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"Um grão de filosofia dispõe ao ateísmo; muita filosofia reconduz à religião."
– Platão
O Samuel, que há tempos se afirmou agnóstico, tem escrito e citado muitas máximas curiosas e complexas sobre a crença e Deus. Infelizmente não tenho tempo para escrever com detalhe sobre estas, mas tento aqui escrever qualquer coisa sobre a relação entre filosofia e religião.
Há um erro que é evidente no agnóstico. E dois no filósofo que se diz agnóstico.
O agnosticismo, por se fundar numa concepção deformada do conhecimento, acredita que Deus (transcendente) não pode ser conhecido como as coisas do nosso mundo. Esquece que nos apoiamos na fé para conhecer tudo o que nos rodeia. Física, química, biologia, apoiam-se em crenças sobre elementos invisíveis e sobre um conhecimento que é indubitavelmente duvidoso. A física newtoniana, o modelo de Bohr, a fábula mecanicista de Darwin, eram infalíveis porque intramundanos, porque baseados no conhecimento experiencial e testado de elementos materiais. Todos já estão no cemitério das ideias, ou servem como meras bases rudimentares das teorias contemporâneas. O agnosticismo colapsa para o niilismo se se levar demasiado a sério. Geralmente não leva e é apenas uma fuga rápida para uma discussão que alcança profundidades inaceitáveis.
Mas um pensador ou filósofo agnóstico ainda encontra um problema acrescido. Quando pensa, não pode duvidar do carácter da Verdade? Como pode acreditar chegar à verdade se não pode estar certo de que a mesma existe? É importante perceber como pode alguém dizer que o conhecimento humano é incapaz de vislumbrar a Transcendência e, no entanto, aceitar a Verdade, um subproduto do Divino, como algo inquestionável. Esta concepção, tão frequente no agnosticismo contemporâneo, é um reflexo da estranha inversão moderna, em que o conceito de Verdade é transformado numa mera percepção humana.
Sem a certeza de um ponto exterior , sem a presunção de uma ordem exterior de referência (e a verdade não é mais que o confronto do ser racional com um Ser que não é o seu), toda a discussão é meramente contingente, impossibilitando qualquer discussão sobre princípios, valores ou fundamentos. Toda a discussão e fundamento político passa a mero jogo de Poder.
A verdade regressa ao ponto de Trasímaco, a opinião do mais forte.