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Sabemos todos que money doesn´t sleep (lembram-se de Gordon Gekko e do filme Wall Street?) e que flui para onde é efectivamente melhor tratado. O Diário de Notícias revela alguns traços de nacionalismo-imobiliário com o artigo que "expõe" a apatia de investidores estrangeiros, que compraram imóveis de vulto no sentido de os restaurar e revender, mas que ainda não o fizeram. Não esqueçamos que grande parte desses palacetes e casas nobres foram erguidos com capital "excêntrico". Foram dinheiros oriundos de negócios internacionais que permitiram tamanha expressão faustosa ao longo da história de Portugal. Se pesquisássem com mais cabeça e menos paixão, cedo descobririam que João Frederico Ludovice era de facto Johann Friedrich Ludwig, ou seja um arquitecto "estrangeiro". Pela mesma lógica da batata, um investidor português que se aventure em projectos imobilários na Provence francesa, também seria obrigado a fazer obras no dia seguinte. Mas não é assim que acontece. Talvez seja boa ideia solicitar um estudo sobre a relação entre governos de Esquerda e a apetência para investir de entidades estrangeiras. Quem sabe, talvez tenham tido second thoughts. Talvez estejam a pensar com mais afinco sobre decisões tomadas em ambientes económicos e fiscais mais favoráveis. Os fundos de investimento imobiliário têm à sua disposição ex-políticos que sabem muito bem onde a vaca torce o rabo. Vieram de fora comprar? Em que século vive a autora desta peça jornalística. Não existe um fora e um dentro. A não ser que se construa um muro bem alto.
A Nação conta hoje com mais um Partido. Parabéns ao Pb.
Tenho autoridade para produzir o seguinte statement. Disponho de um estatuto especial. Embora não seja um nativo na acepção pura da palavra, Portugal diz-me respeito. Não sou um turista badameco, de sovaco à mostra e farfalheira à vista, que aprecia o território pelo tempo "sempre" quente e a cerveja fresquinha (e barata). Vivo neste país, bato-me por ele e não me vou embora ao fim de 3 noites bêbadas. Acabo de regressar a casa do tourist spot Chiado e as perspectivas são aterradoras. Os rebanhos de turistas são da estirpe mais brejeira possível. São mesmo low-cost. Não sei se vêm de Besançon, de Liverpool ou Munster, mas estes vão dar cabo do país. Contudo, não são os únicos responsáveis. Os agentes turísticos portugueses baixaram a fasquia consideravelmente. Entusiasmaram-se com os números e o caudal avassalador. Agora aguentem o desfalque, a delapidação gradual mas certeira do legado histórico e patrimonial de Portugal. Os guias que andam ali a contar histórias da tanga junto à Brasileira provêm de que escola de certificação? E há mais tristezas. Não são portugueses que vão ao Rio Maravilha ou ao Topo no Martim Moniz sorver um gin tónico - 12 euros é muita fruta por aqueles baldes de gelo. E confirmamos o seguinte. A ideia da galinha de ovos de ouro continua válida. É aproveitar enquanto durar. Espremer o bicho até à medula e esperar que venham mais da mesma patente. Estes turistas querem lá saber do país. Regressam a uma subúrbia infestada de hooligans, frequentam o seu pub e respondem: It were luvely. Da beer wa cheep and it wa always sunny...Poortagal wa great.
Durante a última campanha eleitoral nos EUA, foram surgindo muitos apoiantes e acólitos de Donald Trump que, de certa maneira, se assemelhavam aos apoiantes de Obama que acreditavam que o primeiro presidente americano negro seria uma espécie de enviado divino com a missão de resolver todos os males no planeta. Claro que o entusiasmo pueril em torno de determinados líderes políticos (numa linguagem weberiana, alguns podem ser classificados como carismáticos), assim como a diabolização de outros, fazem parte da essência das campanhas eleitorais. Passada a campanha, quando o eleito é confrontado com a realidade política da governação, muitos dos seus eleitores acabam, inevitavelmente, por ver as suas expectativas frustradas, ao passo que muitos dos seus detractores, mesmo que não o admitam, acabam por perceber que o mundo não acabou e que a vida continua. Como ninguém está imune a este tipo de emoções, uma certa dose de pessimismo é, portanto, uma saudável recomendação para quem prefere afinar pelo diapasão da temperança. Por isto mesmo, não acreditei que Trump fosse um anjo ou o diabo, preferindo aguardar para ver no que resultaria a sua presidência. Quem tem acompanhado a política americana ao longo dos últimos meses reconhecerá que talvez fosse difícil fazer pior, salvando-se, no campo da política externa, como honrosa excepção, a mensagem que enviou à Rússia e à China por via do ataque lançado contra a Síria. Mas após o polémico episódio de há uns dias, em que Trump tweetou um vídeo de si próprio a esmurrar alguém com o logo da CNN no lugar da cabeça, estou convencido de que, embora não seja um anjo nem o demónio, Trump será, provavelmente, o mais patético líder político contemporâneo, um adolescente que, para mal dos EUA e do mundo, se encontra no mais poderoso cargo político existente.
Não foi preciso um alicate, uma carrinha, uma lanterna e um mapa. A geringonça foi aos paióis de todos os portugueses, às claras, de dia. O ministro das finanças serve-se de linguagem de boicote para se esquivar ao bottom line. Os contribuintes portugueses são reféns de cativações e, fazendo uso de malabarismos orçamentais e de designação, a geringonça efectivamente fez cortes na Saúde e na Educação. Mas se tivesse sido o governo anterior a realizá-los, os mesmos desbastes teriam outro nome - seriam inscritos na categoria de austeridade. Centeno, que não se chamuscou em Pedrógrão e não foi recruta em Tancos, ainda julga que está imune a escrutínios. Responde inequivocamente com uma cassete - diz e volta a dizer onde não houve cortes. Insiste na ideia de uma reserva estratégica de créditos, como se o fogo pudesse ser compensado pelo excesso de água, como se o futuro pudesse ser arriscado no casino do presente. Porque é disso que se trata. Quando, para escamotear os números, não se aprovisionam stocks respeitantes ao sector de saúde, está-se de facto a poupar. Estão a poupar na segurança, estão a abrir brechas na sanidade, estão a jogar com probabilidades e hipóteses favoráveis, quando sabemos, que quando elas acontecem elas não escolhem hora nem local. E para rematar: que história é essa de aprovar estudantes com negativas a disciplinas curriculares? Qualquer dia retomamos a máxima académica de que a quarta classe chega. Diria mais; não chega. É mesmo conveniente manter as massas pobres, estúpidas e ignorantes. Onde já vimos isto?
Tenho a maior consideração e respeito pelos militares. São capazes de estruturar pensamento e são hábeis na prossecução de missões - se tiverem meios, se tiverem fundos, se tiverem o backing político adequado. Sabemos há muito tempo que vivem com parcos meios, mas muitos ignoram que os militares portugueses estão activos com assinalável sucesso em mais de vinte teatros de operações por esse mundo fora. Se os civis não são capazes de instigar a mudança, se os políticos e os governos são deficitários na defesa de princípios invioláveis associados à democracia, à soberania e a manutenção da ordem, acho muito bem que os militares passem da reserva a indignados em manifestação activa, na rua. Os capitães de Abril que ostentam tantos louros podem agora ser secundarizados pelos capitães de Julho - estes que agora irão depor espadas à porta da presidência da república. As medalhas que ostentam os obreiros de 1974 perderam o lustre, já não reluzem, nem têm um efeito mobilizador. São meras antiguidades românticas que evocam baladas e pouco mais. Sem terem dado conta, os sucessivos governos foram condescendentes com precisamente aqueles que enfrentam as broncas, que defendem a nação. O que aconteceu em Tancos é da exclusiva responsabilidade de governos. Não tenho uma espada em casa, mas se a tivesse também a dispunha em Belém.
Corria mais um Verão idílico na Terra dos Gnominhos Modernos, catitamente pintando dias e noites com as cores harmoniosas de um Abril eterno em festa e alegria, quando o céu se abriu e dele caíram penedos malvados em cima de umas quantas cabeças, sem certificação nem autorização superior.
De uma só vez, por alguma urdidura macabra a mando do fascismo anti-optimista, a condição terceiromundista vigente na vila, que nem trinta anos de dinheiro europeu, nem muitas leis e regras executadas com rigor fisco-castrense conseguiram sanar, ficou exposta como os glúteos lascivos das putas cujos anúncios ainda vão garantindo a subsistência dos jornais.
A cronologia narra por si a abertura da novela Hondurenha, inaudita no pacato burgo e, espera-se, a maior e mais épica jamais vivida por um país da OCDE. Os sábios cultos que integram a coisa política já esfregam as mãos, impantes de poderem ir mais longe no sonho social-socialista, prontos a criar, assim que o magnífico filme termine, Observatórios das Mortes no Fogo, Centros de Interpretação do Terrorismo e da Guerra Civil, e um Núcleo Museológico para os sorrisos hediondos dos animais inconscientes - agora silentes de férias ou em retiro meditativo - que ocupam os lugares cimeiros na hierarquia do Estado.
Na essência, o conto é breve: gastou-se dinheiro, que foi extorquido e reposto, extorquido e reposto, extorquido e reposto vezes sem conta a contribuintes nacionais e europeus; em nada de útil ou necessário se o gastou, mas muitas e opulentas prebendas receberam eleitores e amigos cujas espinhas puderam ir vergando ao soprar da brisa ano após ano.
Entretanto, como a Natureza é fractal e probabilisticamente normal, morreu muita gente queimada na via pública, foram roubadas bombas suficientes para demolir uma final da Taça e respectivo cortejo, os jornais cismam em abafar a parte maior do escândalo e do perigo, grande parte da população entra com empenho na fase negacionista do embate com a vida e António Costa foi de férias pavonear o semblante grotesco e a pança aviltante.
Ao fecho da cena inicial, um grupo de homens é visto no matagal que circunda uma base militar, de onde desfere tiros de caçadeira sobre o perímetro desta, sem que a façanha mereça mais do que algumas notas de rodapé em sede mediática, para não perturbar a felicidade balnear do rebanho.
Escurece a imagem num fade out gradual e ouve-se ao fundo, no timbre raso e estridente de rádios portáteis, a Antena 1 que entre uma entrevista ao curador da Fundação XPTO e as sugestões gastronómicas de um secretário de Estado, vai revisitando a canção de protesto e os chorrilhos de Saramago.
Esperemos que ao menos os efeitos especiais sejam bons. É que já não temos que apertar o cinto como no tempo do Passos. Quanto mais a coisa aquece, mais se repara no PS.
Há qualquer coisa que me está a escapar. Não seria expectável, que à luz do furto de material de guerra em Tancos, o governo da república portuguesa determinasse o fecho de fronteiras, a suspensão de Schengen? Não entendo esta atitude de deixa andar, deixa ver. Não ouvi falar de uma operação de caça aos infractores. Não ouvi falar do controlo de pontos nevrálgicos na fronteira. Daqui por alguns meses teremos um relatório sobre a qualidade das vedações e a mediocridade do sistema de videovigilância. Tal como fizeram em relação aos incêndios, dirão que foi uma figura abstracta a determinar os desfechos - um trovão ou o raio que o parta. As autoridades responsáveis afirmam que o material subtraído já se deve encontrar fora do território. Eu entendo a lógica por detrás deste esquema - casa roubada, portas escancaradas. Deste modo, a haver um evento terrorista, a probabilidade de ser no estrangeiro é maior. Já sabemos que a União Europeia deixa muito a desejar, mas aqui temos mais uma prova de que a Política Externa e de Segurança Comum é de facto um mito. Devemos agradecer aos espanhóis pelo fornecimento da lista aproximada dos engenhos furtados. Na escala de valores de desgraça e consequências, não sei quem ocupa o lugar cimeiro do pódio, mas a violação da soberania militar de um Estado é, no meu entender, ainda mais grave do que o falhanço de um SIRESP. Aguardemos então pelo próximo episódio sórdido. E esperemos que não custe ainda mais vidas humanas. Os que levaram as granadas não andam a brincar aos polícias e ladrões. São dos maus. E este governo é tão bonzinho que nem sequer sabe admoestar os titulares de pastas e cargos públicos com responsabilidade directa nas matérias em causa. Quanto a Marcelo, este já faz parte do problema da nação e cada vez menos da solução.
Há dias, parei em Tomar, cidade adoptiva do ramo matrilinear da minha família, para visitar a campa onde jazem meus avós e seu filho, meu tio, a nós subtraído pela mão indemne de um Estado que já nesse tempo de Otelos Alegres pouco ou nada honrava quem por ele se batera.
Quis o destino que nessa mesma noite, cansado da estrada e desejoso da paz caseira, me tivesse sentado a ver o episódio final de Sons of Anarchy, série que muito me cativou pelos temas, personagens e referências secantes em diâmetro completo à esfera da minha própria vida.
Ali, a figura protagonista, Jackson Teller, vai à tumba dos seus antes de cavalgar o asfalto rumo à derradeira prestação de contas com a machina mundi. A sequência foi filmada aqui:
Note-se como há espaço para a comunhão possível com a Natureza, culpada de termos nascido, vivido e morrido. Semelhante coisa vira eu, numa das passagens sempre fugazes demais por Tokyo, a exemplo no cemitério de Aoyama (imagem sacada da Google):
Compare-se agora com a distribuição que o Estado português, espelho máximo do cidadão, concede ao utente sepulto - e na imagem posterior à próxima, ao utente insepulto que já está húmus sem sabê-lo:
Isto parece-vos a mesma coisa? A mim nem por isso. É de um povo, ou como os novos gurus dizem, de uma tribo sem amor próprio deixar-se enterrar, visitar e recordar nestes preparos. Mas dizia eu que nem é preciso esperar para morrer:
É com esta proximidade, o nacional-porreirismo de quem estaciona em segunda fila sentindo-se por defeito amnistiado uma vez que permite ao seu vizinho, caso este queira, estacionar em segunda fila já que o vizinho de ambos também o fez mas não sem ter-lhes dado, e à comunidade, a compensação justa ao facultar o contacto de um primo germano com alavancagem pessoal e institucional na companhia das águas, que o português se permite não ter para onde verter uma lágrima sem dar contas a dez patrícios forçosamente irmanados com ele; e é assim que morre, e inumado vai, na mesma resignação selvagem à diluição mais torpe do ego, da privacidade e da diferença.
Como haveria uma gente assim de singrar sem timoneiros, luminárias, pastores e xamãs? Quanto pesa uma granada? E que impacto focal teve a morte de cem pessoas, levadas ao sepulcro na carrinha do peixeiro, coisa também normal uma vez que falamos de índios a quem foi inculcada a passividade a golpes de cravo, na sibilina popularidade dos labregos que estão?
Não sabemos. Para sabermos, teríamos que poder ir a um cemitério e religar o presente à memória dos nossos velhos, coisa que pela portugalidade ancorada na proximidade - forçada, a bem comum, pelo pendor constitucional para uma sociedade socialista - a todos os que dela se nutrem, é impossível até ao dia em que haja mais lápides do que os remadores da galé consigam suportar.
Depois saberemos.
É uma visão repetitiva, mês após mês. Naquela zona a intervencionar entre a R. Luciano Cordeiro, Largo das Palmeiras e Rua de Andaluz, existem sete edifícios com "projecto aprovado", coisa que mais não quer dizer senão o inapelável e completo arrasar. Serão substituídos por uma magnífica novidade de lataria, betão, pladures e outras modernidades a que a vereação do urbanismo nos tem habituado. Lá se vão cantarias, madeiras, estuques e aquele dispensável aspecto urbano do final de oitocentos e virar de página para o século XX.
Sabe-se que o projecto terá sido muito naturalmente aprovado, obedecendo aos critérios demolicionistas que há muitas décadas assaltaram todas as vereações da CML. Este não foi excepção, mas... algo aconteceu. Como e o quê? Não se sabe, mas imagina-se.
A vizinhança anda entre o incomodada e o divertida com esta cena de ovos vergonhosamente desperdiçados, pois os noticiários são pródigos em feitiços, bruxarias e macumbas, umas à beira mar, outras terra adentro como é este o caso. Ficamos então sem saber se deve ser este sortilégio abençoado e seguir em frente impedindo a destruição irreparável dos sete magníficos edifícios que fazem parte da história desta cidade, ou pelo contrário, se este "desamarrar" de licenças deve continuar a encontrar todos os escolhos possíveis.
Dado o que se adivinha, até às eleições não teremos novidades.