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Irmãos desavindos

por Samuel de Paiva Pires, em 24.04.19

Não tem sido particularmente edificante a troca de insultos entre Sérgio Moro e José Sócrates, ainda que tenha sido o primeiro a abrir as hostilidades de forma pouco convencional para um Ministro da Justiça de outro país. Mas o princípio da não-ingerência ficou logo ferido quando deputados portugueses se puseram a apelar à libertação de Lula da Silva e a colocar em causa o sistema de justiça brasileiro, confundindo um político preso com um preso político na esteira da escola de José Sócrates, pelo que agora nem sequer temos superioridade moral para repudiar as afirmações de Moro sobre o sistema de justiça português. Enfim, desaforos entre irmãos desprovidos de sentido de Estado.

publicado às 11:46

O eterno retorno de certo tipo de estrangeirados

por Samuel de Paiva Pires, em 24.04.19

Envie-se um exemplar do que muitos chamam "bem nascidos" para uma universidade estrangeira, de preferência no Reino Unido ou nos EUA, dê-se-lhe palco e, com uma elevada probabilidade, não será preciso aguardar muito para assistir a exposições públicas de presunção e ignorância atrevida típicas de estrangeirado. Nem vale a pena falar sobre a perniciosidade dos rankings, sobre como no mundo globalizado em que vivemos o acesso à informação e o labor em prol do conhecimento podem ser realizados em qualquer parte do planeta, sobre como há bons e maus docentes e discentes em toda e qualquer universidade (como em qualquer instituição ou profissão) ou sobre como todas as universidades portuguesas contam nos seus quadros com pessoas que estudaram nas ditas melhores universidades do mundo - o caso da Universidade da Beira Interior é, aliás, paradigmático, tendo docentes e investigadores formados por muitas das melhores universidades estrangeiras e nacionais e estando a crescer rapidamente, com a procura (nacional e internacional) a exceder largamente a oferta. O fenómeno não é novo e não deixa de ser curioso que muitos dos seus protagonistas façam parte de certa sociedade de corte. Muitos até fazem e fizeram carreira cá pelo burgo à custa do seu grau académico estrangeiro e andam há décadas a espalhar por aí o seu alegado perfume de classe, a que se agarram com uma força proporcional ao temor de serem desmascarados por aqueles que, de origens modestas e/ou com uma visão menos paroquial do país e do mundo e/ou apenas tendo estudado cá pelo burgo, sabem mais a dormir que eles de olhos abertos.

publicado às 11:44

O fim do multiculturalismo ocidental

por Pedro Quartin Graça, em 21.04.19

"Os repetidos e cada vez mais frequentes acontecimentos dos últimos meses em todo e qualquer sítio à escala global onde existem vestígios de presença cristã ou católica, desde a repetida destruição de património até à frequente matança (e o termo é este mesmo) de seres humanos, vêm por definitivamente em causa o multiculturalismo que tem sido repetidamente defendido e posto em prática por líderes ocidentais. Este, ao invés de desejavelmente se assumir como a convivência pacífica de várias culturas num mesmo ambiente, transformou-se na permissão para uma delas, e apenas uma, se impor às outras. Ora isto não pode continuar e há que dizê-lo e escrevê-lo sem receios de adjectivação pelos "politicamente correctos" do costume."
Muito menos pode continuar com o beneplácito ou o incentivo de uns quantos, ao mais alto nível político.
Estamos perante um verdadeiro combate civilizacional. Em que uns se querem impor, a bem ou a mal, sempre e cada vez mais pela força e pelo terror. Ora isto não se pode tolerar.

 

publicado às 10:39

Opinião não é ciência

por Samuel de Paiva Pires, em 16.04.19

André Barata escreveu um excelente texto sobre a relação entre política e ciência, opinião e conhecimento, nos tempos que vamos vivendo. Está destinado a eriçar os espíritos fanáticos e dogmáticos cheios de certezas absolutas e que ofendem os que não só não concordam com eles como ainda evidenciam a sua ignorância, ou não seja o anti-intelectualismo uma marca destes tempos. Já Eric Voegelin explicou que "Quando a episteme é arruinada, os homens não deixam de falar acerca da política; mas agora têm de se expressar no modo da doxa." Não lêem, mas reivindicam um suposto pensamento original que não passa de um arrazoado de opiniões sem sustentação científica. Confundem opinião com conhecimento, ideologia com ciência e convicção com verdade. São meros subjective knowers, na classificação de Ken Bain, indivíduos que utilizam os sentimentos, as crenças, para realizar juízos de valor, em que uma ideia está certa se a sentirem certa. Há-os à esquerda e à direita, e as redes sociais, com a democratização do espaço de opinião que lhes está associada, mas especialmente as suas câmaras de eco e bolhas, acabaram por agravar este estado de coisas, mostrando à saciedade que o diálogo civilizado é bastas vezes suplantado por discussões irracionais, ataques ad hominem e teorias da conspiração. No fundo, tornaram mais evidente a ausência de critério para arbitrar entre diversas posições, restando apenas a razão da força, com tribos ou barricadas ideológicas a tentarem gritar mais alto que as suas adversárias - se não mesmo inimigas. Deixei, há já algum tempo, de ter paciência para muitas destas pessoas que pululam por aí e para as provocações e ofensas que algumas me dirigem. Muitas já teriam idade para ter juízo, mas não chegaram a atingir um certo estado de maturidade no sentido aristotélico do termo. São casos perdidos, pelo que há que manter o foco naqueles que procuram atingir a maturidade estudando e pensando de forma racional e justa. Não por acaso, os meus alunos pensam melhor que muitos dos fanáticos que andam por aí, por isso há que continuar o labor da tradição científica.

publicado às 10:08

Ainda o marxismo cultural

por Samuel de Paiva Pires, em 10.04.19

Francisco Mendes da Silva:

Para além disso, não percebo bem em que é que o "Marxismo cultural" é uma ameaça assim tão assustadora, ao ponto de em 2019 alguma direita achar que vive numa luta mortal contra o dito.

Nada disto é novo. Já no início do século XX Gramci tentou engendrar nos seus escritos "a longa marcha" do Marxismo "através das instituições". Mais tarde essa estratégia foi desenvolvida na Escola de Frankfurt de Marcuse e outros. Marcuse defendia "uma coligação de negros, estudantes, mulheres feministas e homossexuais", supostamente para destruir a civilização ocidental. Seguiram-se décadas, até hoje, em que as universidades do Ocidente foram ocupadas por departamentos de "culture studies" inspirados em Frankfurt.

Mas talvez fosse bom lembrar à direita mais stressada que as ideias sobre o avanço do Marxismo por via cultural partiram sempre da confissão de que o Marxismo, enquanto sistema económico, não era naturalmente aceite pelas pessoas. O argumento era o de que os proletários não aderiam à revolução porque as suas cabecinhas estavam formatadas pela ordem tradicional do capitalismo e da repressão sexual. Se os Marxistas acham que têm de mudar a cultura, é porque reconhecem a sua fragilidade original.

E, de facto, o que é que os "Marxistas culturais" conseguiram? Ao que se sabe o capitalismo ainda anda por aí. Com avanços e recuos, com méritos e erros, mas ainda assim a espalhar-se pelo mundo, galgando terreno ao Marxismo, que é mais forte na caserna académica do que no coração dos povos e no cérebro dos governantes.

Quanto às "marchas" e "coligações" de Gramci e Marcuse, o que mais há são estudantes, trabalhadores e minorias a querer casar, ter filhos e ganhar dinheiro honestamente. A ordem tradicional, baseada socialmente na família e economicamente no capitalismo, tem uma grande capacidade de conquistar e absorver as vanguardas dos "marxistas-culturais". E isso só prova a sua inultrapassável validade civilizacional.

 

publicado às 00:03

Marxismo cultural e preguiça mental

por Samuel de Paiva Pires, em 09.04.19

Pessoas indignadas com o artigo do Adolfo Mesquita Nunes sobre o marxismo cultural e que vislumbram o declínio da civilização Ocidental já amanhã (um tema que é quase um fetiche de ocidentais diletantes) em resultado de exageros e delírios pós-modernistas (a acontecer, será pela demissão do Ocidente de líder da ordem internacional, pasme-se, graças à tal direita musculada de Trump, Bolsonaro, Farage, Orbán e afins, e pela ascensão de uma potência revisionista como a China, e estejam descansados que nessa altura vão poder preocupar-se com coisas sérias como o fim da democracia liberal e das liberdades que lhe são inerentes): levantem-se da cadeira, larguem a Internet, especialmente as vossas bolhas e câmaras de eco nas redes sociais, e vão ver que as teorias da conspiração que meteram na cabeça acabam por passar. Ou talvez não, porque já Karl Popper explicava a atracção de certas mentes por estas teorias, por serem incapazes de percepcionar a complexidade e o pluralismo da realidade social, especialmente de sociedades abertas, daí o seu pensamento de carácter maniqueísta ancorado em absolutos, que é, na verdade, contrário ao liberalismo, também ele tantas vezes proclamado morto, ainda que continue a ser a teoria mais adequada precisamente às sociedades Ocidentais, abertas e plurais, porque pautado pelo anti-dogmatismo que permeia o decálogo liberal de Bertrand Russell,  porque se fundamenta na tradição, no racionalismo crítico e numa concepção evolucionista de mudança social e política, porque valoriza e respeita a existência de diferentes concepções de vida boa numa mesma sociedade, e porque, ao contrário do que muitos ditos liberais acreditam, assenta na moderação. Em todo o caso, com o tempo livre com que vão ficar por passarem menos tempo no Facebook, aproveitem e dêem uma vista de olhos neste livro, em que são abordados Raymond Aron, Isaiah Berlin, Norberto Bobbio e Michael Oakeshott enquanto expoentes da virtude da moderação - todos eles, como se sabe, perigosos marxistas culturais. 

IMG_3060.jpg

publicado às 22:27

Da direita mais estúpida do mundo

por Samuel de Paiva Pires, em 08.04.19

Adolfo Mesquita Nunes:

(..) a estratégia dessa suposta direita musculada, cheia de testosterona, que se julga única, legítima, verdadeira, passa por fazer de qualquer questão, de qualquer assunto, um caso de fim de civilização, um choque entre o bem e o mal, uma opção derradeira, binária.

(...).

“E, partindo de uma justíssima recusa do politicamente correto, cavalgam a imposição de um novo código, que é o do combate ao marxismo cultural. A conversa do marxismo cultural não é senão a substituição de um politicamente correto por outro, e que serve, como aquele, para perseguir, criticar, isolar quem ousa sair do cânone. Marxismo cultural, gritam, ao menor sinal, ao menor gesto, apontando, julgando: se não concordas connosco, és um marxista.

“A ignorância desse estilo de acusações é gritante, como se à democracia liberal, a minha, não lhe restasse senão deitar-se com os seus doces inimigos para acordar aniquilada. Como se não nos restasse alternativa senão aceitar ataques à liberdade de expressão, à liberdade académica, à liberdade religiosa, à liberdade política, tudo em nome da aniquilação da conspiração esquerdista ou judaica ou globalista ou vinda de um qualquer outro delírio que sirva o propósito polarizador. A lista de desculpas para aceitar esses ataques está a engrossar, e é natural que engrosse, porque a redução do mundo a dois polos a isso obriga, mas não deixo de me espantar com a facilidade com que a gente aceita a ideia de que é legítimo encerrar universidades se o propósito for o de combater o marxismo cultural.

A manipulação dos conceitos que essa direita faz é manifesta, como se houvesse qualquer coisa de cristão nessa ideia de que há pessoas superiores a outras, de que há coisas mais importantes do que o amor ao outro, de que há nas escrituras uma instrução codificada para discriminar, violentar, agredir. Como se fosse possível aceitar que um partido, uma associação, uma pessoa qualquer, pudesse arrogar-se de uma autoridade superior à da própria igreja ou até substituir-se a ela, quando esta dá ares colaboracionistas, distribuindo certificados de pureza cristã, julgando, apontando.

(...).

Mas o engraçado é que essa direita armada em musculada ainda não se apercebeu de que é ela o seguro de vida da extrema-esquerda. A extrema-esquerda precisa, deseja, chama, até, pela direita musculada, para justificar a sua existência; o que na prática transforma tal direita, e não deixa de ser irónico, na idiota útil disto tudo.”

publicado às 19:46






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