
A caricatura de Cid era mais ou menos isto. "Pescada" aqui
Dele apenas conservo a lembrança da fabulosa caricatura de Cid - hoje difícil de encontrar, não se sabe bem porquê, a não ser num ou noutro alfarrabista -, em que aparecia um tipo de cabelo oleoso e com entradas, sem olhos ou nariz, mas de dentuça arreganhada. Nos cartoons surgia sempre como Balsinha, o que também nos dá uma ideia acerca da falta de imaginação da nossa "secreta" que se atreveu a reutilizar o nome de uma paródia que muitos ainda recordam com gozo. Que desleixo!
Há uns dias, no suburbano pastiche Globos d'Ouro, surgiu um estrondoso auto-elogio que agora pode ser facilmente entendido como um ataque preventivo, bem à maneira das antigas preparações de artilharia na frente leste. Quem durante anos a fio leu o seu semanário, viu os noticiários e ouviu o rol de comentadeiros no seu canal de televisão, terá deparado com um ininterrupto manchar de reputações - nalguns casos com toda a razão, há que dizê-lo -, estorietas que tresandavam a invencionice para vender papelada, insinuações e outros saltos mortais sempre em prejuízo de outrem.
Pouco nos importa saber algo acerca da vida privada do fulano, mas será um saboroso aperitivo a degustar pelo seu público habitual, qualquer informação acerca das actividades do grupo em que pontifica. Em suma, os nossos Murdoch ao estilo berlusconiano, deverão explicar o porquê da sanha contra toda e qualquer concorrência mediática que garanta a democracia na informação, venha ela de grupos empresariais ou da própria futura televisão a sair de um dos canais da estatal RTP.
Bem a propósito, aqui está um exemplo tirado deste site:
“—————Pergunta——————–
De:
Enviado: Terça, 1 de Março de 2011 19:17
Para: Perguntas a Marcelo
Assunto: Pergunta a Prof. Dr. Marcelo Rebelo de Sousa
Boa Tarde Prof. Dr. Marcelo Rebelo de Sousa,
Venho por este meio, em primeiro lugar, demonstrar-lhe a minha apreciação pelo seu trabalho desempenhado ao longo de tantos anos.
Por essa mesma razão sinto uma enorme indignação com as acusações proferidas por Francisco Pinto Balsemão, em entrevista ao Expresso. Parecem-me extremamente injustas e lamentáveis as considerações que faz a seu respeito.
Desta forma, venho prestar a minha solidariedade para com uma pessoa que tem prestado um trabalho exemplar enquanto profissional e que muita estima me apraz.
Obrigada e os meus melhores cumprimentos,”
————-Resposta—————-
“Bem-haja! De facto essas declarações, são espantosas! Desde o admitir que usou o poder do Estado para intervir na direcção de um jornal, assim contradizendo a imagem de respeito da liberdade de imprensa de toda uma vida, até à confissão de confusão entre o Primeiro-Ministro e o dono de um jornal…Ou seja, com grande espanto meu e enorme desilusão, numa entrevista infeliz pôs em causa um prestígio de toda uma carreira pública…
Quanto ao mais, que é menor: o episódio do “lélé da cuca” passou-se em 1978,antes de Francisco Pinto Balsemão me convidar para Subdirector em 1979,Director interino no final desse ano, e Director efectivo em 1980,ou seja, não só foi muito anterior a 1981-ao contrário do que parece resultar do texto da entrevista -, como depois dele Balsemão, por três vazes, manifestou total confiança em mim; o pagamento a que se refere resulta de, em 1981,ao convidar-me para o Governo, a Administração do Expresso, me ter dado, como compensação por 8 anos e meio de funções, um automóvel de serviço – um Opel Kadett pequeno – que eu usava há dois anos, e, quando saí do Governo me ter exigido, num amuo, o pagamento do automóvel que me tinha sido dado dois anos antes…
Enfim, tudo muito infeliz e de pouca classe. Mas, além disso, grave, na parte em que Balsemão põe em xeque o que deve ser a separação entre poder político e comunicação social, Estado e interesses privados. O que me admira, até porque nada se passou como ele hoje diz que foi. E o que, de facto, foi era prestigiante para o próprio – que nunca havia interferido na linha editorial do jornal.
Com os cordiais cumprimentos,
MRS“