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Passagens de presidentes e de anos

por John Wolf, em 30.12.16

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Não é apenas o bode expiatório Correio da Manhã a partilhar essa possibilidade. O jornal Sol também interpreta o protocolo de Estado - a morte de um ex-Presidente da República pode significar o cancelamento de festejos de passagem de ano se for decretado o luto nacional. Este género de especulação mórbida não deve ser considerado jornalismo. Este estilo de reportagem, que não se restringe ao sol e à manhã é, no mínimo, despudorado. Não confundamos as preferências ideológicas, políticas ou partidárias de cada um, com o que está em causa. Entramos no domínio dos totolotos, das apostas múltiplas e do mau gosto por antecipação - o nível é baixo. Já basta o Dr. Barata aparecer à porta da Cruz Vermelha para tornar os portugueses reféns de instabilidade emocional e portadores de confusão mental, para agora sermos testemunhas de elaborações bizarras promovidas pelos meios de comunicação social. Estranho que a família próxima e afectiva de Mário Soares não tenha rogado ao país privacidade e decoro, mas de certa forma esse é o preço que parece estar disposta a pagar. A transformação da "hospitalidade" em espectáculo nacional, a cobertura e a sucessão de entrevistas de actores de todo o espectro político também demonstra uma certa miséria moral. Pensava que o homem privado ao menos o pudesse ser na sua hora. Dispensava este post mártir.

publicado às 18:19

Gado, Galamba e retratos

por John Wolf, em 28.12.16

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João Galamba é apreciador de pintura. Não sei se é impressionista ou nem por isso, mas pede a Maria Luís Albuquerque que se retrate nas suas declarações. A sua linguagem de artista confirma a sua infantilidade precoce. Neste tira-teimas a ex-ministra das finanças Maria Luís Albuquerque não deve ser tida nem achada. A pergunta: quem é o pintor mais falsificado em Portugal (?), vem mesmo a calhar. Em todo o caso, o governo de sua geringonça não se livra de uma Cargaleira de trabalhos. Quer Sequeira ou não, as contas de merceeiro de bairro não interessam no que diz respeito à obra-prima macroeconómica. É mais aguarela. Basta um molha-toldos de um Brexit para o desenho ficar borrado. Basta um deslize mais acentuado da crise bancária em Itália para haver réplicas e contrafacções de chatices maiores. Pese embora uma certa favorabilidade das contabilidades da casa, Portugal está a caminhar sobre areias movediças. Quero ver Portugal na CES, na CES!  (Concertação Económica e Social) parece ser a cantiga do momento - é aqui onde decorre a faena principal.  A bravura ganadeira do rabujador do Partido Socialista Santos Silva também deve ser re-retratada por Galamba numa sessão de pinturas avulso. O invocador de reses disse tudo e deixou escapar a bandeirilha. Serão os funcionários públicos que em última instância terão de suportar os fardos, as farpas. Será o salário mínimo a ficar aquém da palete de intenções. E serão os patrões que terão de sentir o alívio neo-liberal para continuar a bombar. E lá se vai o ideário de Esquerda com uma demão de guache, gauche. Em todo o caso, e para não nos desviarmos do essencial das belas-artes, é óbvio que medidas extraordinárias e irrepetíveis terão de ser contempladas. Um orçamento de Estado, e as respectivas contas que decorrem do mesmo, são uma imensa manada de trabalhos. E há sempre desvarios. Desvairados que julgam que não.

publicado às 17:30

A grande fila ética

por John Wolf, em 27.12.16

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A boa vontade e a generosidade de tantos portugueses que nem sequer conhecemos é posta em causa pelas batatas podres ensacadas nas nossas sociedades. Não me refiro a comunidades (onde as forças agregadoras são superiores às de desagregação - lede Ferdinand Tönnies). Essas já deram o berro. Quando vou ao Pingo Doce ou à mercearia do bairro, lá aparece a D. Hermínia, que do alto dos seus 80 anos não ousa pedir que lhe concedam facilidades - aguenta-se na fila com a aura de estertor. Por seu turno, o Telmo que deixou o carro a trabalhar e que tem o filho doente e que perdeu as chaves e que  tem a mesma mazela antiga na coxa e que não tem tempo, serve-se desta mesma ficção para defraudar as Donas Hermínias deste mundo. Mas há mais. Há o jovem arrumador que ostenta a única Cergal do mundo ainda fresquinha e que se faz ao tapete rolante da moça-caixa que se sente intimidada pela picada de toxicodependente. Mas isto não tem a ver com classes ou carteira profissional. Como se chama aquele rapaz que lançou aquela triste rede de lojas (?) chamada Amo-te Chiado ou o raio que o parta? Qualquer coisa Pedro Ramos Serranos, ou Ramos da Serra. Há um bom par de anos, a dita celebridade corta-me o caminho e apodera-se do funcionário da FNAC que me atendia justificando o impropério como um: tenho uma pergunta rápida. O problema que se nos apresenta é mais complexo e não se restringe aos idosos, aos deficientes ou grávidas. De um modo geral a procura da vantagem está enraizada na psique colectiva. Acho muito bem que sevícias financeiras sirvam para disciplinar os mais incautos. Quantas vezes não assisti ao insulto, prenho de ofensas, à grávida na fila do supermercado que leu correctamente o placard de fila prioritária? Triste sina esta que confirma o descalabro moral  e que implica a mão castigadora de uma entidade alegadamente sem doutrina de fé. A ideologia política não serve de grande coisa para alavancar alibis e razões. O critério diz respeito à essência humana, à alma  - à lama. Qualquer dia, quando o aperto for a sério, ninguém acredita. E borramo-nos todos.

publicado às 20:10

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Hoje é dia 26 de Dezembro. O Natal já lá vai. Não quis fragilizar ainda mais o meu estado de espírito nesta quadra de celebração, por isso apenas hoje deitei os olhos à mensagem de Natal de António Costa. Amigos, não o façam. Não percam 5 preciosos minutos das vossas vidas. Isto é mesmo mau. Sacrifiquei-me em vosso nome e vi o filme - espero não ter ficado contaminado. Há quem afirme que António Costa é o derradeiro animal político, o último grito de acutilância e mestria empática, mas estão totalmente enganados. Está tudo errado. É tudo mau. O discurso do primeiro-ministro assemelha-se ao de um vendedor de canal por cabo. As frases do guião que passam em teleponto não poderiam ter sido mais sórdidas e cavernosas. O homem não dá uma para a caixa da substância, mas até poderia acontecer narrar estrofes vazias e fazê-lo com arte retórica. Não é isso que acontece. A melodia da comunicação foi substituída por uma cassete semelhante àquelas metidas por regimes jurássicos. Isto não é nada. Isto não é digno de Portugal nem dos jardins de infância todos somados. Uma criança que veja este teledisco fica com tendências destrutivas, com vontade de ir à fuça do educador de infância. Nesta emissão encontramos vestígios bafientos de um regime invalidado há décadas, sintomas de sevícias ideológicas e sinais claros de sobranceria partidária. Ainda faltam alguns dias para o final de 2016, mas pior era difícil. RIP, George Michael.

publicado às 18:31

União de facto de Fernando Pessoa

por John Wolf, em 22.12.16

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Tenho de ter alguma atenção. Os amigos são amigos dos seus amigos, e não necessariamente amigos da ética e dos valores que devem nortear as nossas sociedades. Não faço parte do clube dos amigos Disney. Não andei a dar palmadinhas nas costas e a obter favores de proximidade. Estou à vontade. Sou um bastardo dessas sortes de salão, um desfiliado da amizade de décadas de grémio. O que diria Fernando Pessoa da união de facto dos 38 consagrados que se inscrevem na pauta em defesa do bom nome de Inês Pedrosa? Não teço comentários sobre o desempenho da escritora nem sobre a direcção da casa Fernando Pessoa. Não é isso que está em causa. Bastou-me mencionar a "possibilidade" de Marcelo Rebelo de Sousa puxar cordelinhos para prolongar a excepcionalidade da Cornucópia e seu mentor, para que prontamente fosse designado de "achinquilhador". Prontamente atiraram-me à cara que desconhecia os 43 anos de arte e saber. Não quero ver a lista de desassossego dos macróbios da terra para não ficar ainda mais enojado. Reporto-me aos factos. Houve favorecimento de um companheiro? Houve dinheiros atribuídos em virtude de "contratos" que não obedeciam ao normativo vigente? Houve lesados directos por não terem tido às mesmas condições de acesso a um expectável concurso? Em vez de buscarem o silêncio e a penitência, os 38 artistas que fazem parte do casamento, são homónimos da mesma prevaricação. Nada em Pessoa é insignificante. Nem essa nuance burocrática. E ele avisou-nos em tempos idos, em vida e depois de desfalecido. De pouco serviu.

publicado às 19:55

Aí vêm os bancos americanos!

por John Wolf, em 21.12.16

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Podíamos viver sem bancos? Podíamos viver sem crédito? Podíamos viver sem títulos de dívida? Podíamos viver sem resgates do FMI? Perguntem a Catarina Martins, a Mariana Mortágua, ou ao guru que as conduziu pelos caminhos da verdade - Francisco Louçã. Releio o académico anarco-esquerdista norte-americano David Graeber e o seu pensamento expresso na obra-  Dívida, os primeiros 5000 anos -, a resposta é inequívoca: não. Não, o crédito sempre existiu. O dinheiro sempre foi desigual e para mal dos pecados europeus, na grande competição planetária de instituições financeiras, os EUA estão a dar uma ripada na Europa. Os bancos europeus, se fossem equipas de futebol, estariam bem mais próximas da Liga de Honra do que aqueles lugares que dão acesso aos grandes prémios da UEFA. O Barclays é um brexitário financeiro e o Deutsche Bank tem de pagar uma multa às autoridades americanas - pouca coisa, uns 6 a 7 mil milhões de USD ou Euros (sim, a paridade está bem perto). Nem vou mencionar o banco-barraca CGD por ser irrelevante neste campeonato. O que eu vejo ou prevejo é o seguinte. A administração Trump vai agitar as águas da "normalidade" e tirar partido da letárgica "tradição" europeia. Bastou o pequeno sopro do fechar da torneira de liquidez por parte da Reserva Federal para o dólar americano galgar a marca psicológica dos 1.04 face ao Euro. E isto tem consequências para este cantinho à beira-mar plantado. Os títulos de dívida dos Estados-membros da Europa dependem em larga escala da procura exterior e, no contexto da crise, foi o BCE que substituiu os agentes do mercado que foram incapazes de produzir a procura requerida dos títulos em causa. Se o dólar fortalecer ainda mais significa que a compra de títulos de dívida expressos em Euros se torna mais em conta para essa divisa e, por analogia ao Japão que detém grande parte da dívida dos EUA, a dívida europeia passará a estar nas mãos de entidades bem longe dos centros de decisão europeus. Sim, a UE tornar-se-á refém de bancos de além-mar e arredores. Mas há mais. Os commodities, como o petróleo ou o cobre, são expressos em USD o que dificultará o trabalho de governos de mãos largas que são obrigados a obter dólares para deitar a mão a energia ou vigas de ferro. Eu sei que estou a dar uma grande volta neste texto, mas ainda não percebi, à luz destas singelas considerações, como António Costa e a sua escola irão pagar as extravagâncias anunciadas para a década e para o ano de 2017. Foi o primeiro-ministro que anunciou há dias que o sector da construção precisa de levar um empurrão. E nós sabemos que o chefe do executivo não está a pensar num New Deal à Trump. Está a pensar no sistema político. Está a revalidar a chave socialista que permite enfrentar as tormentas. Foi o sector da construção que aguentou os socialistas em diversos mandatos, mas fez descambar as contas cada vez que houve um seu governo. Foram os lanços e sub-lanços de estradas que inquinaram as contas. Foram as auto-estradas para nenhures que comprometeram orçamentos de Estados. Foram elefantes brancos e outras bestas dispensáveis que descarrilaram Portugal. Enfim, todos sabem o que foi e como foi. Mas ao fim e ao cabo, com  todas estas extravagâncias, perde-se algo de essencial. A genuína ideia de empreendimento, de geração de dinâmicas económicas, a  noção de retorno e acima de tudo justiça social. Assim não funciona. E isto aplica-se a projectos de ordem diversa. Não excluo a Cornucópia e afins. São bons exemplos de erros de intransigência e incompetência em gestão de empresas. Há dias brinquei com a ideia de um Teatro Haitong ou uma Fundação das Artes Altice, mas não estava a brincar. A imagem é boa e serve. Portugal deve rapidamente pensar uma estratégia duradoura. No entanto, o país padece de um problema grave - a falta de visão. E nessa obscuridão lá aparece um velho projecto sacado da mesma gaveta de promessas e avarias. E que tal um novo aeroporto? E lá surge uma OTA de cara lavada para fazer mexer o sector das construtoras. É assim que funciona. Dizem que é teatro. Mas sai sempre caro. Não acreditem. Dinheiro não cai dos céus. E daqui a nada quando os bancos Wachovia ou a Wells Fargo abrirem sucursais na Lapa e no Intendente não roguem pragas ao Durão Barroso e à Goldman Sachs. O cozinhado é da casa. A receita tem dono.

publicado às 15:28

Turcos, Russos e Berlinenses

por John Wolf, em 19.12.16

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O assassinato do Embaixador Russo Karlov em Ancara deve ser interpretado à luz dos interesses comuns da Rússia e Turquia. São mais os pontos convergentes entre os dois Estados do que aqueles que os separam. Os regimes de ambos os países dependem em larga escala da justificação excêntrica. Quer Putin quer Erdogan poderão validar de um modo ainda mais intenso o modus operandi dos seus aparelhos. O alibi terrorista "externo" serve convenientemente a escalada de sistemas de controlo interno, a repressão dos media, os ataques aos inimigos que alegadamente polvilham destinos como Alepo, o reforço do apoio a um regime análogo como aquele de Assad na Síria, mas sobretudo uma certa eternização dos pressupostos de política interna e externa russa e turca.  Desenganem-se aqueles que realizam a leitura deste ataque terrorista à luz de um conflito entre os Estados formais - entre a Turquia e a Rússia. Os dois Estados, simbioticamente, saberão extrair dividendos deste evento. Erdogan poderá invocar a necessidade de uma ainda maior limpeza das forças de segurança interna e incrementar o seu processo de saneamento. Quase simultaneamente o ataque terrorista no mercado de Berlim parece obedecer a uma lógica de oportunidade e não tanto de premeditação. O primeiro evento envolvendo o Embaixador Russo em Ancara serviu para "ligar" as antenas dos media internacional, e à boleia desse facto, os actores envolvidos em Berlim terão aproveitado a deixa. A Turquia que já havia plantado sérias dúvidas em relação a uma putativa pertença à União Europeia, aproveitará este evento para se distanciar ainda mais das instituições europeias que têm demonstrado grande ineficácia no que diz respeito ao grande desafio migratório, e a montante ou jusante, o drama sírio. A Rússia tem a sua agenda determinada há já algum tempo, e estes trágicos acontecimentos em nada descarrilam os seus processos. Isto não acaba aqui. Nunca acabou. Nem terminará. Este é o nosso mundo.

publicado às 20:26

A cornucópia de Marcelo

por John Wolf, em 18.12.16

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Antes que me atirem dardos; a seguinte manifestação de opinião nada tem a ver com a qualidade ou a substância da missão da companhia teatral a Cornucópia. Tem mais a ver com Marcelo e algumas dúvidas existenciais. O Presidente da República Portuguesa tem de decidir se quer ser um mero agente da sociedade civil ou se um digno titular do cargo público que ocupa. Não pode misturar as peças. Não pode confundir os distintos teatros de operações. E não pode vestir qualquer farda a seu bel prazer. Por mais afectos que nutra pelo seu amigo Luís Miguel Cintra, Marcelo simplesmente não pode fazer uso de prerrogativas institucionais disfarçadas de informalidade e convívio para alavancar soluções que dizem respeito ao putativo ministério da cultura. Mas há mais. Se vai a uma tem de ir todas. Tem de ir às companhias teatrais de norte a sul do país, que com igual empenho e devoção, quantas vezes pro bono, servem a mesmíssima causa e que também se encontram em situação precária, senão terminal. Eu sei que o estatuto de Deus conta muito em Portugal. Que Luís Miguel Cintra é um monstro da cultura e que deve ser protegido custe o que custar. Nada de mais errado. O princípio que parece estar a ser posto em prática põe em causa algumas nuances ideológicas. A saber; que o dinheiro da maioria dos contribuintes deva servir causas parcelares, por vezes despropositadas intelectualmente ou culturalmente, de certos agentes, porque a cultura não é "mensurável" em termos de investimento ou retorno financeiro. O que está ser chorado não é muito diferente da missa do salvamento de bancos privados, a título de exemplo, e sem adiantar mais em analogias.  Do lado das cornucópias do país também há críticas a realizar. Os encenadores e directores de companhia não podem assumir cargos de gestão. Não é essa a sua missão. Devem concentrar-se naquilo que sabem fazer. Ou seja, no fogo-cruzado de razões e lamentações que já vai no ar, convém realizar a destrinça entre o efémero e o essencial. Portugal não detém uma visão sustentável e de longo prazo no que diz respeito às artes e letras, e os sucessivos governos ainda estão contaminados com a ideia doutrinamente carregada de que o Estado deve, "a fundo perdido", subvencionar as artes e os devaneios intelectuais que o pobre do cidadão comum mal consegue assimilar. Assim não se educa um povo, e confirmamos assim, que existe aqui alguma perversão. Uma certa intenção tácita em manter o fosso entre as Óperas e os festivais onde deambulam meritoriamente, e dentro do seu género, espécies como Tony Carreira e afins. A discussão é longa e relevante, mas na maior parte das vezes infrutífera. Hoje Cornucópia, amanhã a Barraca. Abana tudo, no fim.

publicado às 13:35

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Cass R. Sunstein, The World According to Star Wars:

 

But the Force is not merely about human psychology, behavioral biases, or even magic. It is far murkier and more mysterious than that. Above all, it involves a “leap of faith”. Qui-Gon insisted that “[t]he ways of the Living Force are beyond our understanding.”

 

Undoubtedly so, but the ways of George Lucas are pretty transparent, at least here. He was and remains intensely interested in religions, and he sought to convey something spiritual. When he was just eight years old, he asked his mother, “If there is only one God, why are there so many religions?” He’s been fascinated by that question ever since. In writing Star Wars, he said, “I wanted a concept of religion based on the premise that there is a God and there is good and evil… I believe in God and I believe in right and wrong.”

 

Stars Wars self-consciously borrows from a variety of religious traditions. Lucas thinks that in an important sense, all of them are essentially the same. He is clear about that, insisting that in doing that borrowing, he “is telling an old myth in a new way.” We have seen that he was immensely influenced by Joseph Campbell, his “last mentor,” who claimed that many myths, and many religions, were rooted in a single narrative, a product of the human unconscious. Campbell can be taken to have given a kind of answer to eight-year Lucas: there is one God, and all religions worship Him. Campbell argued that apparently disparate myths drew from, or were, the “monomyth,” which has identifiable features.

 

In brief: A hero is called to some kind of adventure. (Perhaps by circumstances, perhaps by someone in distress.) Initially he declines the call, pointing to his fears, his habits, and what he can’t do. But eventually, he feels compelled to accept the call and leaves his home. Encountering serious danger, he needs, and obtains, supernatural aid, often from a small, old, or wizened man or woman. (Think Obi-Wan or Yoda.) He is initiated through various trials, some of them life-threatening, but he manages to survive. Then he faces some kind of evil temptation, perhaps from a satanic figure, whom he resists (with severe difficulty). At that stage he has a reconciliation with his father – and becomes godlike, a religious figure (the apotheosis). Defeating the most dangerous enemies, he returns home to general acclaim.

 

That is, of course, a summary of many myths and many religious traditions; it also captures countless books, television shows, and movies in popular culture. (The Matrix, Batman, Spider-Man, Jessica Jones, and Harry Potter are just five examples; many comic books, and the movies based on them, have a similar plot.) In a nutshell, it’s Luke’s journey in the first trilogy. In Lucas’s words, “When I did Star Wars, I self-consciously set about to recreate myths and the classic mythological motifs.” The Hero’s Journey also captures much of Anakin’s in the prequels – with the terrific twist that Anakin becomes a monster, not a savior. But as it turns out, he’s the ultimate savior, the Chosen One who restores balance to the Force, and so his journey nicely fits the standard pattern if the six episodes are taken as a whole. Seeing the first trilogy for the first time, Campbell was inspired: “You know, I thought real art stopped with Picasso, Joyce and Mann. Now I know it hasn’t.”

 

As Lucas put it, “With Star Wars, it was the religion – everything was so taken and put into a form that was easy for everybody to accept so it didn’t fall into a contemporary mode where you could argue about it. It went everywhere in the world.” The enduring triumph of Star Wars is that it takes a familiar tale, built into disparate cultures and psyches, sets it in a wholly unfamiliar setting, makes it effervescent and fresh, and gives it a series of emotionally daring twists, thus allowing a series of kids’ movies to touch the human heart. Our modern myth is both a spiritual quest and a psychodrama, insisting that redemption is always possible, that anyone can be forgiven, and that freedom is never an illusion.

publicado às 01:20

 

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Poderia começar este soneto com o seguinte adágio - um dia plasma, no dia seguinte papel higiénico. De uma vez por todas, para que não apareçam todos com cara de espantados e a equivalente expressão estampada na face "não sabia de nada", talvez seja o momento, embora já com um atraso enorme, para efectuar o inventário exaustivo de TODOS os contratos firmados por todos os governos de Portugal. Dêem um nome à coisa; auditoria do Estado, fiscalização continuada dos contratos firmados pelo governo, mas por favor evitemos as novelas sem fim. Para cada plasma corrompido deve haver material requisitado a outras mono-entidades. O problema fundamental prende-se com o seguinte. O regime político vigente em Portugal assenta no clientelismo, que se em tempos fora discreto, nos últimos tempos assumiu a forma descarada, sem vergonha, despudorada. Sabemos sempre à priori que nunca há culpados nem responsáveis. São coisas que acontecem. A matriz cultural do país aponta no sentido da normalização dos desvios e extravios. E essa "norma" comportamental afecta todos os quadrantes da realidade. Monopólios há muitos. Existe o monopólio do emprego dado ao sobrinho pelo director da empresa pública. Existe o monopólio dos restaurantes que ganham as estrelas Michelin. Existe o monopólio de um certo local onde é possível dar um jeito a processos burocráticos. Existe o monopólio do humor que está nas mãos de certos intervenientes que querem corrigir com uma mão a borrada feita pela outra. Existe o monopólio do agenciamento de jogadores de futebol. Existe o monopólio de grupos editoriais que dominam os manuais escolares. Existe o monopólio de críticos literários que tornam os seus amigos escritores muito mais apetecíveis. Enfim, existem monopólios sem fim que mataram a ternura e a inocência daquele jogo de tabuleiro que, bem vistas as coisas, afinal era uma ferramenta para transformar indíviduos e sociedades em meras entidades cínicas dispostas a trocar fichas humanas em nome do lucro fácil. A maralha toda que faz parte deste conluio de favores e recompensas não passa de agiotas. Venha de lá aquele programa para debater os prós e contras do plasma. Já chega.

publicado às 12:32

Azeite Sim, Crude Não!

por John Wolf, em 14.12.16

 

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Cancelados os contratos para prospecção petrolífera na costa algarvia!

O azeite é o único crude de Portugal!

 

Todos os direitos reservados © Kondo, Wolf & Julião

publicado às 16:44

Rexpolitik de Trump

por John Wolf, em 13.12.16

 

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Pode parecer um choque politicamente incorrecto, mas de um ponto de vista conceptual e pragmático, a nomeação do CEO da Exxon Rex Tillerson para Secretário de Estado do próximo governo dos EUA, deve ser assumida como uma interpretação de Realpolitik particularmente brilhante. Quase todos os conflitos dos tempos modernos, ocorridos no Médio Oriente, ficaram a dever-se a interesses energéticos digladiantes. Embora tivesse havido sempre o adorno ideológico de um mundo bipolarmente repartido, em primeira e última instância, o petróleo foi o combustível de alianças políticas e dissabores bélicos. Trump realiza um salto indutivo surpreendente. Não é necessário tomar ou largar partidos para constatar este facto. A dimensão inédita da nomeação "atípica" para esta pasta significa diversas coisas. Em primeiro lugar; Trump assume que o petróleo é o tema maior da política externa dos EUA e dos seus principais interlocutores. Em segundo lugar; embora a América tenha atingido a tão desejada independência energética, sendo há uma boa meia-dúzia de anos exportadora líquida de diversas soluções carburantes, a verdade é que tal condição não é passível de ser repartida com rivais - a dependência dos outros é condição basilar para a vantagem geopolítica americana. São ângulos de análise desta natureza que convém resgatar para realizar uma leitura desapaixonada das particularidades em causa desta nomeação. Rex Tillerson terá competências que não são detidas por Henry Kissinger e muito menos por Hillary Clinton. Se a Síria possa parecer um tema desconexo do quadro energético da região, talvez seja boa ideia repensar os vectores que estão em jogo. Lentamente, embora polvilhada de riscos, uma doutrina Trump começa a emergir. O intervencionismo americano, tantas vezes sancionado por diversos detractores de quadrantes ideológicos distantes, parece agora assumir contornos híbridos. Quando Obama se desligou das causas do Médio Oriente, nem mesmo a Esquerda o quis aplaudir, porquanto os resultados práticos da "saída americana" foram, para dizer o mínimo, catastróficas. Vejamos o que o resto do mundo reserva para Trump e a inauguração de uma nova modalidade de política externa menos académica e mais endémica. Ninguém sabe ao certo se Rex será cru ou se é apenas crude.

publicado às 15:45

O cavalo dado do IMI

por John Wolf, em 12.12.16

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Esta notícia seria perfeita, um conto de fadas, se não existisse um universo de taxas e impostos para compensar esta generosidade - a cavalo dado não se olha o dente? Já agora, uma vez que lidamos com dentição e mordeduras, sabem quantos dentes tem um equino macho? Isso mesmo. São 40 dentes. E uma égua? Esta vai surpreender a malta - pois, são 36 dentes. O governo de geringonça pensa que coloca a albarda em cima dos contribuintes como se estes fossem burros, mas não são. Em economia, e por arrasto finanças, convém comparar laranjas com laranjas. Até aqui tudo bem. O IMI baixa de um modo genérico, mas como fica o nível de rendimentos dos portugueses tendo em conta as invenções tributárias (os outros impostos e taxas) que por aí grassam? São contas de bolo fatiado que convém analisar, ou seja, todas as nuances. Isto de dizer uma coisa fora de contexto dá azo a suspeições. Como vai o sector imobiliário? Será que está a fraquejar? Será que os franceses já fizeram as compras que tinham a fazer no Chiado e acabou? Quando atiram estas migalhas ao ar, assim sem mais nem menos, gosto de saber da rala toda. Não me agrada uma meia-tese ou um quarto de análise. As matérias devem ser apresentadas na íntegra e colocadas sobre matrizes de conjuntura. Por exemplo, e como quem não quer a coisa, Portugal poderá vir a estar em apuros com as "novas " medidas de Draghi respeitantes ao estímulo das economias falhas da Zona Euro. As taxas de juro dos títulos de dívida estão nos niveis que se sabem, portanto não me venham com esta história de que os encargos com o IMI baixaram. Que se lixe o IMI se os outros impostos que não são nada ami. O que interessa são as autárquicas.

publicado às 12:45

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Quando a falência ética é total, devemos esperar tudo e mais alguma coisa. O Isaltino Morais sente uma pressão enorme da sua igreja de seguidores - aqueles que acreditam na máxima "roubou, mas deixou obra". É essa mesma inspiração que sustenta o outro que é Major e o outro que é Miranda. Sentem a ternura do povo, o apelo da missão a cumprir, mas sobretudo a grande injustiça de que foram alvos. Querem provar que estão vivos e são recomendáveis. Esta linha de reflexão filosófica ainda há-de ser aproveitada pelo guru maior. Daqui a nada, Sócrates que tem sido tão maltratado por Costa, anunciará uma candidatura num daqueles épicos almoços com direito a livro inventado na calha de uma choldra. Ora pensem lá comigo. Se fossem Sócrates começavam em que local? Isso mesmo. Lá para os lados da Covilhã onde andou a esquissar armazéns e garagens em estiradores de betão. O 44 têm andado nos treinos, mas não julguem que é para aquecer apenas. Vai sair qualquer coisa de calibre notável - umas autárquicas devem ter a medida certa para as suas primeiras ambições. E não será pela porta do Rato. O Soares andou a apaparicar o menino, mas no crepúsculo da sua vida ainda há-de ver Sócrates tornar-se inimigo visceral dos socialistas da moda. Valentim, Morais e Miranda são os magos. E Sócrates é o menino que está para renascer.

publicado às 08:48

Geringonça, por quem os sinos dobram

por John Wolf, em 07.12.16

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Onde é que eu ia? Ah, muito bem. Já sei. Distraí-me com a Caixa Geral de Depósitos, o desastre aéreo na Colômbia  o apuramento para os oitavos, a meia de elástico da Tadeu e as promoções do Pingo Doce. De maneiras que é assim. Os italianos de Nápoles não foram simpáticos, mas os italianos de Itália também não estão a ajudar - Referendo para que te quero. Antes de começarem a bater no Commerzbank e a chamar nomes aos alemães, lembrem-se que foi inaugurada a época natalícia, que entramos em pleno na época de paz, embustes e promessas grandiosas para o ano que vem. O Banco Central Europeu (BCE) já sabe o que António Costa tem vindo a negar: Portugal é candidato a um dos lugares cimeiros da crise europeia. Daí que Draghi e companhia já tenham ameaçado manter a compra de títulos de dívida nos estados-membro em apuros ao ritmo de 80 mil milhões de euros até ao final de Setembro de 2017. Ou seja, o mercado já está a descontar a crise europeia que parece passar ao lado da geringonça. O timing para se estar no sector da banca não poderia ser melhor para patrões e para detentores de acções de instituições financeiras. O dinheiro fresco ficcionado pelo BCE vai directamente para a toxicodepêndencia monetária de países como Portugal, embora tenha sido pensado para o cliente italiano (não se esqueçam da Grécia). Depois temos as outras autárquicas de arrumação política-monetária - o Brexit efectivo que causará mossas nos planos bi-quinquenais de Costa. E não há nada que se possa fazer para barrar o que se passa para além da Mancha. Que fique esclarecido: as obras de Medina nas artérias de Lisboa não são investimento. Não geram produtividade. São florzinhas de estufa. Os putativos ciclistas que farão uso das vias verdes que estão a ser plantadas, baixarão o colesterol, mas não serão um alívio para o Serviço Nacional de Saúde. Há taquicardias que não podem ser evitadas. Invistam fortemente no Natal.

publicado às 11:57

Itália e os grilos europeus

por John Wolf, em 05.12.16

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A União Europeia (UE) não é uma união, mas a Europa é uma democracia. Os Estados-membro de uma e de outra exprimem a sua vontade política de um modo assimétrico. Julgavam todos que a Áustria iria pender para um lado, mas inclinou-se para outro. Matteo Renzi, porventura inspirado por David Cameron, apostou o tudo ou nada no referendo e o resultado está à vista. A Itália e o Reino Unido, um continental e o outro nem por isso, rasgam o manto do projecto europeu, colocando à vista de todos as frágeis costuras de uma construção cada vez mais duvidosa. Estamos cada vez mais à mercê de um fenómeno imprevisível de desmontagem de um sistema político. Se existia uma alma mater na génese da Comunidade Económica do Carvão e Aço, ou espiritualidade nas propostas de Schuman e Monnet, as mesmas são agora meros fantasmas. Resta saber se não terá chegado o momento da UE pensar uma saída limpa. Uma saída da sua própria condição. Enquanto decorrem processos eleitorais parcelares no espaço intra-comunitário, as instituições da UE tardam em pensar uma iniciativa estruturante, um modo de calibrar o pensamento dos europeus em relação ao seu futuro. Por outro lado, a Itália pode bem ser o melhor exemplo da patologia crónica que assola a Europa - para quê mudar? O grande deficit a que assistimos nos processos eleitorais já decorridos e naqueles que se avizinham, tem a ver, na minha opinião, na não inclusão de um clausulado de responsabilidade no que diz respeito à integração europeia. Ou seja, cada qual lida com a sua casa do modo que melhor entende, mas o edifício, o condomínio de interesses comuns da União Europeia, fica para depois. Ou seja, a cada expressão de individualidade democrática dos Estados-membro da UE, a mesma enfraquece. É esta contradição que faz a UE enfermar de problemas genéticos enquanto exulta continuamente as virtudes da liberdade política e reclama a alegada superioridade moral da Europa. No entanto, a sua tradição política é precisamente essa. Assenta na ideia de movimento epicêntrico, baseia-se na ideia de que as fissuras nunca abalarão os princípios subjacentes. A UE também sofre de um problema de linguagem. Estes fenómenos não são excêntricos nem atípicos.  Passam-se dentro de portas. E os personagens que fazem os enredos não são de todo estranhos. São produtos internos. Brutos ou nem por isso.

publicado às 09:38

Um Anuário para a História

por Nuno Castelo-Branco, em 04.12.16

 

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Costumo percorrer com os olhos a vastíssima biblioteca do meu pai e é possível encontrar o que pretenda, por mais estranhos possam ser os temas. Em soma às muitas centenas de volumes que vieram de África, juntam-se milhares de outros adquiridos na Europa, surgindo como surpresa, o seu apego por obras que julgaríamos completamente afastadas da procura de um homem que antes de tudo se interessou pela grande e pequena História e respectivo anedotário relativamente picaresco, bem como pela literatura e aquela gastronomia que indelevelmente marca o ritmo da passagem dos séculos. 

Este espesso volume faz parte da história que um dia será contada e não acredito existirem muitos sobreviventes da ampla tiragem um dia feita pela Casa Bayly estabelecida em Lourenço Marques. Esta empresa tinha angariadores de assinaturas que garantiam a presença do nome de uma multidão de entidades e como seria previsível, não está completo. Falta uma miríade de empresas que pelos mais diversos motivos não quiseram pagar para aqui aparecerem, mas estas 1800 páginas são uma boa súmula daquilo que foi o Moçambique do início da década de setenta. Se a tudo isto ainda somarmos as anónimas iniciativas que abriam lojinhas-cantina mato fora, ainda teremos um quadro bastante impreciso daquilo que existiu. 

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Torna-se esmagadora uma pesquisa, mesmo que sumária e na diagonal. São tantas as empresas, são tão diversos os sectores de actividade, são de tal modo completos os serviços públicos presentes no então Estado de Moçambique que dir-se-ia estarmos a tratar de um país perfeitamente estruturado e capaz de de auto-governo e não de uma dependência política e ultramarina de uma nação europeia. 

Na agricultura e na pecuária, nas pescas, em praticamente todos os sectores da indústria e serviços, no comércio, turismo, assistência sanitária e escolar e mesmo a inopinada existência de uma Junta estatal da Energia Nuclear, os nomes sucedem-se, fazendo-me recordar alguns que eram visíveis em anúncios ou placards nas avenidas da capital moçambicana, ou em organogramas que ocasionalmente me passaram pela vista de adolescente.  

Em termos comparativos, este Anuário é o mais vasto entre aqueles até então publicados, pois nas estantes do meu pai encontro outros de décadas anteriores, sem dúvida mais modestos e pontilhados por sonantes nomes estrangeiros que a economia local fez com que deixassem de ser pertença de companhias majestáticas sediadas em Londres, Joanesburgo, Amesterdão ou Berlim. Folheando-os de vez em quando reconheço nomes de pessoas que conheci. Os portugueses foram nacionalizando essas actividades, normalizando-as no contexto local e sem que isso significasse o esbulho puro e simples daqueles que as detinham. Tornaram-nas parte integral da paisagem económica de uma Colónia que o deixou de ser para passar a ostentar o nome de Província e na fase final da soberania portuguesa, acabou como Estado, aquele degrau que precedia a natural independência a que desde muito cedo habituei os ouvidos nas conversas escutadas à mesa ou com as visitas que tínhamos em casa. Sim, falava-se da independência, mas muito longe do tipo de independência que aconteceu. Não se tratava daquilo que imediatamente alguns leitores porventura estarão a pensar, na independência paralela ao que sucedia na então Rodésia ou na África do Sul. Os portugueses dos anos sessenta e setenta jamais tolerariam algo de remotamente semelhante. O regime enviava de Lisboa para os bancos da escola a mensagem que literalmente falava  "do Minho a Timor" e isso era entendido a nível local como integração de todos. O caso da prática era outro assunto mais complexo e que requeria um curto espaço de tempo que tratando-se de história, significava umas poucas décadas, apenas uma geração. 

A administração portuguesa e as suas entidades locais conseguiram realizar uma obra impressionante que não se limitou aos centros urbanos. O interesse pelo país desbravou o interior, ali instalando a administração do Estado que construiu escolas primárias nas vilas que crescendo, em poucas décadas se transformaram em cidades como Tete, Quelimane, Nampula, Porto Amélia ou Vila Pery. As escolas secundárias e os liceus foram surgindo com o passar de poucas décadas e banalizaram-se. Alguns que se interessaram e amaram aqueles locais, mais tarde sobre a sua experiência escreveram algumas memórias, fazendo a história do que viram e ajudaram a criar

Politicamente este é um Anuário nefasto, pois em si contradiz praticamente tudo aquilo que convém fazer passar por verdadeiro e indiscutível. Habituados como estamos ao ... não fizeram nada durante quinhentos anos que afinal acabaram por ser pouco mais de noventa, este pesado volume fará as delícias dos historiadores que num futuro que considero possível já não se encontrar tão distante, dedicar-se-ão a realizar precisamente aquilo que jamais foi feito: a História. Estarão eles interessado em descortinar como se organizava a governação portuguesa em Moçambique? Bastar-lhes-á seguir o que existia e foi sendo acrescentado ao longo de decénios, confirmando aquilo que hoje todos sabem e preferem não reconhecer publicamente, ou seja, o colonialismo não é possível ser encarado como um todo, uma amálgama que anacronicamente irmane e unifique o correr de umas tantas gerações. Ainda há uns dias a RTP 2 passou um programa em que o objecto de interesse era o grande fotógrafo moçambicano Ricardo Rangel e este fez exactamente o que honestamente não podia ser feito: a amálgama que facilmente induz ao engano, à re-invenção de uma história mais conveniente a quem detém o poder. O Moçambique em que nasci era certamente muito diferente daquele dos anos trinta em que os meus pais vieram ao mundo e este, por sua vez, completamente diverso do dia 15 de Setembro de 1916 em que em Lourenço Marques nasceu a minha avó, filha de uma natural da terra e neta de pioneiros ali estabelecidos logo após a delimitação das fronteiras saídas do Ultimatum.

Somos, todos nós, a nossa família, parte integrante da Associação dos Velhos Colonos de Moçambique e guardados ainda estão os canhotos comprovativos das quotas que nos davam acesso a todos os recintos da instituição, incluindo a piscina onde eu e os meus irmãos aprendemos a nadar. Era para nós um título de honra e por lá não era incomum verem-se outros colonos provenientes das mais diversas paragens do planeta, fossem eles amarelos do Extremo Oriente, ou aqueles genericamente reconhecidos por indianos, muitos no sentido mais lato do termo e que abrange gentes provenientes do Paquistão, Índia, do antigo Paquistão Oriental que ao tornar-se independente passou a ser conhecido por Bangla Desh, das Maurícias - as antigas Ilhas Mascarenhas dos séculos pós-descobertas - ou do Ceilão, não sendo invulgar alguns desses indianos terem como origem o Quénia, o Tanganica ou o rosário de antigas possessões da Coroa Britânica no Índico.

Éramos e considerávamos-nos simplesmente como luso-moçambicanos e assim foi até ao aproximar-se da primeira metade da década de setenta. 

As altas individualidades que Lisboa enviou a Lusaka para o encontro com Samora Machel e respectiva entourage, deveriam ter ido munidas com este catrapázio. Para além dos efusivos abraços e descaradamente paternalistas palmadinhas nas costas diante dos fotógrafos, de nada mais necessitavam para o cabal esclarecimento do que imperiosamente deveria ser feito, evitando-se em Moçambique o que aconteceu nas décadas anteriores em todo o continente africano. Em todo ele, sem excepção, do Magrebe ao Congo e Tanzânia. Simplesmente não estiveram à altura do momento. 

Servia este livro como aviso que ali não estava apenas uma fastidiosa lista de empresas de exploradores coloniais, mas sim a seiva vital de um país. Existiam milhões de vidas pendentes daquilo que este grosso volume encerrava e de toda esta fastidiosa lista de actividades dependiam para a sobrevivência, para a salvaguarda do ganha pão e das refeições garantidas, dos cuidados de saúde e da educação cada vez mais urgente num mundo em rápida transformação. Isto significava mercados cheios de produtos baratos fornecidos pelas machambas bem organizadas e produtivas, hospitais bem apetrechados com equipamento moderno e  pessoal competente, escolas, uma eficaz rede de saneamento básico, vacinação da população urbana e rural, defesa da vida selvagem, ou a permanência da indústria. 

Muito longe de ser um Mandela e muito distante de sequer ter penado aquilo que Mandela terá fisicamente ou psicologicamente passado, o Moisés da independência não foi alertado, não conseguiu ou quis entender o que significaria a deportação do pessoalmente odiado lastro humano colonial. Nisto e noutras excentricidades, está muito mais próximo de Idi Amin. Dizer isto é politicamente incorrecto? Talvez, mas neste caso não é nada que todos não tenham há muito interiorizado, talvez mesmo no politburo do partido dominante em Moçambique.

A impressionante e rápida saída de brancos, mestiços de vários cruzamentos, indianos, chineses e outros, como um raio fulminou num curtíssimo intervalo da história tudo aquilo que esta grande obra, precisamente o conteúdo das 1800 páginas deste livro, significava. Um país liquidado, esmagado em poucos meses e deixado à tremenda fome, incúria no campo da saúde e abandono económico, unicamente devido à incompetência e furor ideológico totalmente desadequado à realidade africana. Rapidamente passado a ruína comparativamente ao que até há pouco fora, tudo desapareceu como se um Apocalipse Moçambique tivesse sofrido sem culpa ou responsabilidade alguma. Mesmo os entusiastas iniciais, aqueles poucos que tentaram ficar para idealistamente construirem algo, fosse esse algo o homem novo ou a nova terra, também fugiram, não conseguiram enfrentar o visível fracasso no qual participaram. 

Aqui está uma boa parte da razão pela qual as notícias que de lá chegam nem sempre são aquelas que gostaríamos de ouvir.

Paciência, são estes afinal, os tais ventos da história. Há então que aceitar os factos consumados, mas nem por isso deixarmos de tentar entender o que se passou. É esta, a verdadeira História. 

publicado às 19:55

O que distingue Sócrates de Ronaldo?

por John Wolf, em 03.12.16

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Uma coisa é conhecer a lei de fio a pavio e saber como posicionar o património no sentido de minimizar a carga fiscal. Foi isso que Trump fez dentro da lei criada em Washington. Outra coisa é procurar alavancar ganhos através de configurações fiscais dúbias. Foi isso que alegadamente fizeram Cristiano Ronaldo e, ao que tudo parece indicar, José Mourinho. Para já, e à semelhança de José Sócrates, a comunicação oficial das partes visadas vai no sentido de negar tudo e declarar que todas as obrigações patrimoniais ou fiscais foram cumpridas. A grande diferença entre o borra-botas Sócrates e Cristiano Ronaldo consiste no facto da estrela madeirense ser uma marca global. O 44 é conhecido em Évora e pelo alfaiate Brioni - e pouco mais. Sim, também é conhecido em Portugal por ter levado o país à efectiva falência total. Em todo o caso, o que me causa alergia, tem a ver com a escala de ganância que parece reinar no nosso mundo. À luz dos milionários salários e galácticos contratos publicitários, qualquer que seja a carga tributária, sempre sobram uns trocos para o tabaco e o gasóleo. A pergunta que deve ser colocada é a seguinte: qual o montante que torna o homem feliz e contente? A resposta parece ser inequívoca: não existe montante satisfatório. Mas mais grave do que as dimensões tributárias  será o modo como um país inteiro deposita grande fé e crença nos valores morais de icones da nação. A serem verdade as alegações de fraude fiscal, Portugal enfrenta um falso dilema moral. Não tenho a certeza se os seus compatriotas, com o mesmo património e a mesma falta de cultura ética-financeira, não fariam exactamente o mesmo. Afinal são doze bombas que Ronaldo tem estacionado na garagem. Perguntem ao Zuckerberg onde comprou as chinelas. Mas, em abono da verdade, devo responder à questão que coloco. Ronaldo não é Sócrates. Auferiu rendimentos em função do seu talento e trabalho. Em relação a Sócrates, este ainda tem de driblar muito para provar que aquela massa tão conveniente é efectivamente sua, ou seja, do seu amigo Santos Silva.

publicado às 08:41

Pensar fora da CGD

por John Wolf, em 02.12.16

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A malta pensa que me conhece. Os leitores, de um modo geral, arrumam as obras nas estantes. Fazem catálogos. Organizam ideias em categorias específicas. Rotulam uns como sendo de Esquerda e outros enquanto expoentes de Direita. Chamam ricos a uns e pobres a outros. E não existe nada de mais errado, no que me diz respeito, e no que toca ao conceito de arrumação mental em abstracto. António Costa faz parte da classe de arrumadores. Pertence ao rol de estacionadores de ideologias, e essa prerrogativa operativa provoca chatices. Porque de repente é se apanhado em contramão. Sem se dar conta entra-se no itinerário principal e esbarra-se de frente com um conjunto de convicções. Mas Costa insiste e não admite que teve de chamar o bombeiro inimigo para apagar o fogo que lavra na caixa de fósforos. Ora vejam: "O governo não é dono do processo de seleção e aprovação dos novos administradores da Caixa Geral de Depósitos, que, por ser um banco sistémico, cai na supervisão europeia." (in Observador). Deveria deixar-se de tangas e admitir que a competência não é exclusivo da casa cor de rosa. Esperemos que esta iniciativa de recurso sirva de lição de um modo transversal aos partidos. O talento e as qualidades humanas existem para além do firmamento de uma bíblia política. Nesta vida tudo é possível. Já tivemos o inverso. Já tivemos a transferência de passe de uma dispensável Zita Seabra de um sector de bancada para outro, mas sem qualidades assinaláveis. Já tivemos um Barroso MRPP que agora é Goldman Sachs. Mas aqui lidamos contra outra estirpe de distinção. Paulo Macedo deu a volta magistral à Autoridade Tributária - pôs a máquina a funcionar. Paulo Macedo esteve no sector de saúde com resultados assinaláveis. Enfim, e em jeito de inconclusão, temos homem para dar a volta a muito texto. É raro encontrar alguém que não se deixa estragar pela política. Aprende, António Costa. E passa a palavra às infantas - à Catarina Martins e às manas Mortágua -, que pelos vistos pecam por falta de educação e sentado de estado. Não se levantem e não aplaudam. Macedo não é monárquico.

publicado às 09:24

Que Terras! Que Terras!,

por Cristina Ribeiro, em 01.12.16

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dizia-me o Duarte, há tempos. Hoje, quando me sinto tão grata àquele punhado de patriotas que num outro 1* de Dezembro nos devolveu a independência tão arduamente alcançada, e parafraseando outro amigo penso - Portugal permanecerá enquanto tivermos Terras assim! - Ora, como podemos ler aqui:

Temos Tudo Quando Temos Portugal!

( Por Terras de Ribeira de Pena )

publicado às 19:40






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