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«É chegada a altura de produzir um anúncio: desisto oficalmente de aguardar pela chegada do dia em que alguém se espante que seja quem precisamente tem pessoal interesse financeiro em haver cinema a defender os subsídios de que serão os maiores benefiários. Na concentração a favor do cinema português que se realizou nas escandarias da Assembleia da República ouvi um depoimento que é uma literal reencenação deste habitual extraordinário, rebobino: "Nós não estamos aqui a defender o nosso trabalho, estamos aqui sobretudo a defender a cultura em Portugal". Não me resta alternativa que não seja claudicar: trata-se de um traço aparentemente eterno, e retorna sempre. Todo o merdas que em Portugal culturaliza para viver só é habitado por motivos estratósféricos, quase assistencialistas para com Portugal e os portugueses: o Jaime Bulhosa, os cineastas e os actores, pela cultura; os professores, pela educação; os médicos e os enfermeiros, pela saúde; os juizes e os advogados, pela justiça; os banqueiros, pela economia. E os trabalhadores dos Estaleiros de Viana do Castelo? Esses não, esses estão apenas a defender interesseira mas compreensivelmente os seus postos de trabalho, tadinhos deles. As pessoas da cultura parecem estar isentas do imposto social que é o pudor, o decoro e a vergonha; mas se o não têm, ou se por elitismo (em cujo valor e importância, adiante-se, acredito, e defendo) não acham possível ser hipócrita ao ponto de os simular e exteriorizar, porque é que, ao menos, não estão calados, caralhos ma'fodam? Porque é que não deixam ser quem ambiciona poder consumir cultura em Portugal a mover-se para extrair do Estado os recursos que alimentem o que consideram essencial para si? Que sejam discretos, ao menos, é impossível? Que se defendam, inclusivamente, que nos defendam, mas sem nos esfregar nas trombas a auto-importância que se atribuem. Será pedir muito?»