobre «Portugal e as Tapeçarias Flamengas ». Aí se relata a troca de argumentos entre Reinaldo dos Santos, um dos Fundadores da Academia de Belas- Artes de Lisboa, e Afonso de Dornelas, que fundou o Instituto Português de Heráldica, sobre a origem das tapeçarias, e o porquê de terem sido encontradas em Espanha...

     Conclui o artigo que " Parece não existirem ainda conclusões definitivas e irrefutáveis acerca das Tapeçarias. Contudo, ninguém duvida hoje em dia do seu grande valor artístico e histórico ".

publicado às 19:47

Estavam a chegar ao fim os dias

por Cristina Ribeiro, em 26.06.09

 

que, por convite de uma condiscípula, viera passar à província. Uma descoberta! nunca pensara, quando aceitou o convite, que iria encontrar tamanha beleza.

Estava-se na região do Alto Tâmega e Barroso, e agora que  chegava ao fim, sentia   que se tornara curta a estadia  que, quando a amiga lhe falou em lá ir passar as férias, pensou ir tornar-se demasiado longa.

Mas antes do regresso havia uma coisa que queria fazer: no dia anterior, numa pequena loja de Chaves, comprara tela e tintas, e, nessa manhã, mal o sol se erguera por detrás daqueles montes, propôs-se pôr na tela, ela que até tinha tido lições de pintura, o que os seus olhos de tão belo viam.

Começou a subir o monte, e foi atraída por uma voz infantil, que, àquela hora, estaria já, talvez, a guardar o gado, que, sabia, encontraria ali bons pastos. Andou mais uns metros, e  observou, deitado, com o cão ao lado, mas de olho nas vacas à sua guarda, um pastor  que cantava " Toda a vida fui pastor / toda a vida guardei gado / trago uma cova no peito / de me encostar ao cajado "; não poderia almejar melhor quadro do que aquele...

publicado às 23:02

O pontapé na porta

por Nuno Castelo-Branco, em 26.06.09

 

ERC, ASAE, PT, grupo Media, Impresa e toda uma série de siglas que apenas nos chamam a atenção para um aspecto da vida vegetativa que temos: a ânsia de tudo controlar, deixando o sistema amarrado e bem amarrado, na feliz expressão do generalíssimo Francisco Franco.


O súbito e aparentemente envergonhado recuo nas intenções da blitzkrieg contra a TVI - hoje é sexta-feira, dia daquele noticiário do costume -, soa a apressada retirada diante de uma intransponível disposição defensiva em profundidade. Os indícios da preparação do violento pontapé na porta de entrada da estação informativa inimiga, fez ver a quem de direito, a possibilidade de tal atitude ocasionar o completo ruir do edifício concomitante, o do poder instituído. É que este amarrado e bem amarrado também tem as suas desvantagens. Caindo um, caiem logo outros a seguir.



 

 

publicado às 19:16

O Silêncio

por Nuno Castelo-Branco, em 26.06.09

 

 Será muito difícil a qualquer português – a não ser que ele habite um ermo cravado em longínquas e impenetráveis montanhas – não possuir amigos, conhecidos ou familiares que estiveram, trabalharam, combateram ou viveram nas antigas colónias portuguesas.

E mesmo nesse ermo de que falei, não sei…
Em qualquer lugar, quando se fala da retrospectiva vida das pessoas, quantas vezes aparece a África, através das longínquas Luanda, Lourenço Marques, Lobito, Bissau, Sal, S. Tomé, Beira, e semelhantes imagens de postal. A outros, visitam-nos o palato húmido da Ásia de Macau ou de Goa. A um menor número, voejam recordações da Oceânia, em Timor. A todos ficou o travo de uma portugalidade que se perdeu, mas isso não é o que mais lhes custa, porque isso é politica, e a política tem a importância que tem. O que realmente magoa é a perda súbita de uma vida, já construída ou que se construía ainda, dos bens e pessoas que ficaram para trás, do achincalhamento, da humilhação, da vergonha, mas principalmente do silêncio! 

publicado às 15:37

Lisboa Arruinada: o Terreiro dos Losangos do Paço

por Nuno Castelo-Branco, em 26.06.09

 

 A reformulação do projecto para o Terreiro do Paço, limitou-se a limar algumas das mais agrestes e contestadas arestas do anterior. O arquitecto nomeado sem concurso público, decidiu que os aspectos fundamentais previamente apresentados, permanecerão mesmo que esbatidos. Os losangos que todos perceberam ser uma alegoria muito evidente, as raias alegadamente "evocativas de cartas de marear" e sobretudo as várias e ainda incompreensíveis variações que sobre-elevam ou desnivelam a praça na sua placa central e no torreão ocidental (poente), lá estão no projecto reapresentado. Da estátua equestre, não há notícia do seu pleno restauro em tudo o que isto implica.

 

A edilidade deve saber que os lisboetas gostariam de possuir uma praça mais aprazível e próxima da natureza, com a plantação de árvores* criteriosamente escolhidas. Mais importante que a simples exibição de uma muito contestada obra feita, a praça deve ser devolvida à gente de Lisboa. Esta clara necessidade que foi apercebida pela CML de meados do século XIX, é hoje desprezada pela persistência do vincar do espírito de uma carcomida autoridade, num deserto de pedra sem império. Para comemorar a república.

 

Eles não têm emenda e quando reconhecerem o erro será tarde demais.

 

 

* Se estiverem interessados, leiam a caixa de comentários do Público. Confirma o que aqui se diz.

 

 

publicado às 00:15

Michael Jackson (1958-2009)

por Samuel de Paiva Pires, em 25.06.09

 

Gostava de entender o que pode levar alguém a lutar com tanto afinco contra a sua própria natureza. Seria de esperar que as consequências se viessem a revelar cedo demais. Fica para a história como um dos músicos de maior sucesso de todos os tempos.

publicado às 23:49

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