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Do saco tiro o livro de Camilo « O Senhor do Paço de Ninães » .Começa o escritor por dizer que " Estamos no Minho, o leitor e eu ". Ora eu tinha-o deixado de manhã bem cedo, mas foi fácil a ele voltar, tão fresco estava na retina, e andar " um quilómetro, em vinte minutos, se não ( parei ) algumas vezes a respirar o acre saudável das bouças, e a ver o pulular dos milharais e a ouvir as toadas das seareiras que cantam. ". Não, acho que demorei mais tempo, não só para este cheirar, ver e ouvir, mas também porque o calor de Agosto pedia que molhasse os pés em todos os riachos que fosse encontrando, que muitos são na " légua andada de Vila Nova de Famalicão até Guimarães ".O espírito voou até lá; o corpo, esse, continuava a sentir o sol de fim de tarde.Na região mais longínqua do país. Os dois, espírito e corpo, haviam de se encontrar, quando guardei o livro no saco.
O sonho ocidental de educar o oriente obriga-nos a velar de olhos bem fechados – para que os pormenores permaneçam no recato da cela, sob voto de silêncio. O delírio ocidental de transportar as instituições em bruto, tal as criámos, para o oriente, tem algumas parecenças com aqueles filmes da Disney com cães falantes. Estes são, sem dúvida, muito engraçados no seu domínio vocabular e estilístico perfeito, dando até vontade de, por qualquer mágica, transformar o vulgo rafeiro lá de casa num mestre em filologia renascentista. Todavia, como bem se entende, não é possível, nem seria benéfico, deturpar de tal forma a realidade – para nós e para o rafeiro.
E a sondajocracia voltará à espuma dos dias, nada mais actual do que o brilhantismo de Sir Humphrey Appleby.
Sendo uma grande verdade que o Estado se transformou " numa máquina ao serviço do poder ", não é menos certo que essa transformação começou a dar os primeiros passos em épocas anteriores - assistimos, isso sim, à continuação desse trabalho transformador.
E isso da " prepotência de uma maioria absoluta que não soube aproveitar as excelentes condições que teve para governar soa-me a " déjà vu ".
O historial da prática governativa anterior, do mesmo modo, leva a ter um pé atrás.
para dar os parabéns ao Miguel, ao ler da deturpação que se tem feito daquilo que é a liberdade, mais uma vez me ocorreu este texto do Pedro Félix:
No meio de um povo geralmente corrupto a liberdade não pode durar muito Edmund Burke in "Carta aos Xerifes de Bristol"
A palavra liberdade, como muitos outros conceitos filosóficos e morais, já está tão gasta por ser repetida em circunstâncias diversas que o seu significado tem vindo a perder-se, a ser deturpado e muitas vezes manipulado.O mais comum é que cada um de nós lhe dê o seu próprio significado, condicionado pela sua percepção e concepção do mundo. E aí, no meu entender, começam os logros. .Há filósofos que eivados de vãs intenções progressistas vinculam o conceito de liberdade ao de igualdade. Nada mais falso do que acriolar um princípio absoluto como a liberdade a uma quimera anti-humana. Nem chega a ser utópico, por tão contranatura que é. Há quem o vincule à justiça e a valores morais que se prendem a questões sociais. Meros devaneios de quem quer encerrar em ideologias conceitos que devem ser absolutos e quase extra-humanos. São as ideias quase inatingíveis, entre as quais a liberdade, que levam a uma vontade visionária de querer transformar uma sociedade e de a reformar não com base em sistemas abstractos mas numa tradição perene assente em princípios absolutos e incorruptíveis os quais nortearão, com algum quê de utopia, a praxis política e a intervenção cívica.A liberdade far-se-á sentir, então, numa acção criativa e edificadora do Homem sem as amarras por este criadas com base em interesses, desejos espúrios e em sistemas falidos. A máquina burocrática, o nepotismo dos aparelhos políticos que vivem em função de quem os criou, e uma sociedade em degenerescência são os maiores inimigos da liberdade. Da liberdade autêntica, que é responsável e inerente à vontade inata do ser humano e da Natureza..
chamei este grande poeta, músico e cantor.
o Carlos Barbosa de Oliveira diz-nos viciantes ( como fizera a Daniela ). Bem haja, Carlos!
Nestes dois casos o vício é recíproco.
Esta a ser exaustivo mas produtivo, este percurso pelos extremos da Nova Europa. Planicie e costa, para ja. S]o lhes digo que quem acha que Portugal esta na cauda da Europa nunca andou pela cintura de Bucareste
Ainda os rapazes do site ‘31 da Armada’ não eram nascidos – e já o fadista João Ferreira Rosa hasteava todos os dias a bandeira azul e branca no mastro de sua casa. “O Diabo” foi ouvir um dos mais destacados defensores da Monarquia em Portugal.
“O Diabo” – A Monarquia é fácil de explicar ao povo, 99 anos depois da instauração da República?
João Ferreira Rosa – Facílima. Há doutores que podem fazê-lo com grandes tratados. Mas sabe quem pode explicá-la melhor? Os portugueses (e são mais de um milhão) que vivem e trabalham nos países onde há Monarquia: na Holanda, no Canadá, na Austrália, na Suécia, na Inglaterra, no Luxemburgo, em Espanha, na Bélgica. Só que esses não passam na televisão. Dantes havia uma censura, agora parece que cada qual tem a sua…
“O Diabo” – Porque é que é monárquico?
J.F.R. – Não quero ter um Chefe de Estado eleito. O Rei não é de facção nenhuma nem lhe sobe a importância à cabeça: é importante desde que nasce e representa todos. O Rei é o chefe natural da nossa família comum.
“O Diabo” – Acha que os monárquicos têm conseguido “fazer passar a mensagem”?
J.F.R. – Há por aí alguns condes e viscondes, falsos monárquicos, que dizem que o povo não está preparado. O único que está preparado é o povo. O povo está preparadíssimo! Eles é que não querem Rei. São uns snobs. Acham que ser monárquico é ser nobre. Nobre? Mas querem gente mais nobre do que o povo? A esses condes e viscondes, o Senhor D. Carlos não dava confiança. Queixavam-se de que o Rei não tinha Corte! Pois não: a Corte do Rei era o povo! Ele ia para Vila Viçosa e era com o povo que queria estar.
“O Diabo” – Quais são as desvantagens de um Presidente eleito?
J.F.R. – Desde logo, só se pode concorrer à Presidência apoiado por muito, muito dinheiro e um partido político. Portanto, ganha quem tem mais dinheiro e representa uma facção. Sabendo como a República foi feita, só uma pessoa desonesta pode querer candidatar-se a Presidente. A República foi feita por meia-dúzia de traidores, assassinos e ladrões. Quando assassinaram o Senhor D. Carlos e o Príncipe, em 1908, até os republicanos franceses disseram: ‘Mataram o Rei mais culto da Europa’. No dia 5 de Outubro, aquela Câmara Municipal de Lisboa, onde agora estes rapazes hastearam a bandeira nacional, era uma galeria de gente horrível. O José Relvas e todos os outros. Uns criminosos. Mataram gente. Não eles, pessoalmente: mandaram a Carbonária. São figuras sinistras. A instauração da República é um filme de terror. Por isso nunca a referendaram. Nenhum país no mundo tem uma ditadura com 100 anos, como nós temos. E não se pode dizer isto. Ninguém me convida para ir à televisão dizer isto. E quando me convidam para cantar, querem sempre que cante ‘O Embuçado’ e umas coisas inocentes. É tenebroso. Ainda no outro dia me fizeram uma entrevista para uma televisão e estiveram a gravar mais de uma hora. Eu só lhes dizia: ‘Mas para quê gravar tanto tempo, se não vai sair nada do que eu estou a dizer?’. Claro: saíram três frasesinhas, a respeito de Fado…
“O Diabo” – Portugal tinha uma boa Monarquia?
J.F.R. – Tinha uma Monarquia exemplar, comparada com as outras. Ainda há tempos estiveram aqui uns noruegueses e disseram a quem os quis ouvir: ‘Vocês, com a História que têm e com os Reis que tiveram, tinham obrigação se ser monárquicos’. A República assenta num lago de sangue. É um crime que nunca foi julgado. Não foi o povo que matou o Rei. Os maiores democratas que nós tínhamos eram o Senhor D. Carlos e a Família Real. O Alfredo Marceneiro contava isso. Ele era operário, nessa altura, vivia em Santa Isabel e assistiu ao 5 de Outubro. Houve um dia um programa de fados na televisão, feito em Pintéus, e gravaram uma conversa minha com o Marceneiro. Como era 5 de Outubro, eu perguntei-lhe: ‘Tio Alfredo, o que é que esta data lhe diz?’. E ele respondeu: ‘Sim, filho. Eles, primeiro, mataram o Rei e o Príncipe. Em Lisboa, o povo ficou a chorar. Passados dois anos, andaram grupos pelas ruas, aos tiros e aos gritos, a dizer ‘não saiam de casa, é uma revolução’. O povo acobardou-se e eles fizeram a República’. E foi mesmo assim. A República foi feita em Lisboa e o resto do País soube pelo telégrafo. O povo não teve nada a ver com isso. E ainda hoje eu vejo muito pouca gente a intitular-se republicana. São raros.
“O Diabo” – O povo é monárquico?
J.F.R. – Aqui em Alcochete, por exemplo, muito povo é monárquico. Depois do 5 de Outubro, o barco de ligação a Lisboa continuou durante anos a içar a bandeira real. E só acabaram por desistir porque, quando chegavam a Lisboa, tinham a Guarda Republicana em cima deles.
“O Diabo” – E continuam monárquicos?
J.F.R. – Eu até tenho amigos comunistas monárquicos!
“O Diabo” – O facto é que vivemos em República…
J.F.R. – Pois se a Constituição nem sequer permite que se ponha em causa o regime! É uma vergonha. E agora, na próxima Assembleia, que terá poderes constituintes, não acredito que tenham a coragem de mudar. O Medina Carreira é que os topa! Esse grande senhor daria um grande conselheiro do Rei de Portugal. Diz as verdades. Só que depois nada acontece. Ele chama-lhes ladrões, chama-lhes tudo, mas eles não têm a coragem de levar o senhor a tribunal. Se isto não levar uma volta, eu não vou morrer cidadão da República Portuguesa. Não há ninguém mais português do que eu. Mas morrer debaixo da bandeira da República, isso não. Mais vale ir morrer longe.
“O Diabo” – A República vai fazer 100 anos. Que acha que deviam os monárquicos fazer em 2010?
J.F.R. – Devíamos exigir o referendo. A melhor comemoração era fazer-se o referendo sobre o regime no dia 5 de Outubro de 2010. Isso é que era.
“O Diabo” – Acompanhou os casos dos jovens monárquicos que substituíram a bandeira republicana pela bandeira azul e branca…
J.F.R. – A mim nasceu-me uma alma nova com esta gente. Fiquei orgulhoso. Senti-me recuar aos 20 anos. O que incomoda ainda mais a corja republicana é que são jovens. Porque isto desmente a propaganda republicana de que a Monarquia é uma coisa de velhos. Eu sou monárquico desde que comecei a pensar, desde rapazinho. Sou monárquico por pensamento, não por herança de sangue.
“O Diabo” – Acha que este caso vai ter consequências?
J.F.R. – É preciso que estes bravos sejam julgados! É preciso fazer coisas, como eles fizeram, para sermos julgados e podermos dizer em tribunal o que se impõe que se diga! É uma infâmia não nos deixarem falar. Eu, com 72 anos, não me importo nada de ser preso como monárquico! Teria o maior orgulho! A República é um crime que continua por julgar.
Sinais e marcas de sangue feitas após o tiroteio no Largo de S. Domingos a 5-IV-1908 (foto Benoliel; PF), in História de Portugal vol.X, pág. 16 (coord. João Medina, ed. Ediclube)
É esta a foto que inspirou José Saramago para o conto "República", impresso no Diário de Notícias. Como poderão facilmente verificar, a imagem ilustra as palavras do escritor que apenas preferiu situá-las num outro espaço e tempo.
Bem vistas as coisas, J.S. seguiu os passos do seu mentor ideológico, um outro J.S., mais conhecido por José Stalin. Um bom exemplo a seguir, até porque durante o seu consolado, tornou-se norma a recomposição fotográfica como arte oficial do Estado, a gloriosa antepassada do Photoshop dos nossos dias. Consoante a dialéctica do momento, mudavam-se as datas, subtraiam-se ou adicionavam-se as personagens ao conjunto de grandes homens. Nada de extraordinário.
"Há quem diga que as grandes causas se celebram no dia nascimento e que as monstruosidades se evocam no dia da morte. Ora, as celebrações de 2010 carregam essa contradição in terminis. Um desastre que ainda hoje pagamos, que só trouxe desgraças, que nos fechou, isolou, marginalizou e transformou-nos - palavras da época - no México da Europa, apenas superados no exotismo canibal e no desvairamento pelos países balcânicos, não pode, não devia, ser exibido como exemplo. Podemos aceitar de barato que na génese destas celebrações haverá pessoas bem intencionadas, outras nem tanto, pois o grave de tudo isto é que se as pessoas bem intencionadas fazem parte dessa larga maioria de compatriotas que foram colocados perante um facto consumado - 100 anos depois a República continua couraçada e indisponível para medir forças, faltando-lhe elementar coragem cívica para questionar os Portugueses sobre a sua existência - as outras, aquelas que mais encarniçadamente não poupam adjectivos e rapapés aos homens do 5 de Outubro, fazem parte daquilo a que chamamos de "estupidez inteligente". (leia mais A Q U I )
O neo-realismo tem destas coisas. A par da exaltação dos aspectos mais sórdidos e dispensáveis do escrutínio dos podres de todos e de cada um, gosta ainda de inventar heroísmos de circunstância que frequentemente nada mais são, senão a confirmação exacta do oposto. Numa nervosa procura de estórias edificantes à maneira do mais retrógrado figurino da superstição, não se preocupam os seus cultores, em investigar a veracidade dos factos ou pelo menos, o momento exacto em que estes hipoteticamente ocorreram. O que interessa é a quantidade de carvão a atirar às pazadas para dentro da fornalha que tal como se de chama sagrada se tratasse, deve ser mantida a todo o transe. No fundo, estes Saramagos que medram à beira dos caminhos tortuosos desta política-negócio, são directos descendentes de velhotas virgens vestais de uma Antiguidade que ainda ilumina os nossos dias. Infelizmente, tal luz não provém da maciça Torre que outrora guiou os viandantes até à Alexandria do conhecimento, mas não passa afinal, do derradeiro bruxulear espectral da pequena chama que sobre os trípodes, espicaçava medos, dirigia os crédulos e sobretudo, enchia os cofres do Templo.
Saramago decidiu escrever sobre a república. Confortavelmente instalado e adulado na maior Monarquia europeia - que talvez venha a trair -, convive amiúde com os monarcas que o condecoram e com os príncipes que quiçá almejará ver um dia sentados no trono de D. João IV. Morta e para sempre enterrada a ..."mais luminosa experiência da humanidade"..., os derradeiros sobreviventes da Roma soviética encontraram na barbárie monárquica o agasalho e o filão inesgotável da condescendência perante um perigo que já não o é. Passeiam-se da tertúlia intelectual blindada, para o campo concentracionário da exclusividade do pensamento da ordem de um dia que há muito se foi. Eles ainda não perceberam que desde a morte do Sol da Terra, a geração que nasceu com a explosão da gigante vermelha já cumpre o serviço militar e pode livremente recorrer à investigação sem a espada de Dâmocles da censura e da polícia política. Viaja da Rússia para a Europa ocidental, dança ao som do decadente imperialismo burguês, fala ao telemóvel, lê o que bem lhe apetece, namora no estrangeiro, come fast-food e ironia suprema, interessa-se pela verdade de um passado nacional cujo brilho oblitera as fanadas brochuras propagandísticas de Stakhanov, da matuska procriadora de quinze filhotes de Lenine e de espigas de milho soviético, grandiosas de quatro quilos cada.
Saramago perorou sobre a república dita portuguesa. Não aquela intemporal, do conceito de liberdade dos homens e dos Estados. Não lhe interessa minimamente a república inventada pelo franco-ibero Afonso Henriques, consolidada pelo João I de Boa-Memória. Não faz a mínima ideia da raiz profundamente republicana da organização das Cortes, dos pactos entre a coroa e os populares. A ideia de um dia terem existido confrontos acerbos, debates em sede própria, veto à despesa que ao tempo - e em linguagem anacrónica - pode ser hoje confundida como "pública", passa-lhe tão ao lado, como as dúzias de milhões sacrificados em nome do ego de um auto-cultivador da personalidade ou de um ridente futuro que jamais poderia chegar. Ao Saramago de sempre, aquele da sebenta das contradições de classe, lutas e da história científica, os factos e até as ideias que fizeram - para o bem e para o mal - o país que um dia foi o seu, tornaram-se tão desconhecidos como a lista dos heróis e acontecimentos que moldaram a história de um Turquemenistão ou das tribos do deserto de Gobi.
Se não sabe ou de nada tem a certeza, inventa. Se não inventa, molda um acontecimento a uma data, hora e local que mais lhe convenha para enquadrar a fábula.
Eles sempre apontaram a dedo com a valente arrogância emprestada pelo dedo no gatilho, a imperiosidade de uma história científica, o que sucintamente significava a adequação dos factos a inventariar como interessantes, à superstição da sua religião onde a liturgia em nada ficava a dever às magnas bençãos Urbi et Orbi romanas.
Saramago é um materialista dialéctico, seja lá o que isso queira verdadeiramente dizer. Desta vez, trouxe-nos uma estória para ele edificante e que se torna a seus olhos, na razão principal para a manutenção de um regime que liquidou a esperança de um século e vegetalizou quatro gerações de portugueses. É o episódio choroso de compaixão pelo ..."homem humilde, cujo nome, que eu saiba, a história não registou, com uns dedos que tremiam, quase desfalecido, traçou na parede, conforme pôde, com o seu próprio sangue, com o sangue que lhe corria dos ferimentos, estas palavras: viva a república."
O castelhanofilizado Saramago situa o acontecimento no 5 de Outubro de 1910 e para emprestar maior grandeza e enquadramento, decidiu a morte do anónimo e o sangrento grafitti, em plena praça do Rossio. Saramago sabe (?) muito bem que esse evento - a ter acontecido, dada a estranha coincidência com uma fome de propaganda que grassava no seio do subversivo prp -, ocorreu num outro dia 5. Estando marcado pelo governo de João Franco para dia de eleições gerais - o que precipitou o Regicídio -, o 5 de Abril de 1908 serviu de pretexto para uma tremenda coacção dos caceteiros e vadios a soldo dos republicanos. Num só dia, caíram vitimados pela violência política, mais portugueses que durante todo o reinado de D. Carlos I, num intróito à sangueira que afogaria a dita 1ª república. O episódio a que Saramago se refere, terá acontecido diante d Igreja de S. Domingos, no Largo do Palácio da Independência. Tentando impedir a votação livre e sem coacção de todos os eleitores inscritos, os republicanos quiseram pôr fim ao chamado período da "Acalmação", erro crasso de transigência perante quem pela violência, pretendeu e acabou por conseguir liquidar um já antigo regime de legalidade constitucional, liberdades públicas e de adequação de Portugal ao que a Europa liberal considerava ser o progresso na Lei.
Um momento num dia que não o ideal, mas capaz pelo dramatismo, de fazer verter uma lágrima saramágica pelo solitário caído pelo Grande Nada que foi afinal a república. Esquecidos ficam os milhares de mortos, as levas de presos políticos, os desterrados, os supliciados em plena via pública, o achincalhamento de reputações para sempre perdidas, a ruína económica e as vagas que numa maré sem precedentes, fizeram fugir de Portugal os braços úteis que nos faltariam para povoar o Ultramar.
Saramago evoca o mártir do Largo de S. Domingos de 5 de Abril de 1908, cujo corpo é ínfimo, quase invisível para esconder a imensa mole de milhares de caídos na voragem vertiginosa da ceifeira Morte que a república ignominiosamente trouxe a um povo tranquilo. Milhares e milhares de vítimas da superstição, cobiça e vaidade de um punhado de privilegiados. Entre essas dúzias de centos, encontrava-se um Rei e o seu sucessor, seguidos de um presidente, um primeiro-ministro, ministros, heróis militares e até, nomes sonantes do clube republicano de má memória.
A Saramago recordo outro episódio que talvez ilustrasse melhor o alvorecer do seu regime de eleição por conveniência. Este sim, rigorosamente testemunhado no 5 de Outubro de 1910, quando o Directório dos abastados dirigentes do prp, colocaram pés-descalços armados à porta dos bancos, vigiando a segurança dos depósitos e fortunas dos senhores da nova situação, num alegórico e indesmentível "O Seu a Seu Dono"!
Que grande peça neo-realista daria para uma crónica - decerto bem paga - numa qualquer folha burguesa da capital olissiponense! Pense nisso...
Numa busca à casa do presidencial amigo e recente ex-Conselheiro Dias Loureiro os investigadores do caso BPN foram surpreendidos com a descoberta de uma porta com acesso apenas através de uma casa-de-banho, atrás da qual estavam guardados documentos relevantes para o processo, avança a edição do SOL desta sexta-feira. Vamos lá espreitar? Talvez não passe da há muito esquecida passagem para o tesouro dos Templários...
às políticas que nos conduziram ao país do pântamo e da tanga ( regresso não, afinal não saímos daí: cada vez nos enterrámos mais nas areias movediças, e cada vez foi ficando menor a tanga ),sem o rasgo e uma nova visão que lhes foi requerida quando neles os portugueses confiaram para os levar por novos caminhos, esgotada que está esta via,, tentando, assim, sair do ramerrame fatídico em que andamos há tempo demasiado.Assim, nunca mudaremos de rumo...
Pego no título que o Afonso Miguel deu aos seus posts recentes para lhe responder muito brevemente (não por desconsideração mas porque o tempo é escasso nestes dias e a atenção prende-se com situações bem mais prementes como finalizar a licenciatura), começando apenas por lhe dizer que, tal como sugeriu o Nuno, este era um belo tema de discussão para uma ou várias noites.
Estamos em campos diametralmente opostos e não vou ser eu que o vou demover das suas crenças. Além do mais não gosto de misturar religião com política, apesar de ter curiosidade e esporadicamente ler sobre sobre essa relação. Simplesmente encaro a religião como um assunto que apenas diz respeito à vida privada de cada indivíduo e, como liberal que sou, encaro a Igreja como um grupo social como outro qualquer, com total direito a exprimir as suas opiniões. Não sou jacobino, porque além de liberal também sou conservador, sendo adepto do método tradicionalista anglófilo por oposição ao método continental da revolução, mas ainda prefiro um Estado laico e como tal nunca poderia admitir um sistema tão intolerante quanto aquele que defende se tornaria. É que a tão mal afamada democracia de que fala ainda vai permitindo a todos exprimir mais ou menos livremente as suas opiniões, mesmo sabendo que no nosso país estamos muito longe de ter uma democracia perfeita, e ainda bem, porque como diria Pessoa, uma coisa perfeita deixa suspeitas de inexistência. No dia em que acharmos que a democracia portuguesa é realmente uma democracia é quando deixa de o ser. Ou, por outras palavras, como há tempos escrevia o Henrique Burnay, "falar em nome da defesa da Democracia porque dá jeito é o que põe em causa a Democracia. Mas, claro, nada disto é para levar a sério".
Quanto ao crepúsculo das ideologias, eu não me assusto. É que, possivelmente ao contrário do Afonso, eu não o desejo. Nunca acreditei em tal. Acredito sim é em separar as águas, em definir ideologicamente e de forma rigorosa os partidos políticos. Talvez a própria arquitectura do parlamento devesse ser alterada para qualquer coisa como a House of Commons - Churchill justifica o porquê.
E só para finalizar, ainda em relação às duas questões que coloca, note-se apenas que defendo uma constituição mínima, à semelhança da norte-americana, para não dizer mesmo não-escrita, à moda britânica, mas aproveito para o remeter para o Miguel Castelo-Branco, não sem também lhe chamar a atenção para as monarquias constitucionais vigentes na Europa. Vê problemas de legitimidade em alguma? Pelo contrário.
que tresanda, mais do que o habitual, ainda, ao constatarmos as urdidurras que se vão tecendo no seio dos partidos do centrão - e quando há fumo é porque há fogo, como diz, na caixa de comentários o Carlos, recorro a esta sua rubrica para relembrar as músicas dos anos 60 e 70 que os meus irmãos faziam ouvir nas festinhas organizadas na Casa do Forno - entretanto a minha mãe deixara de cozer aí a broa - , e às quais nos deixavam assistir, desde que nos limitássemos a respirar.
É este o quadro clínico - reservado e sem apelo - de uma certa conspiração da idiotia que teima em amarrar-nos ao subdesenvolvimento cultural. É evidente que a República morreu no dia 5 de Outubro de 1910. É transparente como a água que a República matou a esquerda decente que havia em Portugal, alienou-lhe o programa de reformas sociais trocando-o pelo patrioteirismo serôdio à Junqueiro e pela "mística" que nunca ninguém conseguiu dilucidar. É evidente que a direita portuguesa - a boa direita, com homens, programas e objectivos de governação - estiolou em resultado da República, passando doravante a alimentar-se de medo, ressentimento e revindicta. É evidente que a República, com a sua tosca falta de consideração pelas crenças que se confundiam com o ser e destinação de Portugal, foi o melhor aliado para quantos não haviam compreendido que a separação entre o Estado e a Igreja constituia,afinal, a libertação da esfera do religioso. É evidente que a República nos atirou para fora da Europa, nos provincializou e fechou portas às grandes correntes do pensamento ocidental. Compreende-se, pois, que só os inimigos da liberdade - à esquerda como à direita - a possam incensar, pois sem ela não medrariam. A República foi a lotaria para os messianismos desvairados e para o fim histórico de Portugal.
in Combustões, 28.8.2009
"Caro Nuno
em anexo envio 3 fotos com a bandeira na varanda para escolher a melhor... moro em Santa Margarida da Coutada (pertenço à real do Ribatejo) que fica no concelho de Constância, vila onde o Zezere se encontra com o Tejo.
Em relação á bandeira tenho algumas histórias para contar... posso dizer-lhe que sei de pessoas que se deslocam de proposito para ver a bandeira, o que demonstra que a alma portuguesa é azul e branca! a maior parte das observações que fazem são apenas 2 palavras: " É linda!"...
Beijos Mónica
... temos que organizar um evento qualquer pelo 5 Outubro!"
que " em equipa que ganha não se mexe ", mas há aqueles que querem inovar defendendo que se não deve mexer em equipa que já deu todas as provas e mais uma de que com ela o país perde sempre, que é um desastre. Já há tempos achei uma bizarria quando ouvi Ângelo Correia defender uma ainda maior aproximação do PSD ao P.S- vejo que não está só neste papel de casamenteiro desastrado.E, se vencer esta linha aí teremos nós os que escrevem no Simplex juntinhos aos que o fazem no Jamais - vai ser bonita a festa pá! Porreiro!