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Do rotativismo do centrão, ontem como hoje

por Samuel de Paiva Pires, em 08.06.12

Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão, As Farpas, Junho de 1871:

 

«Há muitos anos a política em Portugal apresenta este singular estado:

 

Doze ou quinze homens sempre os mesmos, alternadamente, possuem o poder, perdem o poder, reconquistam o poder, trocam o poder... O poder não sai duns certos grupos, como uma péla que quatro crianças, aos quatro cantos de uma sala, atiram umas às outras, pelo ar, numa explosão de risadas.

 

Quando quatro ou cinco daqueles homens estão no poder, esses homens são, segundo a opinião e os dizeres de todos os outros que lá não estão, – os corruptos, os esbanjadores da fazenda, a ruína do país, e outras injúrias pequenas, mais particularmente dirigidas aos seus carácteres e às suas famílias.

 

Os outros, os que não estão no poder são, segundo a sua própria opinião e os seus jornais – os verdadeiros liberais, os salvadores da causa pública, os amigos do povo, os interesses do país e a pátria.

 

Mas, cousa notável!

 

Os cinco que estão no poder, fazem tudo o que podem – intrigam, trabalham, para continuar a ser os esbanjadores da fazenda e a ruína do país, durante o maior tempo possível! E os que não estão no poder movem-se, conspiram, cansam-se para deixar de ser – o mais depressa que puderem – os verdadeiros liberais e os interesses do país!

 

Até que enfim caem os cinco do poder, e os outros – os verdadeiros liberais – entram triunfantemente na designação herdada de esbanjadores da fazenda e ruína do país, e os que caíram do poder, resignam-se cheios de fel e de amargura – a vir ser os verdadeiros liberais e os interesses do país.

 

Ora como todos os ministros são tirados deste grupo de doze ou quinze indivíduos, não há nenhum deles que não tenha sido por seu turno esbanjador da fazenda e ruína do país...

 

Não há nenhum que não tenha sido demitido ou obrigado a pedir demissão pelas acusações mais graves e pelas votações mais hostis...

 

Não há nenhum que não tenha sido julgado incapaz de dirigir as coisas públicas, – pela imprensa, pela palavra dos oradores, pela acusação da opinião, pela afirmativa constitucional do poder moderador...

 

E todavia serão estes doze ou quinze indivíduos os que continuarão dirigindo o país neste caminho em que ele vai, feliz, coberto de luz, abundante, rico, forte, coroado de rosas, num choito triunfante!»

publicado às 21:34


1 comentário

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De Isabel Metello a 09.06.2012 às 02:29


Samuel, sim, Eça é intemporal, mas, hoje, não sei porquê, estou-me a lembrar mais do Crime do Padre Amaro (que li às escondidas, pois os meus Pais consideravam uma leitura imprópria para certas idades, mas a mini-biblioteca estava ali à mão de semear e, geralmente, quando se diz a uma Criança ou pré-adolescente :)"não lês isto", é mais do que certo de que a lerá- o mesmo aconteceu com o Mila 18 :))) ...mas dizia eu, eu, hoje, não sei porquê, mas tb estou-me a lembrar tb da Relíquia- aquela obra por mais que a releia deperta-me sempre gargalhadas sonoras!!!!:))))  É como A Queda de Um Anjo do Camilo!!! Por falar nisso, tenho de ir ver O Ditador! :))) não tem nada a ver, mas adoro quando alguém desconstrói a realidade pelo riso :)))Image

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