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António Borges, o comediante ocasional

por João Pinto Bastos, em 30.09.12

A verve suicidária de António Borges faz recordar inevitavelmente a obstinação desaustinada dos marxistas mais sectários. Será assim tão difícil compreender que a manutenção de António Borges na órbita do Governo só irá provocar estragos de grande monta? Para comediantes ocasionais já basta o magnânimo Miguel Relvas. Ser pastoreado por gente deste calibre cansa. 

publicado às 23:58

Estamos entregues

por Francisco Costa, em 30.09.12

Quando, a 7 de Setembro, Passos Coelho decidiu apresentar novas medidas de austeridade meia-hora antes do jogo da selecção nacional, o Samuel, adaptando uma célebre interrogação de Salazar sobre os diplomatas e o Minitério dos Negócios Estrangeiros, questionou se eles iriam para Primeiro-Ministro porque são assim ou se são assim porque vão para Primeiro-Ministro. Pasmado fico hoje com o facto de ter de reformular esta questão. Não nos podemos cingir apenas ao primeiro-ministro quando toda uma corja discorre constantemente um chorrilho de disparates, arrogâncias e devaneios de bradar aos céus.

 

Mais no Facebook do que aqui no blog, mas sobretudo em conversas com os meus colegas, tenho-me limitado a dar a minha opinião sobre as variadas temáticas do quotidiano político, social e económico do país, mas sempre sem forçar uma posição, sem me tornar intransigente. Porque só os casmurros não mudam de opinião, é um facto, mas sobretudo porque o que hoje é verdade não é amanhã que será mentira – já ontem o era. A informação e consequente contra chegam-nos a uma velocidade tal que é quase impossível seguir o curso de todo este folclore. Ainda assim, mais por necessidade e hábito do que por obrigação, acompanho o comentário que se tem feito por estas bandas, tendo chegado o momento em que a minha disponibilidade me permitiu escrever alguma coisa. Talvez disponibilidade a tenha tido antes, é certo, mas determinadas intervenções no dia de ontem foram, para mim, o culminar de um ciclo de observação e tentativa de absorção e entendimento, com alguma condescendência à mistura, do que a classe política e empresarial anda a perpetuar no país – o que se tornou, modéstia de lado, um exercício muito complicado, pois é notório que nem o governo sabe o que faz. 

 

Estamos pois, definitivamente, entregues. Entregues a uma coligação governamental que necessita de um órgão superior, com o seu crivo de independência e num patamar superior da intendência, que supostamente deve coordenar, controlar e encontrar convergência nas políticas dos dois partidos que formam o Governo. O arrufo conjungal necessitou de marcar na agenda consultas periódicas na terapia de casais o que, apesar de pouco recomendável, até pode ser aceite como uma maneira de evitar o descalabro de uma política comum, num esforço a dois para que a união resulte, sendo que, pese embora a graciosidade envolvente a toda metáfora, os destinos do país e dos portugueses seja aquilo que realmente deveria merecer a atenção de quem governa. E eis que na primeira reunião para afinar as agulhas o tema central da ordem de trabalhos são as eleições autárquicas, com a definição das autarquias em que os dois partidos irão concorrer coligados. É um importante primeiro passo, poderão dizer-me, que depois deste sim virá o concertar de posições, estratégias e medidas que digam realmente respeito ao quotidiano do comum cidadão português. Mas a imagem que passou foi a de que, de uma maneira ou de outra, a discussão se terá centrado em nomes, cargos, disposição dos candidatos nas listas. Mais do mesmo. Porque este governo demonstra uma descoordenação clara, sem uma linha de comunicação comum aos seus vários membros, muitos deles uns autênticos corpos estranhos sem habilidade política que dificilmente se irá remediar, pois tem quase todo o país contra si, incluindo grande uma parte que o suportava em termos eleitorais.

 

Daí que eu afirme, sem ponta de remorso, que estamos entregues. Estamos entregues a um Primeiro-Ministro que, mesmo anunciando a entrada do FMI em Portugal, parecia gozar de uma certa margem de manobra por, inicialmente, tudo ter tentado para apresentar uma postura política que fosse diferente do seu antecessor. Ultrapassado que foi, muito rapidamente, o seu estado de graça, esta possibilidade demorou tanto tempo a gorar-se como os cabelos de Passos Coelho a tornarem-se grisalhos – num ápice, passamos de um Governo com confiança para um grupo elitista em total descrédito. Algo que me pergunto vezes sem conta, provavelmente por ser uma das áreas que maior interesse tem para mim, é o porquê de em Portugal pura e simplesmente não existir consultadoria política. A bem saber, obviamente que ela existe (gabinetes de acessoria, markentig e comunicação são algo que não falta, é um facto); mas então eu pergunto-me qual o tipo de formação que esta gente tem ou que género de autores lhes são dados para estudar, pois em que mundo é que um gabinete de consultadoria dá aval a que o Primeiro-Ministro, depois do anúncio de novas medidas de austeridade, venha, enquanto chefe de governo, escrever uma nota no Facebook que, para além de patética e ridícula, chega a roçar a cobardia. É mau demais para ser verdade, dirão alguns; revelador do carácter do Primeiro-Ministro, concluirão outros. Mas este é apenas, como muito bem tem sido desenvolvido aqui no blog, o reflexo das juventudes partidárias e da (falta de) noção dos elementos básicos da ciência política junto de quem recruta militantes para as suas secções. É uma selecção feita à bruta, por números, que apenas trará vantagens ao pastor que concentrar mais ovelhas no seu rebanho. Aprendizes de Maquiavel que nem sequer o leram, como o Samuel apontou magistralmente.

 

Entregues estamos. A uma bicharada que constantemente vilipendia o país. Por vezes através de maneiras tão cruéis que fica difícil escapar ao seu rasto. Vitor Gaspar, um nome que regressou ao país com o prestígio internacional, cá dentro nesta cozinha interna, carrega contra os portugueses. Lá fora, tece elogios aos seus concidadãos. Pelo meio vai adormecendo os mais conformados com a sua voz monocórdica, que parece que não ser afectada por nada nem ninguém. Mas Vitor Gaspar sabe pouco de história – algo que é comum a toda a classe política e dirigente do país por estes dias. Ao destacar a tolerância e maturidade das manifestações, parece estar totalmente alheio da realidade e confiante que os brandos costumes o irão salvar. Talvez por não saber de História, permitam-me que recupere um episódio ilustrativo de como podem agir os portugueses mesmo em situações limite. Nas guerras liberais no Séc. XIX quando se deu a invasão do Porto e os Miguelistas foram derrotados, em acto de desespero/vingança incendiaram os armazéns do Vinho do Porto, que, na época, representavam a nossa única exportação e fonte de receita em divisas. Exemplo extremista e desfasado da realidade? O curso dos protestos assim parece não indicar. Mas a Gaspar pouco lhe importa, como podemos denotar pelo ar cada vez mais arrogante com que responde cada vez que é interpelado.

 

Não fosse o anteriormente descrito suficiente e, caros leitores, estamos totalmente domados e entregues a Miguel Relvas. Se o fenómeno da sua licenciatura nunca cairá no esquecimento da opinião pública mas percorria por estes dias o caminho da ‘brejeirice’ e mero escárnio, voltou ontem ao meu ideário quando o ouvi pronunciar, sustentando que a UE “deixou de ter o tempo do seu lado”, que “é na eficácia dos governos que reside em grande medida a adesão dos povos à democracia representativa”. Miguel Relvas apelou à capacidade de liderança da Europa face à “crescente impaciência das restantes economias mundiais e à volatilidade dos mercados financeiros”. O ministro considerou que a UE “precisa que os fortes continuem fortes, mas precisa igualmente que os mais fracos passem também a ser fortes”. Um alerta claro para a os perigos da falta de confiança das populações nos políticos do Velho Continente. Ora, eu não queria ter de assinar por baixo na lista de visitantes deste lugar comum, mas ser Miguel Relvas a pronunciar esta sentença é de um nível tão baixo que nem trinta cambalhotas consecutivas me deixariam tão zonzo e abananado. Para isto, uma só definição – gozar connosco à cara podre.

 

Assim como é um pagode completo que António Borges, consultor do executivo para as privatizações, venha crucificar aqueles que criticaram as alterações que o Governo queria introduzir na taxa social única (TSU), brindando-os com o mimo de que são “ignorantes”. “Não passariam no primeiro ano do meu curso na faculdade”, acrescentou. Isto vindo de alguém que, em Novembro de 2011, o Fundo Monetário Internacional (FMI) demitiu de director do seu departamento europeu, 'por razões pessoais'". Segundo dá a entender o autor de ‘O Banco - Como a Goldman Sachs dirige o Mundo’, Marc Roche, na introdução da versão portuguesa do seu livro, a razão de Borges ter sido dispensado do FMI, ao fim de um ano, poderá estar ligada "ao facto de ter sido também, durante oito anos (2000-2008), um dos dirigentes do GS International". Mas Marc Roche vai mais longe. "Com efeito, o papel do banco americano na maquilhagem das contas gregas em 2002-2003 poderia não ser estranho àquilo que aparece como uma destituição". "Por outro lado, a nacionalidade portuguesa do interessado jogou contra ele no momento em que os investidores - FMI, Comissão Europeia e BCE - davam a sua ajuda em troca de medidas de rigor draconianas". Borges, que a par de Mario Draghi, actualmente presidente do Banco Central Europeu, e Mario Monti, primeiro-ministro italiano, são alguns dos alvos desta investigação à Goldman Sachs, é a cabeça das privatizações em Portugal, o que segundo este jornalista de investigação financeira, "não deveria estar em posição de escolher os bancos na privatização porque sempre existe - algures - um Alumni da GS". Teorias da conspiração postas de lado, o Professor Adelino Maltez rapidamente se adiantou aos demais e postou no seu Facebook uma pérola. Recuperou uma entrevista de Borges ao Público, datada de 2008, onde o mesmo era confiante em afirmar que a crise financeira não iria provocar recessão, apenas abrandamento. Ao mesmo tempo, já defendia a privatização da Caixa, o que só demonstra que esta jogada de bastidores foi e está alicerçada em bases muito claras para os eus protagonistas, que de quando em vez irrompem do silêncio e tranquilidade do seu dia-a-dia para agitarem as águas, com o único intuito de fazer chegar a água ao seu moinho.

 

Por fim, estamos entregues a um Presidente da República que rapidamente se apressou a concluir que não estamos perante nenhuma crise política. O Conselho de Estado que por ele foi convocado é, uma vez mais, elucidativo de que estamos entregues a um conjunto de supostos notáveis a quem eu nem pediria conselhos sobre que roupa vestir no dia de amanhã. No restante das suas intervenções, Cavaco Silva parece totalmente alheio ao facto de ser presença comum na política nacional há mais de 25 anos, agindo com uma leviandade tal e uma sobranceria que me deixam a pensar que ele acredita piamente que não tem qualquer culpa no cartório.

 

Caros leitores, avançando a passos largos para uma conclusão, peço desculpa pela extensão deste post; como anteriormente afirmei, foi um longo período onde nada escrevi e, como tal, a regularidade desejada não foi atingida. Tendo vingando agora essas sensações, resta-me frisar que, ao repetir várias vezes que estamos entregues, não pretendo afirmar que foi de livre e espontânea vontade que nos entregámos. Aliás, pelo que bem sabemos da essência de ser português, nunca nos iremos entregar. A minha repetição do ‘estamos entregues’ tenta apenas transportar para o plano físico o que muitos de nós sentimos: o grupo com maior poder de influência e tomada de decisão no nosso país e que em muito define o nosso futuro, não presta.

publicado às 14:57

Ao domingo

por Nuno Castelo-Branco, em 30.09.12

Leontina (minha tia avó), Lourenço Marques, Moçambique, 1945

publicado às 08:00

A manifestação da Intersindical

por Nuno Castelo-Branco, em 29.09.12

 

O discurso obedeceu ao conhecido e caduco guião de outros tempos, politicamente tão inábil como sempre e propiciador do divórcio da hegemónica maioria silenciosa que sabe bem o que significaria um regresso a 1975. O Terreiro do Paço encheu e ainda bem que assim foi, pese a evidente mobilização que copiou à risca, os antigos métodos secundo-republicanos dos comboios e autocarros que chegaram de penates, ruidosamente carregados de mobilizáveis. No entanto, dada o momento que país atravessa, o arrazoado classista da Intersindical poderá desta vez colher alguma atenção, podendo ainda contar com o estranho mas sintomático precioso auxílio de certas entidades televisivas privadas. O governo deve ter ficado satisfeito, pois a gente da Intersindical esmerou-se no desfiar de uma conversa capaz de servir de antídoto tão forte para "a burguesia", como os alhos são para os vampiros da Transilvânia. Quase desaparecidos os proletários, eis o apelo aos precários. Embora não seja considerada plausível uma tomada do poder por um sector que ainda é politicamente marginal - os números de manifestantes "mais ou menos 80.000-90.000" não enganam ninguém -, parece contudo possível encontrar-mos alguma energia capaz de alertar este governo.

 

Já não existe qualquer possibilidade do tornear das questões candentes, entre as quais o "Caso PPP" é um rastilho tão explosivo como foi o do Crédito Predial de há pouco mais de um século. Na senda da loucura BPN-BPP, dos escândalos de corrupção evidentíssima que apenas o ministério público ainda pretende fazer crer não existirem e do total desnorte de um sistema político que amodorrou num situacionismo sem nexo, verifica-se um sério risco da escalada populista que inevitavelmente trará mais cedo ou mais tarde, uma ruptura fatal. O país da esquerda - ou de 1/3 desta, dadas certas evidências demonstradas nas urnas - quer saber tudo o que se passou quanto ao roubo, negligência e total incompetência que rodeou o estabelecimento dos acordos ruinosos, do descarado roubo. Por outro lado, os órfãos do leninismo imaginam um conluio de gente de cartola, bem ao estilo dos clubes de magnatas dos tempos da Belle Époque, quando a realidade é outra, infinitamente mais insidiosa e capaz de numa rajada, liquidar muitos dos santarrões bem falantes dessa mesma esquerda nacional.

 

Em poucas palavras, a população pretende ver saneado este assunto das Parcerias Público Privadas, recorrendo-se aos existentes argumentos jurídicos que prevêem a liquidação de contratos desiguais, flagrantemente leoninos. A imensa maioria sonha com uma quase impossível expropriação, não tendo em conta complicações internacionais, as entidades que disponibilizaram o financiamento daquelas obras e certas coincidências com outros nomes que agora surgem apensos aos zelosos emprestadores do dinheiro que chegou com a troika. Estamos sem defesa. 

 

Quando a esmagadora maioria da direita portuguesa se sente ultrajada pela lentidão que as autoridades têm demonstrado na informação do escândalo, cria-se assim uma situação que facilmente poderá degenerar num total abandonar do regime, por parte de quem teve até agora, todo o interesse em defendê-lo. Nos últimos trinta anos foi-se consolidando uma certa forma daquilo que, no dizer de Salazar, era "viver habitualmente". No caso da actual situação, isto significa a pleno aceitar e defesa daquele jogo pluripartidário que já caracterizara os tempos da Monarquia Constitucional, sistema interrompido entre 1910 e 1976. Para desgraça de Portugal, os principais agentes políticos desprezaram o povo que arbitrariamente tutelam, declinando qualquer tipo de esclarecimento, desdenhando aquela obrigatória formação que acende consciências e pior ainda, atrevendo-se a hipotecar uma história secular, às nada fiáveis promessas de um ridente devir pan-europeu, até agora de impossível  concretização. Mentiram descaradamente e há que remediar na medida do possível, uma situação política desastrosa, estando esta acompanhada pela opressora dependência financeira e pelo mais que provável caos social que se perfila no horizonte. A direita que normalmente fica em casa - a maioria do país, incluída uma boa parte do PS -, de desiludida, passou a estar furiosa. Todos adivinham e até  um certo ponto compreendem a dificuldade governamental - como sempre prisioneira dos tradicionais acordos inter-rotativos - em trazer à luz do dia, tudo aquilo que a população quer e deve saber. É a derradeira hipótese de obtenção de algum crédito popular, para uma 3ª República nesta sua aparente fase final

 

Volatilizaram-se as esperanças do recurso a qualquer uma das instituições sobre as quais se ergue o sistema vigente. A inútil e escassamente representativa presidência da República, canibalizada por três mandatários superlativamente responsáveis pela situação que atravessamos, praticamente é coisa dispensável, morta, esvaziada de conteúdo. O Parlamento é abertamente detestado e injustamente apontado como a raiz de todos os males. Ninguém confia numas Forças Armadas que há muito perderam toda a autonomia, chegando ao ponto de permitirem todos os despautérios, comentários jocosos e a descarada falta de respeito proveniente dos sectores do poder civil e até, pasme-se, dos pretensos "comandantes supremos" em título. Pior ainda, parecem ter desistido do tradicional delimitar da sua intangível esfera de acção, precisamente no que respeita aos tradicionais interesses estratégicos de Portugal, perfeitamente estabelecidos há mais de sete séculos. 

 

A austeridade foi encarada como inevitável e com ela se condescendeu, desde que fosse apresentado um horizonte de esperança. Isso não aconteceu, as autoridades têm sido completamente ineficazes na área política, hoje completamente negligenciada. A população que intervém, tem acesso á informação e utiliza os recursos tecnológicos que tem à sua disposição. Exige, quer saber mais e está disposta a impor-se.

 

Além dos poderes fácticos - a Intersindical entre eles -, torna-se cada vez mais difícil o país confiar numa voz séria e acima de qualquer suspeita. É por isso mesmo que há quem aguarde por aquilo que um símbolo  da continuidade da nossa história, o Duque de Bragança, terá para nos dizer no próximo dia 5 de Outubro. 

 

publicado às 17:07

A verdadeira expressão da decadência portuguesa

por Samuel de Paiva Pires, em 29.09.12

A verdadeira decadência portuguesa não se expressa realmente na crise económica e financeira. Esta tem volta a dar, e mais pelas variáveis externas que internas, obedecendo ao tom de sempre da política externa portuguesa. Se há algo que incorpora em si todas as características de decadência da nação, com tudo o que lhe subjaz de irracional, coercivo e errado, é o Acordo Ortográfico. Infelizmente, temo que este já não tenha volta a dar, o que é sintomático da apatia dos portugueses e da ignorância e arrogância dos desgovernantes. Como escreve Pacheco Pereira, "A única força que sustenta o Acordo é a mesma que condenou o país a esta crise profunda: inércia." Como quase tudo em Portugal, foi feito com os pés e é empurrado com a barriga. E trata-se, na verdade, de algo que nunca deveria ter sido feito e que um governo que fosse realmente liberal já teria rasgado e deitado fora. 

publicado às 16:02

António "Xerife de Nottingham" Borges

por Samuel de Paiva Pires, em 29.09.12

A facilidade com que certos economistas e afins lançam a ideia de baixar salários é directamente proporcional à dificuldade com que falam em cortes na despesa pública e na reforma do estado. Já para não falar na frequência. Dariam, com certeza, excelentes Xerifes de Nottingham.

publicado às 15:03

A gestão do declínio

por João Pinto Bastos, em 29.09.12

Por Adolfo Mesquita Nunes:

  

"Temo bem que, com o enquadramento constitucional que temos, e não existindo qualquer disponibilidade socialista para o rever, estejamos de facto sem verdadeiras alternativas, obrigados a cortar toda e qualquer despesa que não toque na dimensão do Estado, porque a Constituição não deixa. E não há forma justa e eficaz de o fazer, porque o problema continua lá. A Constituição, feita para nos proteger, está, afinal, a condenar-nos, com maior ou menor sentido de justiça, à mera gestão do declínio."

 

À laia de conclusão, é forçoso sublinhar o facto de o debate acerca da revisão do actual enquadramento constitucional ser totalmente inexistente. Nem a consumpção lenta do país nas inclementes garras da crise é capaz de provocar uma comoção nacional que desvele de vez a exaustão do regime. O célebre grito rimbaudiano de "mudar a vida", alcandorado a lema de mudança - que bem nos faria juntar à apoteose poética do bardo francês, a genuína vontade de alterar a putrefacção reinante - jamais terá  mutatis mutandis um amplo seguimento em terras lusas. Aqui mudar a vida é, sobretudo, manter tudo como está. 

publicado às 12:46

Como há uns dias escrevi, mais por temperamento que por outra coisa, não sou adepto de manifestações. Estive na de 15 de Setembro, por motivos que já expliquei, e estive na outra em Belém, por pouco tempo, até perceber que era demasiado vermelha. Parece que hoje há uma greve/manifestação da CGTP, na qual, obviamente, não estaria presente, caso estivesse em Portugal. Mas torna-se confrangedor observar por aí muita gente a dizer que esta manifestação não é espontânea. Permitam-me só relembrar o óbvio, recuperando o que escrevi por altura da entrevista de Vítor Gaspar na SIC, quando desvalorizou a manifestação que o aguardava: não existe tal coisa como uma manifestação espontânea. Toda a manifestação carece de organização. E toda a organização tende para a oligarquia, como Robert Michels observou. O contrário é que seria estranho. E crer que o contrário seria moralmente valorizável, enquanto uma manifestação organizada será de desvalorizar, é sintomático dos tiques autoritários (...). 

 

Permitam-me ainda reforçar esta ideia com um exemplo simples: quando queremos marcar uma reunião ou um encontro com alguém, mesmo que seja só uma pessoa, precisamos de o fazer através de algum tipo de canal de comunicação. Ou seja, temos que recorrer a algum tipo de organização. Não nos reunimos espontaneamente como se as nossas mentes pensassem ambas no motivo, local e hora da reunião sem sequer falarmos.

 

Curioso, ou talvez não, é que são pessoas de direita que tendem a proferir este disparate. A direita que em Portugal não se consegue organizar para nada - até para governar o país mal se consegue organizar - e por isso inveja a esquerda por estar bem organizada. Podia era poupar-se e poupar-nos a este disparate.

publicado às 10:58

Seis "submarinos PPP" por ano. São mesmo seis!

por Nuno Castelo-Branco, em 29.09.12

Os dois submersíveis em serviço na Armada, têm servido como o prato forte nas querelas interpartidárias. Mil milhões, eis o preço desta despesa que decorre da presença portuguesa na NATO e da posse - mesmo que fictícia - da Zona Económica Exclusiva. O mais espantoso, será verificarmos o prolongado e comprometedor silêncio dos responsáveis das Forças Armadas Portuguesas, todos os dias achincalhados pelo cumprimento daquilo a que outrora se denominava dever e exercício da soberania nacional.

 

Seis "submarinos PPP", é isto que Portugal terá de pagar anualmente. Multipliquem esta soma por mais de quarenta anos de esbulho graciosamente consentido aos exploradores internacionais. Não existe um único ministro que ponha estas contas sobre a mesa e informe os portugueses? Paralelamente, estamos agora submergidos por uma tremenda campanha que visa antes de tudo, o ocultar de certos factos que como este que aqui fica, deixará todo o sistema numa situação de catástrofe iminente. Decididamente, a este governo falta-lhe uma forte voz política que explique tudo isto aos indignados de fim de semana. 

publicado às 10:06

Só visto!

por Nuno Castelo-Branco, em 29.09.12

Ou melhor, só lido.

 

 “Podia ser grave porque a troika ainda deve algumas coisas de dinheiro que vai pagar…é melhor que [o Governo] não caia por enquanto.”


É a completa inversão da realidade, num jogo de espelhos típico de qualquer feira popular. A "troika deve algumas coisas de dinheiro que vai pagar", diz o ex-presidente. Presume-se que esteja a referir-se ao remanescente do dinheiro que nos vão emprestar a juros impossíveis. Para todos os efeitos, contamos agora com a terceira bancarrota desde 1974 e já nem sequer aquelas mais de 800 toneladas de ouro - a chamada pesada herança -, agora reduzidas em dois terços, nos poderão valer grande coisa. Tudo isto, para durante mais uns anos podermos manter uma certa confortável realidade para uns tantos.

publicado às 09:24

Um bom resumo do insano Portugal Contemporâneo

por Samuel de Paiva Pires, em 29.09.12

No Portugal Contemporâneo, por Pedro Arroja.

publicado às 02:14

A festa catalã

por João Pinto Bastos, em 29.09.12

O descalabro espanhol prossegue indemne a qualquer lógica ou assomo de racionalidade. Rajoy, à semelhança do seu antecessor, não passa de um arlequim sem o menor talento e engenho para o exercício de um cargo cujo grau de exigência é altíssimo - longe vão os tempos de políticos da craveira de Suarez, Fraga e Mellado. É de bradar aos céus a incompetência larvar que tem vindo a propagar-se no seio do executivo espanhol. A inépcia com que foi gerido o pedido de resgate à banca espanhola, o esforço inútil dispendido na apresentação de medidas económicas mal direccionadas, ou a desorientação patenteada na gestão de uma austeridade que, por razões óbvias, exige algum talante e "savoir faire", são exemplos bem evidentes da inabilidade com que Rajoy tem lidado com a crise. Os últimos desenvolvimentos, designadamente a ameaça independentista catalã, são mais uma achega na descredibilização de um Estado que, com o aprofundamento da crise económica, vai atingindo o seu estertor político. O modelo político e social saído da Transição e dos Pactos da Moncloa vê-se perante uma encruzilhada cuja resolução afigura-se sumamente difícil. A controvérsia política actualmente em curso não se limita apenas ao desajustamento do "bienestarismo" face às novas realidades económicas e sociais resultantes da globalização, mas abrange concomitantemente outras dimensões igualmente importantes, com particular destaque para o modelo de Estado. No fundo, a crise espanhola, usando uma expressão cara a Paulo Rangel, irá desembocar inelutavelmente numa "convulsão constitucional". Resta saber, contudo, como irão reagir os sectores espanholistas às atoardas soberanistas provenientes da Catalunha. Uma coisa é certa, a crise irá certamente perturbar o presente xadrez político espanhol.

publicado às 02:03

Um mau dia para a blogosfera lusitana

por Samuel de Paiva Pires, em 28.09.12

O Cachimbo de Magritte, um dos meus blogs de leitura obrigatória, fechou as portas. Esperemos que os seus autores continuem a andar por aí.

publicado às 23:24

A tal de partidocracia, o tal de sistema!

por Cristina Ribeiro, em 28.09.12







Os muitos telhados de vidro impedem os politiqueiros de atirar pedradas aos autores desse conluio.  Falta-lhes o " quem não deve não teme " da Islândia.

publicado às 23:15

Democracia versus Partidocracia.

por Cristina Ribeiro, em 28.09.12
" O que move a " democracia " partidocrática- [ com aspas, sim ] é a abstracção das suas ideologias e, sobretudo, o interesse dos partidos. As altas conveniências nacionais ficam para terceiro lugar. Não seria assim se a Assembleia da
 Re(s)pública assentasse em bases sócio profissionais e regionais ( ... )
Com o Povo organizado por meio das suas associações vitais ( e só assim se pode verdadeiramente dizer que existe Povo ). ( ... )
As razões partidárias sobrepõem-se, assim, às razões justas "
Mário Saraiva, « Sob o Nevoeiro »

Com efeito, se em teoria os deputados representam o Povo, na prática , uma vez eleitos, ficam sujeitos à disciplina partidária. Em partidocracia os deputados, em vez de interpretar a vontade dos seus " representados " [ com aspas, sim! ] interpretam a dos dirigentes do partido a que pertencem.
E eu acredito na Democracia, sim; mas aprendi, com o tempo, que dali não vem; só da orgânica, tradicional, em que esse Povo intervém directamente.


(" A democracia orgânica é um tipo de organização política e administrativa em que o exercício dos direitos individuais é realizado através das corporações tradicionais como as famílias, das territoriais como os municípios, das económicas como os sindicatos, das culturais como as universidades, das morais como as paróquias .... A democracia orgânica constitui a realização política do modelo económico do corporativismo." Wikipédia )

publicado às 19:21

Valha-nos Deus!

por Pedro Quartin Graça, em 28.09.12

Agora é que o homem não se vai calar a chorar por todos os cantos e a comentar "tudo o que mexe" em Portugal!Isto tem marosca por trás...

publicado às 17:48

Racionamento da saúde

por Pedro Quartin Graça, em 28.09.12

publicado às 16:48

Por esse Rio acima

por Pedro Quartin Graça, em 28.09.12

Mais do que a remodelação no Governo ser inevitável, o que é imperioso é a remodelação do desgastado e desanimado Governo de Pedro Passos Coelho, ou seja, a sua substituição por outro, não necessariamente de diferentes cores partidárias, mas, pelo menos, com outro líder e sem que haja recurso a eleições, que quase ninguém deseja. Passos dá mostras diárias de público desnorte e incompreensão do País. Os portugueses não percebem Passos e Passos não percebe os Portugueses.

Ponto final. Parágrafo.

E quando aqui se chega mais vale partir para outra. O PSD profundo já o percebeu. O CDS sabe-o de há muito. Agora falta que as "forças vivas" afastem o líder, ou este se auto-afaste, e mudar. Vários candidatos da área do PSD poderiam ser apontados para uma tarefa ciclópica mas que não deixará de ter o Parlamento como necessário suporte à espinhosa missão de governação pós-Passos. Luís Marques Mendes - o homem com maior capacidade de análise e previsão política em Portugal - tem a desvantagem de ter chegado cedo de mais à presidência do PSD e, dificilmente, "a água corre duas vezes debaixo da mesma ponte". José Eduardo Martins, de uma geração mais nova, mas com a experiência que Passos não tem, teria certamente dificuldade imediata em trocar a advocacia por uma tarefa gigantesca de liderança, sem prejuízo de, eventualmente se poder perfilar para participar numa nova e eficaz solução de governação. A hora é pois, e claramente, de RUI RIO. E Rio está na linha da frente para a protagonizar, como o escrevemos há semanas aqui nestas páginas, aliás de forma isolada até ao momento em toda a blogosfera portuguesa. Bem aceite em Belém, Rio mantém uma auréola de grande rigor de actuação junto da opinião pública, não se vergando a quaisquer pressões, nem mesmo as do poderoso FC Porto. Com formação germânica, que admiramos por, a exemplo dele, a compartilharmos (enorme vantagem para Portugal porque sabe como os teutónicos pensam e a forma mais eficaz de os convencer), Rio junta o rigor de gestão alemão ao conhecimento que tem da realidade nacional. Mas, ao mesmo tempo, o necessário distanciamento das estruturas partidárias laranjas, que sempre fez questão de cultivar. Rio tem dado nas últimas semanas discretas, mas relevantes, notas públicas da sua disponibilidade. Em primeiro lugar porque pôs o dedo na ferida e apontou, e bem, as falhas da actual governação e do sistema partidocrático existente, defendendo, ao contrário de quase todos, o "aumento do prestígio dos políticos", contra os "poderes fácticos fortes". Por outro porque deu mostra pública de saber fazer a ponte com o PS, ao condenar, e bem, "linchamentos na praça pública. Ademais aponta caminhos acertados e diferentes, coisa que mais ninguém faz nos últimos tempos, pelo menos dentro do PSD. Tem, por último, que não em último lugar, uma grande vantagem: é bem aceite pelo parceiro de coligação CDS, que lhe reconhece competência técnica e política, coisa que nunca aconteceu com o impreparado Passos, um produto exclusivo, mas falhado, de uma, até então, aparentemente bem urdida campanha de marketing do seu mentor, Miguel Relvas.

 

Post scriptum - Uma última nota, em antecipação e exclusiva para os potenciais detractores deste meu post, falível como não pode deixar de ser, quando se abordam matérias políticas com um elevado grau de futurologia: não conheço Rui Rio e, ao invés de muitos, não aceito "encomendas". Ademais sou monárquico, logo aposto, e luto, mas de forma democrática, pela queda do Regime. O que não significa que, entretanto, não possa contribuir, através da análise e de apresentação de propostas políticas para que este, enquanto existir, não possa trazer mais felicidade aos Portugueses. Afinal, não é para isso que serve a Democracia? 

publicado às 13:54

Recomenda-se a consulta

por Nuno Castelo-Branco, em 28.09.12

Convém visitar, está aqui.

publicado às 12:11

Da série "Coisas que se aprendem no Facebook"

por Samuel de Paiva Pires, em 28.09.12

Sobre isto: um agente do corpo de segurança do PM não pode ser filmado, pelo que terá legitimidade para agredir um jornalista que o filma enquanto de forma despropositada tenta calar um estudante que gritou qualquer coisa contra o PM. Pelo meio, graças a Deus que temos a polícia a zelar pela definição de ofensa.


Dado que o PM é constantemente filmado, importa salientar o óbvio: o corpo de segurança também é. E uma sociedade e um governo que não sabem lidar com críticas, mesmo que ofensivas, são meio caminho andado para um regime autoritário. Mas qualquer semelhança com um regime do género é pura coincidência. Só gostava de ver os intervenientes e comentadores em termos de cores partidárias trocados, para testar a verticalidade de certas colunas.

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