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1. Apesar do tom generalizado da imprensa, de vitória antecipada na segunda volta, é tudo menos certo que François Hollande seja o próximo presidente francês. É notório o cansaço e a antipatia por Sarkozy. Mas os franceses estão assustados com a crise que vêem grassar pela Europa fora; com a sua decadência e com o ascendente da Alemanha; com a constatação de que a "Europa" não passou de uma ilusão que lhes foi vendida e de que agora é cada um por si; e - como não poderia deixar de ser - com o radicalismo islâmico presente entre a imigração (relembrado pelo jovem terrorista de Toulouse, há poucas semanas). Sarkozy perdeu popularidade, entre outras coisas, com o envolvimento na guerra contra Muhammar Kadaffi (que pouco antes tinha recebido em Paris com um aliado), com o mal explicado assunto Dominique Strauss-Khan (ainda assim foi melhor que o defrontar nas eleições), com o downgrade do rating de França, e com a subalternização em relação a Angela Merkel (o vídeo satírico em que fazia de mordomo da chanceler deve ter sido devastador junto da opinião pública). A maioria já percebeu, do que se vai passando na Europa, que não têm alternativa que não reformar o seu estado social e reduzir a administração pública, por muito doloroso que seja. E que os socialistas não têm estofo para o fazer, nem para lidar com o radicalismo islâmico, nem para controlar a criminalidade. E se Sarkozy se tornou num criado de Merkel, Hollande não promete ser melhor. No compto final, a primeira volta das eleições poderá ter servido para punir Sarkozy e a segunda para o reconduzir por falta de alternativa credível.
2. A subida do Front National era de esperar, e é compreensível. Mas é uma má notícia que a Extrema-direita esteja em ascendente na Europa, sobretudo em clima de crise económica, e em países com tradições de xenofobia como é o caso de França. Mesmo que os magrebinos, turcos, paquistaneses e africanos sejam o alvo preferencial, e que os portugueses sejam em regra bem vistos, é natural que mais tarde ou mais cedo também haja problemas com os nossos imigrantes. Nem sempre a sua aceitação é tão boa como se diz, sobretudo em zonas onde há grande concentração (Luxemburgo, Suíça). Havendo alguns milhões de portugueses emigrados e estando o seu número a aumentar ainda mais, o Governo Português devia ter uma estratégia de relações públicas a ser aplicada na Europa de forma a cuidar da imagem do povo português. Para que não sejamos apenas o país do Cristiano Ronaldo, um país de gente forçada a emigrar, que recebe fundos comunitários e que mesmo assim precisou da ajuda da Troika.
3. A reacção dos mercados à vitória de Hollande foi mais significativa que as manchetes dos jornais desta manhã: não se espera muito dele.