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Estatismo à portuguesa

por Samuel de Paiva Pires, em 17.06.12

Alberto Gonçalves, Estado terminal:

 

«Na semana passada, a propósito da apreensão de automóveis em represália pelas dívidas ao fisco, brinquei aqui sobre a possibilidade de o Estado invadir habitações particulares para impor a sua lei. Afinal, não é brincadeira. Ao que parece, a Direcção-Geral da Saúde prepara-se para penetrar as casas das famílias com criancinhas a fim de "avaliar o risco" de acidentes domésticos e "sensibilizar" os pais. No papel, a coisa consiste em detectar os lugares onde se guardam medicamentos e detergentes, analisar o nível de protecção de janelas e varandas, inventariar as "medidas tomadas para evitar o risco de afogamento" e procurar papões debaixo da cama. Na prática, a coisa resume-se a um atestado de incompetência à população, decretada inimputável para cuidar de si e dos seus.

 

É verdade que a DGS, sigla adequada, promete que limitará as vistorias às famílias que as requisitarem. Porém, não sei se é pior tratar as pessoas como retardadas ou acreditar que as pessoas são retardadas a ponto de convocarem as autoridades para as iluminar. Em qualquer das hipóteses, o relevante é a educação, em Cuba, na Coreia do Norte e, aos poucos, nas democracias ocidentais, tornar-se um exclusivo do Estado, que agora aspira a orientar informalmente os petizes que há muito orienta de modo formal. Com óptimos resultados, acrescente-se.

 

Veja-se, a título de exemplo recentíssimo, os testes intermédios de Matemática. No 9.ºano, a média ficou-se pelos 31,1%. No 4.ºano, onde quase basta somar com os dedos, a média alcançou os 53,9%. Segundo Miguel Abreu, presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática, 75% dos alunos que transitam para o antigo Ciclo Preparatório estão, talvez de forma irreparável, impreparados para aprender o que quer que seja. Entre os alunos que seguem para o Ensino Secundário, a percentagem de casos perdidos roça os 90%. Décadas de reformas, medidas, apostas, investimentos, desafios mais o lendário Magalhães terminaram nesta demonstração cabal da inépcia do Estado em ensinar os alunos a fazer contas. O que, dadas as contas do próprio Estado, não admira.

 

O que, num certo sentido, é admirável são as pretensões pedagógicas por parte dos poderes públicos. Sob todos os pontos de vista, o Estado é irresponsável, calão, desonesto, ignorante e - à atenção da DGS - prejudicial à saúde, física ou mental. Mesmo assim, semelhante evidência não lhe modera a vocação correctiva, um apetite por regulamentar tudo o que se mexe e, no que respeita aos detergentes e às varandas, tudo o que não se mexe também. A vontade do Estado em ensinar é directamente proporcional à incapacidade do Estado para aprender, e não há dúvidas de que precisa de uma lição. Os cidadãos é que não precisam das lições do Estado, e aqueles que acham o contrário merecem-nas.»

publicado às 14:52


1 comentário

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De Isabel Metello a 17.06.2012 às 20:53


ohhhhhhhhhhhhhh, e eu a pensar que o Hs era um homem/mulher, já não digo Homem/Mulher,pois Homem/Mulher que o é :) 1º identifica-se, convenientemente, não se escudando na matriz dos "cobardes costumes" e até cortumes do anonimato; 2º enunciando, de forma bem explícita,. i.e., com Hombridade e Coragem (olhe que, sem essas qualidades, acho que se insere na ala dos que têm muito a esconder nos armários et alii...:), o que quer dizer nas entrelinhas (engraçado, esta técnica tb faz parte da mesma matriz que alguns autores enquadram no processo de feminização há já muito em curso, que modela homens em ratitos, que não do campo (que esses são mais saudáveis...:). Faça-se Homem/Mulher, o que for, e seja coerente :) para se combater uma matriz que branqueia crimes contra a Humanidade é necessário actualizar-se a tal retórica da expressão explícita e da visibilidade, caso contrário cai-se numa contradição ôntica, já para não dizer expressiva...i.e., é gente cobardeque compactua pelo silêncio e pela invisibilidade dos mais variados crimes, desviando, estrategicamente a atenção do senso comum dos verdadeiros criminosos... i.e., quem tem realmente coisas algo (???!!!:) weird nos armários e na inconsciência do desrespeito perante O Próximo...então, vamos lá comparar essências e congruências entre o que se diz e o que faz...estou à espera! ou ainda está no vão da escada a falar com a porteira???!!!

...ah,, esqueci-me de outra figura que poderá mostrar a sua congruência entre os votos de pobreza que jurou perante Cristo e a Acção Cristã, dispondo-se, nessas vistorias, a participar no Cabz de Natal que deve ser, para um Cristão que O Seja Verdadeiramente, que não só no palco da existência mundana :) o Franciscano Víror Milícias et alii...mas não serão só os religiosos a ter de participar na mesma campanha- todos laics sacralizados ditos heróis que contribuam tb com as riquezas que foram acumulando, durante a sua carreira política que, pelos vistos, desde o 25/74 deu cabo deste país, criando elites oligárquicas que se julgam superiores ao gado que pastam e aniquilam, por variadas formas...
...vá- mostre-me que não é um rato...Image

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