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George Potamianos

por João Quaresma, em 30.05.12

Faleceu ontem, em Lisboa, o Sr. George Potamianos, empresário grego há muito radicado em Portugal, proprietário de uma das poucas companhias marítimas portuguesas e única no ramo dos cruzeiros marítimos, a Classic International Cruises, armadora do paquete «Funchal».

Será um nome pouco ou nada conhecido do grande público, mas que é incontornável do panorama marítimo português das últimas décadas por ter mantido a tradição e a presença portuguesas (ainda que com capitais gregos) no sector dos cruzeiros, e com grande sucesso e prestígio (para a empresa e para o país), com paquetes portugueses, tripulados por portugueses e registados em Portugal.

Em 1985, durante a última situação de falência iminente e intervenção do FMI, e quando o governo de Mário Soares extinguia a CTM – Companhia Portuguesa de Transportes Marítimos e vendia a frota a preço de sucata (mesmo os navios com meia-dúzia de anos), George Potamianos conseguiu salvar o «Funchal», e manteve-o em actividade aproveitando o know-how e os recursos humanos que o governo português atirava para o desemprego. Em 1988, adquiriu também o maior paquete português de sempre, o magnífico Infante Dom Henrique (que já não existe).

Após quase quarenta anos de desmaritimização, na frota mercante portuguesa não há actualmente um único petroleiro, nem um único navio de transporte de gás (apesar da aposta no gás natural, e do facto de grande parte dele chegar até nós por mar), nem um único navio químico, nem um único navio de carga refrigerada, nem um único cargueiro de carga rodada, nem um único transporte de automóveis (por exemplo, toda a exportação da Autoeuropa segue em navios estrangeiros); há apenas um ferry de passageiros e veículos moderno; os poucos porta-contentores que existem são pequenos.

Mas há, ainda assim, paquetes com a bandeira portuguesa e isso deve-se a um cidadão grego, não apenas empresário mas amigo de Portugal e admirador das nossas tradições marítimas. Não surpreende, portanto, que George Potamianos nunca tenha recebido qualquer condecoração ou homenagem por parte do Estado Português, apesar dos esforços nesse sentido feitos junto da Presidência da República.

À família enlutada e à Classic International Cruises endereço as condolências, com gratidão e a certeza de que a obra será continuada.

publicado às 22:30


16 comentários

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De Isabel Metello a 30.05.2012 às 23:15


Os meus pêsames à Família- interessante como este Senhor era oriundo da Nação Berço da Civilização Ocidental que, por acaso(???!!!!), foi a primeira a naufragar na UE, creio que a primeira a usar a moeda como instrumento de troca comercial e a primeira a sucumbir perante o €...  e outro Grande Senhor- Calouste Gulbenkian, Armeno, oriundo da Primeira Nação Ocidental Cristã, tão massacrada pelos turcos otomanos (massacre ainda não assumido pelos turcos- é que, neste mundo de ilusões e de jogos mundanos, para ser-se massacrado tem de se pertencer a determinada nacionalidade ou etnia, senão é mais uma estatística numérica- que o digam os Ruandeses e outros povos, como os Índios Norte-americanos ou os Aborígenes Australianos...:) e pelo regime soviético...
...que pena termos perdido o Infante D. Henrique- os meus Pais e irmãs e eu no ventre de minha Mãe neleviajámos de Moçambique até à Metrópole em 1967...Graças a Deus regressaram a Moçambique, a minha Mátria Perdida, a tempo de eu Lá nascer!!!!...
...que pena termos uma costa tão vasta e a desaproveitarmos- em vez da obsessão pelo F opiáceo do Futebol que fez com que lobbies (lá está mais uma prova da promiscuidade actualizada neste barco à beira-mar encalhado entre vários campos sociais em prol de interesses particulares reticulares e não em nome de Princípios e do bem-estar colectivo...:) mandassem construir 10 ou 12 estádios, hoje, às moscas, em vez de se investir no porto de Sines, que poderia ser um dos mais importantes da Europa e em vias rápidas (não precisa de ser a megalomania socretina do TGV...:) para transporte de mercadorias (ainda bem que o Ministro da Economia está a investir no projecto de reabilitação do mesmo, ainda bem que a visita a Singapura inspirou outras mentes para onde, deveras, importa investir...que pena tb não aproveitarmos a energia limpa do mar que banha toda a nossa costa, dos ventos e não apostarmos no desenvolvimento da nossa frota pesqueira, assim como em meios eficazes da Polícia Marítima de protecção da nossa Zona Económica Exclusiva em prol dos nossos pescadores, hoje, na miséria...que pena!Image
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De João Quaresma a 30.05.2012 às 23:30

100% de acordo consigo, Isabel Metello. Não viajei no «Infante Dom Henrique», mas cheguei a entrar nele quando esteve em Sines. Aconselho esta leitura:  http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2009/08/paquete-infante-d-henrtique.html
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De Nuno Castelo-Branco a 31.05.2012 às 00:15

Quantas vezes vi o Infante e o Príncipe Perfeito atracados na doca de Lourenço Marques...
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De Nuno Castelo-Branco a 31.05.2012 às 00:11

Destruição da marinha mercante: mais um grande sucesso d'Abril.
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De João Quaresma a 31.05.2012 às 23:09

Uma grande conquista, diria mesmo.
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De Isabel Metello a 31.05.2012 às 01:00

Obrigada, João, fui ver e já coloquei o blog nos meus links. Sem dúvidas algumas, Nuno, sem dúvidas algumas! Afinal, só mudaram as personae (no sentido etimológico:) e até se acirraram as corjas!Image
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De Bibi Castelani a 31.05.2012 às 01:11

Deixa muitas saudades. Era um querido, amigo e muito solidário. Devo-lhe muito.
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De Marinheiro a 31.05.2012 às 02:23

Quando se fala da extinta marinha mercante portuguesa, convem sempre lembrar isto:

"Durante o desempenho de funções como Ministro da Marinha, foi o principal responsável pela elaboração e aplicação do Despacho 100 (http://pt.wikipedia.org/wiki/Despacho_100), diploma que reestruturou e modernizou a Marinha Mercante portuguesa, permitindo também a constituição da moderna indústria da construção naval no país. Esta ação fez com que, nos meios navais, ao contrário do resto da sociedade portuguesa, o nome do Almirante Américo Tomás seja, ainda hoje, muito respeitado."

http://pt.wikipedia.org/wiki/Am%C3%A9rico_de_Deus_Rodrigues_Tom%C3%A1s
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De João Quaresma a 31.05.2012 às 23:13

Sem dúvida. Américo Tomás, pense-se dele o que se pensar enquanto figura do regime, foi um dos melhores ministros que Portugal alguma vez teve e uma das maiores figuras da nossa História marítima. Com ele, Portugal voltou a ser uma potência marítima e todas as vertentes, e tivémos uma marinha mercante que era das mais conceituadas do mundo.  
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De Marinheiro a 31.05.2012 às 03:12

Dois bons artigos sobre os antigos Paquetes portugueses:

http://www.ssmaritime.com/Infante-Dom-Henrique.htm

http://www.ssmaritime.com/Vera-Cruze-Santa-Maria.htm
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De João Quaresma a 31.05.2012 às 23:40

Muito obrigado, Marinheiro. Os melhores cumprimentos,


JQ
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De Paulo Filipe Guerreiro a 04.06.2012 às 10:40

Eu Paulo Guerreiro, tive o grato prazer de ter conhecido pessoalmente o Srº George Potamianos e os seus Filhos, ter também ao longo de muitos anos feito parte como colaborador dos seus Paquetes como Animador e ligado aos Eventos a bordo, sobretudo nos Paquetes Funchal e Danae, conheci muito de perto alguns colaboradores da antiga Arcália. Fiquei chocado com a notícia do seu desaparecimento, endereço a toda a sua Família e Amigos os meus mais Sinceros Pesâmes e, faço votos para que o Projecto que o Srº Patamianos apadrinhou com tanta dedicação ao longo de tantos anos possa ter continuidade. Paulo Guerreiro
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De João Quaresma a 04.06.2012 às 18:53

Terá continuidade, apesar da concorrência das grandes companhias. Obrigado pelo comentário.
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De Paulo Filipe Guerreiro a 04.06.2012 às 21:00

Obrigado pela resposta, dar continuidade à Obra de George Potamianos é fazer-lhe a maior homenagem que ele pode ter. Em relação á concorrência, os Cruzeiros Portugueses têm características muito espeicais e peculiares que têm a ver com a nossa Cultura e o tipo de pessoas que incorporam os Clientes desses Cruzeiros, fiz muitos a bordo e conheço bem a realidade de Músicos como Edmundo Falé, Marco Quelhas, o Cajó, o nosso saudoso que também já não está entre nós o pianista Zé Loureiro. Paulo

 
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De roberto sas a 28.10.2012 às 18:04

Eu me considero previlegiado, haver sido parte embora nos EEUU., sendo funcionario/tripulante a bordo do Infante Don herique, transformado para o TSS/Seawind, foram uns anos de muitos momentos especiais e conhecendo o saudoso senhor George Potamianos.....
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De João Quaresma a 30.10.2012 às 19:25

É de facto. Eu não tive o prazer de conhecer o Sr. Potamianos e também tenho muita pena de não ter navegado no Infante Dom Henrique. Estive a bordo, uma vez, quando esteve a servir de hotel flutuante  em Sines, nos anos 80, até voltar ao serviço.


Sugiro uma visita ao Blogue dos Navios e do Mar - caso não conheça - para o primeiro de muitos posts sobre este navio magnífico:


http://lmcshipsandthesea.blogspot.pt/2012/10/revisitar-o-paquete-infante-dom-henrique.html


Obrigado pelo seu comentário e os melhores cumprimentos,


JQ

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