Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
"Quando se abana o crivo apenas ficam as alimpas, assim as manchas de um homem ficam nas suas reflexões. A fornalha prova as jarras do oleiro, e a prova do homem são os seus pensamentos. O cuidado com uma árvore mostra-se no fruto, assim a palavra manifesta o que vai no coração do homem. Não louves um homem antes de ele falar, porque é assim que se experimentam os humanos."
Eclesiástico, 27, 4-7
Mario Vargas Llosa, A Civilização do Espectáculo:
«Todavia, a autoridade, no sentido romano de auctoritas, não de poder, mas sim, como define na sua terceira acepção o Diccionario da Real Academia Espanhola, de «prestígio e crédito que se reconhece a uma pessoa ou instituição pela sua legitimidade ou pela sua qualidade e competência nalguma matéria», não voltou a levantar a cabeça. Desde então, tanto na Europa como em boa parte do resto do mundo, são praticamente inexistentes as figuras políticas e culturais que exercem aquele magistério, moral e intelectual ao mesmo tempo, da «autoridade» clássica e que os professores, palavra que soava tão bem porque se associava ao saber e ao idealismo, encarnavam a nível popular. Em nenhum campo isto foi tão catastrófico para a cultura como na educação. O professor, despojado de credibilidade e autoridade, convertido em muitos casos, na perspectiva progressista, em representante do poder repressivo, isto é, no inimigo a quem, para alcançar a liberdade e a dignidade humana, era preciso resistir e, até, abater, não só perdeu a confiança e o respeito sem os quais era impossível cumprir eficazmente a sua função de educador – de transmissor tanto de valores como de conhecimentos – perante os seus alunos, como também os dos próprios pais de família e de filósofos revolucionários que, à maneira do autor de Vigiar e Punir, personificaram nele um daqueles instrumentos sinistros de que – tal como os guardas das prisões e os psiquiatras dos manicómios – o establishment se vale para refrear o espírito crítico e a sã rebeldia de crianças e adolescentes.
Muitos professores acreditaram de muito boa-fé nesta satanização de si mesmos e contribuíram, atirando baldes de azeite para a fogueira, para agravar o estrago fazendo suas algumas das mais disparatadas sequelas da ideologia do Maio de 68 relativamente à educação, como considerar aberrante reprovar os maus alunos, fazê-los repetir o ano e, até, dar classificações e estabelecer uma ordem de preferências no rendimento académico dos estudantes, pois, fazendo semelhantes distinções, propagar-se-ia a nefasta noção de hierarquias, o egoísmo, o individualismo, a negação da igualdade e o racismo. É verdade que estes extremos chegaram a afectar todos os sectores da vida escolar, mas uma das perversas consequências do triunfo das ideias – das diatribes e fantasias – do Maio de 68 foi que por esse motivo se acentuou brutalmente a divisão de classes a partir das salas de aula.
A civilização pós-moderna desarmou moral e politicamente a cultura do nosso tempo e isso explica em boa parte que alguns dos «monstros» que julgávamos extintos para sempre depois da Segunda Guerra Mundial, como o nacionalismo mais extremista e o racismo, tenham ressuscitado e vagueiem novamente no próprio coração do Ocidente, ameaçando uma vez mais os seus valores e princípios democráticos.
O ensino público foi uma das grandes conquistas da França democrática, republicana e laica. Nas suas escolas e colégios, de muito alto nível, as vagas sucessivas de alunos gozavam de uma igualdade de oportunidades que corrigia, em cada nova geração, as assimetrias e privilégios de família e classe, abrindo às crianças e jovens dos sectores mais desfavorecidos o caminho do progresso do êxito profissional e do poder político. A escola pública era um poderoso instrumento de mobilidade social.
O empobrecimento e desordem que o ensino público sofreu, tanto em França como no resto do mundo, deu ao ensino particular, ao qual por razões económicas só tem acesso um sector social minoritário de altos rendimentos, e que sofreu menos os estragos da suposta revolução libertária, um papel preponderante na forja dos dirigentes políticos, profissionais e culturais de hoje e do futuro. Nunca foi tão verdade o «ninguém sabe para quem trabalha». Julgando fazê-lo para construir um mundo verdadeiramente livre, sem repressão, nem alienação nem autoritarismo, os filósofos libertários como Michel Foucault e os seus inconscientes discípulos agiram muito acertadamente para que, graças à grande revolução educativa que propiciaram, os pobres continuassem pobres, os ricos, ricos e os inveterados donos do poder sempre com o chicote nas mãos.»
Leitura complementar: O mito do individualismo extremo do nosso tempo; A insustentável leveza da literatura do nosso tempo; A banalização da política; Da arte moderna; Do erro da equivalência entre culturas à difusão da incultura; Da proliferação de Igrejas à substituição da religião pela alta cultura e aos escapismos contemporâneos; Da libertação sexual ao erotismo como obra de arte; A ausência dos intelectuais da civilização do espectáculo
"Ha hoje provas, devidas a aturadas investigações, de que nunca, durante o dominio de Hespanha, a casa de Bragança affrouxara em suas justas pretenções. D. Theodorico protestara contra o acto iniquo, que entregava a Filipe II a corôa de Portugal. ( ... ). Sondou-se a opinião das pessoas de Lisboa, quanto ao animo dos povos, e se obteve a certeza da affeição delles á casa de Bragança. ( ... )
- Margarida de Saboia, duqueza de Mantua, governava então Portugal, na qualidade de vice-rainha, titulo brilhante a que a corte apenas dava um poder limitado. O segredo dos negocios, e quási toda a auctoridade, tinha-a Miguel de Vasconcellos, portuguez, que exercitando as funcções de secretario d'estado da vice-rainha, era ministro absoluto e independente. Recebia elle directamente as ordens do conde-duque, cuja creatura era, e a quem se tornara bem-quisto e necessario pela habilidade com que tirava de Portugal grandes quantias de dinheiro. Manejando a arma do enredo, realisava os seus mais occultos desejos, promovendo odios e inimisades entre os grandes do reino, nisso assentava a segurança e tranquillidade do ministro, pois estava persuadido que em quanto os cabeças d'estas familias allimentassem odios e vinganças particulares, não se lembrarião de tramar contra o governo.
Em Portugal,só o duque de Bragança podia inquietar Hespanha. D. Theodosio, seu páe, dotado de caracter impetuoso e cheio de foge, deixou-lhe como legado todo o seu odio aos hespanhoes, que fizera sempre olhar como usurpadores da corôa. ( ... )
D. João passava, com justa rasão, por ser um dos homens mais instruidos do seu tempo, havendo rasões para crer que fôra o gosto pelos estudos sérios que o determinou a ligar á sua casa João Pinto Ribeiro, um dos homens mais eminentes d'esta epocha. Este habil jurisconsulto, descendente d'uma familia nobre d'Amarante, de raros conhecimentos, possuia animo ardente, o coração verdadeiramente patriotico, e ia tornar-se o principal agente d'uma conjuração meditada, desde longo tempo, que surgiu de repente por ter sido o resultado de longa combinação politica. ( ... )
Mantinha-se o duque indeciso, e passou ao quarto da duqueza, cuja firme resposta mais o decidiu - « Antes perecer reinando, do que viver obedecendo. Quanto a mim, senhor, prefiro ser rainha uma hora, a ser duqueza toda a vida. Pedro Mendonça, alcaide-mór de Mourão, que fôrra a Villa Viçosa sondar as disposições de D. João, transmitiu aos conjurados uma resposta que muitos delles não esperavão. ( ... )
Chegára enfim o momento dos grandes successos.
Derão nove horas : todas as lojas se conservavão abertas, e nada fazia suppor que ia começar uma grande alteração politica, no bairro onde habitava a duqueza de Mantua. No terreiro, ou largo do paço, havia tanto socego como nos tranquillos dias de Filipe III. D. Miguel d'Almeida, fidalgo velho que visitava a miude o paço, atravessava o limiar d'este quando de repente se ouviu um tiro de pistola. Era o signal convencionado, dado o qual sairão centenares de homens das carruagens, enchendo-se a praça de cavalleiros. O conspirador octogenario, e que representa a antiga fidalguia portugueza, apparece na varanda, e com a espada em punho vbradou ao povo: - « Viva D. João Iv, até agora duque de Bragança, e morrão os traidores que nos roubarão a liberdade ». ( ... )
Pinto Ribeiro, que tinha sido o homem de conselho maduro, e de alta previsão politica, foi também homem de acção na hora do perigo. Os conjurados tinham-se dividido, de modo a que pudessem obstar a qualquer resistencia. Encaminharam-se alguns dos mais ousados, com Pinto á frente, ao quarto de Miguel de Vasconcellos. Encontraram-no escondido num armario. Vasconcellos morreu sem proferir palavra, sendo Antonio Tello quem lhe deu o primeiro tiro de pistola. Os demais conjurados se arremeçaram ao cadaver do indigno ministro, e o lançarão da janella abaixo."
Winston Churchill
Churchill tinha, entre as suas incontáveis qualidades, um predicado que sobressaía claramente: uma ironia aristocrática única e inimitável. Se há algo que falta nas sociedades atomizadas e pós-moderninhas dos nossos dias é, justamente, uma dose bem carregada de ironia. Uma ironia fina que atinja o âmago das coisas. Uma ironia que questione radicalmente o mundo presente. Uma ironia que destempere e fira a banalidade do quotidiano. Sem ela o debate intelectual torna-se invariavelmente num sucedâneo mísero do célebre adágio hobbesiano do "homo homini lupus". Por outras palavras, a morte do pensamento. O sono goyano da razão. Churchill conhecia bem o carácter do homem democrático, posto que temeu, como poucos, as suas deformidades mais nefastas. Mas, foi, também, um dos poucos políticos que ousou, durante toda a sua vida política, lutar contra os vícios inerentes à democracia, usando sempre a ironia. No dia do seu aniversário, recordar a sua memória é, acima de tudo, retomar uma tradição perdida. Um ideário desaparecido nas brumas da memória. Como diria Churchill o fracasso não é fatal, o que importa é tão-só a coragem para continuar a perseverar. Um bom liberal, sobretudo nos dias lassos que correm, sabe que esta é a única alternativa que resta ao ocaso da razão.
Assisti a este belo momento de António Costa, ontem, na Quadratura do Círculo. Começa finalmente a dizer coisas acertadas. E nós, portugueses, em vez de nos deixarmos enredar na narrativa germânica da total e exclusiva responsabilização da nossa parte e consequente penitência - se é certo que os governantes erraram em muita coisa nas últimas décadas, também não deixa de ser porque o sistema financeiro europeu e as políticas da UE contribuíram em larga medida para os desvarios - devíamos começar a levantar a cabeça e a voz, porque a história não é bem como os alemães a querem fazer parecer:
«A situação a que chegámos não foi uma situação do acaso. A União Europeia financiou durante muitos anos Portugal para Portugal deixar de produzir; não foi só nas pescas, não foi só na agricultura, foi também na indústria, por ex. no textil. Nós fomos financiados para desmantelar o textil porque a Alemanha queria (a Alemanha e os outros países como a Alemanha) queriam que abrissemos os nossos mercados ao textil chinês basicamente porque ao abrir os mercados ao textil chinês eles exportavam os teares que produziam, para os chineses produzirem o têxtil que nós deixávamos de produzir. E portanto, esta ideia de que em Portugal houve aqui um conjunto de pessoas que resolveram viver dos subsídios e de não trabalhar e que viveram acima das suas possibilidades é uma mentira inaceitável. Nós orientámos os nossos investimentos públicos e privados em função das opções da União Europeia: em função dos fundos comunitários, em função dos subsídios que foram dados e em função do crédito que foi proporcionado. E portanto, houve um comportamento racional dos agentes económicos em função de uma política induzida pela União Europeia. Portanto não é aceitável agora dizer... podemos todos concluir e acho que devemos concluir que errámos, agora eu não aceito que esse erro seja um erro unilateral dos portugueses. Não, esse foi um erro do conjunto da União Europeia e a União Europeia fez essa opção porque a União Europeia entendeu que era altura de acabar com a sua própria indústria e ser simplesmente uma praça financeira. E é isso que estamos a pagar!»
O internacionalismo foi isto, ainda é isto. Durante anos, a China despejou milhões em armas, dinheiro e vitualhas destinadas à Frelimo. Ainda me recordo das periódicas exposições de inacreditáveis montões de material capturado pelo Exército Português, onde se apresentavam metralhadoras ligeiras e pesadas, lança-foguetes, espingardas, granadas, minas, uniformes, munições e uma infinidade de outros artigos militares. Boquiaberta, a população de Lourenço Marques visitava essas autênticas feiras de armas e compreendia que Portugal não estava em guerra com bandos desgarrados que cruzavam o Rovuma, mas pelo contrário, enfrentava entre outros, dois temíveis inimigos: a União Soviética - e os seus colaboracionistas portugueses dentro e fora de portas - e a China do Sr. Mao Tsé.
Hoje sabe-se o que representou essa interesseira ajuda, onde até pontificou o risonho Olof Palme, esse mesmo que acabaria numa esquina de Estocolmo e às mãos de um terrorista. Traduziu-se naquilo a que numa primeira fase pós-1974 se denominou de "cooperação", logo chegando em tropel manadas de búlgaros, russos, chineses, suecos e outros nórdicos "nossos aliados" - tubarões da pior espécie que tomaram de assalto as florestas e o sector de transportes -, alemães da zona ocupada, checos e cubanos. Repimpadamente se instalaram nas suas novas colónias de exploração e ditaram a lei a um país que decorridos dez anos, tinha visto a população reduzir-se em mais de um milhão de pessoas mortas à fome e pela guerra civil.
O saque não se cingiu a Moçambique, pois em Angola ainda foi mais radical e em todos os sectores, sabendo-se por exemplo, o que sucedeu ao hospital central de Luanda. Perfeitamente equipado pelo governo português, foi de todo o seu material despojado pela gente de Fidel Castro, colocado em contentores e enviado para Havana.
Continua a senda do internacionalismo, desta vez com a quase exclusiva benemérita acção da China. O sector das madeiras é um dos alvos mais apetecíveis, assanhadamente destruindo florestas e complementando outras malfeitorias que durante décadas arrasaram as pescas, a vida selvagem - elefantes, crocodilos, rinocerontes - e cavocando o solo, extraíram prodigiosas quantidades de minérios.
O internacionalismo, esse belo investimento com garantido retorno usurário.
«Cada um de nós, na sua vida realizada e humana, não é senão a caricatura da sua própria alma. Somos sempre menos do que somos. Somos sempre a traição daquilo que quisemos ser e que, por isso, intimamente e verdadeiramente somos. A nossa vida é a nossa deselegância, o bobo eterno que a acompanha, e às vezes diverte, a divina Realeza.»
Os liberais apontam o dedo aos socialistas, estes apontam o dedo aos primeiros, e os constitucionalistas (os verdadeiros e os putativos) gritam "isso é inconstitucional" a toda a hora quando se formos a ver bem, há muitas coisas que se fizeram nas últimas décadas que são inconstitucionais. O Dragão resume bem esta loucura, num texto que já li umas quantas vezes e que aqui deixo na íntegra:
Das duas, uma. Ou João Proença vive num mundo à parte, ou, o que é bem pior, é intelectualmente desonesto. Creio que a segunda opção é a mais acertada. Afirmar, com toda a fleuma deste mundo, que a UGT desaprova a utilização do fundo de estabilização financeira da Segurança Social como garantia para empréstimos do Estado é decididamente o último grito do anedotário político. Resta perguntar, assim como que à maneira de Baptista Bastos, onde estava João Proença quando o Governo do exilado parisiense dissipou os recursos desse mesmo fundo na garantia de empréstimos do Estado?
Gosto de chinoiseries europeias e daquelas outras originais e que luxuosamente nos apresentam porcelanas, pedras-sabão, forros, cerâmicas, jades rendilhados, caixas lacadas, ou algum daquele mobiliário vermelho e dourado, do mais discreto. Também desde sempre soube apreciar um luso-tique imperial que agora a quase todos passa despercebido nas ruas da reconstrução da Baixa de Lisboa, esquecidos os portugueses do olhar para aqueles tectos de esquinas em bico, talvez inspirados na nossa antiga presença em Macau. Mas este é um exclusivo pelouro das nossas incompetentes Câmaras Municipais olissiponenses, esses verdejantes pastos de saloísmo militante.
Falando de política, o caso é outro.
Parece estar a surgir um lobby pró-chinês em Portugal e vai obedecendo ao percurso das etapas que normalmente se verificam antes da expansão ao sector político. Surgem alguns comentadores nos telejornais - lembram-se do lobby pró-árabe do Dr. Ângelo Correia? - e depois, dando alguma seriedade académica aos assuntos, teremos uns tantos professores defendendo o impossível.
A notícia da redução da presença americana nas Lajes despoletou um sem número de opiniões, algumas delas roçando a fábula da raposa e das uvas. Numa entrevista ao Expresso, José Filipe Pinto coloca a questão da Base das Lajes no plano de contrapartidas a receber por um Portugal que tem sido demasiadamente modesto nas suas reivindicações. Há muito desaparecida a chantagem que Washington sobre nós exercia durante o Império, deveu-se à falta de ambição, comodismo, desinteresse ou simples inépcia das autoridades de Lisboa, o não encetar de conversações para um novo e proveitoso acordo entre o nosso país e os EUA. Pior ainda, o fim da URSS e do Pacto de Varsóvia serviu perfeitamente os desígnios americanos, apresentando estes algum aparente desinteresse pela base. Todos sabem que a realidade é outra e a sugestão deixada, é tão credível ou equivalente a uma imaginada cedência britânica da Base de Gibraltar à marinha chinesa, ou, cumprindo aquilo que os Aliados de 1914 prometeram ao Czar, entregar-se Constantinopla aos russos. Enfim, um académico "jornal do incrível".
O professor da omnipresente Lusófona declara agora o interesse chinês na expansão para ocidente, como se isso fosse pela ainda potência global considerado como um acto sem consequências de maior. Pois estará totalmente enganado, se por um momento julgar possível o hastear dos pendões maoístas em qualquer das ilhas do Atlântico Norte. Poderá aventar-se a hipótese de os chineses connosco estabelecerem acordos de exploração dos imaginados recursos que a chamada Zona Exclusiva possa propiciar, mas daí à presença de militares no arquipélago, vai uma incomensurável distância. Os americanos logicamente poderão aplicar a há muito esquecida Doutrina de Monroe e ainda tirarem o pleno proveito da numerosa comunidade açoriana radicada nos EUA. Em suma, corremos o real perigo de perdermos as ilhas num curto espaço de tempo. Teríamos então uma reedição do "efeito Barros Gomes" que nos seus perigosos jogos de sedução do Kaiser, nos propiciou o malfadado Ultimatum. Qualquer subalterno nas Necessidades disso tem a plena consciência.
O estabelecimento de uma base militar chinesa nos Açores consiste num cenário Kriegspiel muito imaginativo e apenas conjecturável no caso de uma súbita catástrofe que reduzisse os Estados Unidos a uma potência menor e sem qualquer capacidade de resposta. Tal situação pressuporia igualmente a inexistência da NATO e a finlandização completa da Europa, no caso de uma bastante improvável aquiescência russa aos desígnios de Pequim. Estamos no plano das catástrofes e das suposições que para alguns, não deixarão de ser um wishful thinking sem nexo. Não valerá a pena José Filipe Pinto evocar os interesses da lusofonia, se estes nos forem apresentados como simples instrumentos da China.
Podemos aceitar que muitos desejam - da esquerda dos festivais até aos habituais salivados apetites por negócios - a ruptura da nossa relação privilegiada com os Estados Unidos e existem bons argumentos históricos para tal: as quase indecentes pressões lobbistas exercidas sobre o nosso país durante a década de trinta - visando a cedência de Angola para a instalação de um possível Estado judaico, sugestão que partiu de gente ligada a Roosevelt -; os ímpetos belicosos que após o deflagrar da IIGM pretenderam a ocupação violenta dos Açores e o despojar das nossas possessões na Ásia-Pacifico; o envolvimento da gente de Kennedy no assunto Goa; o descarado, vergonho patrocínio de movimentos terroristas em Angola e Moçambique; o ostensivo boicote e a série de proibições quanto ao uso de equipamento militar durante a Guerra de África; o escandaloso desleixo que permitiu ao partido soviético a descolonização exemplar; a tese Kissinger que em 1975 julgou possível um Portugal que "servisse de exemplo" ao resto da Europa; o Caso Timor e o envolvimento da administração Ford; a falta de assistência quanto às imperiosas necessidades de modernização das nossas Forças Armadas - desde o equipamento até à própria doutrina e reformulação do nosso conceito de Defesa Nacional -, etc, etc. A lista é longa, quase infame, mas a realpolitik exige-nos a moderação das pulsões, aspecto nada negligenciável nas relações entre Estados, principalmente quando um deles, Portugal, terá por estes dias atingido o ponto mais baixo da sua já longa história.
O governo apresentou ontem uma obra relativa ás nossas reivindicações atlânticas e parece ter chegado o momento das palavras darem o esperado lugar aos actos concretos. Há que ter obsessivamente presente o facto de os Açores serem a primeira linha de defesa americana no Atlântico e assim continuarão por muito tempo.
Os Açores encerram importantes potencialidades de âmbito económico e a sua privilegiada situação nas grandes rotas marítimas, decididamente confirmam o seu valor estratégico. É precisamente no capítulo da economia que as decisões deverão ser rapidamente tomadas, angariando-se investidores - europeus, americanos, chineses, japoneses, da CPLP, todos servirão -, dando os nossos governos carta branca e fundos à investigação e inevitavelmente num futuro não muito distante, à criação das infra-estruturas que as virtualidades económicas tornarem urgentes.
Tudo o mais não passa de uma chinoiserie ao gosto que tão em voga esteve nos dourados salões palacianos setecentistas.
No âmbito do projecto "Educar", promovido pela Causa Real, decorrerá hoje, pelas 16h30m, na Escola Superior de Educação João de Deus, a primeira de uma série de conferências e debates dedicados às temáticas da democracia, regime político e cidadania em Portugal no século XXI. Os oradores serão o Professor José Adelino Maltez e eu próprio. Naturalmente, a conferência é aberta ao público e a entrada é livre.
Eu assisti a Jack White e a The Black Keys. E alguém na Blitz só pode ter andado a beber qualquer coisa esquisita, porque nem de perto, nem de longe "foi quase tão incendiário quanto Jack White no Coliseu." E "Auerbach deu ainda à audiência lisboeta outra coisa que ela muito preza: conversa e alguma bajulação" é simplesmente mentira. Mal interagiram com o público. Que artigo mais intrigante...
Leitura complementar: Um concerto aquém das expectativas.