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O António é um democrata. És grande, António. Aventamos que serás o mais preclaro e precioso bem do Estado, António, o condutor que sacrifica a tranquilidade dos seus dias para nos purgar, António. António. Envie-nos o seu texto. Mas sem erros, como "irradicação", está bem?
Update: vá lá, nós sabemos que é o fervor espírita que vos move, mas revejam os posts antes de publicar, mesmo tratando-se de alarvidades godwinianas.
Update 2:
Certo dia, ficou lavrado em acta que, por unanimidade, os condóminos presentes na respectiva reunião anual decidiram deslocar-se à repartição de finanças competente (força de expressão) a fim de apurar se às fracções do edifício que se encontravam arrendadas correspondiam, ou não, registos de contrato como a lei manda.
Que há gente mal fodida cujo dia-a-dia se faz numa harmonia pendular entre o oligo-feudo da secretária que ocupam e o planeamento da próxima vingança contra a genética, a chuva e o pó da mobília, isso é sabido. Agora, o requinte proporcionado por estes cem anos de estatismo e mediocricracia, isto é obra.
Ainda ninguém se lembrou, mas devíamos propor ao Ministério dos Ministérios que instaurasse um novo concurso semanal, a denúncia da sorte.
Haveria muito gáudio, cor, riso e justiça social numa experiência única em que se fundem cidade, natureza, diversão e modernidade. Irmãos.
Encomendei uma coisa vinda da Estónia. O meu fornecedor trabalha com a UPS, que no acto da expedição fornece via email, ao destinatário final, um número de seguimento que lhe permite saber, ao minuto, onde está supostamente a encomenda.
Durante os seis dias que o pacote esteve em trânsito, os dados exibidos pelo sistema e a realidade material coincidiram harmoniosamente.
É quando entra em cena o trunfo mais alto, o homo sapiens portugalensis, que a peça descamba para o surrealismo habitual.
Por volta das 11h00 de hoje liga-me uma pessoa, o senhor Rui B., de uma empresa localizada em Cabanas - a 30km de onde resido, e diz que tem lá um pacote para mim entregue pela UPS minutos antes. Que não o abriu e que mo guardará, mas que a UPS certamente estará a dirigir-se à minha residência para me entregar os bens que tinham por destino a empresa do senhor Rui B.
Ligo para a UPS, a custas minhas, para um número que dá música, o costume. Lá me atendem e ficam perplexos. Pedem-me uma hora para resolver a situação. Para mim uma hora é muito tempo, na minha actividade posso perder ou ganhar cem euros numa hora.
Pego no carro, vou para a estrada, cruzo-me com a carrinha da UPS, sinalizo ao condutor para que encoste, explico-lhe o sucedido.
Resposta do trabalhador por conta de outrém a quem é pago um salário, que pode ter um valor pecuniário indigno, mas é ainda assim um salário que o obriga contratualmente a ser rigoroso, isto assumindo que quem o recrutou estava habilitado a fazê-lo e na posse das suas faculdades: "oh amigo olhe, isto às vezes acontece".
E se ele fosse piloto de aviação civil e mandasse para o além 300 passageiros? Seria esta a resposta para as famílias?
Mas ainda retorquiu; meio que afirma, meio que indaga, se isto nunca me aconteceu até a mim próprio.
É o meu limite de pressão arterial e sai-me a verdade sem filtro: sabe qual é a pior parte? é eu ter a certeza que isto comigo nao acontecia, primeiro porque enquanto desempenhei funções de responsabilidade nunca me enganei grosseiramente, e segundo porque se ou quando não estava apto a ir trabalhar, metia um dia de ferias e esperava que passasse. As pessoas são diferentes.
Entretanto liga-me a UPS pela voz da responsável do serviço, assegurando que a normalidade da situação será reposta, e a quem dou conta do intercambio hollywoodesco (só visto) ocorrido minutos antes na EN 379-1.
Ligo para o cliente da UPS e meu fornecedor, dando igualmente conta do sucedido.
De caminho penso que das duas uma, ou estas merdas só me acontecem a mim, ou há muito português que come e cala sem mexer um corno em sua defesa, e que cedo ou tarde, quando o bule ferve, a pressão salta por algum lado.
Ainda estou à espera do pacote, mas estou muito mais leve, já perdi um litro de água em suores e nervos.
De notar bem que guardo na minha posse o registo de todas as chamadas ocorridas entre as quatro partes envolvidas neste filme, bem como os mails onde são bem visíveis os pontos de rastreio do pacote.
Depois venham dizer, como disse um comentador anónimo neste blog há uns tempos, que tenho a mania de ser o John Galt da margem sul. Não aprendam e depois digam que é o Constitucional, Passos, Sócrates ou outro bode expiatório da vossa inércia o culpado deste marasmo.
A democracia espanhola deve-lhe muito. Quase tudo, diga-se. Nascido João Carlos Alfonso Víctor Maria de Bourbon e Bourbon-Duas Sicílias , no ano de 1938, em Itália, durante o exílio do seu avô, é filho de Juan de Borbón y Battenberg e de Maria das Mercedes de Bourbon e Orléans, Princesa das Duas Sicílias.
O seu avô Afonso XIII foi rei da Espanha até 1931, altura em que foi deposto pela Segunda República espanhola. Por expresso desejo de seu pai, a sua formação fundamental teve lugar em Espanha, onde chegou pela primeira vez aos 10 anos, procedente de Portugal, país onde residiam os Condes de Barcelona, desde 1946, no Estoril.
Abdicou hoje a favor do seu filho Filipe. Honra a D. Juan Carlos e à Monarquia Espanhola.
Da série filmes que nunca passam no vosso centro comercial preferido, por acaso, ou por não dar jeito.
Qualquer das explicações serve, escolham a que vos parecer mais provável.
Aparentemente, David Cameron não acha muita graça a Jean-Claude Juncker (nem eu) e queixa-se do facto de a sua possível nomeação como Presidente da Comissão poder politizar esse órgão. Ora, por muitas críticas que se possam fazer ao senhor, e por muita falta de carisma que possa ter, a verdade é que, após as eleições europeias do passado domingo, o luxemburguês é que foi o Spitzenkandidat mais votado e, por isso, deve ser o primeiro a tentar a fazer uma maioria que o apoie. Contudo, há uma série de coisas que não entendo:
- Este novo esquema dos partidos políticos europeus nomearem o seu 'candidato' tem como objectivo tentar aligeirar o chamado 'défice democrático' e falta de accountability dos principais actores europeus, nomeadamente da Comissão, até agora escolhida em negociações à porta fechada pelos líderes nacionais.
- Cameron é um grande crítico da falta de accountability e do défice democrático da UE, tal como muitos dos seus conterrâneos e não só.
- Este esquema de nomeação de candidatos assumiu-se como uma forma de tentar tornar a escolha do Presidente da Comissão Europeia algo mais transparente e democrático.
- Se queres democratizar a Comissão, vais necessariamente politizá-la, o que até é bom. Torna-se um órgão com uma linha de orientação política mais coerente e visível, e não um antro de eurocratas. (Também se devia diminuir o número de comissários, já agora. 28? Porra... Ah, mas depois os Estados não querem perder o 'seu' Comissário, apesar dos Comissários não representarem Estado nenhum. É que 28 é demais - até há um Comissário para o Multilinguismo...)
- Sendo assim, não se percebe a preocupação. Ao fazer pressão para não ser Juncker e para se continuar a fazer as nomeações como até agora se fez, Cameron está a impedir o aligeiramento do défice democrático da UE, o que não parece muito coerente com o que ele pense. A não ser que até lhe seja conveniente que se continue a ver a UE assim, quiçá.
PS: Democratização não significa federalismo - concerne apenas os processos de tomada de decisão. Que competências tem ou não tem a UE continua na mão dos Estados.
Seguro tenta provar que, enquanto o pau vai e vem, as costas folgam. Ainda não foi desta que conseguiu contrariar esta máxima, contudo, segundo as previsões mais fidedignas do seu futuro, continuam a escassear costas para tanto pau.
Seguro, arriscando não ir a jogo, jogou forte no Vimeiro com a promessa de primárias abertas a simpatizantes, bem como a apresentação, na Assembleia da República, de uma proposta de revisão do sistema eleitoral para as próximas legislativas, a introdução de incompatibilidades entre o exercício do mandato de deputado e cargos públicos, a introdução de círculos uninominais e a redução do plenário a 180 deputados (não concordo com esta última, pois diminui a representação do território e a representatividade parlamentar das minorias políticas). Fraco é o náufrago que nada faz, no pico da tempestade, para se manter à tona da água lusa, tentando surpreender aqueles que lhe tiraram todas as medidas para o caixão político. Aparentemente, estamos em presença de um Seguro novo, renascido das cinzas das duas vitórias eleitorais consecutivas, o que pode ajudar a aceitarmos como verdadeiro o dito que dá conta que o seguro morreu de velho, mas desgraçadamente os episódios da novela continuam a disfarçar as ilusões dos que ocupam, como eu, um lugar numa das bancadas da arena política.
Nestas ocasiões de patins em linha, é comum presentearem com gracejos e troças aqueles que cumpriram, bem ou mal, a sua missão. Os olhos, ainda assim, são os nossos melhores aliados na hora de nos defendermos de maltratos. É um facto. Não. Não temos olhos nas costas. A nossa natureza é demasiadamente humana. É bom não esquecer que nem todos os olhos, incluindo os mais rasgados, são um dado explicitamente confiável. É ali na transição entre o que deixamos ver e as imagens do observador que o bicho pega. E, em política, quando o bicho pega, o melhor é abrir alas ao senhor que se segue. Costa, sem grande surpresa, já disse que não vai recuar. Não é por nada, mas desconfio sempre que alguém ou um animal, ferido de morte, recua. O recuo, na maior parte das vezes, serve para ganhar balanço. No que toca a balanços desta natureza, a investida é sempre mais forte. Por isso, não vale a pena gastar muita cera com imagens de folgar as costas porque o pau foi-se. Na verdade, nem o pau se foi nem as costas estão ainda em condições de retornarem à sua posição cordata.
Imagino que Costa, a esta hora, tem, no cantinho da sala, um monte de cacos indefinidos resultante de tremendos esforços ininterruptos de interpretação sobre as propostas de Seguro no Vimeiro. O problema maior é a sua total ignorância nas artes de assalto ao poder, mas isso não o impede de manter uma postura de estado de inconsciência contemplativa (contemplativa em relação ao monte de cacos, evidentemente). Aparentemente, já não se sente, no ar, aquela ameaça assustadora de mais uma vitória de Pirro, e ainda bem. Tudo seria mais fácil se este não fosse o tempo de se ser, em termos absolutos, isto ou aquilo e, na semana seguinte, o seu exacto contrário. Mas, em política, o impossível não é definitivamente uma miragem.
Dizem que o andor, nestas coisas dos reajustamentos tóxicos na liderança partidária, nunca chega a sair verdadeiramente, pese embora os desembaraçados mordomos afirmem, através de parábolas, que o carregam folgadamente. Por muito que se esforce, Seguro não sente ainda o chão a fugir-lhe debaixo dos pés. É bom que invente desculpas quando se aperceba da sua pequenez política em relação à grandiosa sombra mediática de Costa. E que o silêncio ruidoso o continue a abraçar, sem preliminares, convidando-o a piscar alternadamente, em especial nas selfies, os olhos ao sol. Não é seguramente mais imperfeito do que os outros. Os seus atributos, até ontem, eram descaradamente sedutores para afastarem os pensamentos que quebrassem o seu estado de imobilidade quase perfeita. Dar um passo estava fora de questão, não queria, legitimamente, ficar de repente longe do púlpito de cimento. Ainda assim, só os pombos o impediam de viver sem angústias.
Ainda tive, por questões de higiene pública, uma leve esperança de que as divergências intrapartidárias seriam, desta vez, resolvidas entre quatro paredes. Devia ser estritamente proibido servir a agonia política como prato principal. Os ciúmes secretos e os vícios impossíveis jamais poderiam alcançar a luz do dia. Resta-me a consolação de me manter suficientemente distante para levar a sério o que resta deste jogo. Nem sei se a táctica de desempenhar o papel de imbecil vai adiantar alguma coisa. É que agora faltam poucas ocasiões para proclamar, a cada mergulho no lamaçal, a especialidade em sumidade, mesmo que o prémio seja recolher vários nomes do extremo oriente da escala das palavras proibidas. Não basta, em tom de reconforto, convocar o facto de pertencer a uma família de lutadores, isso, efectivamente, não atenua os tremores e não é por se ser, à falta de melhor ditado, ferreiro que o espeto tem de continuar a ser desgraçadamente de pau.
Depois dos radares mais desalinhados terem detectado o fervilhar clandestino da máquina, falta apostar numa estratégia que abafe o som da tralha partidária que, sem decoro, nos avisa da sua passagem. No fundo, os actores principais não passam de braços. E como braços que são, só lhes é permitido ter pensamento impróprio. Gostava de estar redondamente enganado.
«Até o velho instinto da conservação cede ao novo instinto da notoriedade: e existe tal manganão, que ante um funeral convertido em apoteose pela abundância das coroas, dos coches e dos prantos oratórios, lambe os beiços, pensativo, e deseja ser o morto» [Eça: A Correspondência de Fradique Mendes - Carta a Bento S.].
Que fique bem assente: sou da opinião de que António José Seguro não reúne os requisítos mínimos para liderar seja o que for. Quanto a António Costa, também me apraz dizer que o ainda presidente da Câmara Municipal de Lisboa também não é sem falhas. Faz parte da velha guarda socialista que também assina por baixo no descalabro do país. Não representará a mudança que o país exige e arrasta consigo um elenco de protagonistas caducos, mas não tem hipótese - depende deles, do seu apoio. Nos dias que correm o Partido Socialista (PS) vive um processo autofágico e canibalizante. A guerra interna pelo poder, a contagem de espingardas e a subida de tom dos discursos de Seguro e Costa, transbordaram para fora dos corredores do Rato directamente para o país que confirma os seus piores receios - a política é igual a si, coerente. Trata-se de um mero exercício de disputa pelo poder, pelo que as questões substantivas que afligem o país foram secundarizadas pela cólera política que agudizar-se-á nos próximos tempos. No entanto, Seguro faz a única coisa que pode fazer. Serve-se de todos os meios administrativos e regulamentares ao seu dispor, ao abrigo da sua posição enquanto secretário-geral do partido, para gerar algum pânico nas convicções arrogantes de Costa. A proposta de eleições primárias "à americana" talvez seja o modo de destrancar um partido dependente de barões. O PS, funcionou, ao longo das últimas décadas, como um cartel de vozes dominantes, que tornaram o partido refém das suas vontades. Acresce a essa distorção, a expressão corporativa que não se quedou pelo partido, pela sua estrutura de gestão. O PS (e também o PSD, para todos os efeitos) colocaram os seus homens nas grandes empresas e instituições públicas deste país. O sistema nacional, está, nessa medida, minado por nomeações "à la carte" - de figuras próximas dos senadores e barões destes partidos. O país, é, deste modo, uma réplica do que se passa nos partidos. O país é um enorme partido - está partido. Nessa medida, o que Seguro propõe, embora sirva para tentar salvar a sua pele, serve também para desintoxicar o partido (e o país) de "soarismos" que o definiram tempo demais. A ideia de que os nomes são maiores do que as ideias, as propostas e as soluções. Os políticos têm esbanjado inúmeras oportunidades. Não aprenderam a descer do alto das suas cadeiras para caminhar nos mesmos trilhos calcorreados pelo cidadão comum. Não é que Seguro esteja a inventar a roda, mas já cumpriu a sua parte. Colocou em alvoroço um dos partidos "fundadores" da democracia em Portugal e obriga António Costa a revelar a sua natureza política mais profunda. Em tempos de crise, este género de abanão faz bem à tosse, altera os discursos que foram utilizados como pregões. Mas isso não basta. O país merece melhor. Portugal não pode perder tempo com birras deste género. Há coisas muito mais importantes.