Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Ou de como num dia fui convidado para assistente e noutro o chefe não autorizou que tal acontecesse, justificando-se com a falta de dinheiro, para nos dias seguintes começar a avalanche de contratações da tralha socrática sem carreira ou vocação académica. É ler estes parágrafos de uma entrevista a Maria Filomena Mónica:
«Que avaliação faz do debate de ideias na sociedade portuguesa?
Sempre foi péssimo, continua péssimo e possivelmente será sempre péssimo. As pessoas debatem tudo em termos pessoais, não são treinadas para organizar um pensamento racional, dedutivo, calmo. Isto treina-se na escola desde pequeninos. Interrompem-se todos, tudo muito emocional. E os portugueses não são bons a debater também porque acham que há sempre interesses ocultos por trás. Se disser que não gosto de futebol, vão pensar “Ah, isto deve ser porque ela tinha um pai que era futebolista” ou “Ela está ligada a um clube”. A ideia de que alguém pode genuína e independentemente ter uma opinião é difícil de aceitar para os portugueses. E, mais uma vez, é por sermos um país pobre e pequeno.
Somos todos primos uns dos outros?
E sabemos quem foi para a cama com quem, achamos que, se se está com ciúmes do outro, é uma questão de saias. Na universidade, então, é uma baralhada completa, porque, como é pequenina, todos nos conhecemos. E do assédio sexual nem vale a pena falar. Em Oxford, num ambiente muito masculino, onde havia 80 homens e cinco mulheres, nunca senti nenhum assédio sexual, apesar de, como aluna, usar mini-saia.
E em Portugal?
Com os meus colegas masculinos, percebi que eles iam para a cama com as alunas, e digo: “Vocês não estão bons da cabeça!” Diziam uns aos outros: “Aquela vai à cama?! Se soubesse, tinha-lhe dado melhor nota.” Isto assim, à minha frente! Eu dizia: “Esperem ao menos que elas acabem a licenciatura.” Mas os meus colegas achavam normalíssimo ir para a cama com as alunas. Em Portugal há a promiscuidade do sexo e a promiscuidade do parentesco.
A endogamia ainda é um problema, nas nossas universidades?
Basta olhar para os apelidos. Quando a minha universidade fez 100 anos, fui convidada como antiga aluna. Estavam lá professores da Faculdade de Direito e perguntei se ainda existe endogamia na faculdade. “Ah, de todo!”, responderam-me. E dava vontade de rir – bastava olhar para os apelidos iguais, claramente filhos ou sobrinhos. Há endogamia. E há nepotismo.»