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Ana Moura e o israelita Idan Raichel.
"Now, it seems to me that the act of settling, which is the origin of civilisation, involves both a radical transition in our relation to the earth — the transition known in other terms as that from hunter-gatherer to farmer — and also a new sense of belonging. The settled people do not belong only to each other: they belong to a place, and out of that sense of shared roots there grow the farm, the village and the city. Vegetation cults are the oldest and most deeply rooted in the unconscious, since they are the cults that drive out the totemism of the hunter-gatherer and celebrate the earth itself, as the willing accomplice in our bid to stay put.
The new farming economy, and the city that grows from it, generate in us a sense of the holiness of the planted crop, and in particular of the staple food — which is grass, usually in the form of corn or rice — and the vine that wraps the trees above it. The fruit of the vine can be fermented and so stored in a sterilised form. It provides a place and the things that grow there with a memory. At some level, I venture to suggest, the experience of wine is a recuperation of that original cult whereby the land was settled and the city built. And what we taste in the wine is not just the fruit and its ferment, but also the peculiar flavour of a landscape to which the gods have been invited and where they have found a home.
Grain, too, can be fermented, and in its way will provide a similar tribute to the place and our way of settling it. Aficionados of real ale and malt whisky are aware of this, and know that they are tasting the rains and the soils of the places that they visit in the glass and making contact across the centuries with the people who put down roots there.
Such experiences are especially valuable to us, now that the world is accelerating to inhuman speed. The need to sit quietly and be at peace with the dead is one of the greatest requirements of a civilised life. And to do this in company, conversing all evening with a glass in your hand is to be reconciled to life in a way that few people now — in the age of the screen and the scream — achieve."
- Roger Scruton
E é só para dizer que me provoca bocejos e um enorme fastio, não só porque a comunicação social e o país político parecem não ter mais nada sobre que falar, mas também, e especialmente, porque Portugal foi e continua a ser corrompido e desgovernado de formas e feitios que, na sua larga maioria, são ainda desconhecidos pela generalidade dos portugueses e são os mesmos que agora se armam em virgens impolutas e ofendidas a respeito dos Swaps que são os principais responsáveis por estes e pelo descalabro repulsivo que é o estado a que chegámos. Enquanto uns pobres de espírito se entretêm a brincar aos pobrezinhos, outros vão-se entretendo a empobrecer-nos material e espiritualmente brincando aos politicozinhos. Estão todos bem uns para os outros neste regime de paz podre que, paradoxalmente, tanto dá razão à luta de classes de Marx como ao diagnóstico de Hayek quanto à perversão do ideal democrático operada pelos políticos e coligações de interesses organizados. Mas são todos anjos e santos e é tudo em nome do interesse nacional, claro está.
«O que acho é que essas pessoas, esses partidos, essas instituições, com nome, deveriam ser tornadas públicas: quem é que fez o quê e quem é que assinou o quê, não para meter na cadeia, mas para os impedir de voltar a fazer política, para os impedir de voltar a ter acesso às decisões.»
Não são apenas os colossos financeiros que devem nutrir a nossa desconfiança. Não são apenas os bancos de Wall Street e as agências de rating que devem ser o alvo da nossa preocupação. Vivemos num mundo de fusões e aquisições, de intervenientes cada vez maiores que detêm o controlo sobre o nosso dinheiro, sobre as nossas ideias e sobre as nossas preferências. Sirvo-me do mais recente exemplo de gigantismo que está prestes a subjugar ainda mais o nosso mundo; a fusão das duas maiores agências de publicidade do mundo para se tornarem na maior de todas. Os mercados, e em particular os consumidores, estarão deste modo ainda mais à mercê de uma força irresistível, uma espécie de cartel do champô e da pasta dentífrica. É isso que está em causa num ambiente de défice democrático, onde a força de uma minoria esmaga as aspirações dos pequenos, as liberdades individuais. O mesmo sucede no meio editorial - também estamos sujeitos a uma lavagem, embora neste caso seja mental, cultural. Os principais grupos editoriais do mundo decidem o que os neurónios do resto do mundo devem consumir. Numa sala pejada de executivos, decisões importantes são tomadas para acalmar os ânimos, domar os leitores mais irreverentes - os potenciais destabilizadores de sistemas de poder. São estes grupos de comunicação que formatam o nosso modo de pensar, de reinvindicar. São estes monstros que decidem por nós o que é válido e o que deve ser obviado. Embora os editores se afirmem como intelectualmente independentes, em abono da verdade não passam de agentes de interesses dissimulados em literatura light, parágrafos inofensivos - para não causar muito dano. Nesta época de convulsões, em que apontamos baterias a políticos e banqueiros, seria bom que não perdêssemos a perspectiva, a vista dos actores que jogam no mesmo tabuleiro de controlo e opressão. A liberdade intelectual já não é o que era. O pensamento e a reflexão profundos estão ao serviço do bottomline, do saldo positivo. Estes monstros apenas têm uma coisa pregada na mira da balança; o lucro. A qualidade é um tema secundário, não tem importância, desde que se possam embalar as expectativas cada vez mais baixas de indivíduos levados na incoerência. Uma corrente onde não abunda massa crítica, espessa.
Estive hoje em Vila Viçosa, mostrando a localidade a amigos franceses. Um local limpo e com o património em bom estado. O Palácio, grandioso e bem cuidado como sempre esteve. O pessoal de serviço foi amável e no jardim vive uma colónia de gatos amistosos e bem tratados. Serão descendentes daqueles que por lá andavam e eram protegidos nos tempos em que D. Carlos espairecia naquela vila alentejana?
Tive mesmo de o puxar para o passeio, pois o turista ocasional ia sendo atropelado pelo único carro que circulava na Vila
Nas ruas via-se pouca gente e quase nenhuns turistas da crise. A missa esteve cheia e com um grupo de escuteiros cantores que fizeram uma festa. Na sede do Grupo Filarmónico União Calipolense, estava hasteada a sua bandeira bipartida a azul e branco, pois ali também não cederam. Bom sinal.
Vê-se que não estamos na Lisboa da temível dupla Costa & Salgado CML Comp. Lda.
A bela "manjedoura" da Pousada D. João IV
Sinal dos tempos: à direita, a viatura de um tradicional agricultor alentejano. À esquerda, o presumível "carro de lavoura" de um seu émulo dos alegados subsídios e fundos estruturais da PAC
* Apenas uma nota a destoar: a esquisitíssima estátua erguida em memória do Dr. João Augusto Couto Jardim. Inacreditável, deviam odiar o pobre homem!
José Sócrates comenta a execução orçamental. Por momentos julguei que tinha entrado numa dimensão paralela. Quando caí em mim, lembrei-me que isto é pago pelo erário público. Antes estivesse noutra dimensão.
O ódio a Paulo Portas continua em alta. A razão de tamanha cegueira é fácil de perscrutar: o regime tem os seus favoritos, e, numa cultura de favoritismo distribuído a preceito, o ego alheio é sempre uma ameaça à estabilidade cósmica do modo-habitual-de-fazer-as-coisas. Soares é um bom exemplo do amiguismo atrás referido. Diz o papá do regime, na entrevista que deu, hoje, ao periódico I, que "a promoção do vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, que Cavaco Silva teve de engolir depois de ter dito publicamente o contrário, como o país todo sabe, não augura nada de bom". Não augura nada de bom para quem? Para os fautores do amiguismo socialista? Provavelmente, não. Para o país, a resposta é, muito provavelmente, diferente. Mais à frente, Soares acrescenta que Portas não é "a pessoa indicada para discutir com a troika". Não é? Porquê? António Costa é a pessoa mais indicada? Porque é que Paulo Portas não é a personalidade política mais indicada para essa negociação? A resposta não é difícil de antolhar: se Portas conseguir, com bons resultados, acomodar os interesses nacionais nas negociações a encetar com a troika, é evidente que o peso político do actual vice-primeiro-ministro subirá em flecha. Como é simples de calcular, os donos do regime não desejam um desfecho em que Paulo Portas possa capitalizar politicamente os ganhos de uma boa negociação com os credores internacionais. O que importa a este gente é que o Governo falhe clamorosamente na concretização dos objectivos a que se propôs. Quando o ódio é assim tão pronunciado, o melhor mesmo é agir com celeridade, acautelando o que verdadeiramente interessa: o bem-estar dos portugueses.
Hollande acabou ou não com a austeridade?
"Honro-me de, com Manuel Alegre, termos evitado que alguns membros significativos do PS se demitissem nos dias anteriores a Seguro dizer que não havia acordo. Por mim, nunca acreditei que aquelas conversações fossem feitas sem que houvesse uma cisão grave no PS. Seguro mandou-me um recado por Almeida Santos a dizer que estava muito magoado comigo. Ora eu também estou com ele, principalmente depois da entrevista que deu à inteligente entrevistadora da SIC, Ana Lourenço, em que só falou uma vez e de passagem do PS, como se fosse o seu dono. Ora não é. É apenas o seu líder, eleito por esmagadora maioria, pelo congresso, a que assisti, é verdade. Mas isso não lhe dá o direito a falar sempre na primeira pessoa. Pelo contrário."
Nota: a reconciliação do papá Soares com o poetastro que ninguém cala já espoletou alguma mossa no seio do Partido Socialista. O partido jacobineiro ficará, doravante, em suspenso. O aviso foi claríssimo: se Seguro quiser pensar fora da caixa, isto partindo do pressuposto de que Seguro pensa e raciocina, terá, certamente, pela frente os braços ferinos dos dois senadores deste regime bananeiro. O mote está dado: ou Seguro cumpre escrupulosamente as prescrições que o desvairamento regimental impõe, ou, então, será corrido sem apelo nem agravo.
" Tanto Manuel Alegre como eu evitámos que eles se demitissem antes de Seguro se pronunciar. Mas confesso-lhe que fiquei desiludido com o discurso brando com que anunciou o desacordo e deixou algumas portas abertas para uma nova discussão. Também fiquei desiludido com a entrevista que deu depois a Ana Lourenço, como já disse atrás, em que numa hora falou sobre ele e uma só vez no PS."
Nota: há que repetir até à exaustão os resultados maravilhosos da reconciliação jacobineira entre o ex-presidente e o poestastro que ninguém cala.
"Têm o sentido de que o que conta é a austeridade e que a pobreza das pessoas e as próprias pessoas que se lixem, para usar o termo que hoje é muito usado. Os valores não contam. A ética e o humanismo, que permaneceram depois da Segunda Guerra Mundial hoje são motivo de riso dos tecnocratas, que enchem os bolsos e nada mais. Pois bem, isso vai ter de mudar ou a Europa cai no abismo e nada nos vale. Não creio que sejamos tão estúpidos que caiamos nesse abismo. Por isso tenhamos esperança. E acreditemos nos nossos valores. As troikas que se lixem, senhor Presidente da República e senhores primeiro-ministro e vice--primeiro-ministro."
Nota: Pois é, caríssimo Pai da Democracia, de facto, os tecnocratas sequiosos de poder e dinheiro enchem os bolsos e nada mais. Essa elite penduriqueira vive, unicamente, para roubar os desvalidos da sorte e da fortuna. E roubam para dar a quem? Roubam, entre outras coisas, para dar o vil metal a uma estranha fundação, patrocinada por um ex-presidente alcandorado a Pai da Democracia, que vive, note-se, da esmola do contribuinte. Um belíssimo exemplo, diga-se de passagem. Fixem isto, caros leitores: são sempre os "outros" que roubam. Já os jacobinos, que, curiosamente, sempre viveram na esfera do poder, negociando favores, trocas e baldrocas, sãos uns santinhos. É esta a lógica do socialismo nacional. Habituem-se.
"Estou encantado com este Papa. Tenho por ele um grande respeito e uma enorme admiração. É a grande figura deste nosso século xxi, no plano não só religioso, mas político, social e sobretudo humano. E note--se que conheci pessoalmente muitos Papas, de Paulo VI a Bento XVI. Não tive ainda a oportunidade de conhecer o actual. Digo-o em função da sua excepcional humildade, da sua preocupação com os pobres, contra a chamada austeridade (que igualmente abomino) e a luta pela igualdade entre homens e mulheres, católicos e não católicos, crentes e não crentes e de todas as outras culturas e religiões. É um Papa de um humanismo excepcional, simples, amigo dos pobres e das crianças e que visita os presos e não tem medo de nada e de ninguém. É o maior homem deste século, a favor da paz e desejando mais igualdade. Só tem paralelo com Barack Obama, um grande presidente e um humanista como Sua Santidade. Ambos contra a nefasta austeridade e em favor das pessoas acima de tudo."
Nota: começo, muito sinceramente, a pensar, com algum receio, no real significado político, social e teológico do papado do Papa Francisco. Um elogio de Soares é, em qualquer parte do mundo, uma mordedura venenosa. O veneno não é letal, mas provoca, decerto, uma agitação insabubre. Quando alguém diz, sem se rir, que Obama está a "favor das pessoas acima de tudo", é, certamente, caso para pensar na sanidade mental dessa pessoa. Contudo, quando esse alguém é Mário Soares, não é de insanidade mental que estamos a falar, mas, sim, de desonestidade intelectual. Mais: comparar o Papa Francisco a Barack Obama, como se se tratasse de uma comparação usada e normal, revela que Soares perdeu completamente o domínio da realidade. O pensamento mágico produz, de feito, alucinações muito perigosas. Ademais, desde quando é que Obama é um humanista excepcional que age "em favor das pessoas acima de tudo"? Haja bom senso.
"Quanto ao Senhor Presidente da República, que se diz católico, nunca o ouvi falar do Papa para exaltar a sua figura. E ao novo governo, incluindo Portas, que também se diz católico, também não. O novo governo só pensa em mais austeridade, como o Presidente no pós-troika. Sem uma palavra a favor do Papa, que não conta para eles. O Presidente, com o seu governo querido (até pelo menos 2015, como disse), não fala da situação do povo português, cada vez mais desesperada. E agora a Igreja também está um tanto silenciosa. E os fiéis também não contam? Não me parece, porque os fiéis vão necessariamente gostar deste Papa e o silêncio da Igreja está--lhes a custar muito. Como o do Presidente, que de católico a sério parece não ter nada. Acima de tudo para ele está o pós-troika e o dinheiro. Quanto às pessoas, nunca falou delas, como fez no Dia de Camões, a quem nem sequer se referiu. Para o Presidente também não conta, tal como o nosso Prémio Nobel, José Saramago. Pobre Presidente, desgraçado Portugal."
Nota: A que Igreja se refere Mário Soares? Pelos vistos, o papá do regime vive numa realidade paralela, prenhe de símbolos e alegorias jacobineiras, em que a Igreja e os fiéis seguem à risca os seus comandos fantasiosos. Para Soares, comparar o Papa a Obama é um exercício, em si, insuficiente, pelo que há que inocular nos pobres leitores do periódico I a imaginativa crença de que a Igreja tem estado, estranhamente, silenciosa. Uma coisa é certa: com Soares o riso é garantido. E interminável. Valha-nos isso.
Entrevista de Mário Soares ao I.
Eneias abandona Tróia, Federico Barocci, 1598
Leituras de fim-de-semana:
"Todos têm o seu dia marcado. Para todos
é tempo de viver finito e breve.
Mas alargar seu nome pela fama
é que está ao dispor de ânimo firme.
Quantos filhos de deuses sucumbiram
junto às altas muralhas dos Troianos.
Sárpedon, o meu filho, foi um deles.
Também há para Turno seu destino,
e destino o convoca, que é já tempo."
Eneida, Virgílio, tradução do Prof. Agostinho da Silva
Nos últimos quinze anos visitei a Áustria perto de vinte vezes. Não fui na qualidade de turista nem na condição de cidadão. Desloquei-me de acordo com o meu perfil híbrido, remexido pelo pulsar de múltiplas culturas e nações que residem no meu espírito. Pratico uma modalidade de abnegação patriótica - uma disciplina crítica que não coloca nenhum país num pedestal de superioridade. As idiossincrasias nacionais funcionam como uma impressão digital - não há forma de se lhes escapar. As coisas boas e más estão presentes nos quatro cantos cardinais, nas penínsulas e nas centralidades continentais. Nesta minha derradeira deslocação, viajei do reino da Austeridade para um país que já viveu essa experiência no pós-segunda Grande Guerra, mas, que por força do destino económico e social do presente, deixou cair o termo do seu léxico quotidiano, com todas as conotações nefastas a ela associada. A Áustria não tem noção do drama do sul da Europa. No desconcerto das nações europeias, a Áustria permanece na sua ilha de contentamento e esplendor. A sua taxa de desemprego ronda os 4% e a sua posição geo-económica significa que mantém intensas trocas comerciais com os países fronteiriços - uma boa meia dúzia de vizinhos. Como é natural nunca deixei de comparar realidades, com o intuito de tentar perceber as razões dos sucessos e descalabros. Em duas semanas de estadia em Graz (considerada a cidade do mundo com melhor qualidade de vida), vi menos Mercedes, Audis e BMWs por alcatrão quadrado do que em Portugal. Não escutei buzinas, e no centro da cidade 30km/h são 30km/h (poupa-se combustível, nervos e acidentes). Estacionar no centro da cidade implica preços proibitivos - paguei por um devaneio de 6 horas 40 euros! Mas tudo isto tem um custo. A Áustria por viver no auge do conforto e segurança económica e social (por exemplo, o subsídio por filho chega aos €400 mensais até aos quatro anos de idade para estimular a taxa de natalidade) desligou o motor de reflexão sobre os problemas dos outros. O extinto império Austríaco viu nascer tantas escolas de excelência, que facilmente o país vive a plenitude dessa falsa autosuficiência intelectual e cultural. A escola Austríaca de economia moldou tantas outras como a de Chicago ou a de Londres; a psicanalise fundada na persona de Freud e companhia também concedeu essa ilusão de vantagem. E não esqueçamos que a Áustria conseguiu convencer o mundo inteiro que Hitler era Alemão e Beethoven Austríaco, este último reunido com os grandes Haydn ou Mozart. Mas também não devemos omitir que Simon Wiesenthal - o caça nazis -, tinha a sua sede de operações em Viena. Ou seja, a noção de que há uma responsabilidade histórica paira no ar, e, condiciona, se não todos os cidadãos, pelos menos alguns pensadores maiores, incomodados pelas acções colectivas e os desígnios da nação. Thomas Bernard mais antigo e Robert Menasse do nosso tempo, para citar dois exemplos de pensadores irrequietos com a sua identidade. Todos os países vivem o movimento pendular das suas acções - um relógio que obedece a lógicas de paragens e continuidades que obriga os países a reverem a sua condição. Portugal, distante que está da Áustria, partilha algumas particularidades excêntricas. O domínio da língua falada e escrita parece obedecer a uma matriz semelhante de relacionamento ou paternidade. A Áustria está para a Alemanha como o Brasil está para Portugal. Partilham a mesma árvore linguística, mas os desvios no modo de expressar acontecem, num caso, de um modo natural, e noutro, de acordo com uma certa resistência nacionalista. A Alemanha não se sente ameaçada pelo vizinho do lado que usa uma palavra distinta para batata. São estes detalhes que ajudam a formar uma imagem incompleta das terras e das suas gentes. Ao fim de duas semanas, ou de uma vida, não podemos cair na tentação da redução simplista, do certo ou errado, do bom ou o mau. Os vinhos tintos da Áustria não aquecem a alma como os Portugueses, mas os brancos são excepcionais. Não menciono a qualidade do azeite - este vem da Grécia e não se compara ao trago nacional, profundo e perfumado. Faz bem sair para regressar e tornar a partir. Portugal dá luta e isso não deve ser menosprezado.
Inacreditável. Angola ainda está muito longe de voltar a ser o país progressivo que era em 1974, mas o que aqui se diz de Portugal e dos portugueses, leva-nos a uma dimensão surreal. Será mesmo um esquisito caso de fumo sem fogo?