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ID: 57296
Tipo: Anúncio de Procedimento
Descrição: Concurso público n.º 4/DRA/2015 para a realização da "EMPREITADA DO CENTRO DE INTERPRETAÇÃO DA CULTURA DO ANANÁS".
Entidade: Secretaria Regional da Agricultura e Ambiente
Preço Base: 349500.00 €
Apareceram logo umas damas ofendidas com esta ideia do Partido Social Democrata (PSD): o Partido Socialista (PS) deve submeter à Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) o seu "programa operativo" no sentido deste ser auditado. Não vejo mal algum. Se o PS quer ser governo, então o seu "esboço de programa de governo" deve ser fiscalizado preventivamente. Portugal não tem grande margem de manobra para se meter em aventuras. Os portugueses não estão em condições de passar cheques em branco. Esses tempos findaram. Em política, mas sobretudo em Democracias, todas as propostas devem ser consideradas. Mesmo que não haja enquadramento jurídico para o efeito, o princípio subjacente é válido. A partir do momento que qualquer força partidária apresenta ao público um documento com essa mesma finalidade de disseminação, então o mesmo pode e deve ser analisado de um modo exaustivo. Aliás, a ser a UTAO a apreciar as equações dos socialistas, e assumindo esse organismo enquanto instituto idóneo e imparcial, reforça-se o argumento que seja o mesmo a efectuá-la. Ou será que a UTAO também está minada, corrompida por forças ocultas? Em alternativa, e à falta de abertura de espírito, no mercado aberto, o PSD sempre pode enviar o paper do PS para uma empresa de consultoria do sector privado - sai caro. Mas o que podemos verdadeiramente lamentar no meio destas considerações, é que representantes da ala jovem e fresca do PS como João Galamba revelem uma mentalidade antiquada, conservadora, porventura oriunda de um outro regime mental, político.
Todos sabem que a Austeridade não é coisa boa. Todos sabem que a mesma assenta na contracção e no apertar do cinto. Esse diagnóstico é fácil de fazer depois da receita ter sido aviada. E é escusado Thomas Piketty vir alimentar falsas esperanças a António Costa, ao proclamá-lo como "reorientador da Europa". O que o francês diz é muito bonito e faz todo o sentido, mas só funciona em ambientes macro-económicos em que haja controlo sobre políticas monetárias. Imaginem um marceneiro a oferecer a ferramenta-maravilha ao colega canalizador - é mais ou menos isto sem tirar nem pôr. Não serve, a não ser que me escape alguma coisa. Ou seja, que no tal documento da "década para Portugal" venha consagrada a criação de um banco central no Largo do Rato. Uma máquina de impressão de dinheiro cor de rosa para combinar com os sonhos que emanam da mesma casa. Grande economista que me saiu este Piketty. Era suposto a disciplina servir para encontrar meios para gerar dinâmicas de criação de riqueza e emprego. O melhor que conseguem é a brilhante ideia de criar um imposto sobre as grandes heranças. E isso confirma a máxima negada pelos socialistas. Sim, são excelentes a tratar de destruir o dinheiro dos outros. Neste caso nem sequer olham para o futuro. Metem a mão no bolso do passado. Em termos económicos este género de socialismo de ocasião posiciona-se no lado da procura agregada - a procura intensa dos meios financeiros dos outros. Isto era a última coisa que faltava. Aparecer um francês das escolas do iluminismo económico para dar alento a um visionário como António Costa. São muito bons a descrever os males. Quanto a oferecer respostas válidas, isso é outra história. Mário Soares também tinha vários amigos franceses.
Pedro Mexia em entrevista ao ionline:
A palavra “intelectual” foi trivializada, às tantas qualquer pessoa que tenha lido uns livros passa por intelectual. Não me identifico com esse conceito, com a sua história e as posições tomadas por intelectuais no século xx. Porém, apesar disso, deve respeitar-se o termo, incluindo como intelectuais apenas os que reúnem duas condições: por um lado, terem um pensamento, e por outro terem um pensamento próprio. Ora poucas pessoas têm um pensamento e ainda menos o têm próprio. Nunca me ocorreria falar de mim na mesma categoria em que as pessoas falam do Eduardo Lourenço ou do José Gil. Esses são-no, têm uma obra e uma relação com o conceito de intelectual. Eu não. E não o quero ser, não tenho qualquer relação afectiva com a palavra.
João e Maria separaram-se após dez anos de relacionamento, sete dos quais passaram casados. Foi a morte do pai de Maria, acometido de doença incurável, que precipitou o inevitável. Um dia, João chegou a casa e não tinha dinheiro na conta, roupa nas gavetas, nem ideia das facturas que estavam para chegar-lhe à caixa do correio. Também não sabia onde estava o filho de ambos, à data com cinco anos, supostamente recolhido pela mãe, como todos os dias, à porta da escola chegado o crepúsculo. Foi ali que acorreu, e ali que encontrou a criança, a quem explicou de imediato e ao longo dos cinco meses seguintes que tudo iria ficar bem, que nada naquele cataclismo fora previsível, e muito menos culpa dela. O pai e a mãe teriam muita coisa para resolver, que não se ralasse, cada ingrediente da sua vida quotidiana ali estaria sem mácula dia após dia, e filme após filme, tentativa após erro, João lá desenhou uma planilha da coisa.
Maria queixava-se muito. Quando a mãe morria de cancro numa ala do IPO, Maria ia para a praia com as amigas porque se queixava de não poder suportar os caminhos do sofrimento. Quando não trabalhava, queixava-se de não ter trabalho; e quando o tinha, de algum alvo a abater que surgisse pela frente tornando a função um purgatório bradável na gama completa da histrionia maníaco-depressiva. À falta de um boneco profissional que se prestasse a encarnar Belzebu, João assumia as expensas, nos espaços que lhe sobravam entre os três empregos que mantinha para honrar as despesas decorrentes dos compromissos de ambos e das sucessivas "baixas médicas" que Maria invocava.
João não se queixava de nada, só queria ser deixado em paz: pelo Estado, pelos pais de cuja casa praticamente tivera que fugir mal atingida a emancipação legal e a velocidade de cruzeiro com que irrompera pelo mundo do "desenrasca-te", algures em torno do seu décimo-quinto ano.
Era apenas natural que João e Maria, sete anos mais velha, amadurecessem em sentidos diametralmente opostos. João lia ensaios, Maria telenovelas; João preferia jantares em casa entre amigos, Maria "viver o mundo" a dançar, comer, beber, rir, e ignorar a semana seguinte. João contava tostões, Maria gastava por conta do trimestre seguinte.
Divorciaram-se de jure passados seis meses, altura em que Maria voltou a assomar à parte do mundo onde João e o filho de ambos se moviam. João fora aconselhado pelo causídico que o representava a requerer para si a custódia do menor, mas intransigente perante a gravidade da causa, decidiu que o mais justo, removendo-se a si mesmo da equação, seria confiar na providência natural e deixar que ambos os progenitores assumissem o dever parental em igual medida; e assim aconteceu.
Vinte dias após a confirmação documental do acto, João fechara os olhos e lançara proa à reconstrução da sua vida: procurou incessantemente uma nova companheira, entregou-se ao trabalho (onde foi promovido de forma recorrente), fez amigos, viajou, cuidou da sua imagem. Nesse mesmo interim, as dívidas de Maria acumulavam-se até que surgiu com um novo namorado, em simbiose com o qual decidiu que o acordo, semanas antes assinado com João, não servia os interesses do menor.
A saga durou um ano até que Maria, mediante confissão escrita e na sequência de inúmeras e brutais discussões com o errante que escolhera para seu parceiro de cama e mesa, rogou a João que travasse o novo processo antes que, temia, tramitasse em julgado aquilo que João sempre deveria ter pugnado por que tramitasse. João acedeu.
Desde essa parte até ao final do quinto ano contado a partir do fim da quezília, João manteve-se fiel aos seus princípios de invidualidade e libertarianismo: fazendo pela sua vida, prestou-se sempre a que os verbos ouvir, escutar, responder, acompanhar, mostrar, partilhar, incutir, soltar, e explicar fossem o cabaz de bitolas pelo qual gerir a sua relação com o seu filho, que crescia ávido de tempo e, para angústia e desespero de João, dividido entre dois mundos simetricamente imiscíveis.
Maria passou dez anos sem cuidar de si vivendo em função da criança, levando a uma inversão de papéis entre ambos - Mãe e filho - cujas consequências até hoje atormentam João, que se viu acuado e reduzido a um papel levado por falas escritas em cima do joelho, redefinidas à medida do menor dano possível. As dívidas de Maria engrossavam Olimpicamente, pois no seu imaginário competia no plano material com João, a quem a fortuna e o mérito haviam sorrido, mas que continuava a contar tostões.
Hoje, volvidos treze anos, Maria tem um companheiro, que conheceu quando finalmente optou por cuidar de si. João vai vivendo da melhor forma que pode, qual malabarista a quem duendes travessos oleiam sempre a palma das mãos entre movimentos; passou por emprego, desemprego, empresariado, falencia, deserto e oceano, esperança e viuvez; tem uma namorada com quem o amor flui e é belo, vive do que juntou e do seu trabalho, pratica o voluntariado e a benemeritude, faz por conviver com o seu passado de falhas e de disfuncionalidade, cultiva a sua horta e lê os seus livros, como há quase quarenta anos - João aprendeu a ler sozinho aos quatro anos e está quase a fazer 44, um número hoje cabalístico pela mercê do recluso Pinto de Sousa, maior avatar da portugalidade e que tudo tem a ver com a historieta aqui contada, pois encarna a animalidade que subjaz às Marias do nosso tempo.
O filho, esse alberga até hoje uma raiva ao Pai, de quem se considera um igual, por este nunca ter vivido em função anulada (valerá a pena demonstrar-lhe que a abnegação conta mais? deixo aos semióticos) da sua prole, mas cooptado por não morrer mirrado e sozinho, recostado num sofá balbuciando inanidades pós-mariscada. Até à vera hora em que estas linhas vêem o dia, um jovem vive torturado e na senda da ilusão porque na dicotomia que a sociedade moderna promove, nenhum instrumento lhe foi dado que permita entender (ah, mas curricula pejados de futilidades e das maiores devassas ao saber e à língua, isso sim, já temos desde Guterres) a clivagem entre os dois pólos da sua bússola:
- que João tem procurado sempre erguer do nada aquilo que deveria ter estado, e permanecido, na concepção da sua descendência: uma casa, um lar, uma família funcional, em que cada um puxa por si e ao fazê-lo dá alento a um resultado maior do que aquilo que o precedera; e que com isto oferta ao seu filho a liberdade de ser quem quiser, até mesmo alguém que odeie os princípios do pai.
- que Maria corporiza, mais do que um escoadouro para as psicopatologias próprias da mulher hodierna, o estado de falência mental a que todo o país chegou.
E vós, senhores Deputados, comei e bebei, e entregai comércio aos Vossos afilhados, e permiti por Vossa Graça que passem mais quarenta anos sem que nada mude, nada se ganhe.
A transformação virá de baixo.
England prevails, great leader.
Para os lentos de compreensão, isto é um post sobre a eficácia da censura.
No início era o PREC, incutindo a golpes de marxismo primário nas alminhas rural-migratórias o espectro do mesmo lápis azul que Saramago brandiu.
A seguir veio Guterres, que transformou o ensino num freak show de imbecis encartados, discentes e depois docentes.
Entre bandeiras içadas de pernas para o ar, finalmente, outros labregos possessos da mesma sanha controleira aproveitaram a óbvia preferência da populaça pelo circo mediático em detrimento da profundidade informativa, pelo esbracejar inane em lugar da reflexão aturada. Estava desenhada a geratriz do mais perfeito anestésico em toda a Europa do Sul.
Luís Delgado, que nem chegou a aquecer a cadeira, é um menino ao pé deste senhor, perdão, deste Mestre.
Falo em nome próprio. Escrevo os meus textos. Assumo as minhas posições. O acordo assinado entre o governo e o Partido Socialista no sentido de exercer o controlo prévio dos meios de comunicação, na campanha eleitoral que se avizinha, diz respeito a todos nós. Colide com a liberdade de expressão de um modo descarado. Posso dizer, sem rodeios, que já sinto a censura há algum tempo. Não sei quem controla os blogs Sapo. Não conheço os administradores da PT, mas alegadamente houve uma decisão nascida no seio de uma estrutura partidária no sentido de mitigar os efeitos dos posts publicados. Basta ler os meus textos para perceber que pelo menos 75% dos mesmos servem para deteriorar os argumentos dos socialistas. Mas não são os únicos visados. Também aponto as baterias ao governo quando bem entendo. Nesse sentido, não nutro nem preferências ideológicas nem partidárias. Sou a favor da cidadania, da democracia e da liberdade de expressão. Em 2014 tive no portal Sapo 96 posts em destaque (primeira página, se quiserem), ou seja; registei uma taxa de visibilidade assinalável. E de repente a natureza dos destaques do portal Sapo deixou de ter acutilância política. E o Estado Sentido foi varrido dessa montra. Uma ordem deve ter sido dada, mais ou menos nestes moldes: "tirem-me estes senhores do ar". Neste momento o portal elege conteúdos de pendor light, cor de rosa e diet, e não passa despercebido. Mas como não devo favores a quem quer que seja, respiro profundamente os ares de independência, durmo tranquilamente. Nunca deixarei de dizer ou escrever o que penso. Uma nota final. As vozes críticas, mesmo as que não votam neste país, podem revelar a sua paixão por Portugal e o destino nacional. Eu inscrevo-me nessa categoria. Batalho por Portugal, muitas vezes com mais intensidade do que cidadãos de pleno direito. Quanto aos inimigos, prefiro levar-lhes a guerra à porta. Aqui, por exemplo.
A União Europeia (UE) será leal para com a sua matriz - a Europa. Ao longo da história dos últimos 50 anos do velho continente sempre vingou a ideia de preservação. Um conceito decorrente da devastação e da paz que se seguiu à Segunda Grande Guerra. Nessa medida intensamente condicionante, podemos localizar a questão grega. A Grécia faz parte desse alegado património de estabilidade, e os políticos que fazem parte da contemporaneidade assumem um modelo de percepções. Ou seja, agem de acordo com as expectativas dos cidadãos dos Estados-membro da UE. E aqui reside grande parte do problema. A bifurcação, a separação entre aquilo que deve ser feito e aquilo que efectivamente acontecerá. As mais recentes movimentações greco-alemãs apontam para uma solução forjada, a resposta híbrida de aparente capacidade de superação da Europa em nome do grande desígnio comunitário. A haver acordo, e consequente transferência de fundos para a Grécia, o problema será apenas preterido, adiado para data futura, mas com a agravante da "próxima" emergência ser ainda mais épica, de proporções muito maiores. Em todo o caso, material e substantivo, a Grécia já se encontra em default, enquanto que nos antípodas desse balancete prevalece a ideia de salvar a face a todo o custo. Foi para isso que os membros do Parlamento Europeu foram eleitos. É para isso que presidentes de Comissão Europeia são escolhidos - para garantir os níveis mínimos de ficção política. Temo, que a cada dia que passa, algo verdadeiramente dramático esteja para acontecer. E os políticos, domésticos ou internacionais, não foram programados para avisar as populações dos verdadeiros perigos que correm. We are living on the edge.
foto The Economist
Gabriela Canavilhas "rosnou" contra Manuel Maria Carrilho dizendo “Que morra para a vida pública quem agrida e maltrate a mulher”, sugerindo a sua expulsão do PS, por Carrilho ter ele próprio sugerido a expulsão de José Sócrates do seu partido.
Compreende-se a indignação de Gabriela Canavilhas: existe a presunção de inocência e Sócrates não foi ainda julgado nem condenado pela justiça, algo que Manuel Maria Carrilho deveria perceber muito bem porque também ele próprio não foi ainda julgado nem condenado pela justiça, algo que Canavilhas deveria perceber muito bem antes de condenar Carrilho, algo que Carrilho deveria perceber muito bem antes de condenar Sócrates. Já agora, será que alguém do PS pode arrotar esta questão da presunção de inocência ao ouvido da Isabel Moreira? Um caso bicudo, este.
No seguimento da iniciativa do Observador, António de Araújo e Gonçalo Matias escreveram um artigo que assinala diversos paradoxos, contradições e simplificações perigosas do projecto de revisão da Constituição esboçado pelos cinco convidados do Observador. Cumpre ainda assinalar um breve ensaio de António Barreto, que se não deixa de ter razão em muitas das críticas que tece, também não deixa de enveredar, infelizmente, pela ideia muito em voga de que cada geração deve ter a sua constituição. Trata-se, tão só, de uma manifestação do espírito jacobino, do racionalismo construtivista que advoga a eliminação das instituições existentes e a criação de novas instituições, que é contrário à tradição, ou seja, à transmissão entre gerações de instituições, costumes e convenções.
A Constituição deve ser revista, mas querer apagá-la ou expurgá-la da sua carga ideológica para fazer uma nova constituição ou incutir na actual uma carga ideológica liberal (a eliminação dos direitos sociais e do financiamento do acesso à saúde constituirão talvez a face mais visível desta agenda), é ceder às modas ideológicas do momento, é ceder apenas ao presente sem ter noção do passado, sem perspectivar o futuro e sem cuidar necessariamente de melhorar aquilo que é recebido e de transmiti-lo às gerações seguintes, ou seja, sem entender que, como diria Edmund Burke, a sociedade é um contrato entre os mortos, os vivos e os ainda por nascer.
Temos a Constituição que foi possível aquando da sua elaboração e que tem sido possível rever. Está longe de ser perfeita, e nunca nenhuma constituição o será. É verdade que, como qualquer conservador bem sabe, quando as instituições existentes são efectivamente más e não permitem vidas boas, não há nada a preservar ou reformar. Mas apesar de tudo, apesar de todos os defeitos da Constituição, Portugal faz hoje parte das sociedades mais livres e desenvolvidas do mundo. Isto foi conseguido, também, em parte, graças à Constituição. Por isso, talvez importe relembrar novamente Burke:
The science of government being therefore so practical in itself, and intended for such practical purposes, a matter which requires experience, and even more experience than any person can gain in his whole life, however sagacious and observing he may be, it is with infinite caution that any man ought to venture upon pulling down an edifice, which has answered in any tolerable degree for ages the common purposes of society, or on building it up again, without having models and patterns of approved utility before his eyes.
Leitura complementar: "(Re)pensar a Constituição Portuguesa".
António Costa e a sua troupe de iluminados, escreve, disserta, aconselha, declama, afirma, mas não tem noção do mundo real em que vivemos. Este é o evento que irá determinar a sorte de cada um. A ideologia, o populismo, a demagogia, a expressão absolutista da sua campanha, não servem de nada no mundo de realpolitik, hardcore. De acordo com Centeno e companhia será tudo às centenas, aos milhares, aos milhões - e isso faz lembrar outros números -, o 44 (por exemplo).Com o circo que se está a montar, Portugal pode vir a ficar em ainda maiores apuros se escorregar nas falácias lançadas em pré-programas eleitorais. Existe uma expressão em inglês que serve para ilustrar o grau de ingenuidade: they won´t even know what hit them when it hits them. O que eles querem sabemos nós: mama. Mas têm de levar um aperto para provar que são capazes. Este é o momento para espremer as promessas gloriosas daqueles que dizem abater as vacas magras.
O PSD que nos últimos anos reclamou entendimentos com o PS e propostas concretas por parte deste, é o mesmo PSD que corre a rasgar as propostas do PS de António Costa logo que são apresentadas, muito provavelmente antes sequer de ter lido o documento apresentado, ficando-se pelas grandes linhas. É o que dá a pouco séria política do mediatismo. Pelo menos no CDS as hostes são mais cautelosas e menos precipitadas - e bem.
No meio da aridez grosseira, rala, vil, imunda,basilar e infra-medíocre que é o país em estado de ante-implosão, importa dizer: cavastes vós esta cova.
Citação:
"crescimento acima de 2% com reformas"
Tradução:
inclusao de putas, roubo, proxenetismo, e abandono escolar entre os indicadores do PIB.
A escassos dias da fanfarra de Abril, dos cravos na lapela, dos discursos da geração de 74, da cantiga eles comem tudo e não deixam nada, seria bom que os aniversariantes da revolução olhassem para a direita, a direita geográfica - a Grécia -, e registassem o que o camarada Tsipras está a fazer. O amigo de longa data de Mário Soares acaba de decretar a transferência obrigatória de fundos de entidades públicas para o banco central, no sentido de suprir necessidades de caixa. Refiro-me a reservas de fundos de pensões, que embora possam vir a ser repostas, colocam em risco a vida de reformados e outros dependentes do Estado. Confirmamos algo cínico neste processo, pertença de regimes ideologicamente autoritários. Em última instância, Tsipras prefere matar o seu povo do que acatar as regras propostas pela ex-Troika. Não sei de que modo o que se passa na Grécia pode servir de fonte de inspiração para aqueles que juram defender o seu povo das intempéries e agressões externas. Tsipras quer sacudir a Austeridade de forasteiros, mas para o fazer terá de implementar uma modalidade doméstica - uma estirpe muito mais agressiva do que aquela imposta pelos exploradores do centro da Europa.
Começo pelo fim. Qual a instituição financeira que vai conceder um empréstimo ao Partido Socialista (PS), que pelos vistos não tem um centavo para mandar cantar um ceguinho eleitoral? Em plena época de comissões de inquérito ao GES e BES, não seria mal pensado nomear um corpo para averiguar os trâmites legais do financiamento deste (e outros) partido (s) antes de haver ilícitos e malas com notas a circular por aí. O povo de Portugal merece saber como os seus digníssimos representantes políticos metem dinheiro em caixa. Qual o banco que empresta? Qual a taxa de juro aplicada? Qual o spread ideológico? E quem do PS faz parte do conselho de administração da instituição financeira em causa? São simples perguntas que devem ser colocadas e respondidas em nome do socialismo democrático. Estas são algumas das implicações decorrentes do corte de água e de electricidade no Largo do Rato. Não se esqueçam. Esta é a força política que diz ser capaz de resolver todos os dilemas de Portugal. Mas há outras considerações existenciais para além da confirmação de que este partido viveu acima das suas possibilidades e que foi incompetente nas suas lides domésticas. O facto do PS não conseguir angariar financiadores no seu clube de camaradas revela que existe um défice de confiança no Largo do Rato. Se fizessem uma demonstração inequívoca de capital intelectual, teriam certamente o financiamento pelo qual agora choram. Eles vão andar por aí de mão estendida, ao que muitos irão responder: "eu já dei para este peditório e o resultado foi o que se viu". Abril notas mil.
Há qualquer coisa que não bate certo neste guião. A Grécia vive dias muito difíceis. Tem a corda na garganta. Prometeu libertar o seu povo da Austeridade imposta pela Alemanha e chora desalmadamente porque não tem como pagar as contas. Mas isso não a inibe de negociar a compra de sistemas de mísseis à Rússia. Tsipras confirma os nossos piores receios. Não é um libertador da Europa periférica. É um perigoso apostador que arrisca lançar a Europa na maior das imprevisibilidades. A Grécia está à espera de um ataque turco? De uma investida de Panzers alemães? A União Europeia procura salvar a face, mas estes eventos exigem uma tomada de posição intransigente. Será o povo grego que em última instância pagará a factura, mas repartirá a mesma pelos restantes europeus. A política de casino, bluff, e o cinismo de Tsipras terão certamente os seus dias contados. O problema, no entanto, serão os danos colaterais deixados ao abandono. A poesia lírica do Syriza, que serviu para encantar as Esquerdas da Europa, está a ceder o seu lugar a algo intensamente explosivo. Há limites que devem ser respeitados por aqueles que afirmam pertencer à grande família europeia. O mais irónico deste enredo é que serão os Estados-membros da União Europeia a financiar a compra do sistema de mísseis à Rússia. Tsipras faz lembrar outros chicos-esperto de praças conhecidas. Se deixarem, pegará nos dinheiros de "salvamento" para comprar brinquedos para fazer a sua guerra. Não se esqueçam, Tsipras é um produto europeu. Certificado democraticamente, eleito por cidadãos no seu perfeito juízo. Dêem dinheiro ao Varoufakis e Tsipras. E depois não se queixem quando o mesmo se extraviar.
A iniciativa do Observador é meritória e merece ampla divulgação, especialmente por estimular o debate. Mas afirmar que se procurou retirar carga ideológica à Constituição e substituí-la por um alegado paradigma neutro, quando esta alegada neutralidade é uma característica do liberalismo já criticada e demonstrada como errada por vários autores nas últimas décadas, em particular os comunitaristas, é um péssimo ponto de partida e uma tentativa de mascarar como neutro o que nunca o poderá ser. É tentar fazer avançar a agenda liberal pela porta do cavalo e isto, contrariamente ao que os autores e muitos outros poderão pensar, torna o liberalismo, como diria Oakeshott, numa mera ideologia - e só lhe dá mau nome. Ademais, é este péssimo ponto de partida que é transversal às várias tentativas dos autores deste projecto de retirar responsabilidades aos partidos políticos na condução da política nacional, ignorando que é na reforma destes e do sistema eleitoral que se encontra a chave para a melhoria da qualidade da nossa democracia, bem como na assunção de que o espírito de facção faz parte da condição humana e da democracia, como James Madison tão bem percebeu.