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Parabéns aos blogs do Sapo pelos seus 10 anos de existência!
Aqui seguem as minhas dez razões de felicitação:
1. A posição independente da equipa de gestores dos blogs SAPO que concede voz (e texto!) às mais diversas e excêntricas orientações políticas e culturais - Os blogs Sapo são por isso contribuintes líquidos para a Democracia em Portugal.
2. O modo como os blogs "desalinham" os opinião makers, colocando-os em contraste com posições discordantes.
3. A promoção do debate transversal que coloca em diálogo os blogs de natureza distinta.
4. O estímulo à produção de conteúdos alternativos ao mainstream (até ao dia em que os blogs se tornam mainstream!)
5. A oferta da possibilidade ao cidadão comum de se fazer ouvir em representação dos seus interesses particulares ou de outra ordem colectiva.
6. O canal de interacção que os blogs SAPO representa na comunicação entre o poder político e os destinatários do mesmo.
7. A produção intelectual a que estão obrigados os bloggers e a sua procura no equilíbrio da mensagem a veicular.
8. A perfeita integração dos conteúdos dos blogs na corrente sanguínea das redes sociais.
9. A dimensão não onerosa do projecto blogs SAPO que oferece a possibilidade de configuração e design a título gratuíto.
10. E por último; a dinâmica de procura de inovação da equipa dos blogs SAPO que rompe fronteiras em busca da excelência e do verdadeiro serviço público.
Afinal o PSD e o PS também são portas - são portas fechadas. Os dois partidos anunciam que se vão fazer à estrada para debater com os militantes o orçamento de Estado de 2014, mas será à porta fechada, apenas para os ideologicamente alinhados. Ou seja, os membros da sociedade civil não interessam ao menino Jesus. Pelos vistos, os cidadãos de Portugal servem para eleger políticos, mas não têm a capacidade intelectual para debater a ferramenta de gestão mais importante do país. Referem simpatizantes, mas no fôlego seguinte, desmentem-se: "São convidados para participar nestes plenários os militantes e os candidatos autárquicos independentes nas listas do PS". A abertura à sociedade civil parece assustar os que estão no poder e aqueles que não se sabe se lá chegarão. Eu sei que o PSD pode até temer que atirem à cabeça dos oradores ovos moles e afins, mas o PS, que se diz diferente, até parece que anda a medo. Parece que tem receio que lhes atirem tartes - aquelas de palhaço de circo montado. A procissão dos partidos por destinos escolhidos a dedo, revela que buscam apoio nas suas bases partidárias locais, enquanto o país desfiliado continua a passar cartão vermelho às políticas de austeridade. O PS, embora não o declare, anda em movimentações internacionais e sabe que a austeridade também lhe caberá em sorte se a fava sair a António José Seguro nas legislativas. Será que nunca irão aprender? Lembram-se daquele evento do governo que decorreu na praça dos Restauradores? A conferência à porta fechada sobre o estado da segurança social, a saúde e não sei que mais? Pois. O povo não gostou de ter sido barrado à porta do palácio Foz. O Seguro não tem nada de explicar aos militantes. Tem de falar aos portugueses, mas está na cara que não é capaz. Em vez de se fecharem em copas confortáveis, protegidos da inconveniência de certas ideias, devem expôr-se à dureza dos factos, escutar com atenção a inteligência daqueles que não estão interessados no poder pelo poder. Deveriam ouvir e tomar nota das recomendações de pensadores que estão a milhas dos aparelhos partidários. A insistência nos fundamentos ideológicos dos militantes é um beco sem saída. Foram esses militantes que escolheram os lideres que se conhecem. Os que estão no poder, os que o desejam e aqueles que regressaram de um exílio voluntário.
Eu sei que é mais fácil falar do que fazer. Eu sei que é mais fácil imaginar o fogo real do que queimar as mãos. Eu sei que provavelmente produzo reflexões de barriga cheia, corpo meio-cheio que mesmo assim transborda de reclamações, amparado pelo conforto da relativa segurança. Mas prossigo com o meu intento de escrutinar o guião do desemprego. Tento, sem grande aval, reproduzir os passos dessa condição de agrafo. O simulacro da abstinência laboral não passará disso mesmo, de um exercício incompleto - a ficção mais distante que próxima, da substância, um dia na vida de um dispensado. Se a depressão atrasa os movimentos e retarda o despertador como pilha falida, a fala que não sai, anula o gosto dos outros e do café. E as horas, essas que custam mais, agora passam mais vagarosas e ostentam outra tarifa - encarregam-se de arrastar o calendário para um outro temporal. A cara, salpicada pela neblina ranhosa da noite, já não carece da lavagem porque ninguém verá a rosada, a bochecha - a barba áspera tratará do resto. Camufla o mal-estar e uma parte da comichão, do bicho que tomou a floresta como sua lua. E a mãe brada do corredor que já são horas de levantar. O café já abriu para os rotos enquanto o pão chegou de véspera, fermentado pela dureza, agrafado pelo dente que sobreviveu à mordedura de uma sobra. O matutino que sobeja serve para a descasca da batata, mas ainda se vislumbra o craque da bola, o brilho dos olhos que condiz com o brinco, o resultado da taça. A fila que rodopia o quarteirão é totalmente dele. É dele. É ele que é ela que é ele que já foi ele - agora mero elo. Como linhas. Como linhas cruzadas ao almoço. Esparguete que se contorce como engodo de si - morde-se. E há tardes também habilitadas a idêntico desfecho, alinhadas debaixo de um sexto do quadrante, a parte da bússola que aponta para uma alvorada anunciada em sessões contínuas de desavindos com o engano. A luz está ao virar da esquina - dizem eles. A luz aprendeu a dobrar as curvas - garimpam eles. E a conversa faz parte do desmaio, da ocasião tornada obesa, dominante. Escuto apenas gargarejos de palavras, oiço a proveniência duvidosa, vejo as naturezas quase mortas de um juízo acertado, acartado às costas para aquecer a noite ferida que se avizinha. Mas ainda fala sobre a força para a derradeira bomba de ar - quer encher os pneus da pedaleira para rumar, sem assentar os pés em terra. Quase voar, quase voltar a ter razões que chegam, sobressalentes. O pedido do outro passa a ser religião. A encomenda para durar uma época apenas. Mais tarde chegará outro desejo, aquele foi adiado pelo freio - o travão de emergência onde a mão se enforca, a mão anónima que puxa a alavanca e trava o eléctrico, e o que escapa por entre o dia é mais um não igual ao anterior, semelhante ao não que se segue. Como mandar recados na volta do correio.
...um facto que passa despercebido à grande maioria dos portugueses, é o vivo interesse que os alegados "retornados" votam às relações que mantemos com os países que outrora pertenceram ao Ultramar português. Os maiores aliados dos novos países de expressão portuguesa, são aqueles que lá tendo nascido e vivido antes de 1975, foram obrigados a para sempre abandonar a sua terra.
De foro em foro, de site em site, a opinião é unânime. Não existe revanchismo algum, apenas o desejo de tudo poder passar-se da melhor forma possível. O rancor é um absurdo reservado a uma ínfima minoria e observamos facilmente a capacidade de os portugueses manterem a lealdade para com as duas pátrias a que pertencerão até ao fim das suas vidas. Se ocasionalmente é possível depararmos com observações eivadas de ressentimento, este dirige-se em primeiro lugar para aqueles que abriram o caminho à limpeza étnica, ao roubo, humilhação e prepotência. Muitos crimes permitiram e pior ainda, neles colaboraram entusiasticamente. Conhecem-se os nomes e sabemos onde vivem. Talvez aqui bem perto, ao virar da esquina.
Quem assumiu o poder na Guiné, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique, apenas cumpriu o papel que o momento histórico a isso convencionalmente os obrigou. Fizeram-no da pior forma, é certo, mas a posição portuguesa não era a de derrotado no terreno. Nem uma aldeia, uma vila ou cidade se perdeu. Nem uma. Não valerá a pena negarmos a evidência que até os próprios soviéticos - excluindo-se o caso da Guiné - reconheciam.
Este ataque à Embaixada de Angola segue a tradição da bandoleiragem que em 1975 destruiu a Embaixada de Espanha. Prejudica Portugal e isto é deliberado.
Alguns apontamentos interessantes, outros altamente discutíveis e demasiadas interpretações abusivas que Zizek tenta passar como verdades alicerçadas na psicanálise de Jacques Lacan compõem The Pervert's Guide to Ideology, um filme que irá provavelmente ser um sucesso de bilheteira num Ocidente cada vez mais à deriva e em que a larga maioria dos espectadores provavelmente não terá recursos intelectuais para o desmontar e criticar, especialmente quanto a erros de palmatória (por exemplo, Zizek afirma que Kant defende a ideia de nobre mentira de Platão, quando, na verdade, Kant é um dos poucos grandes filósofos a ter defendido que mentir é sempre moralmente errado, estando na companhia apenas de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino). Mais uma lança avançada do marxismo cultural contra o capitalismo, mas que acaba numa mão cheia de nada em que aquilo que me parece mais importante reter, especialmente em resultado do óbvio viés ideológico e de várias deficiências intelectuais de Zizek, é que este alegado filósofo é extremamente sobrevalorizado. Que seja um dos mais reputados intelectuais mundiais diz muito da degenerescência intelectual do Ocidente.
Só faltava Passos Coelho oficializar o regresso de José Sócrates. Ao fazer comparações entre o seu reinado e o do outro (o "outro" é um termo politicamente incorrecto, eu sei), reconhece direitos adquiridos ao socialista-écrivain - concede-lhe a importância que ele merece. O actual primeiro-ministro demonstrou, porventura sem o desejar, que Sócrates não é apenas um problema do passado, mas poderá vir a ser um rival num futuro próximo. Depois de sucessivas tampas de Seguro, a propósito do guião da reforma do Estado e do orçamento de 2014, Passos Coelho vira-se para aquele que está ávido por desferir uns golpes, mas que ainda não tem as luvas da titularidade política calçadas. O primeiro-ministro quer mostrar ao lider da oposição Seguro que nem precisa dele para invocar as fracturas profundas que opõe os socialistas aos social-democratas. Sabemos muito bem que Seguro não é comparável a Sócrates (é igual a si), e deste modo Passos Coelho retira força aos socialistas ao se "picar" com um político ligeiramente civil - Sócrates é uma espécie de fantasma da Troika, regressado do mundo dos políticos mortos-vivos para distribuir a culpa pelos outros e eximir-se de responsabilidades. À medida que Sócrates se reintegra na vida política e social do Rato, vai reavivando a fraca memória dos portugueses - estes irão lentamente recordar que foi o mestre de Paris que assinou o memorando de entendimento, que foi ele que conduziu o país a esse estado de calamidade que infelizmente teve continuidade através das políticas de austeridade do actual governo. Afinal Sócrates tem uma missão importante a cumprir na tomada de consciência dos cidadãos portugueses. Sócrates regressa ao cenário de sismo económico e social para o qual contribuiu, impávido e sereno, mas os portugueses sabem o que a casa gastou. Quem negar as responsabilidades de um e de outro na actual crise, não estará a ser honesto e justo. A ruína não pertence em exclusivo aos sociais-democratas ou aos socialistas. Foi uma longa sociedade por quotas destes dois parceiros que ditou o rumo penoso de Portugal. O país vive o dilema do prisioneiro e não existe uma jogada que possa eximir as duas principais forças políticas das suas responsabilidades. Seria bom que soubessem, que nalguns casos, as laranjas e as rosas não se comparam - nem se cheiram.
E pensarmos que as mesmíssimas individualidades que aboliram o feriado da Restauração da Independência de Portugal, vêm agora banalizar ainda mais o 1º de Dezembro, atrevendo-se a compará-lo a um Orçamento Geral de Estado! Depois do Condestável, do Infante, de D. João II, Vasco da Gama, Afonso de Albuquerque e Mouzinho fascistas, aqui temos mais uma bela surpresa. Até parece termos voltado a 1975.
Ao que parece o comité central do PSD deseja expulsar os militantes que apoiaram candidaturas independentes (enquanto o país e as sindicais querem expulsar o governo). O alarme que disparou no interior do partido deveria servir para validar a ideia que nem sempre dentro das forças partidárias se encontram as soluções adequadas. Foi isso que Arlindo Cunha quis dizer e, se tiver sorte, em vez de lhe rasgarem o cartão de sócio, leva umas chibatadas na praça púdica - umas vinte ou trinta, conforme entenderem o grau de ofensa. Contudo, eu vejo a questão do seguinte modo; o PSD necessita de arranjar lugares sentados para representantes do PS, uma vez que acabou de reenviar o convite a António José Seguro, para que alguém daquele partido socialista finalmente confirme a presença na gala do guião da reforma do Estado (R.S.V.P.). Na mesa de jantar não há lugares suficientes para os da casa - traidores ou não -, e inimigos ideológicos. Se eu fosse um dos membros do PSD em vias de receber uma admoestação em forma de sanção disciplinar, pensaria pelo menos duas vezes em permanecer num partido que distribui este tipo de prendas. Coloca-se ainda outra questão relacionada com o rabo - "o rabo entre as pernas". Os alegados castigados, uma vez cumprida a sanção que transitar em julgado, ainda terão credibilidade junto dos seus pares partidários? Depois de puxadas as suas orelhas (de serem humilhados) será que estão dispostos a admitir a posição fragilizada, subalternizada: "pronto, já passou. Da próxima tens mais juízo, está bem?". Se esses escoteiros deram à sola, devem ter tido razões para o fazer e, o núcleo duro do partido deveria aproveitar o momento para uma reflexão, quiçá organizar um daqueles retiros na Arrábida. Mas a política não pára. Assim que irrompe a claridade de um novo dia, nasce um orçamento de Estado aprovado e o proto-socialista Seguro atira mais um achado para a fogueira da tempestade, o círculo das inconsequências. Ao que parece alguém anda a esconder 700 milhões de euros em cortes. E isso não se faz. António José Seguro acha mal que o governo fique com todos os cortes para si. Que açambarque tudo e não deixe nada para a sua putativa (de) legislatura. Que o governo seja um glutão das subtracções e não pense na alternância do poder político. Para juntar à festa, os Verdes afirmam que os rebentos económicos são incipientes (verdes mesmo), e que a viragem económica que anunciam não passa de um efeito de estufa. Enfim, temos tanto material para diversas encenações em simultâneo que até ficamos com a cabeça a rodar. São diversos guiões e argumentos alternativos quando o que necessitamos urgentemente é de uma estreia - uma estrela que nos possa afastar de tantas distracções. E paira no ar uma séria dúvida: será que o Blatter faz parte desse elenco de entretenimento? Parece tão fácil tirar um país inteiro do sério. Fazer com que afaste os olhos da única bola que realmente interessa. O presente e futuro económico e social do país - a violência doméstica praticada sobre a quase totalidade de um povo.