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a pergunta de Pedro Félix: " Sobre o Holocausto nazi são incontáveis os filmes e as séries produzidas para lá dos rios de tinta em livros e publicações diversas. Fora o que ainda está por fazer. Sobre as atrocidades do comunismo muito raros formam os filmes que vi no circuito comercial. Será por as fardas soviéticas serem mais feias ? "
Realmente; o crime é igual, diferença de " quantos " para cada lado ( acho que o comunismo ganha, pois que os seus malefícios foram - e continuam a ser - muito mais duradouros )...
João Amorim avança uma explicação: "É o complexo do pêndulo. Acham que por salientar muito mais um lado vão esmorecer o outro ".
Extremistas também. Sim, porque se há quem negue, ou " desconheça " a existência dos Gulags, há os que negam a existência do Holocausto. Realidades, e portanto coisas " que não são matérias de discussão "; os números, só, talvez...
Há alguns meses, tive a oportunidade de dizer a um muito interessado grupo de alunos do C.M, a razão pela qual discordava do - por eles esperado - ingresso do Príncipe Real na dita instituição. A violência física e verbal, a falta de respeito por colegas que antes de tudo, são uma reserva da nação. Ficaram calados e um tanto cabisbaixos, confirmando tacitamente a provocação.
Apesar de todos os relatos de atrocidades que a imprensa tem feito circular, parece que nada disto surge por acaso. Quase uma década decorrida desde a inacreditável tentativa de encerramento do Colégio Militar, perpetrada pelo absurdamente patético governo de Guterres, a situação permaneceu no limbo, assim como a desconfiança quanto às reais intenções de alguns sectores do regime. Guterres pretendeu transferir a formação dos nossos futuros oficiais, para a Academia Militar de S. Fernando, em Espanha. Todos sabemos o que isto indicia e não é certamente a habitual pecha da paranóia anti-castelhana que nos fará recuar na suposição.
É verdade que as práticas antigas de brutalidade e despótico exercício da coacção moral ou física, são extemporâneas, desnecessárias e contrárias à própria ética militar. No entanto, a profusão de comentários na imprensa e o "opinionismo comentadeiro" dos mesmos de sempre, levam-nos a uma vez mais suspeitar de outras razões que pretendem prosseguir com um há muito gizado plano. O tempo o dirá.
Esta grande cidade localiza-se no Norte dos EUA, no Estado do Ilinois e é a terceira maior em termos demográficos do país. Antes encontram-se Nova Iorque e Los Angeles.
São perto de 3 milhões de pessoas a viver nas margens do grande lago Michigan. Tal como Lisboa esta urbe cresceu ao longo das margens e a sua vida e clima está muito determinados pela proximidade da água. Os americanos adoram os “nicknames”, aquilo que chamamos alcunhas, Chicago é apelidada de a “Windy City”, a cidade ventosa. Recorrendo ao que me lembro do que aprendi em Climatologia na universidade, a existência de massas de água condiciona o clima em terra. Isto porque a superfície terrestre ganha ou perde calor muito mais rápido que a água. Isto gera fluxos de ar das áreas mais frias para as mais quentes (altas para as baixas pressões). Em termos práticos no Verão sopram ventos frescos do lago para a cidade, no Inverno sopram ventos gelados do interior para o dito lago. Isto significa que no período estival o clima é muito agradável e no Inverno é terrível com ventos frios constantes. Quem tem possibilidades económicas, nessa altura parte para férias em áreas mais quentes (Florida, Caraíbas etc.).
Até ao final do século XIX a maior parte da cidade foi constituída por edifícios de madeira. Na década de 1890 ocorreu um gigantesco incêndio que destruiu tudo. Quando estava no curso de Geografia o projecto de urbanização de Chicago foi-nos apresentado como um modelo de sucesso. O que hoje podemos encontrar no seu centro são belos edifícios de estilo Arte Nova e Arte DECO muito bem conservados, datando das primeiras décadas do século XX.
As margens pantanosas do lago foram convertidas naquilo que eles chamam “The Emerald Neckless”, o colar de esmeraldas. Uma ampla cintura de impecáveis parques onde decorrem uma imensidade de actividades culturais durante o Verão. Existem ainda muitas praias de areia bastante concorridas onde se pode tomar banho no lago e apanhar algum sol.
A artéria principal de comercio da cidade é a “Magnificent Mile”, a milha magnifica. Essa área de comercio é uma das mais luxuosas do mundo, encontrando-se lá representadas as marcas mais conhecidas. Nessa área e para informação daqueles que são sócios do Holmes Place, encontra-se o único health club dessa rede no EUA.
Igualmente próximo está situado o grande parque de diversões da cidade, num pontão extenso que penetra lago adentro e que permite uma bela vista da cidade.
Em redor do centro existem bairros habitados por comunidades emigrantes, italianos, escandinavos etc.
Nas ruas encontrei muitos pedintes “profissionais” e não só, maioritáriamente afro-americanos. Observei que existe um certo fanatismo em torno da equipa de basebol da cidade, “The Chicago Cubs”, os filhotes de Chicago ou algo do género, que curiosamente apesar de perderem os jogos de uma forma consistente, não vêem o entusiasmo do seus fãs esmorecer. A impressão que me ficou é a de que Chicago é uma das mais belas cidades dos EUA.
Um bom local talvez, para quem quiser estabelecer-se longe da nossa Democracia de sucesso e seja pouco friorento.
Entre Fevereiro e Março passou discretamente pelas salas de cinema o filme de Maradona, do realizador/músico sérvio Emir Kusturica. O género estaria oficialmente dentro do documentário, mas na prática trata-se de um filme de propaganda, um pouco ao estilo de Michael Moore.
Kusturica, nacionalista sérvio, activista anti-independência do Kosovo e realizador de filmes memoráveis (particularmente nos anos noventa), tem-se dedicado mais nos últimos tempos à sua carreira com os No Smoking Orchestra, com a qual tem visitado Portugal regularmente. Não deixou contudo de desenvolver um projecto antigo, o de homenagear o ídolo dos argentinos e napolitanos, vencedor quase a solo do Mundial de futebol 1986 e tristemente caído nas malhas da cocaína, Diego Maradona. Para isso, deslocou-se várias vezes à Argentina, onde o esperava um ex-craque com o volume de um tonel, assistiu a ritos da igreja maradoniana, levou-o a Belgrado e não cessou de focar a sua "mensagem revolucionária". Um dos pontos altos do filme é aliás um comício de Hugo Chavez, com el pibe ao lado, como sempre meio louco, em que o presidente venezuelano brindou os assistentes com as suas habituais pantominices.
mas não senti a presença de fantasmas a clamar por vinganças, enquanto sussurravam que " algo está podre no reino da Dinamarca ".
O ambiente Shakespeareano, vim encontrá-lo, antes, em « Elsenor », onde, numa casa igualmente grande e fria, num monólogo feito de lágrimas e poesia, um homem vai chorando a podridão do que o rodeia.
"Quem vai ler um livro daquela dimensão?" Numa entrevista ao estilo do caranguejo, um passo atrás, outro para a frente e ainda um para o lado, o sr. Saramago deitou uns cubos de gelo na fervença que levou ao lume do fogão do lucro publicitário. Ficámos também a saber que o Corão - e o que dali podia sair -, "não interessa" como matéria de inspiração. Percebe-se...
O único argumento que J.S. apresenta nesta controvérsia, cai por terra à primeira solapada: alega que a esmagadora maioria dos católicos não leu a Bíblia, coisa que não deixa de ser uma previsível verdade. No entanto, o que está em causa não é a leitura da mesma, mas o fingimento da não percepção das hipérboles, alegorias e especificidades históricas, sociais - e até económicas - da época em que os textos foram surgindo. É essa reserva mental que irrita, porque surge como absolutamente consciente.
Patético! Na sua abordagem sobre Caim, também recorre ao "fazer de conta" não perceber a condenação e simultânea protecção divina ao pérfido irmão, condenando-o apenas à expiação mundo fora. Logo depois, denuncia Deus como vingativo e rancoroso e de pouca confiança, não conseguindo Saramago tirar o sentido daquilo que biblicamente se entende por perdão, afastamento da vingativa pena de morte e necessário arrependimento pelo mal cometido. Enfim, o homem não mudou e de Estaline - ou de Alfred Rosenberg, dada a similtude de posições no que à Bíblia diz respeito -, pouco esqueceu ou renegou. Quanto a este tipo de seitas, continua um membro devoto.
Referendum in Tuvalu confirms Monarchy
In a referendum the people of Tuvalu have voted in favour of maintaining a constitutional monarchy. The referendum asked voters whether they wished to have a president as head of state.
As Radio Australia reported on 17th June, the result was a stunning 64.98% in favour of retaining Queen Elizabeth II, Queen of Tuvalu, as Monarch.
Congratulations to the people of Tuvalu for making their stance clear. I hope this result will draw some attention to the Pacific island nation that is facing serious threats due to climate change and rising ocean levels
Quando, ontem à noite, vi, e comentei, este post de João Távora, não contive um sorriso: lembrei a tarde, teria, talvez, sete anos, em que, no Teatro Circo de Braga fomos todos vê-lo -seria a primeira de muitas vezes, agora na televisão, até que me cansei -.
Como é costume enraizado cá em casa ( tinha de me calhar uma família assim, logo a mim que muito prezo a pontualidade :) ), chegámos tarde; no momento em que a preceptora se sentava em cima da pinha, colocada na sua cadeira pelos diabretes, o que me divertiu muito.
Relembro as cenas todas, e o facto de, nos dias seguintes, comentarmos, eu e as minhas irmãs, as peripécias que nos tinham encantado - recordo com particular pormenor o termos retido a cena em que a mais pequenina dos Von Trapp queria, porque queria, mostrar o dedo magoado à Fraulein que regressara ao convento...; o quão bonito acháramos o capitão, nós que nos pensávamos com direito a encontrar um homem tão charmoso...; o termos confessado que ficáramos com um nó na garganta, com muita pena dele, quando vimos que, com a emoção, lhe falhou a voz ao cantar Edelweiss...
Ficámos com inveja quando, na casa de uns amigos, vimos o disco de vinil. Não admira, pois, que quando, muitos anos depois fui a Salsburgo lá tenha comprado o CD. Nunca o ouvi, mas talvez um dia destes queira voltar a ouvir o capitão a cantar « Edelweiss ».
Ainda muito a propósito do Orçamento Geral do Estado que o governo deverá apresentar ao Parlamento, sugerimos ao 1º ministro que admoeste o Palácio de Belém quanto a uma redução de gastos. De Madrid chega a notícia de João Carlos I ter solicitado a Zapatero, o não aumento em 2010, da dotação anual à Casa Real. Como se sabe, o Palácio da Zarzuela despende 8,9 milhões de Euros/ano para aquele "estadão" que se conhece. Aqui, na República da Tugalândia, os quase 17 milhões anuais são apenas suficientes para a sra. de Cavaco Silva dizer em entrevista que o Palácio de Belém não tem... um tostão?!
Aqui está uma excelente ideia. Falhada a hipótese russa - que há muito deixou de "pingar" - e em pleno processo de miguelvasconcelização, surge esta saída airosa e que contentará toda a gente. Seria excelente para os espanhóis, dando-lhes mais oxigénio para os seus orgulhosos, vãos e reservados pensamentos de grandeza. Um embaraço para os seus próprios aliados, Saramago livraria Portugal da sua arrogância e parvoíce, moralmente auto-defenestrando-se.
«É o presidencialismo possível ou desejável em Portugal?» Debate com a participação de João Gonçalves e de Pedro Mexia. Ciclo de debates - "QUE DEMOCRACIA PARA O SÉC. XXI? - organizado pelo CADC – Centro Académico de Democracia Cristã, em colaboração com as Livrarias Almedina. Na Almedina, Estádio Cidade de Coimbra. 23 de Outubro 2009, às 21h 00."
A resposta só pode ser uma: não!
Tivemos uma experiência presidencialista com Sidónio Pais e uma tentativa abortada com Manuel Arriaga - Pimenta de Castro. A 2ª república não foi presidencialista, devido aos condicionalismos impostos pela personalidade do primeiro-ministro Oliveira Salazar e à clara necessidade de manter as Forças Armadas tranquilas e aparentemente ttulares do exercício da soberania. Gomes da Costa jamais poderia ter sido o "presidente-total" e ainda menos um general Carmona ou a conhecida nulidade Craveiro Lopes. Pelo contrário, o sempre subestimado Américo Tomás, viu crescer a sua importância - embora discreta e camuflada pelo governo de Marcelo Caetano - após o desaparecimento político de Salazar.
O ilusório presidencialismo, não passa de uma reedição de um neo-sebastianismo disfarçado de "novos tempos", enfim, um bonapartismo querido por alguns, num projecto de moralização da coisa pública. Conhecendo a personalidade e a carreira de alguns - ou melhor, do único - candidato(s) a salvador(es) da pátria, conclui-se com um simples apontar do dedo à manipulação e à quimera. Não será desta forma que a república conseguirá sobreviver ao vórtice que criou. Aliás, temos coisas mais importantes para tratar.
disse-lhe um aluno. Coisas muito, muito estranhas, se passam num país, onde a Educação já foi tantas vezes apontada como uma paixão, uma coisa prioritária, mas que, e não tapemos o sol com a peneira, foi preterida por outras " urgências ".
High-profile persons of world politics will attend one of the biggest international security conferences in the history of Slovakia. Bratislava will welcome several defence ministers, permanent representatives to NATO, U. S. Assistant Secretary of Defense, advisor to the Russian president and well-known analysts and experts both from Europe and America.
Among others, one of the most awaited keynote speakers will be the new Secretary General of NATO Mr. Anders Fogh Rasmussen who – during one of his first public appearances – is expected to deliver his vision on the future of the Alliance. The interactive panel discussions of the conference will be chaired by experienced journalists from The Financial Times and The Economist.
The international security conference entitled „New Challenges – Better Capabilities“ is organized as the accompanying event of the October NATO Defence Ministers Meeting in Bratislava. During the two-day conference, participants from more than 30 countries will discuss key security problems of nowadays. The question of the future of NATO – Russian relations, the impact of the economic crisis on defence budgets as well as cyber defence will be touched upon in the course of the respective conference panels. The focal point of the conference will represent the currently prepared new Strategic Concept of the Alliance, on formation which Slovakia is involved for the first time.
The two-day event is organized by the Slovak Atlantic Commission in cooperation with the Ministry of Defence of the Slovak Republic, Ministry of Foreign Affairs of the Slovak Republic and NATO Public Diplomacy Division and will be held in the historical building of the National Council of the Slovak Republic in Bratislava.
Bratislava, October 12, 2009
Slovak Atlantic Commission
More information at www.ncbc.sk
é inacreditável que numa cidade tão pequena haja tanto para ver. Tem um "casco" histórico que não se vê em cidades muito maiores, como Vigo, por exemplo. ", diz o João Pedro.
Verdade. Durante aqueles anos todos, ir a Tui era para nós, que só tínhamos de atravessar a ponte sobre o Rio Minho - e quantas vezes o fizemos a pé - , coisa de todos os dias. Ao Domingo era-nos bem familiar a rede de ruas e ruelas que sobem até à Catedral. Era numa dessas ruazinhas, um tanto íngremes, que comprávamos, sempre no regresso, os paraguaios, pêssegos achatados que ainda eram desconhecidos do lado de cá.
Seguindo a margem do rio, chegávamos a um conjunto de edifícios antigos, muitíssimo bem preservados, de granito amarelo,onde as galerias de arte conviviam pacíficamente com casas onde se comiam tapas deliciosas.
Ali perto, um convento, penso que de monjas carmelitas, aonde, quando preparávamos a Passagem de Ano na quinta, entre amigos, anos mais tarde, apesar do frio gélido que se fazia sentir, fomos comprar ovos para confeccionar o leite creme.
A Eneida, A Odisseia, Os Doze Césares, Gilgamesh, O Livro dos Mortos ou o Hino a Aton, são alguns daqueles textos que para sempre ligarão o Ocidente a um passado que em termos civilizacionais não se encontra assim tão distante, nem no espaço - o cadinho do nosso ethos, o Mediterraneo e a Mesopotâmia - e muito menos ainda, no tempo.
A Bíblia consiste numa amálgama de textos, uns destinados a contar a experiência do povo de Israel, outros que foram assimilando aspectos considerados geralmente aceites, como absolutas verdades originárias da história oral dos povos que habitaram a vasta área marginada a oeste pelo Nilo e a este pelo Tigre e Eufrates. O Dilúvio, o sonho da Terra Prometida - este nosso Shangri-la do Ocidente indo-europeu - e toda uma série de relatos edificantes que estabeleceram um primado ou conceito de ordem moral, procuravam uma identificação unificadora dos ainda relativamente escassos contingentes humanos, em alguns casos dispersos por um território que à época era infinitamente mais vasto e de difícil acesso para aqueles que quiseram criar raízes, sedentarizando-se. O Êxodo consistiu na lendária base fundamental que uns milénios mais tarde, justificaria a criação de um Estado que se formatou em torno dessa acreditada gesta. Pouco importa se Gilgamesh já tivesse experimentado a enxurrada que dos céus inundou aquele todo o mundo que os semitas, egípcios e até mais a norte os anatólios, consideravam como completo e único. Se o Pai Nosso é fruto da fervilhante criatividade e imaginação de Amenófis IV trasmutado em Akhenaton, a verdade é que hoje surge como a suprema oração, o fio condutor da conversa, ou melhor, do implorar do comum mortal de qualquer uma das religiões do Deus Único .
Vestes sagradas, cerimoniais complexos e carregados de fumos de incensos, chamas purificadoras, águas milagrosas e livros erguidos em direcção à luz solar - talvez aquele deus que ainda resiste no subconsciente da maior parte dos homens -, fazem parte de uma tradição que ininterruptamente se adaptou a novos espaços, realidades étnicas - adequando os ritos e a crença ao passado pagão - e geográficas. Loucos de Deus sempre existiram e sempre existirão, numa quase sempre solitária interpretação de um mundo ao qual, soberbamente se julgam destinados a servir como vingadores de um ente superior, basicamente austero e avesso ao negregado hedonismo. Grosso modo, as histórias edificantes focam contextos muito específicos, onde invariavelmente a fixação da hierarquia, a morigeração de costumes, ou a simples necessidade de zelar pela perfeita saúde física das comunidades, impunham as regras a acatar universalmente. Os cataclismos naturais impuseram algumas semelhanças entre textos de culturas tão distantes quão diversas em vários continentes. A própria necessidade e expressão artística - muitas vezes fortemente condicionada pelo engrandecimento do poder -, levou à adopção de soluções técnicas que os mais crédulos ainda hoje, pensam ser um elo muito longínquo de um passado comum, outrora ligado por um fabuloso continente perdido pleno de super-homens, afinal, a perdida ponte entre nós e o divino.
Bíblias foram queimadas em fogueiras, assim como homens também o foram apenas por acatarem uma versão errónea à luz do oficialismo imperante num certo espaço político e social. O que parece bastante anacrónico e causa perplexidade, é o constante acirrar de posições que de tão irredutíveis se tornam merecedoras da indiferença mais ou menos generalizada. Aqueles que não compreendem - ou fingem não entender - os contextos históricos em que os textos surgiram como uma necessidade para a conformação social, acabam por equivaler-se aqueles outros que à semelhança de autoproclamados filhos de uma das Tribos Perdidas de Israel, vociferam contra os "ímpios" de uma modernidade que não aceitam e querem ver destruída. No fundo, o fanatismo Saramago equivale-se ao de um Menino de Deus, de um Mormon ou de um Hamisch.
O caso deste escritor que nestes dias acaba por preconizar o fim da sua própria pátria de nascimento, parece intencional, decorrendo normalmente de um percurso de vida pautado pelo endurecimento da convicção num destino de predestinado e ao encontro daquele que afinal foi o verdadeiro Mito do Século XX. Pouco lhe importam as histórias, os contos, as experiências e desejos individuais ou colectivos - estes stricto sensu, há que frisar - dos homens que fizeram a pequena e a grande História. O devir de uma supersticiosa certeza, numa constante e maniqueísta liquidação de "inimigos de classe" - descurando assumida e completamente as realidades da inter-permeabilidade entre algumas ou todas -, conduz ao dogma que impõe a destruição do outro. Um dos derrotados do século - e aqui já o alçamos a um muito contestável estatuto que pouco interessa reconhecer ou não -, Saramago finge não ter compreendido a vastidão imensurável de um legado que antes de tudo tenta impor regras onde o conceito de Bem pode ir-se adaptando aos novos tempos e realidades que a sucessão de gerações infalivelmente estabelece.
Para Saramago, a Bíblia parece ser um ...manual de maus costumes, crueldade e do pior da natureza humana... Curiosa conclusão que não atende à realidade de outras épocas e á própria necessidade de afirmação da certeza de pertença a um determinado grupo. Apesar disto, não existe vivalma sobre este planeta, que alguma vez tenha escutado uma só palavra do escritor, acerca dos manuais de brutalidades, das cartilhas que impõem pela mais iconoclasta violência, a "construção científica" de um outro homem, tão desumano como Moloch ou tão escravizado a uma quimera como os ilotas. Saramago nem sequer dá conta da clara cópia do preceituado necessário à construção do seu Novo Templo, de uma religião tão tingida de vermelho como as escadarias sacrificais dos aztecas. Pouco lhe importam que as estórias - disso não passam - edificantes da sua religião versem a denúncia, a opressão do imaginado inimigo ou a acefalia geral em benefício de um imposto dogma. A visão da certeza, do Bem estabelecido pelo Caim da sua Verdade, exclusivamente pertencerá aos eleitos, aos poucos que escolhidos inter-pares, decidem pela amorfa e anónima soma de números em que a humanidade obrigatoriamente se torna, anulando-se como motor da continuidade da própria História.
Agarrado ao encharcado lenço de uma derrota que jamais esperou ver chegar, pouco mais resta ao escritor premiado com o Nobel, senão aferrar-se à sua grande certeza: a metálica matéria. No seu caso, o ouro, não em forma de bezerro, mas da vaidade que lhe garante um final confortável e feliz.
« O escritor, ainda que não viaje senão à roda do quarto, é como Pêro Vaz de Caminha um revelador de mundos inéditos »
João Bigotte Chorão