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Jack White, provavelmente um dos poucos músicos da actualidade que possui um verdadeiro Toque de Midas, com vários álbuns e singles dos The White Stripes, The Raconteurs, The Dead Weather e ainda a sua carreira a solo a marcarem este início de século - para os mais distraídos, Seven Nation Army marca presença assiduamente nos estádios de futebol pelo mundo fora - toca hoje no Coliseu dos Recreios, pelas 21h.
(Marquês de Sade, imagem daqui)
Albert Camus, The Rebel:
«From rebellion, Sade can only deduce an absolute negative. Twenty-seven years in prison do not, in fact, produce a very conciliatory form of intelligence. Such a lengthy confinement makes a man either a weakling or a killer – or sometimes both. If the mind is strong enough to construct, in a prison cell, a moral philosophy which is not one of submission, it will generally be one of domination. Every ethic conceived in solitude implies the exercise of power. In this respect Sade is the archetype, for in so far as society treated him atrociously he responded in an atrocious fashion. (…)
He his exalted as the philosopher in chains and the first theoretician of absolute rebellion. He might well have been. In prison, dreams have no limits and reality is no curb. Intelligence in chains loses in lucidity what it gains in intensity. The only logic know to Sade was the logic of his feelings. He did not create a philosophy, he pursued a monstrous dream of revenge. Only the dream turned out to be prophetic. His desperate claim to freedom led Sade into the kingdom of servitude; his inordinate thirst for a form of life he could never attain was assuaged in the successive frenzies of a dream of universal destruction. In this way, at least, Sade is our contemporary.»
Quatro vítimas da tempestade de fogo que caiu dos ares sobre Hamburgo
Era este o discurso pronunciado pelo Führer, respondendo às primeiras incursões da RAF em território do Reich. Sabemos muito do que se passou e algo da Europa que se perdeu.
Após o assassino dilúvio de fósforo, chegaram as décadas da reconstrução e de um penoso esquecer de brutalidades cometidas e sofridas. Bem a propósito da hora de inconsciência instalada que todos vivemos, eis que os alemães são agora pela força dos media, obrigados a recordar aquilo que os seus pais e avós passaram. Quantas mais bombas terão ficado por explodir? Quantos "rebenta quarteirões" ainda esperarão o momento da detonação? Não nos admiraríamos nada se nas imediações do Reichstag e do Palácio de Buckingham, ainda existirem alguns incómodos explosivos adormecidos. A Europa que pense no assunto.
Tomás Belchior, Automutilação (negrito meu):
«O português não se transforma num santo quando vai para o governo ou para a administração pública. Na melhor das hipóteses fica o português que sempre foi. Na pior, com a polícia, o fisco e a Assembleia da República à mão, transforma-se no tiranete que nunca conseguiu ser. Sendo absurdo ter como objectivo de política económica mudar a natureza humana ou a estrutura do universo, resta-nos o caminho inverso. Resta-nos reconhecer que a única visão, a única estratégia, o único plano de que as empresas precisam é de um plano para levar euros do bolso dos consumidores para os seus próprios bolsos. Ou seja, precisam de começar a ajudar os portugueses a concretizar as suas visões individuais em vez de ajudarem o Estado a acabar com elas.»
Sobre as interpretações pseudo-intelectuais do caricato restauro protagonizado por Cecilia Gimenez, recomendo a leitura deste post do Nuno Resende, de que aqui deixo os parágrafos finais:
Subscrevo inteiramente este post do JCS:
«Mas depois, quando aparece um responsável do IEFP a explicar que o erro foi apenas colocar lá o nome da candidata escolhida, ninguém lhe pergunta por que raio se publica uma oferta que já tem uma candidata escolhida. Porquê? Para quê? Quem tomou essa decisão? Com que objectivo?
É isto que eu acho extraordinário: Ninguém perguntar aos responsáveis que estupidez é esta, como se fosse suficiente a explicação de que o nome que lá apareceu não devia ter aparecido. É como chegar a casa e apanhar a mulher com outro. -Então que pouca vergonha vem a ser esta, querida? -Querido, tu é que não devias ter aparecido, porque de resto está tudo bem.»
Fotos: Pedro Quartin Graça - direitos reservados
Confesso que não era particular fã das obras de Joana Vasconcelos. A verdade é que, depois de as ver no Palácio de Versailles, mudei de opinião. Pelo menos quanto às expostas não resta a mínima dúvida que as mesmas valorizam, e muito, o já de si interessante, ainda que não esmagador, conteúdo do palácio. A artista está de parabéns. Para além do mérito da obra, pelo facto de ser a primeira mulher e a mais jovem artista a expor no Palácio de Versailles. Assim como também deve ser felicitado quem teve a feliz ideia de juntar tão interessantes e originais propostas criativas a um espólio de séculos.
Fica aqui um registo em três imagens apenas.
Fotos: Pedro Quartin Graça - direitos reservados
Quis o destino que este Verão "fosse ao encontro" da nossa última Rainha, de facto.
Maria Amélia Luísa Helena de Orleães, madrinha de baptismo de SAR, o Senhor Dom Duarte, foi uma "Rainha mártir". Na verdade, D. Amélia perdeu todos os seus familiares directos: O seu marido, o Rei D. Carlos foi assassinado; o seu filho mais velho, D. Luis Filipe teve o mesmo cruel destino. O seu segundo e último filho, o Rei D. Manuel II, morreu vinte e quatro anos depois daqueles.
D. Amélia teve a particularidade de ter sido o único membro da Família Real exilado após a implantação da República em Portugal. Entre os seus destinos contou-se a França, mais concretamente a simpática povoação de Chesnay, paredes-meias de Versailles, onde se localiza o pequeno castelo de Bellevue. Chamar castelo àquela casa é manifesto exagero. Trata-se de uma construção bonita, apalaçada, desconhecida da esmagadora maioria dos portugueses e dos franceses, e que foi a residência da nossa Rainha, também princesa de França, até a sua morte, em 1951. Deixada ao governo francês por testamento, é agora sede da Câmara de Agricultura de Île-de-France. Aqui ficam as imagens. Para que recordemos quem, no passado, de forma corajosa, afirmou de modo sincero: "Quero bem a todos os portugueses, mesmo àqueles que me fizeram mal."
Esperemos que não se trate de mais uma oportuna adaptação da excelente e bastante esquecida obra The Last 100 Days, de John Tolland. Alertado pela minha diária e rotineira leitura do Portugal dos Pequeninos, fiquei a saber que Pacheco Pereira teceu algumas considerações acerca do livro The End. Ainda não tendo lido a obra de Ian Kershaw, regista-se a certeza de um relato pormenorizado acerca do Götterdämmerung do III Reich. Sabe-se que até ao último dia da sua existência, a máquina do regime funcionou como os seus chefes previam. Os operários escrupulosamente chegaram a horas para o trabalho, os juízes ditaram as sentenças por mais impiedosas que fossem, a burocracia funcionou em pleno e os kommando de manutenção da ordem nacional-socialista foram tão eficazes como sempre.
Poderá ser mais fácil recorrermos a explicações do âmbito da psicologia, de massas ou não, que teria efectivamente condicionado uma imensa população de mais de noventa milhões de aparentes sonâmbulos, apesar da desgraça que atingiu a Alemanha com inaudita violência. Ainda não sei se Ian Kershaw procura explicar algumas das razões que levaram os alemães à total subordinação ao regime e consequente resistência até à última bala, último panzer e ao derradeiro buraco onde se entricheirava a gente do Volksturm. Algo sucedeu para tal ferocidade da tropa e civis alemães, aliás demonstrada pelas mais de 300.000 baixas soviéticas na já de antemão perdida batalha de Berlim.
Qual a explicação plausível para tal encarniçamento da resistência popular que permitiu o perfeito funcionamento da máquina do poder nacional-socialista?
A conhecida faixa, originalmente surgida na Volta à França em bicicleta, "Vai estudar ó Relvas” acolheu o ministro Miguel Relvas na sua chegada à distante paragem de Dili, em Timor-Leste, de acordo com a divulgação hoje feita pelo jornal PÚBLICO. A mesma terá sido colocada por volta das 20h de terça-feira (12h de Lisboa) numa das paredes do Hotel Timor, a melhor unidade hoteleira de Díli, que fica bem no centro da cidade e onde estão instalados alguns membros da comitiva que acompanha Miguel Relvas na visita oficial. Já o ministro está instalado na residência do embaixador de Portugal.
As fontes contactadas pelo PÚBLICO dizem que a partir do momento em que a faixa foi colocada se verificou uma romaria de alguns dos muitos portugueses que vivem em Díli, que ali ficaram a fotografar a mensagem. Algumas dessas imagens já circulam em páginas da rede social Facebook.
A Polícia Nacional de Timor-Leste foi chamada ao local, mas não tomou nenhuma iniciativa por não haver nenhuma queixa formal.
Um ministro conhecido em todo o mundo, é o mínimo que se pode dizer.
Uma das lições básicas das Ciências Sociais, pela qual passa em grande medida a refutação do cientismo, é a de que a realidade social não é um laboratório, ou seja, não é possível utilizar o método experimental, pelo que não se pode decalcar o método científico das Ciências Naturais. Claro que a Ciência Política não foge à regra. Mas eu estou em crer que esta lição está cada vez mais desactualizada. Possivelmente, tratar-se-á de uma inovação realizada pela Relvas School of Political Science. Que o diga António Borges. Mas deixando de lado a hipótese de os cientistas políticos poderem ver-se na iminência de terem que rever os seus métodos de análise, o que fica mesmo da abordagem experimental à praxis política, operada nos últimos dias a respeito da privatização da RTP, é um amadorismo sofrível. Eu preferia manter intacta a lição e que fôssemos poupados a trapalhadas que os spinners de serviço na blogosfera e no Facebook lá vão tentando disfarçar - mal, porque amadoramente, o que não deixa de estar em sintonia com o governo. Infelizmente, os politiqueiros parecem preferir a opção contrária.
Há apenas umas duas horas, o camarada Jerónimo de Sousa sugeria corrermos com a "troika da agressão", ou por outras palavras, Portugal decidir-se pelo calote global. Poderia ser mais preciso e colocar como possível ponto de discussão, os usurários juros exigidos. Isso todos compreenderiam.
Talvez devêssemos dar uma oportunidade à gestão PCP, porque este país iria mesmo pagar a dívida fosse de que forma fosse, preferencialmente à bruta e por "interesse colectivo". Por exemplo, Jerónimo de Sousa até poderia adoptar aquele modelo outrora tentado pelo seu correligionário Nicolae Ceausescu: nada de carne, nada de peixe, nada de gasolina e gasóleo nos postos de abastecimento, nada de cuidados de saúde, educação reduzida ao mínimo dos mínimos e plena satisfação dos credores internacionais.
Quem sabe se um ou dois anos depois, não teríamos por cá um Génio do Tejo?
Connosco, os catalães funcionam sempre naquele bem conhecido sistema do "duche escocês". Ora lhes dá para desdenharem da nossa independência - eles são sempre os "injustiçados e os que teriam merecido" a vitória pós-1640 - ou antes pelo contrário, no dia seguinte alçam-nos ao firmamento mais luminoso. Antes assim.
Durante anos, foi um esbanjar à tripa forra, numa imbatível movida política, cultural e de outros etc a toda a brida. Enfim, desta vez têm mesmo de baixar ao planeta Terra e finalmente reconhecerem o que todos lá para as bandas do Llobregat sabiam, mas fingiam desconhecer: à beira do colapso, pedem auxílio à pérfida Madrid, mas "recusam-se a ceder no campo político". Mas de que sugestões de cedências estariam à espera? Ainda há poucos meses os vimos delirantes pelas ruas de Barcelona, ruidosamente festejando a vitória espanhola no Euro. Não se vislumbrou nem uma daquelas bandeirolas parecidas com a do Vietname do Sul. Tudo fogo de vista e muito apreciaríamos escutar o que o sr. Rovira tem para nos dizer.
Acompanhado por outros oficiais portugueses e alemães, António de Spínola visita a frente de Leninegrado em 1941. Spínola é o oficial agasalhado por um sobretudo e de bivaque escuro na cabeça, em último plano na foto, à esquerda. O grupo observa um tanque russo do modelo KV-1, destruído ou capturado. Ou andamos muito enganados, ou foi por esta altura que A.S. de Spínola terá adoptado a moda do monóculo., aquele adereço que lhe daria a alcunha de o Caco. Com tudo o que dele politicamente se possa dizer, foi um militar como poucos, estando presente nas frentes de combate onde serviu como Comandante-em-chefe e sempre sem se recusar à tradicional postura castrense. Tal como os seus homólogos Guderian, Patton e Rommel, deve ter entendido que a guerra também se fazia no campo mediático. Quantos é que hoje em dia se lhe poderão comparar? Duas ou três fotos elucidam-nos acerca das diferenças.
"Sobre o General Spínola, escreveu Chauvel no semanário Paris-Match, quase um mês depois da emboscada:
Monóculo no olho, apoiando-se no seu pingalim, este oficial parece surgir de um filme dos anos 30. Não é o Pierre Renoir de 'La Bandera', nem o Von Stroheim de 'La Grande Illusion'. O general português Spínola faz verdadeiramente a guerra. Na Guiné. Imagem soberba e irrisória: um pequeno país que possuía, há quatrocentos anos, um império imenso, sobre o qual o sol nunca se escondia, esgota-se hoje no último combate colonial do século.
Entre a Gâmbia e a Guiné de Sékou Touré, a Guiné Portuguesa conta com um punhado de colonos, face a meio milhão de autóctones, num território do tamanho de um departamento francês. De há oito anos a esta parte está transformado num campo de batalha. A guerrilha dos rebeldes, armados pela China e muito organizados – revistas, instrução política, jornais de propaganda – absorve cada vez mais as tropas portuguesas.
Lançados num país muito quente, com uma vegetação muito densa, vigiados pelo inferno das emboscadas, os camponeses de Beja, os pescadores da Nazaré ou os estudantes de Coimbra cuidam da sua elegância, a exemplo do seu comandante-em-chefe: “Mais vale ir para o céu com um uniforme como deve ser”.
Enquanto por cá uma engenheira biomédica do Bloco de Esquerda escreve que não é possível distinguir moralmente entre humanos e animais, nos EUA há quem clame por igualdade de direitos entre homens e mulheres no que diz respeito a fazer topless. Há quem possa dizer que isto são apenas efervescências da silly season. A mim parecem-me sintomas de decadência civilizacional, reveladores da indigência intelectual que grassa em muitas mentes ocidentais.
Programa Eleitoral do PSD para as eleições legislativas de 2011, p. 161:
«No entender do PSD, a RTP deve concentrar-se, logo que possível, num novo modelo de gestão exclusivamente orientado para o serviço público, com vista a reduzir o actual nível de financiamento público, nomeadamente as indemnizações compensatórias. Nesse sentido, ir-se-á proceder, em momento oportuno, à alienação ao sector privado de um dos canais públicos comerciais actuais. Quanto ao outro canal, hoje comercial, ficará na esfera pública e será essencialmente orientado para um novo conceito de serviço público.»
Programa do XIX Governo Constitucional, p. 98:
«O Grupo RTP deverá ser reestruturado de maneira a obter-se a uma forte contenção de custos operacionais já em 2012 criando, assim, condições tanto para a redução significativa do esforço financeiro dos contribuintes quanto para o processo de privatização. Este incluirá a privatização de um dos canais públicos a ser concretizada oportunamente e em modelo a definir face às condições de mercado. O outro canal, assim como o acervo de memória, a RTP Internacional e a RTP África serão essencialmente orientados para assegurar o serviço público.»
Do que se sabe até ao momento, numa trapalhada a que até o Ministro da Defesa se junta, a RTP2 irá simplesmente fechar e a RTP1 será concessionada, mantendo-se a taxa de audiovisual na factura da electricidade, que será entregue ao concessionário. Para além de ser conveniente salientar que uma concessão não é uma privatização, talvez Aguiar-Branco e demais colegas de governo devessem dar uma vista de olhos no Programa de Governo que apresentaram aos portugueses.
Se desde 2008 andamos a brincar às nacionalizações de bancos para esconder sabe-se lá o quê, às privatizações que demoram eternidades, a aumentos de impostos para alimentar um défice crónico e uma dívida pública galopante, a cortes salariais à função pública que em nada reduzem a despesa estrutural do estado, a questionários às fundações para fazerem prova de vida para depois se poder decidir da continuidade dos subsídios que lhes são atribuídos, à privatização da RTP (que agora é concessão, mas que o PSD blogosférico, numa tentativa orwelliana de duplo-pensar, quer fazer crer que é mesmo uma privatização), sem falar na já esquecida questão dos milhares de institutos públicos que ninguém sabe muito bem porque existem ou o que fazem, entre outros dislates com que os politiqueiros nos prendam todos os dias, é porque a crise e a austeridade, na realidade, ainda não chegaram ao estado. Não há honra alguma em asfixiar os portugueses com impostos para alimentar este estado de coisas, solução sempre à mão e que é reveladora quanto baste da qualidade de quem nos desgoverna há já várias décadas. Como escreveu Eça, "isto não é um país, é um sítio e ainda por cima mal frequentado!"