Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]




Tal como no passado

por Nuno Castelo-Branco, em 24.07.12

Em boa hora, o Miguel disse o que muitos pensam e preferem guardar. Sem qualquer receio dos bloquinhos de notas do politicamente correcto, cremos que o Primeiro-Ministro deu aquele murro na mesa que todos aguardam há décadas. A história constitucional portuguesa tem sido pontilhada por um outro dirigente que diz aquilo que é urgente realizar, não se compadecendo com cálculos acerca do seu próprio destino político. Há cento e poucos anos, D. Carlos I - pela acção de João Franco - pagou cara a honestidade, quando na célebre entrevista ao Le Temps, mostrou a verdadeira situação a que partidocracia tinha conduzido o sistema liberal-representativo. Tal como então, os sátrapas do comodismo da nossa época, não apreciam a verdade que incomode a contabilidade de rezes ao dispor nas urnas. Se noutros tempos os valentes caíam num qualquer Terreiro do Paço sito algures na Europa, este período de acanhadas e tímidas vilezas, apenas propicia a liquidação de uma carreira política destinada mais cedo ou mais tarde, a um inglório reconhecimento. 

 

Passos Coelho poderá perder as próximas eleições, sejam elas as locais, sejam as nacionais. No quadro de todas as decadências que o regime apresenta, arriscam-se mesmo a ser as derradeiras dentro do esquema edificado em 1976. A ser assim, pouco importará saber se a perda de uma maioria ou de uma liderança, significarão algo mais senão o obliterar de algumas panças impantes que não deixam ver os próprios pés que se aproximam do precipício.

 

Muito há para fazer, desde o enfrentar da vergonhosamente esmagadora herança das PPP, até aos gastos e mordomias dos agentes da política e administração pública. O país deve de uma vez por todas entender que um "lugar político" consiste antes de tudo, no sacrifício a que o dever obriga. É certo verificarem-se erros no quadro da racionalização do aparelho do Estado - numa situação explosiva, os cortes a eito na saúde, educação e nos rendimentos de inserção deverão ser reavaliados -, mas há que seguir adiante, num momento em que PPC decerto terá entendido um Portugal que antes de construções teóricas acerca de uma certa liberdade individual plasmada pela servidão à iniciativa privada "liberal", tem como esteio de uma história que lhe garantiu a independência e a expansão, um Estado forte, regulador e eficaz nos múltiplos campos da sua acção. Sobretudo, o governo deverá ser intocável em matéria de lisura de procedimentos e no definitivo cercear de favoritismos. No campo externo, PPC poderá parecer "interessar-se pela Europa" e de facto procurar voltar às paragens de onde Portugal jamais deveria ter saído. Ora, isto está a ser feito. Até os ditos liberais recorrentes aos cofres do Estado disso sabem, embora prefiram continuar a procissão de queixinhas e indignações com autos-da-fé sem nexo. É mesmo necessário que se faça o que a contragosto há a fazer, pois ceder-se agora às conveniências de Partido, seja ele qual for, de uns tantos oportunistas sem espinha ou categoria para sequer governarem um quiosque de praça, condena o país a um mortal esfaqueamento sem remédio. Não está em causa o PS ou o PSD, é-nos totalmente indiferente o agente da mudança que gostemos ou não, há que realizar.

 

Ou aguentamos isto até ao fim, ou teremos um déspota de óculos escuros -  em alternativa a um de barbas e boina - que nos submeta a infindáveis discursos sem tino, mordaças, barrigas vazias, pés descalços e pauladas lombo abaixo. No quadro institucional e internacional que se apresenta, não há outra forma.

publicado às 18:27


3 comentários

Sem imagem de perfil

De c. a 24.07.2012 às 19:33

Creio que a frase de Passos é isso mesmo, uma frase de demagogo.
Um estadista escolheria a austeridade & quereria ganhar as eleições. E tem toda a legitimidade para isso. Os portugueses entendem os sacrifícios. Entendem menos os Relvas & coetera.
Sem imagem de perfil

De Duarte Meira a 24.07.2012 às 21:37


Caro Nuno Castelo Branco :

Não compare esta gente do infame e infecto portugalório de hoje com a dos finais da Monarquia (republicanos incluídos!). E muito menos traga a esta cloaca o nome de um grande rei.
Sem imagem de perfil

De Anónimo a 25.07.2012 às 01:05

Este PM deve pensar que, com este tipo de frases, engana, mais uma vez, o povinho. Julgava-o mais inteligente.

Comentar post







Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2020
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2019
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2018
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2017
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2016
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2015
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2014
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2013
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2012
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2011
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2010
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2009
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2008
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D
  235. 2007
  236. J
  237. F
  238. M
  239. A
  240. M
  241. J
  242. J
  243. A
  244. S
  245. O
  246. N
  247. D

Links

Estados protegidos

  •  
  • Estados amigos

  •  
  • Estados soberanos

  •  
  • Estados soberanos de outras línguas

  •  
  • Monarquia

  •  
  • Monarquia em outras línguas

  •  
  • Think tanks e organizações nacionais

  •  
  • Think tanks e organizações estrangeiros

  •  
  • Informação nacional

  •  
  • Informação internacional

  •  
  • Revistas