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Acabando de escutar o diluviano chorrilho de banalidades vertidas na SIC Notícias pela super-tia cascalense Helena Roseta e pelo europeiamente ausente deputado Feio, ocorre-me a lembrança daquilo que para os russos significa a recentemente reconstruída Catedral do Cristo Salvador. Não é uma igreja qualquer, passível daquilo que no douto - ou arquitectónico - saber de Roseta, é uma mera intervenção política das furibundas Pussy Riot. Longe disso, não é, nem alguma vez pretendeu ser. Esta Catedral é um símbolo de poder, um renascido testemunho daquilo que foi e voltou a ser a secular Rússia. O Vozhd sabia-o e actuou em conformidade.
Há oitenta e um anos, o carrasco José Estaline ordenou a dinamitação do templo, como prova de força do regime que pretendeu criar o homem novo, estranha e sintomaticamente similar a um outro há muito desaparecido nas sociedades europeias e que teve o desagradável estatuto de escravo. As meninas punk sabiam o que estavam a fazer e decerto jamais lhes ocorreu uma intervenção desse estilo noutro local, no mausoléu do nababo Lenine, por exemplo. Mesmo alegando-se com a "estupidez ou inconsciência dos verdes anos", o golpe foi pensado de forma a provocar reacções internas que infelizmente não podiam ser outras senão as conhecidas, mas sobretudo, o coro de indignações ocidente fora. Teria sido curioso observarmos quais as respostas dos modistas corta e cose europeus, perante um dislate dessacralizador da tumba sita na Praça Vermelha. Em suma, o único óbice a levantar por qualquer ente normal, consiste no local escolhido para a intervenção das garotas e não com o protesto em si. Inverter o ónus, consiste numa profunda e auto-condecora com uma medalhas de Serviços Distintos pela estupidez. Pois foi isso mesmo que os comentadores debitaram na SIC Notícias, como sempre seguindo em total despreocupação, no bote que singra movido pela corrente.
Uma outra questão a colocar, prender-se-ia com as indignações de passível ocorrência num país qualquer, como por exemplo, Portugal: imaginemos Quim Barreiros entrar na sala de orações da mesquita de Lisboa e aos berros cantar os Peitos da Cabritinha. Se tal se passasse na Sé, apostamos desde já num maciço apoio dos donos do poder pensante ao cantor de todos os pitorescos possíveis e imaginários, mas ousar tal sacrilégio na mole de betão erguida na Praça de Espanha, seria um anúncio do fim dos tempos. Até as "profecias" maias serviriam para o libelo de acusação.
O que teriam a dizer as tias Rosetas e os deputados Feios deste mundo?