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Postas de pescada

por Nuno Castelo-Branco, em 28.02.14

A propósito  de um livro recentemente publicado, João Soares está na SIC Notícias a puxar pelos galões republicanos. E do que fala ele? De Nova Lisboa, vulgo Huambo, cidade "totalmente republicana". O homem está deslumbrado com a obra portuguesa em Angola - aproveita para secundarizar Paiva Couceiro e "outros" - ,  tece loas ao que foi construído e recorda Norton de Matos, um bom republicano, sem dúvida, mas a antítese daquilo  que republicanismo soarista sempre significou. 

 

Nova Lisboa é a Huambo que foi arrasada a tiro de canhão pelos camaradas de Soares. Camaradas de "lutas" como o MPLA - aliás, seu colega na Internacional Socialista - e camaradas de "boas causas" como a UNITA, cujo chefe era seu compadre. Não esquecer os bons ofícios destrutivos de alguns camaradas ainda bem próximos, colegas de partido e camaradíssimos por apertados laços de sangue. 

Nova Lisboa foi destruída e vai sendo lentamente reconstruída. Um escusado desastre em nome de quê e para quê? Onde está a azáfama económica  de há quarenta anos? O que aconteceu ao Caminho de Ferro de Benguela e em que estado se encontram as suas outrora colossais e moderníssimas oficinas? O que sucedeu às escolas, hospitais, postos médicos, armazéns, fazendas e toda uma série de infra-estruturas que faziam da Angola de 1973, um exemplo de progresso sustentável?

 

João Soares pode despejar as postas de pescada onde quiser, mas não convence nem o mais distraído. Haja um mínimo de pudor. 

publicado às 21:42

Quem dá a cara merece ser elogiado

por Pedro Quartin Graça, em 28.02.14

Podia estar acomodado, calado e insensível. Prestígio internacional não lhe falta. Tampouco experiência em grandes combates. Hoje deu corajosamente a cara por mais um. Aquele que marcou, de forma triste, a sua vida parlamentar de mais de 24 anos, sempre eleito e reeleito pela população portuguesa, e pelo Algarve em particular. Na hora em que muitos, de forma cobarde, se esconderam debaixo da tradicional disciplina da voto, José Mendes Bota soube interpretar o sentir de um Povo que rejeita uma escolha política que não sufragou e com que não concorda e tudo fez para que a mesma não tivesse lugar. Merece o nosso aplauso pela luta sem fim que protagonizou juntamente com todos quantos se erguem de forma firme contra o Acordo. Um abraço José. E obrigado.

 

Declaração de voto do Deputado Mendes Bota a propósito da votação dos Projectos de Resolução nºs 890/XII/3ª (Ribeiro e Castro e outros) que “recomenda ao Governo a criação urgente de um Grupo de Trabalho sobre a Aplicação do Acordo Ortográfico”),965/XII/3ª (PCP) que “recomenda a criação do Instituto Português da Língua, a renegociação das bases e termos do Acordo Ortográfico ou a desvinculação de Portugal desse Acordo) e 966/XII/3ª (BE) que “recomenda a revisão do Acordo Ortográfico”


Plenário da Assembleia da República, 28 de Fevereiro de 2014


"TENHO 24 ANOS DE ACTIVIDADE PARLAMENTAR – E HOJE, É PROVAVELMENTE O DIA MAIS TRISTE DESSE PERCURSO, EM QUE SENTI À EVIDÊNCIA A IMPOTÊNCIA DO DEPUTADO INDIVIDUALMENTE CONSIDERADO.
ESTA FOI UMA OPORTUNIDADE PERDIDA PARA COLOCAR UM TRAVÃO, UMA SUSPENSÃO PARA PENSAR, NUM PROCESSO QUE ESTÁ A CONDUZIR À DESTRUIÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA, E A SEMEAR O CAOS ORTOGRÁFICO JUNTO DO POVO PORTUGUÊS.
ESTE É UM PROCESSO EIVADO DE INCONSTITUCIONALIDADES ORGÂNICAS E FORMAIS.
HOUVE UM PRESSUPOSTO QUE NÃO SE VERIFICOU: AO CONTRÁRIO DO QUE SE JULGAVA, ESTE ACORDO NÃO UNIFICA ORTOGRAFICAMENTE A LÍNGUA PORTUGUESA, ANTES PELO CONTRÁRIO. A QUESTÃO DAS CONSOANTES MUDAS, A QUESTÃO DOS HÍFENES, O CRITÉRIO DAS FACULTATIVIDADES, O CRITÉRIO DA PRONÚNCIA, E A FORMA COMO FUNCIONAM OS INSTRUMENTOS DO VOP E DO LINCE, DESTROEM PELA BASE O PRESSUPOSTO INICIAL. DESUNIFICA-SE EM VEZ DE UNIR.
POLITICAMENTE, PORTUGAL CORRE O RISCO ABSURDO DE CHEGAR AO INÍCIO DE 2016 E SER O ÚNICO PAÍS A APLICAR OBRIGATORIAMENTE UMA ORTOGRAFIA QUE NEM SEQUER ERA A SUA.
ESTE É UM ACORDO FEITO À MARGEM DOS POVOS A QUE SE DESTINA,QUE NÃO FOI PEDIDO, NEM É DESEJADO, SEJA EM DILI, EM LUANDA, EM LISBOA OU EM S. PAULO.
NEM É NECESSÁRIO. A LÍNGUA INGLESA TEM 20 VARIANTES, E NUNCA PRECISOU DE UM TRATADO. TAMPOUCO O FRANCÊS, QUE TEM 15 VARIANTES. COMO DISSE ADRIANO MOREIRA: “A LÍNGUA NÃO OBEDECE AOS TRATADOS. NÃO SE DÃO ORDENS À LÍNGUA”.
FIZ TUDO O QUE ESTAVA AO MEU ALCANCE PARA QUE O MEU GRUPO PARLAMENTAR TIVESSE UMA POSIÇÃO DIFERENTE, PROPUS UM PROJECTO DE RESOLUÇÃO CLARAMENTE NO SENTIDO DA SUSPENSÃO DA APLICAÇÃO DO ACORDO ORTOGRÁFICO, MAS A DECISÃO FOI OUTRA – TENHO QUE RESPEITAR ESTA DECISÃO, MAS ESSE RESPEITO NÃO ME OBRIGA AO SILÊNCIO, ESTOU NUM PARTIDO DEMOCRÁTICO.
SEGUIU-SE EM PORTUGAL A ESTRATÉGIA DO FACTO CONSUMADO – PERDÃO! EU DISSE “FACTO”? ERRADO! É A ESTRATÉGIA DO “FATO” CONSUMADO, POIS TENHO UM “LINCE”ÀS COSTAS, QUAL PATRULHEIRO DAS PALAVRAS, QUE NÃO ME DEIXA FALAR EM BOM PORTUGUÊS.
A SOLUÇÃO HOJE AQUI APROVADA É O MÍNIMO DOS MÍNIMOS DOS MÍNIMOS, É UMA SOLUÇÃO FRACA, NÃO VINCULATIVA, E QUE NADA FARÁ PARA INVERTER O RUMO TRAÇADO POR ESTE ESTRANHO CONSENSO POLÍTICO RENDIDO ÀS CONVENIÊNCIAS ECONÓMICAS, DIPLOMÁTICAS E OPERACIONAIS.
UM DEPUTADO DO PARTIDO SOCIALISTA FEZ HÁ DIAS CIRCULAR UM EMAIL ACUSANDO-ME DE ESTAR EQUIVOCADO. SOU UM SER HUMANO, E ADMITO QUE TAMBÉM ERRO, E TAMBÉM ME EQUIVOCO.
MAS, QUANDO OLHO À MINHA VOLTA E VEJO TANTAS PERSONALIDADES DA VIDA LITERÁRIA, CULTURAL, POLÍTICA, COM AS QUAIS PARTILHO A MESMA OPINIÃO, DE REJEIÇÃO DA APLICAÇÃO DESTE ACORDO ORTOGRÁFICO:
LOBO ANTUNES E AGUSTINA; ANTÓNIO BARRETO; PAULO RANGEL E FRANCISCO ASSIS;
MANUEL ALEGRE E BARBOSA DE MELO; ADRIANO MOREIRA E FREITAS DO AMARAL;
MARIA TERESA HORTA E JOSÉ MANUEL MENDES; MIGUEL SOUSA TAVARES E VASCO GRAÇA MOURA; PACHECO PEREIRA E NUNO MELO.
E IMENSOS LINGUISTAS COMO:
ANTÓNIO EMILIANO OU MARIA REGINA ROCHA;
E OS IMENSOS MILHARES DE SUBSCRITORES DA PETIÇÃO QUE HOJE VEIO À TONA DO DEBATE PARLAMENTAR, NÃO CREIO ESTAR EQUIVOCADO NA REJEIÇÃO DESTE ACORDO ORTOGRÁFICO. MAS, SE ESTIVER, ESTOU MUITO BEM ACOMPANHADO."

 

 

publicado às 16:36

Sempre muito coerentes

por Nuno Castelo-Branco, em 28.02.14

 

 

Lenine era deus, Estaline era um santo, Trotsky um "agente germano-yankee-sionista" e anti-revolucionário. Iezhov, Béria, e Kruschev nunca existiram. O genocídio ucraniano é uma invenção fascista. O gulag era uma espécie de colónia de férias como as da FNAT. A União Soviética foi um modelo de fraternidade entre povos, a Alemanha-Pankow, a Hungria, Checoslóváquia, Polónia, Países Bálticos, Roménia, Bulgária, Jugoslávia e Albânia foram livres durante meio século. Cuba é uma democracia exemplar, Chávez e Maduro dois apóstolos da fé. Mugabe é um patriota, Pol Pot muito trabalhou e fez o que pôde pela liberdade, Samora era uma espécie de Madre Teresa e Ianukovich um injustiçado, pobre homem.

Confirma-se. Tal como o Sr. Bernardino garantia, a Coreia do Norte é uma democracia. Nada de a desestabilizar e vai daí, sai um finca-pé beneditino. 

publicado às 16:30

Uma decisão de lesa Pátria

por Pedro Quartin Graça, em 28.02.14

(DES)ACORDO ORTOGRÁFICO - A votação de hoje na Assembleia da República da resolução apresentada por deputados do PSD/CDS-PP sobre a aplicação do Acordo Ortográfico terá sido o compromisso possível por parte da meia dúzia de deputados destas formações políticas com sentido de Estado mas o que está em causa é a decisão genérica do PSD, do PS e do CDS sobre o assunto, a qual devia envergonhar os representantes do povo português.
O grau de irresponsabilização e de irresponsabilidade dos deputados do "arco de governação" face ao que está em causa não deixará de ter consequências no futuro. Uma vez mais um enorme e profundo afastamento dos representantes do povo versus o sentir da população portuguesa!

publicado às 16:26

Sexta-feira

por Nuno Gonçalo Poças, em 28.02.14
Let me tell you how it will be, there’s one for you, nineteen for me,
‘cause I’m the Taxman, yeah, I’m the Taxman. Should five per cent appear too small, be thankful I don’t take it all.
‘Cause I’m the Taxman, yeah, I’m the Taxman. (If you drive a car ), I’ll tax the street, (If you try to sit ), I’ll tax your seat, (If you get too cold ), I’ll tax the heat, (If you take a walk ), I’ll tax your feet. Now my advice for those who die, declare the pennies on your eyes, ‘cause I’m the Taxman, yeah, I’m the Taxman. And you’re working for no-one but me.

publicado às 12:50

A hora da obra de Portugal

por John Wolf, em 28.02.14

A política não é uma ciência exacta, isso já nós sabemos. A política não existe para inventar a roda, também podemos confirmar. A actividade política deve, por isso, centrar-se na busca de soluções que já deram frutos. Nessa medida a cultura política vem mesmo a propósito. Especialmente em época de crises e convulsões, os lideres estão obrigados a vasculhar nos arquivos, a pesquisar o que decisores contemporâneos ou de outros tempos históricos fizeram. Não sei o que fazem os governantes nas suas horas vagas, mas poderiam aproveitar para observar o que fazem os outros. O caso de Portugal é enigmático. Não passaram tantos anos assim sobre o esplendor da obra pública, geradora de emprego e orgulho nacional. Não foi há tanto tempo assim que a Expo 98 fez renascer a cidade de Lisboa. Não foi há décadas que o Euro 2004 gerou um frenesim nacional com efeitos directos na economia. Foi ontem. Mas não percebo muito bem porque esses casos, que agora fariam muita falta para gerar verdadeiras dinâmicas de retoma, não foram replicados. Estão à espera do quê? Não é preciso ser um génio-governante (ora aí está uma contradição!) para entender que este é o momento para o investimento em larga escala. Que este é o momento para o Estado lançar projectos de dimensão assinalável capazes de contagiar o sector privado. Emissão de títulos do tesouro? Não me parece. O que faria sentido seria emitir "government bonds" adstritos a projectos específicos. Isso sim. Parece que os governantes europeus nunca ouviram falar no New Deal. Talvez sejam jovens demais. Se for esse o caso, bastar-lhes-ia prestar atenção ao que Obama acaba de anunciar. Esse seria um dos caminhos possíveis. A restauração das infraestruturas do país. E ao fazê-lo gerar dinâmicas em tantos sectores económicos, provocando desse modo a inversão da tendência do desemprego, de um modo real e efectivo. Estão à espera do quê para arrancar Portugal do seu triste estado. Querem que lhes faça um desenho? Francamente. Esta é mesmo muito fácil.

publicado às 11:58

E o que é que os países do Sul da Europa pretendem fazer?

por Samuel de Paiva Pires, em 27.02.14

Bruno Maçães, 17 de Dezembro de 2013: "Mas o que defendi é que não faz sentido criar uma frente comum do Norte contra o Sul, ou do Sul contra o Norte, porque os nossos aliados na UE são os outros 27 países."

 

Spectator desta semana:

 

"If David Cameron were to divide Europe up, he’d make some crude distinctions. There would be the basket cases, like Italy, Spain, Greece, France — examples, by and large, of how countries should not be run. Then there’d be the former Soviet bloc, sceptical about Brussels because they recently escaped a remote, controlling bureaucracy and don’t want to repeat the experience. Then come the good guys, the people with whom he intends to reshape the continent: the Germans, the Dutch and the Scandis. This is the group that the Prime Minister has started referring to as his ‘Northern Alliance’.

 

(...)

 

At these conferences, Cameron’s self-styled Northerners discuss everything from green energy to childcare provision. But the fact they’re discussing anything at all is significant. The left-leaning Swedish newspaper Dagens Nyheter smelt a rat: ‘Behind the scenes, this Northern Alliance will debate ways to frustrate a “French model” for the European economy,’ it wrote. Cameron was taking a risk, it said, in setting up a group that could be seen as a splinter group from the EU."

publicado às 11:11

De mala, mas com o taxímetro ligado

por Pedro Quartin Graça, em 27.02.14

Paulo Pinto Mascarenhas, qual Arsène Lupin, desfez em menos de 24 horas o mistério da mala de Marcelo que algumas mentes venenosas ontem punham, alegadamente, em causa alguma vez ter existido. Nas páginas do Correio da Manhã de hoje, PPM conta tudo e revela que a já famosa mala ficou à guarda de um providencial (e confiável, acrescentamos nós) taxista, seguramente lá para as bandas do Palácio da Independência.

Sabendo-se da hora próxima do jantar em que Marcelo discursou - e como foi longo o discurso... - a dúvida agora reside em saber se, para além da generosa conta derivada da espera, Marcelo também terá pago ao diligente profissional da praça uma refeição no Gambrinus...

No meio disto tudo ainda se vai descobrir que a mala ficou, afinal, abandonada e entregue à sua sorte... E vamos "malando"...

publicado às 09:16

Parece a Escola de Atenas

por Samuel de Paiva Pires, em 26.02.14

Pedro Abrunhosa, Camilo Lourenço, Fernando e João Tordo, Fernando Ribeiro, Pedro Boucherie Mendes, Valter Hugo Mãe, José Luís Peixoto, colunistas do P3, comentadeiros de serviço e os que, por arrasto, se enredam nos debates que estes e outros que tais protagonizam. É só intelectuais de alto gabarito.

publicado às 21:10

Brincadeiras perigosas

por Nuno Castelo-Branco, em 26.02.14

Consta ter o Sr. V. Putin colocado o exército russo de prevenção. Se é improvável o desencadear de qualquer guerra na Europa - no verão de 1914 também assim parecia -, esta demonstração de força parece querer obrigar "a Europa" a tomar consciência da situação que agora se apresenta. 

 

O que acontecer na Ucrânia, poderá significar algo que muitos julgavam impossível, mas a verdade é que já temos entreaberta a porta dos revisionismos. Uma Rússia contrariada, poderá acicatar alguns ímpetos que decerto não lhe regatearão agradecimentos. A lista de países candidatos ao redesenhar de mapas é longa e sintomaticamente, alguns deles pertencem à U.E. Senão, vejamos:

Hungria, Roménia, Bulgária, Sérvia, Croácia, entre outros. Tudo isto parecerá negligenciável, até novamente surgir um caso não esquecido pelos interessados. Façam o favor de imaginar até onde poderemos chegar.  

publicado às 20:04

A leitura deste postal trouxe-me à lembrança um período feliz da minha vida, no já remoto ano de 1981: era Agosto e tinha acabado de fazer o meu 2º ano de Direito. A insegurança ( sempre ela! ) fazia-me duvidar de uma nota que vira na pauta: " não me terei enganado? ", perguntava-me. Tinha de ver novamente!, e como à época ainda nem imaginava o computador, a internet, o remédio foi pôr os pés ao caminho, aproveitando uma boleia do pai que, por motivos de trabalho, viajava por essa altura até Lisboa.

Confirmar a nota foi questão de minutos, e não sabia  o que fazer numa cidade tão quente, enquanto o meu pai ia aos seus afazeres... 

Foi então que me propôs a leitura de um livro que um amigo acabara de lhe enviar: tratava-se do primeiro volume ( a que depois se juntariam mais dois ) das Memórias da Mãe desse amigo. Editado pela saudosa livraria-editora bracarense PAX tinha por título genérico « Uma Vida Qualquer » e eu, que nunca ouvira falar da autora, deliciei-me com a vida cheia de uma Senhora que nascera nos Açores, em S. Miguel, em 1904, e era sobrinha bisneta do líder do partido regenerador, Hintze Ribeiro. 

Tratava-se da mãe daquele Dr. Augusto de Atayde, sobre o qual já ouvira de meu pai tantos louvores.
                                 
 * Tomaz de Figueiredo

publicado às 16:10

O mistério da mala

por Pedro Quartin Graça, em 26.02.14

Chegado directamente da Madeira, ía a caminho de sua casa em Cascais, de táxi, quando, já muito perto do IC19 e da CRIL, "lhe deu um vaipe afectivoe mudou de rumo após manobras complicadas.

Seguiu directamente para o Coliseu onde chegou leve e sem qualquer carga visível. Fica assim por esclarecer onde terá deixado a mala de viagem, porque, se a chegada foi tão discreta quanto inesperada, a sua saída do Coliseu foi filmada pelas televisões e o comentador ia, literalmente, "de mãos a abanar."

A mala de Marcelo é, assim, o grande mistério do congresso do PSD e toda a gente se pergunta onde é que Marcelo a deixou...

Nós temos um palpite: fez companhia ao carro que, em rodagem, e por um mero e mesmíssimo acaso do destino, levou Cavaco à Figueira.

E vamos andando...

publicado às 15:04

Uma das coisas que eu costumo pedir aos meus alunos é que façam por sentir-se úteis na profissão que escolheram. Em História da Arte ou em História somos geralmente tratados como aves raras da sociedade, delicados espécimes que a natureza criou como ornamento da vida selvagem. Os médicos são leões, os advogados majestosas baleias que patrulham o oceano, os arquitectos astutas serpentes predadoras e os engenheiros doutos milhafres. Um historiador é, por outro lado, um daqueles insectos de cores atractivas, cujo bater de asas delicia qualquer entemólogo. Mas ao contrário dos leões, das baleias, das serpentes ou do milhafre, o pequeno insecto multicor limita-se a existir num plano etéreo até ser consumido. Provavelmente por um batráquio bem falante.


Enquanto os médicos, os advogados, os engenheiros (mesmo os que se graduam ao domingo) ou os arquitectos valem o seu peso em ouro, um historiador deve justificar muito bem a sua existência. Não cura doentes, não constrói pontes, nem desenha arranha-céus, não defende criminosos nem ajuda a condenar inocentes. O seu tempo é todo livre, debruçado sobre livros e papéis velhos, olhando para quadros sem sentido aparente ou pedras inexpressivas cobertas de limo. Talvez por isso seja tratado como apêndice da ideia de progresso. Para alguns o mundo passaria bem sem esta casta, inexpressiva e frívola reunião de homens e mulheres cujo assunto se esgota no passado.


Pois bem, quando me falam na verdadeira epidemia de tudólogos que grassa pelas televisões, jornais, blogues e redes sociais, não fico assim tão admirado. Há anos que convivo com a tudologia em História e em História da Arte. Cada português é um potencial historiador (e não apenas a propósito do recente caso da venda dos Mirós, situação tão bem sintetizada por José Diogo Quintela) e cada terra para além do seu uso, tem um historiador para gáudio das câmaras municipais que convertem inaugurações de novos fontanários e rotundas em espectáculos do progresso.

 

Estes cursos, considerados por alguns como supérfluos, dispendiosos e mesmo contra produtivos por alguns burocratas são aliás os únicos para os quais a existência de um diploma é irrelevante. Qualquer médico, engenheiro, juiz ou jornalista pode tornar-se historiador, como provam os vários livros que todos os dias se publicam - nomeadamente as escandalosas biografias de reis e rainhas. Melhor, qualquer um, desde que saiba assinar, pode tornar-se emérito cultor do passado e até arriscar-se a ganhar um lugar de honra na Academia Portuguesa de História - vetusta instituição que escolhe «historiadores» deste os tempos do Estado Novo.


Quando nos levarão a sério? Provavelmente nunca, em Portugal. Há anos que o Brasil discute o ofício de historiador; nos EUA são várias as associações profissionais que pugnam pela redacção de guias deontológicos e no resto da Europa escrever história é firmar com honra um compromisso entre a sociedade contemporânea, a sua cultura e a educação. Por cá é ofício de publicista, actividade menor ou vulgar que qualquer um desempenha  tenha acesso a caneta e papel ou câmara de televisão. 


O panorama historiográfico português sintetiza-se na aparição mediática de alguns historiadores contra o partido no governo, apresentadores televisivos aspirantes à vaga deixada por J. Hermano Saraiva, uma ou outra entrevista sobre uma obra de arte notável tomada a alguém que nem é formado em História da Arte e uma instituição bancária que, por cima de todos, nos dá a lição maior: afinal de contas o Passado e a Arte - algumas dezenas de quadros com «manchas e rabiscos» - não constituem assuntos para entreter burguês. Podem valer muito.

 

Tanto que até contribuem para abater a dívida de um país.

publicado às 11:12

Desta vez...

por Nuno Castelo-Branco, em 26.02.14

...em boa parte concordo com o que aqui se diz. Até ao momento, além da fuga do grotesco Yanukovich, o único sinal positivo é o que a imagem mostra. Compreende-se então a fúria do chefe Jerónimo, hoje bem lesto no socorro verbal ao pc ucraniano, um dos alvos preferenciais dos manifestantes. 

publicado às 10:53

Jorge Moreira da Silva é genial

por Nuno Gonçalo Poças, em 26.02.14

O Ministro do Ambiente anunciou um "investimento" de 7 milhões de euros para despejar um milhão de metros cúbicos de areia na Costa da Caparica. Diz que se trata de um "investimento fundamental para a protecção de pessoas e bens, para a valorização da actividade turística e para a criação de emprego". O meu pai costuma dizer que há coisas que têm o mesmo efeito de esfregar manteiga no focinho de um cão: desaparece num instante. O cão lambe a manteiga e o mar consome a areia. Não me parece difícil perceber isto. Mas é tão lindo ter um restaurante a 50 metros das ondas que todos os anos é engolido pelo mar...

publicado às 10:52

In memoriam - Augusto de Athayde

por Pedro Quartin Graça, em 25.02.14

Augusto de Athayde Soares d' Albergaria deixou-nos hoje. Nasceu em São Miguel, Ponta Delgada, em 4.04.1941. Os Açores, o Brasil e Lisboa marcam a vida de Augusto Athayde que teve no Direito, na história e na literatura as suas grandes paixões. Nascido no seio de uma “típica família tradicional”, uma das suas obras, o "Percurso Solitário", "fala-nos de uma Lisboa também remota, que atravessa no caminho das “agruras da vida real”. A educação de há meio século num grande colégio é evocada com um olhar de carinho. As lembranças da vida universitária dão lugar a uma descrição de confrontos ideológicos e políticos que agitaram a juventude daqueles tempos, mergulhada, designadamente, nas crispações das guerras de África. Figuras e acontecimentos dos primeiros anos de maturidade – que decorrem num cenário de fim de época – vão passando sob a observação do autor, que encerra a obra com a lembrança dos tempos em que fez parte de um Governo que, frustrando muitas esperanças, acabou por criar condições em que a revolução se tornou inevitável.".

 

publicado às 22:01

António José Seguro faz-me lembrar alguém. Ah! Já sei. Faz-me lembrar António José Seguro. É isso. Por muito que eu queira desculpá-lo pelas sucessivas infantilidades políticas e, porque não, a sua intensa ingenuidade, a verdade é que corremos perigo com um secretário-geral deste calibre. É como se o homem vivesse noutro planeta e celebrasse a inutilidade. Quando Seguro jura a pés juntos que o PS nada dará para o peditório de um Estado mínimo, sabemos que estamos diante de alguém que ainda não entendeu que estamos a assistir a uma mudança de paradigma. Foi precisamente o peso de um Estado desmesurado, a sua dimensão monstra, que ajudou a rebentar com as guarnições. Como dizia o outro - Jamais. O desmantelamento do aparelho já não se baliza de acordo com um padrão ideológico. Encontramo-nos num ponto de viragem a partir do qual não há regressos. Eu sei o que querem os socialistas. Desejam voltar a instalar a canalização para colocar os amigalhaços na charneira, junto às torneiras. E foram os exageros de um Estado empregador-total que deram cabo das contas. Foram sucessivos governos, de uma estirpe ou de outra, a colocar excessiva areia na carroça, a contagiar as instituições com insiders. Não confundamos função social do Estado com o tamanho do mesmo. Não confundamos o cú com as calças. Não sei se António José Seguro ouviu falar de Mohamed El-Erian. O  gestor-filósofo que cunhou o termo "new normal" para explicar a energúmenos do calibre do outro que não voltaremos a ser aquilo que eramos. Será que o homem ainda não percebeu que nunca mais poderemos sustentar uma vaca gorda. Há alguém que possa explicar isto ao homem?

publicado às 19:14

Um dicionário único.

por Cristina Ribeiro, em 25.02.14

« Licante »?; « Lapador »?; « regateiras-de-Abril »?; « arroz de goldras »?; « comer focinho de porco »?.........................


Livro póstumo, este, publicado em Dezembro de 1970, mas sobre o qual João Araujo Correia havia já escrito dois anos antes, n'O Comércio do Porto, porque, necessariamente, acompanhara a sua génese, a sua elaboração, fruto do " enamoramento pelo vocabulário regional ainda vivo nos Arcos de Valdevez [ " terra de coração " do escritor bracarense ] e, aqui no Douro, em Aldeia de Cima, donde é oriundo, por qualquer costela, e aonde vem, de tempos a tempos, visitar Fausto José ".


São termos e expressões que colhe junto do povo, e que, por mais que procure a sua origem e sentido, esbarra com o silêncio dos dicionaristas, os quais " por vezes,sabem ainda menos que um - apre, que analfabetos! - e outras, frequentes, dão raia. ..."; é ainda junto desse povo chão que ele busca, e encontra, as tão apetecidas significâncias.

publicado às 18:15

A materialização da liberdade

por João Pinto Bastos, em 25.02.14

Pensar a liberdade, num cenário de escassez de recursos, demanda amiúde uma rigorosíssima análise da realidade, o que, como é bem sabido, nem sempre é observado pelos mequetrefes intelectualeiros do costume. Nos dias que correm, atulhados, como estamos, na empáfia da ruína moral e colectiva, a liberdade tornou-se num assunto menor que não ocupa, em rigor, um único segundo da parca inteligência dos sandeus que dominam a academia. É por isso que a reflexão intelectual hegemónica no debate público fez de temas como a liberdade, a democracia, a economia política ou a distribuição do produto social, coisas menores servilmente subordinadas a projectos de pesquisa assentes em desiderataobscurantistas. A acuidade deste problema é ainda maior se pensarmos, por exemplo, no facto de a crise económica e social da contemporaneidade não ter estimulado um debate normativo suficientemente esclarecedor sobre os rumos a tomar perante o ocaso de um modelo social e económico irremediavelmente falho. Sabe-se, empírica e racionalmente, que o Estado social construído no bojo da II Guerra Mundial tem de ser reformulado sob pena de arrastar consigo a falência irredenta do organismo social, porém, também é certo e conhecido que a reconfiguração das instituições matriciais desse modelo não comporta um desenho normativo arrimado no pressuposto falível de que o poder estadual não pode nem deve, de modo algum, intervir na sociedade civil de molde a corrigir desigualdades na atribuição dos recursos societários. É aqui, justamente neste ponto, que a leitura liberal efectuada nos últimos anos por alguns intelectuais peca por defeito. Peca, sobretudo, na concepção holística da liberdade e do papel do Estado. Em primeiro lugar, a tese de que o construtivismo social (Estado de Bem-Estar) engenhosamente gerado pelos modelos sociais dos trente glorieuses deve dar lugar a uma interacção feita de e para os indivíduos oblitera um factor nada despiciendo, nomeadamente o facto de, no contexto presente, não ser de todo possível o indivíduo alicerçar um plano de vida crível e razoável sem o concurso regulatório do poder público. Dito de outro modo, no contexto económico presente, marcado por uma mundialização económica eivada de uma pluraridade de fontes de poder, é um erro sustentar que o ambiente idealizado pelo liberalismo clássico ilustrado é facilmente transponível para a realidade actual. Não o é pela simples razão de não existirem - aliás, em bom rigor, nunca existiram - mercados perfeitamente competitivos, ancorados no equilíbro geral teorizado por Walras. O exame positivo dos mercados revela-nos, ademais, uma cristalização de formas oligopólicas e monopólicas que impedem, como é bom de ver, a validade de uma concepção teorética envolta num individualismo alheio à mecânica social. Em segundo lugar, a inevitável reforma dos Estados Sociais não deve fazer tábua rasa da imperiosa necessidade de assegurar um mínimo social, isto é, os cortes em certos agregados da despesa social, assim como a abertura à iniciativa privada e à dita sociedade civil de certos componentes do Estado de Bem-Estar, terão forçosamente de ser acompanhados de um reforço regulatório por banda do Estado. Mais: a prossecução de uma agenda assente na liberdade para todos (liberdade enquanto autonomia irrestrita na realização individual dos planos de vida) terá de repensar a correcção ex-ante dos desiquilíbrios sociais, limitando a intervenção estadual ex-post à conformação regulatória dos mercados. Isto significa, primeirissimamente, a garantia de uma distribuição equânime da igualdade de oportunidades, dando consistência material às opções de cada um. Em suma, a liberdade que importa defender, sobretudo nos tempos vindouros, é uma liberdade material acompanhada da respectiva propriedade. É aqui, neste quesito, que uma concepção verdadeiramente moderna da liberdade terá de assentar os seus arraiais. Por conseguinte, o virar de página do Estado Social só fará sentido se a isso estiver subjacente uma liberdade material ancorada na propriedade, porque, como escreveram os antigos, os Maquiavel, os Cícero, os Locke, os Smith ou os Jefferson, a liberdade só é plenamente gozada se cada cidadão possuir o autogoverno da sua pessoa. É assim que, em resumo, se constrói uma res publica realmente inclusiva.

 

Publicado aqui.

publicado às 15:02

Da Vodka Laranja (ou o porquê de eu preferir gin)

por Nuno Gonçalo Poças, em 25.02.14

Relacione os factos:

 

1) O PCP conquista a Câmara Municipal de Loures;

2) Fernando Costa, ex-presidente da Câmara das Caldas da Rainha, candidata-se a Loures;

3) Fernando Costa e o PSD constituem coligação pós-eleitoral com o PCP, numa vodka laranja que ninguém compreende;

4) Fernando Costa é nomeado pelo PCP para a administração da Valor Sul empresa responsável pela valorização e tratamento de resíduos urbanos produzidos em 19 municípios da grande Lisboa e da região Oeste;

5) A Valor Sul está no plano de privatizações do Governo PSD/CDS;

6) O PS fica chateado com a nomeação, por entender que é um erro entregar a Administração a um eleito pelo partido do Governo, que defende a privatização do serviço;

7) Fernando Costa vai ao Congresso do PSD, no passado sábado, apelar à não privatização;

8) Fernando Costa aproveita a intervenção e elogia largamente o PCP e Bernardino Soares;

9) A turba aplaude.

 

Explique, se os houver, quais os factos que são desprovidos de sentido.

publicado às 11:06

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